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Mundo ficciónIniciar sesiónHelena acreditava que o amor era algo que se podia cultivar. Quando aceitou o casamento arranjado com Alexander Whitford — um acordo entre duas famílias poderosas para salvar os negócios da dele —, ela alimentava a esperança de que, com o tempo, ele também passaria a amá-la. Muitas vezes, se contentava com migalhas de atenção, sorrindo só por estar ao seu lado. Mas tudo desmorona com o retorno de Isabelle, a antiga paixão de adolescência de Alexander. O pouco de afeto que restava desaparece, dando lugar à frieza, ao desprezo… e à crueldade. Traída, humilhada e marcada por uma perda devastadora, Helena se vê afundada em um abismo de dor. Até que Adrian Sinclair — um médico envolto em mistérios e cicatrizes próprias — cruza seu caminho. Ele não apenas enxerga sua dor, como desperta nela algo que estava adormecido: a coragem. Agora, com o coração endurecido e a alma em reconstrução, Helena está pronta para reescrever sua história. E quem um dia a viu como fraca, vai descobrir do que ela é capaz.
Leer másO salão Whitford estava iluminado por lustres de cristal, repleto de vozes e música suave. Quando Helena entrou pela porta principal, uma salva de palmas ecoou. Ela sorriu, ou melhor, fingiu sorrir. Seus olhos percorriam o ambiente, ansiosos, procurando uma única figura. Seu marido.
Alexander não estava lá.
O coração dela afundou. A cada passo sobre o tapete vermelho, os olhares dos convidados a seguiam, curiosos, avaliadores, alguns até com pena disfarçada.
— Eu sabia que não deveria ter criado expectativas... — murmurou para si, sentindo o peito apertar.
Do meio dos convidados, surgiu Edward Whitford, o avô de Alexander. Com a postura elegante de sempre, ele caminhou até Helena e segurou suas mãos com ternura.
— Minha querida, você está deslumbrante. Esse vestido... parece ter sido feito para você.
Helena piscou rápido para segurar as lágrimas. O tom suave dele era um bálsamo, mas a dor insistia em machucar seu peito.
— Foi o senhor, não foi? — perguntou em voz baixa. — Não foi o Alexander quem preparou essa festa.
Edward suspirou profundamente antes de responder.
— Não queria que ficasse triste, minha menina... Mas sim, eu organizei tudo.
— Então o senhor mentiu para mim — disse Helena, a voz trêmula. — Disse que ele pensava em mim, que queria me ver feliz…
— Ele te ama, Helena. Apenas se perde em outras prioridades.
Ela riu, amarga, quase sem som.
— O senhor acredita mesmo nisso? Alexander nunca me amou.
O silêncio dele confirmou o que ela já sabia. Tudo não passava de uma ilusão extremamente dolorosa.
Do lado, duas mulheres cochichavam perto da mesa de bebidas, sem qualquer cuidado em se esconder.
— Olhe só... a esposa perfeita, mas sempre sozinha.
— Tenho pena dela. O marido nem apareceu. Todo mundo sabe que foi o avô quem fez a festa.
Helena sentiu o rosto arder. As palavras eram como facas atravessando sua pele. Ela fingiu não ouvir, mas os olhos marejados a traíam. Tentando desfazer o nó em sua garganta, Helena pegou uma taça de champanhe da bandeja de um garçom e bebeu de um gole só. O cristal estalou levemente em sua aliança e ela encarou a mão trêmula.
Uma das funcionárias da casa, que conhecia Helena desde o casamento, aproximou-se com cautela.
— Senhora Whitford... deseja que eu procure o senhor Alexander? Talvez ele esteja a caminho. Pode ter acontecido algum imprevisto.
Helena ergueu o queixo, tentando se recompor.
— Não. Se ele quisesse estar aqui, já estaria.
A funcionária não conseguiu disfarçar o olhar de pena, antes de se afastar novamente. As pessoas se aproximavam para cumprimentá-la, oferecendo sorrisos ensaiados e felicitações superficiais.
— Feliz aniversário, senhora Whitford.
— Está radiante hoje, parabéns!
Ela respondia com a máscara delicada de sempre.
— Obrigada, obrigada... —
Mas, por dentro, cada palavra sobre sua beleza ou felicidade parecia zombar dela. Todos notavam a ausência de Alexander, todos comentavam, ainda que em sussurros.
