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Mundo ficciónIniciar sesiónO silêncio da cafeteria foi rompido apenas pela respiração acelerada de Helena. As palavras dele ecoavam como um trovão em sua mente: "Você vai tirar esse filho." Seu corpo estremeceu. Não de medo, mas de raiva.
— Eu não vou fazer isso — disse, a voz firme, embora embargada.
O olhar de Alexander se tornou mais estreito, mais cruel, e sem aviso, ele a agarrou com força pelo braço.
— Nós não vamos discutir isso aqui — falou entre dentes, apertando um pouco mais o seu braço.
Antes que ela pudesse reagir, ele a arrastou para fora da cafeteria. Adrian deu um passo à frente, pronto para intervir, mas Helena fez um gesto sutil com a mão. Não. Aquilo ela precisava enfrentar sozinha.
Ele seguiu puxando Helena pelo braço entre os corredores do hospital, até chegarem ao estacionamento. Ele a empurrou para dentro do carro, a porta se fechando com um estrondo.
— Você não vai dizer uma palavra. Nem chorar — disse ele com um tom ameaçador.
Helena mordeu o lábio, contendo as lágrimas que ameaçavam transbordar. Ele não teria esse poder. Não de novo. Durante o trajeto, o silêncio era sufocante. Ela se encolheu no banco, as mãos tremendo no colo, o coração disparado.
Quando chegaram, Alexander saiu sem olhar para trás, deixando a porta destravada. Ela olhou para as costas de Alexander entrando sozinho e diante da reação exagerada e cruel que ele teve, decidiu que precisava enfrentá-lo aquela vez, agora Helena tinha um pequeno ser que dependia dela.
Helena desceu do carro e seguiu para dentro, respirou fundo e deixou qualquer resquício de choro para trás. Assim que a porta da casa se fechou, Helena se libertou e explodiu.
— Quem você pensa que é para me dar ordens?! — gritou, jogando a bolsa no sofá.
Ele se virou com calma, os braços cruzados e o olhar tão frio que sua pele se arrepiou.
— Sou seu marido.
Ela soltou uma risada amarga.
— Você é um traidor, isso sim! — Pegou o celular e o arremessou contra ele.
Alexander desviou por pouco, e o aparelho caiu no chão com um baque seco.
— Eu vi as fotos! Você com ela! Você não se comporta como meu marido. Não apareceu no meu aniversário e ainda manda eu tirar seu filho. Acha mesmo que tem algum direito de exigir alguma coisa de mim?
Ele suspirou, entediado.
— E o que tem? Qual o problema se eu estava com ela?
— O que tem?! Eu sou sua esposa!
Ele riu. Um som cruel, desumano.
— Nosso casamento é um acordo. Sempre foi. Nunca te prometi amor. Você arquitetou tudo isso, então agora assuma as consequências.
O coração dela se despedaçou.
— Então por que não pede o divórcio? Não é o que tanto deseja?
— Não.
Ela franziu o cenho.
— Como assim, não?
— É um contrato, Helena. E você sabe o que está nele. — Ele se aproximou. — Você não pode sair sem consequências. Como você foi esperta, as consequências quem pagaria seria minha família, então, já que você quis me prender a esse casamento, agora quem vai ficar presa é você.
O ar ficou mais pesado. O medo se infiltrando por cada poro do seu corpo. Ele não queria manter o casamento por amor. Era punição.
— Você é um monstro.
— E você foi ingênua. Achou que me afastar da Isabelle me faria olhar diferente para você? — Ele se aproximou um pouco mais — Não vou deixar que vocês machuquem ela novamente.
Alexander caminhou até a varanda. Lá, uma orquídea negra florescia solitária no vaso que ela havia ganhado de sua mãe.
— Não… — ela sussurrou, os passos hesitantes.
Ele a observou com frieza. Então, sem hesitar, ergueu o vaso e o arremessou contra o chão. O som da cerâmica quebrando se misturou com seu grito. Alexander, ainda não contente, pisou na planta frágil. Helena correu, ajoelhando-se diante dos cacos, os dedos trêmulos recolhendo as pétalas destruídas.
A dor era aguda. Ela não conseguia respirar. Aquele era um presente que sua mãe lhe deu antes de morrer e que ela cuidava com muito carinho.
— Agora, aprenda a ficar no seu lugar — disse ele antes de sair.
Ela ficou ali, no chão, segurando os restos de sua lembrança mais preciosa. E então, pela primeira vez, sentiu ódio. Um ódio real, enraizado, pulsante. Antes de deixar de vez o quarto, ele ainda lhe deu um aviso.
— Tem um evento de caridade essa noite, espero que esteja decente. Já que gosta tanto de bancar a excelente esposa, não me envergonhe e esteja no local marcado.
Alexander ainda olhou para ela ajoelhada, os ombros se movendo em sinal do choro silencioso que não conseguiu evitar. Para ele, o sofrimento era pouco comparado ao que Isabelle havia sofrido e que ele acreditava cegamente ser culpa dela.
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A noite chegou. Mesmo em frangalhos, Helena compareceu ao evento de caridade. Alexander exigiu sua presença, mas não a acompanhou. Sozinha, ela enfrentou os olhares, os flashes e os sorrisos falsos. Ela podia notar os cochichos que vinham dos convidados. Sua festa de aniversário foi um fiasco e isso estava sendo motivos de fofocas e deboches.
O salão foi silenciado pelos flashes na entrada. Helena virou o rosto e seu mundo ruiu mais uma vez. Alexander entrava de braços dados com Isabelle. Pareciam um casal perfeito. Os sorrisos nos lábios, os olhares cúmplices.
Mesmo que as pessoas a sua volta quisessem disfarçar, ela podia ouvir as perguntas. Quem era a mulher ao lado de Alexander? Como ele pôde deixar sua esposa chegar sozinha e chega com outra mulher? Seria sua amante? Essas foram algumas das perguntas que Helena ouviu e ela podia sentir seu estomago revirar.
O coração de Helena se partiu. Naquele instante, ela compreendeu que o amor podia, sim, ser uma arma. E ela estava sangrando por dentro. E era só o começo.









