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O salão Whitford estava iluminado por lustres de cristal, repleto de vozes e música suave. Quando Helena entrou pela porta principal, uma salva de palmas ecoou. Ela sorriu, ou melhor, fingiu sorrir. Seus olhos percorriam o ambiente, ansiosos, procurando uma única figura. Seu marido.
Alexander não estava lá.
O coração dela afundou. A cada passo sobre o tapete vermelho, os olhares dos convidados a seguiam, curiosos, avaliadores, alguns até com pena disfarçada.
— Eu sabia que não deveria ter criado expectativas... — murmurou para si, sentindo o peito apertar.
Do meio dos convidados, surgiu Edward Whitford, o avô de Alexander. Com a postura elegante de sempre, ele caminhou até Helena e segurou suas mãos com ternura.
— Minha querida, você está deslumbrante. Esse vestido... parece ter sido feito para você.
Helena piscou rápido para segurar as lágrimas. O tom suave dele era um bálsamo, mas a dor insistia em machucar seu peito.
— Foi o senhor, não foi? — perguntou em voz baixa. — Não foi o Alexander quem preparou essa festa.
Edward suspirou profundamente antes de responder.
— Não queria que ficasse triste, minha menina... Mas sim, eu organizei tudo.
— Então o senhor mentiu para mim — disse Helena, a voz trêmula. — Disse que ele pensava em mim, que queria me ver feliz…
— Ele te ama, Helena. Apenas se perde em outras prioridades.
Ela riu, amarga, quase sem som.
— O senhor acredita mesmo nisso? Alexander nunca me amou.
O silêncio dele confirmou o que ela já sabia. Tudo não passava de uma ilusão extremamente dolorosa.
Do lado, duas mulheres cochichavam perto da mesa de bebidas, sem qualquer cuidado em se esconder.
— Olhe só... a esposa perfeita, mas sempre sozinha.
— Tenho pena dela. O marido nem apareceu. Todo mundo sabe que foi o avô quem fez a festa.
Helena sentiu o rosto arder. As palavras eram como facas atravessando sua pele. Ela fingiu não ouvir, mas os olhos marejados a traíam. Tentando desfazer o nó em sua garganta, Helena pegou uma taça de champanhe da bandeja de um garçom e bebeu de um gole só. O cristal estalou levemente em sua aliança e ela encarou a mão trêmula.
Uma das funcionárias da casa, que conhecia Helena desde o casamento, aproximou-se com cautela.
— Senhora Whitford... deseja que eu procure o senhor Alexander? Talvez ele esteja a caminho. Pode ter acontecido algum imprevisto.
Helena ergueu o queixo, tentando se recompor.
— Não. Se ele quisesse estar aqui, já estaria.
A funcionária não conseguiu disfarçar o olhar de pena, antes de se afastar novamente. As pessoas se aproximavam para cumprimentá-la, oferecendo sorrisos ensaiados e felicitações superficiais.
— Feliz aniversário, senhora Whitford.
— Está radiante hoje, parabéns!
Ela respondia com a máscara delicada de sempre.
— Obrigada, obrigada... —
Mas, por dentro, cada palavra sobre sua beleza ou felicidade parecia zombar dela. Todos notavam a ausência de Alexander, todos comentavam, ainda que em sussurros.
Edward tentou aliviar a tensão, puxando-a para mais perto.
— Ignore-os, minha querida. São apenas línguas venenosas.
Helena virou-se para ele, os olhos úmidos.
— A dor é maior porque eles têm razão.
O idoso não soube o que dizer. Diante das palavras de Helena, apertou a mão dela em silêncio. Logo, outro convidado se aproximou com ar jovial.
— Senhora Whitford, parabéns! Onde está o sortudo que a conquistou? — perguntou em tom de brincadeira, com um ar zombeteiro mal disfarçado.
Helena engoliu em seco.
— Ele... já está a caminho. Teve um imprevisto.
A mentira saiu trêmula, frágil. O homem riu, sabendo que não passava de mais uma desculpa e se afastou, deixando-a sozinha mais uma vez.
A música continuava tocando, mas para Helena soava distante. Seus olhos vaguearam pelo salão: casais dançando, taças tilintando, sorrisos em cada canto. E ela, ali, fingindo que não doía.
— Sabe, eu costumava acreditar em contos de fadas — disse ela baixinho para Edward. — Achava que, no fim, o amor sempre vencia.
— Às vezes vence, Helena. Só demora um pouco mais do que gostaríamos. Você é ainda muito jovem para desistir do amor.
Ela o encarou, amarga.
— Ou talvez nunca vença. Talvez nunca chegue. Principalmente se for com a pessoa errada.
Um silêncio pesado caiu entre os dois. Helena afastou-se, precisava de ar. Caminhou até o balcão de bebidas e pediu outra taça. O garçom a serviu sem comentar nada, mas o olhar de compaixão dele falava alto demais.
Enquanto bebia, Helena passou perto de uma mesa e ouviu novamente murmúrios venenosos.
— Você ouviu? Ele não aparece em nenhuma festa dela. Dizem que o Alexander passa as noites fora.
— E todos sabem o motivo.
Helena estremeceu. Aquela frase cortou mais fundo do que todas as outras. Os pensamentos se embaralharam, a visão ficou turva por um instante.
Mesmo com todos aqueles sentimentos conflitantes e a dor que estava sentindo, Helena forçou outro sorriso, tentou se misturar à multidão. Fingir. Era o que fazia de melhor. Parte dela queria que não houvesse festa nenhuma. Queria sumir dali. Desaparecer. Deixar tudo — e todos — para trás.
Mas o vibrar repentino do celular a arrancou de seus devaneios. Helena pegou o aparelho com os dedos trêmulos. No instante em que leu a notificação na tela, sentiu o coração disparar... e logo depois, apertar dolorosamente.
O sangue pareceu sumir de seu rosto, deixando-a pálida como porcelana. O brilho em seus olhos se apagou. A expressão de choque era impossível de disfarçar. Algo naquele celular a havia quebrado por dentro.