Edward tentou aliviar a tensão, puxando-a para mais perto.
— Ignore-os, minha querida. São apenas línguas venenosas.
Helena virou-se para ele, os olhos úmidos.
— A dor é maior porque eles têm razão.
O idoso não soube o que dizer. Diante das palavras de Helena, apertou a mão dela em silêncio. Logo, outro convidado se aproximou com ar jovial.
— Senhora Whitford, parabéns! Onde está o sortudo que a conquistou? — perguntou em tom de brincadeira, com um ar zombeteiro mal disfarçado.
Helena engoliu em seco.
— Ele... já está a caminho. Teve um imprevisto.
A mentira saiu trêmula, frágil. O homem riu, sabendo que não passava de mais uma desculpa e se afastou, deixando-a sozinha mais uma vez.
A música continuava tocando, mas para Helena soava distante. Seus olhos vaguearam pelo salão: casais dançando, taças tilintando, sorrisos em cada canto. E ela, ali, fingindo que não doía.
— Sabe, eu costumava acreditar em contos de fadas — disse ela baixinho para Edward. — Achava que, no fim, o amor sempre vencia.
— Às vezes vence, Helena. Só demora um pouco mais do que gostaríamos. Você é ainda muito jovem para desistir do amor.
Ela o encarou, amarga.
— Ou talvez nunca vença. Talvez nunca chegue. Principalmente se for com a pessoa errada.
Um silêncio pesado caiu entre os dois. Helena afastou-se, precisava de ar. Caminhou até o balcão de bebidas e pediu outra taça. O garçom a serviu sem comentar nada, mas o olhar de compaixão dele falava alto demais.
Enquanto bebia, Helena passou perto de uma mesa e ouviu novamente murmúrios venenosos.
— Você ouviu? Ele não aparece em nenhuma festa dela. Dizem que o Alexander passa as noites fora.
— E todos sabem o motivo.
Helena estremeceu. Aquela frase cortou mais fundo do que todas as outras. Os pensamentos se embaralharam, a visão ficou turva por um instante.
Mesmo com todos aqueles sentimentos conflitantes e a dor que estava sentindo, Helena forçou outro sorriso, tentou se misturar à multidão. Fingir. Era o que fazia de melhor. Parte dela queria que não houvesse festa nenhuma. Queria sumir dali. Desaparecer. Deixar tudo — e todos — para trás.
Mas o vibrar repentino do celular a arrancou de seus devaneios. Helena pegou o aparelho com os dedos trêmulos. No instante em que leu a notificação na tela, sentiu o coração disparar... e logo depois, apertar dolorosamente.
O sangue pareceu sumir de seu rosto, deixando-a pálida como porcelana. O brilho em seus olhos se apagou. A expressão de choque era impossível de disfarçar. Algo naquele celular a havia quebrado por dentro.
A respiração de Helena acelerou quando viu Adrian se aproximar. Os policiais olharam em sua direção, e ela confirmou com a cabeça que ele podia passar. Quando ele se aproximou um pouco mais, Helena direcionou seu olhar para a flor na mão de Adrian.Ela engoliu em seco ao ver que se tratava de uma orquídea negra. Ele havia se lembrado daquele detalhe, que poderia ser simples ou insignificante para algumas pessoas, mas, para ela, significava muito.Helena pensou na ironia que aquela cena e situação representavam. De um lado, o homem que destruiu sua vida, seus sonhos e sua orquídea; e, do outro, um homem que a fez se sentir viva novamente e que a estava presenteando com a flor que ela mais amava e que tinha um significado tão importante.— Adrian. — Helena falou seu nome quase em um sussurro.— Dessa vez, vim pessoalmente, na esperança de que me ouvisse, mas não pensei que estivesse com visitas.O olhar de Adrian passou de Helena para Alexander, que o olhava com uma expressão nada agrad
Adrian observava a tela da TV com os olhos semicerrados, o controle remoto esquecido na mão. A foto de Helena ocupava metade da tela, ao lado das imagens granuladas dos dois sequestradores. O apresentador falava com aquela empolgação contida típica de notícias policiais, mas Adrian mal escutava. Ele sabia que Helena odiava exposição. Se a história veio à tona, algo grave aconteceu.— Você parece que está bem preocupado com ela — analisou Daniel, recostado no sofá ao lado, com um copo de uísque na mão.— Sim, eu estou. A Helena está brava comigo e não sei se ela vai me atender. Alguma coisa aconteceu para essa notícia vir a público assim.Daniel ergueu uma sobrancelha, o canto da boca curvando-se em um sorriso irônico.— Por que não liga pra ela? Talvez ela decida te atender, ou mande mais flores até conseguir amolecer o coração dela.A provocação era clara, mas Adrian levou a sério. Ele já havia mandado um buquê naquele mesmo dia, e a ideia de persistir parecia uma boa ideia. Adrian pe
