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Mundo ficciónIniciar sesiónOs flashes das câmeras brilhavam como relâmpagos, cegando-a momentaneamente. Ela piscou várias vezes, tentando focar na cena que se desenrolava diante de seus olhos.
Alexander. Seu marido. E ela. O primeiro amor dele, deslizando pelo salão, como se sempre tivesse pertencido àquele mundo. Que sempre foi ela quem esteve ao lado dele. Como se ela – a esposa legítima – fosse invisível, insignificante.
Os risos ao redor pareciam mais altos, os cochichos ecoavam. Ela sentia os olhares ardendo em sua pele, cheios de escárnio. Seu peito subia e descia rapidamente. A humilhação queimava como ácido.
E então, como se o destino estivesse zombando dela, um garçom apareceu ao seu lado, oferecendo uma taça de champanhe. Como se ele tivesse lido seus pensamentos. Sem hesitar, sem pensar em nada além da dor insuportável, ela pegou a taça e bebeu de um só gole.
Helena não conseguiu pensar nem mesmo em seu bebê, ela queria apenas sufocar sua dor com o espumante. O gosto amargo desceu queimando, mas não o suficiente para afogar a raiva e a tristeza.
Alexander olhou em sua direção e parecia que a humilhação de chegar com outra mulher não tinha sido o suficiente — ele queria mais. Ele seguiu e parou em frente a Helena e foi a vez de Isabelle fazer seu teatro.
— Oi Helena. Sinto muito se tudo isso te causou algum constrangimento. Eu disse para o Alexander que não era uma boa ideia, mas ele insistiu — explicou com uma voz suave e doce.
— Não tem porque se desculpar. Perante todos, ela ainda é minha mulher, mas não que se desculpar por ser você que eu quero ao meu lado.
As palavras de Alexander, aliados ao aperto de Isabelle em seu braço, doeu mais do que se tivessem batido nela. Helena não disse nada, não adiantaria, apenas preferia sair dali e deixar os holofotes para os dois, já que era o que queriam.
Eles se afastaram, o braço de Alexander esbarrando nela, como se ela fosse um lixo incomodo que tivesse atrapalhando. Os flashes continuavam. Ela tentou se afastar, mas... algo estranho aconteceu.
A visão de Helena ficou turva. O salão começou a girar. O coração acelerou, e uma sensação sufocante tomou conta do seu peito. Poderia ser algum sintoma da gravidez? O mesmo garçom que lhe ofereceu a bebida apareceu novamente, sua expressão neutra, quase cuidadosa.
— Você não parece bem, senhora. Deixe-me ajudá-la.
Sua mente gritava para recusar, mas seu corpo estava fraco demais para reagir. Ela sentiu um braço segurá-la, guiando-a para fora do salão. O ar frio da noite tocou sua pele quando ele a levou para o jardim.
A última coisa que viu foi a lua cheia no céu... antes de tudo escurecer. O homem a segurou com cuidado, olhou em volta e depois em direção a uma das janelas, onde alguém observava toda cena.
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Dor. A primeira coisa que sentiu ao acordar, foi a dor latejante no corpo. Depois, o cheiro. Mofo. Umidade. Um fedor ácido e podre. Ela abriu os olhos devagar. Um teto baixo e sujo. Paredes descascadas. Um quarto apertado e sufocante.
Ela tentou se mover, mas seus membros estavam pesados. A cabeça girava, e um gosto metálico de sangue pairava em sua boca. O pânico tomou conta de seu peito. Helena se lembrou de quando ficou presa naquele espaço apertado e sufocante, as lembranças aterrorizantes de quando era mais nova, chegando para deixar tudo ainda pior.
— SOCORRO! — ela gritou, sua voz rouca e trêmula.
Ela tentou se levantar, mas uma tontura intensa a fez cair de joelhos. Ela ouviu passos que ecoaram pelo lado de fora. Em segundos a porta foi aberta. E ali, parado na entrada, estava o garçom. Mas agora, sem a máscara da cordialidade.
Seus olhos eram frios. Sua expressão vazia. E então, sem aviso, ele avançou. O primeiro golpe veio rápido e certeiro. Um soco no estômago, tirando todo o ar de seus pulmões. Ela caiu de joelhos, ofegante, as mãos tremendo.
— Por que... está fazendo isso? — perguntou com dificuldade, sua voz era um sussurro.
Ele não respondeu. No entanto, desferiu outro golpe. Desta vez no rosto. A dor explodiu por sua bochecha, e o gosto de sangue preencheu sua boca. Ela tentou se proteger, mas ele a agarrou pelos cabelos e a jogou no chão com brutalidade.
Cada pancada era um choque que percorria seu corpo. Ela não conseguia pensar em outra coisa naquele momento, apenas no bebê. O pensamento cortou sua mente e seu instinto apenas gritava para o proteger.
Ela tentou se encolher, protegendo a barriga com os braços, mas a dor continuava, impiedosa. Seu corpo já não reagia. O sangue escorria pelo canto de sua boca. O mundo começou a se tornar um borrão. E só então ele parou.
— Não estrague a mercadoria antes da hora. Se estragar esse rostinho, como o marido dela vai mandar a grana. Não se esqueça que vamos precisar mandar fotos e vídeos. — Outro homem entrou naquele pequeno espaço e o repreendeu.
— Tem certeza de que ele vai pagar? — perguntou o garçom, um pouco cético.
— Ela é a esposa do Alexander, por que ele não pagaria? Não se esqueça do que aquela mulher disse. Ela não mentiu sobre a festa, então não deve ter mentido sobre o resto.
Mesmo quase desacordada, Helena conseguiu prestar atenção na conversa. Ela se perguntou de que mulher estavam falando e não conseguia pensar e entender o que poderia estar acontecendo.
O garçom respirou fundo, limpou as mãos sujas de sangue e, lentamente, pegou o celular do bolso. Ele discou um número e aguardou a chamada ser atendida.
O coração dela martelava. O telefone chamou uma vez. Duas. E então... uma voz feminina ecoou pelo alto-falante.
— Sua noite não terminou muito bem, não é mesmo, querida Helena?
O sangue dela gelou. Ela conhecia aquela voz. A voz do primeiro amor de seu marido. Era Isabelle do outro lado da linha. Helena forçou a erguer o olhar, era uma chamada de vídeo. Isabelle tinha um olhar satisfeito, mas, ao mesmo tempo, assustado e se aquilo tinha um dedo de sua rival, não entendia aquele olhar.
— Por quê? — Helena perguntou com dificuldade.
— Digamos que você estava no lugar errado, mas não culpe apenas a mim. Eles tem contas a acertar com o Alexander e precisavam de algo, ou alguém que ele amasse muito. Quem melhor do que a linda esposa para tocar o coração dele? — Um sorriso de deboche cruzou os lábios de Isabelle — Agora, se você vive ou morre nesse lugar, já não é mais da minha conta. Apenas pedi um favor aos meus novos amigos. Seu bebê precisa morrer.
Um frio percorreu sua espinha. Seu bebê corria perigo, assim como ela.









