Capítulo 8

Karina tinha me mandado o endereço, mas eu ainda não estava preparada para o que encontrei quando desci no ponto indicado.

A rua era silenciosa, arborizada, com casas tão grandes que pareciam pequenos museus. Mas nenhuma delas chegava perto daquela que estava no número marcado no papel amassado em minha mão.

Eu empanei.

Literalmente.

Em frente a mim havia uma mansão imensa, com muros altos e portões de ferro trabalhado. Um brasão enorme — dourado, reluzente — estampava as iniciais T.T.

Tudor.

O nome soava ainda mais pesado ali, materializado em pedra, vidro e riqueza.

O portão não era apenas grande — era monstruoso. E atrás dele… eu conseguia ver parte do enorme jardim, com árvores perfeitamente podadas, uma fonte de mármore no centro e três carros de luxo estacionados na entrada, como se fossem peças de coleção:

Um Rolls-Royce preto.

Um Bentley azul-marinho.

E uma Range Rover branca, enorme, impecável.

Eu não sabia se devia entrar ou sair correndo.

Meu coração batia tão forte que parecia ecoar no silêncio daquela rua aristocrática.

— Meu Deus do céu… — sussurrei, sem ar.

Apertei a alça da mochila e caminhei até o portão. Só então percebi a presença do segurança — e não era um segurança qualquer. Era um homem alto, forte, com uniforme impecável e olhar sério.

Bem diferente do que eu estava acostumada no Brasil.

— Bom dia — tentei dizer em inglês, com o sotaque tropeçando nas palavras. — Eu… eu tenho… uma entrevista.

Ele não respondeu logo.

Apenas me avaliou de cima a baixo — não com desdém, mas com aquela neutralidade fria típica de quem está acostumado a lidar com gente importante.

— Nome? — perguntou finalmente.

— Ju… Juliana. Juliana Bezerra. — gaguejei.

Ele consultou algo no tablet e assentiu.

— Miss Bezerra, pode entrar. O Sr. Tudor está aguardando.

Meu coração quase parou com o nome dele.

O portão se abriu lentamente, com aquele som de ferro pesado deslizando, e eu tive a sensação de que estava entrando em outro universo. Um mundo ao qual eu definitivamente não pertencia.

A cada passo dentro daquele jardim absurdamente perfeito, a sensação só aumentava.

O cheiro de grama molhada.

O som suave da água da fonte.

Os carros brilhando como espelhos.

Uma mansão tão grande que parecia saído de um filme — janelas enormes, portas de madeira esculpida, colunas brancas, como se fosse um palácio moderno.

Engoli seco.

E enquanto subia os degraus enormes da entrada, só conseguia pensar:

O que eu estou fazendo aqui?

Eles nunca vão me escolher.

Isso é coisa de gente rica demais… gente importante demais.

Mas mesmo com o medo apertando meu peito, eu bati na porta.

A porta se abriu… e eu tive certeza de que nunca tinha visto alguém tão impecável em toda a minha vida.

A governanta era jovem — não mais do que trinta anos — bonita de um jeito elegante, daqueles que parecem ter sido moldados para combinações de luxo. Cabelos loiros presos em um coque perfeito, maquiagem sutil, pele impecável e um vestido preto que parecia recém-passado, sem uma única dobra fora do lugar.

Mas o que realmente me fez engolir seco foi a expressão dela.

Um misto de frieza…

e arrogância…

como se estivesse me medindo da cabeça aos pés e não tivesse gostado do que viu.

— Pois não? — ela disse com um tom firme, suave demais para ser acolhedor, mas polido o suficiente para ser venenoso.

— Entrevista — respondi. — Para cuidar do Ryan.

Ela me analisou de novo, devagar, com aqueles olhos azuis avaliando cada detalhe da minha aparência simples.

Uma sobrancelha arqueou levemente.

Claro que não fui aprovada na inspeção.

— Entre — ela disse, mas o gesto parecia mais uma tolerância do que um convite.

A governanta virou-se sem esperar por mim, caminhando com passos firmes por um corredor tão impecável que eu tinha medo até de respirar mais alto. O piso brilhava como vidro, os lustres espalhavam uma luz suave e havia quadros enormes nas paredes — retratos sérios, quase sombrios, de pessoas que claramente pertenciam ao sangue Tudor.

Gente importante. Gente da qual eu definitivamente não fazia parte.

— Acompanhe-me — a governanta disse sem olhar para trás, a voz cortante como uma lâmina fina.

Tentei não tropeçar no próprio nervosismo enquanto seguia por aquele corredor que parecia infinito. O som dos meus passos soava alto demais, diferente da leveza silenciosa dos passos dela — como se até a forma de andar fosse treinada para combinar com aquele palácio.

Passamos por duas portas duplas enormes e entramos em um salão que me tirou o ar. O teto alto, as cortinas pesadas, a lareira de mármore e as janelas que iam do chão ao teto faziam a sala parecer saída de uma revista de luxo.

Mas nada me preparou para o escritório.

A governanta parou diante de uma porta de madeira escura e bateu uma única vez, seca, precisa.

— Entre — ouvi uma voz masculina responder lá de dentro.

Fria. Grave. Controlada. Daquelas que fazem o estômago gelar na mesma hora.

A governanta abriu a porta… e eu senti meu coração disparar.

O escritório era grande, imponente, com paredes cobertas por estantes de livros e uma janela enorme atrás da mesa principal. A luz da manhã entrava por ela, iluminando tudo — inclusive ele.

Leo Tudor.

Ele estava de costas quando entrei, olhando pela janela com a postura perfeita de quem nasceu no poder. Alto, ombros largos, o terno escuro moldando o corpo com uma precisão absurda, como se tivesse sido feito sob medida — e provavelmente tinha sido.

O cabelo castanho-escuro estava penteado para trás, sem um fio fora do lugar. As mãos estavam nos bolsos da calça social, revelando a confiança de alguém que não teme nada. Nem ninguém.

E então ele se virou.

E por um segundo eu esqueci como se respirava.

Ele era… intenso.

Traços marcantes, mandíbula forte, barba rala impecavelmente aparada, olhos tão claros que pareciam atravessar qualquer pessoa que ousasse encará-lo.

Olhos que, quando pousaram em mim, fizeram minhas pernas tremerem.

Não de atração. De puro medo.

Porque Leo não parecia apenas rico. Ou poderoso. Ele parecia perigoso.

O tipo de homem que não sorri. Que não erra. Que não perdoa.

Um rei moderno sentado em seu trono de vidro e aço.

Ele me analisou por longos segundos — os mais longos da minha vida — sem dizer uma palavra.

A governanta ficou rígida ao meu lado, como se estivesse aguardando aprovação para algo.

E então ele falou. Uma única frase:

— Você é Juliana Bezerra.

Não era uma pergunta.

Era uma constatação.

E meu mundo pareceu ficar pequeno demais para caber dentro daquele escritório.

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