Enquanto Alexander tinha uma conversa franca com seu avô, Isabelle trocava mensagens com sua amiga de Nova York. A foto que recebeu do homem que visitou sua amiga não era tão nítida assim, e isso não ajudaria em nada.— Como pode ser tão incompetente assim? Uma simples imagem, e ela não consegue me mandar isso. Como sempre, vou ter que me virar sozinha — murmurou Isabelle, irritada, assim que desligou a ligação.Sem a imagem clara do homem que estava atrás dela, Isabelle teria que tomar mais cuidado, e a desconfiança faria parte de sua rotina. Enquanto pensava naquele problema que ela ainda não sabia como iria lidar, se deu conta de que Alexander estava demorando bastante.O relógio foi conferido, e Isabelle notou que já fazia horas que ele havia saído, mas ele nem ao menos deu alguma notícia ou indicação de onde estava.— Tem alguma coisa acontecendo, e sinto que não é nada de bom. E tudo começou depois daquela maldita pulseira.A constatação de que alguma coisa estava errada fez um n
Alexander chegou à casa do avô, onde, até antes de Isabelle voltar, ainda era sua casa e era onde, na maioria das vezes, encontrava Helena esperando por ele. Assim que entrou, não se encontrou de cara com seu pai ou avó.Ele subiu as escadas e acabou parando em frente ao quarto que era de Helena. Alexander girou a maçaneta e entrou, começando a olhar ao redor. As lembranças das vezes que ele entrou naquele quarto e possuiu Helena vieram à sua mente.Em todas às vezes que fazia aquilo, Helena não dizia não, apenas pedia que ele fosse carinhoso, mas Alexander fazia o contrário do que ela pedia. Alexander tocou a cama, lembrando-se das vezes que ela chorou depois de cada ato, além de todas às vezes que ele a humilhou naquele quarto.Pela primeira vez, um nó se formou em sua garganta, e um resquício de remorso passou por sua mente. A imagem de Helena o tratando com carinho, mesmo depois de tudo que ele fazia com ela, fez aquele remorso surgir, e mais uma vez uma pergunta surgiu em sua men
Diante da resposta de Helena, o investigador Scott tratou de passar para o próximo passo.— Senhora Helena, com base nas amostras de material genético que colhemos no local do sequestro, encontramos o seu DNA e de mais duas pessoas. Esse material bateu com perfis no banco de dados da polícia. Agora que você confirmou a identificação pelas fotos, precisamos que vá à delegacia para fazer o reconhecimento formal. Pode ser agora?Helena assentiu, sentindo um misto de alívio e ansiedade. Seu pai, que estava ali perto ouvindo tudo, franziu o cenho, mas concordou com a cabeça quando ela olhou para ele.— Tudo bem, vamos agora. Pai, eu volto logo.Maxwell a abraçou rapidamente.— Tome cuidado, filha. Eu fico aqui esperando.Ela saiu acompanhada pelo detetive Scott e os dois policiais. O carro da polícia estava estacionado na frente da casa, e Helena
Helena tirou o vestido em meio a pensamentos conflitantes e depois se deitou. Enquanto olhava para o teto, pensativa, recebeu uma ligação de um número desconhecido. Ela achou estranho, lembrou-se da última vez que atendeu e ouviu aquela voz. Mesmo com receio, decidiu atender a ligação.— Alô?Um breve silêncio se fez depois que ela atendeu, mas, em seguida, a pessoa do outro lado resolveu falar.— Você está linda, se recuperou muito bem — a frase saiu em um sussurro.— Quem está falando? — Helena perguntou, levantando-se em seguida.Ao ouvir aquela frase, Helena lembrou-se da sensação de que estava sendo observada e foi até sua janela, olhou para fora na tentativa de ver alguém.— Sentiu minha falta? Seu rosto ficou bom, mas você tem noção de como meu rosto ficou? Você e aquela va

Último capítulo