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Mundo ficciónIniciar sesiónHelena não sentia mais o chão sob os pés. O som da festa havia sumido, engolido pelo eco ensurdecedor do seu coração disparado. Os olhos permaneciam fixos na tela do celular. Uma imagem. E, logo abaixo, uma mensagem curta, cruel:
"Parabéns! Um presente para que você entenda de vez quem está no coração do Alexander."
A fotografia, aliada às palavras calculadas, fez o mundo de Helena ruir. Ao lado de Alexander, sorrindo como nunca sorriu para ela, estava Isabelle Spencer — o amor de infância dele, o nome que sempre pairou como um sussurro, uma sombra incômoda entre os dois.
O sorriso de Alexander, aquele sorriso que ela tanto desejou ver ao seu lado, agora era oferecido a outra. A verdade é que ele jamais escondeu seus sentimentos; aquele casamento, desde o início, foi apenas um acordo, uma prisão arquitetada pela família para proteger aparências.
— Não pode ser... — murmurou Helena, a voz rouca de incredulidade.
O descontrole foi instantâneo. Seu corpo tremia, os dedos perderam a força, e o celular escorregou de suas mãos, batendo no chão com um som seco e solitário. Ninguém pareceu notar. A festa continuava — risos, brindes, conversas vazias — enquanto o mundo de Helena desmoronava em silêncio.
Ajoelhando-se, ela pegou o aparelho com as mãos trêmulas. Precisava sair dali.
— Licença... me desculpe... — sussurrava, abrindo caminho entre os convidados que a ignoravam.
O banheiro foi o refúgio que encontrou. Trancou-se e, diante do espelho, encarou o próprio reflexo. Então, a dor explodiu: o estômago se revirou, e ela vomitou. O gosto amargo não era apenas físico — era a materialização da vergonha, da traição e do desgosto.
Helena lavou a boca, mas as lágrimas vieram fortes. Permitiu-se chorar, sem vergonha, sem tentar ser forte. Ainda com as mãos trêmulas, ligou para Alexander.
— Atende... por favor, atende... — sussurrava entre soluços.
A chamada foi ignorada. Uma, duas, três vezes. A cada toque sem resposta, o vazio em seu peito crescia. O rosto borrado pelo rímel era um retrato perfeito da ruína. Ele estava mesmo com Isabelle.
— Preciso sair daqui... — disse a si, quase sem voz.
Sem se importar com os olhares curiosos, Helena atravessou o salão como um fantasma. O vento frio cortou sua pele quando deixou o prédio. A noite escura parecia abraçá-la com uma compaixão cruel.
A chuva veio rápida, grossas gotas encharcando seu vestido elegante e colando seus cabelos no rosto. Helena caminhava sem rumo pelas antigas calçadas de Oxford, cada passo afastando-a mais do que, até minutos atrás, ela chamava de vida.
Não sabia por quanto tempo andou. Quando os sentidos finalmente voltaram, ela se forçou a seguir para a mansão. Estava exausta, encharcada, destruída. Ao abrir a porta, encontrou Edward no saguão, a expressão carregada de preocupação.
— Meu Deus, Helena! Por onde você esteve? Eu estava muito preocupado!
Ela parou, olhando-o por um instante. Seus olhos estavam vazios, sem brilho.
— Você saiu sem avisar ninguém. Está assim porque o Alexander não apareceu? Não sei o que fazer com aquele ingrato, eu...
— Vovô, me desculpe, mas estou cansada... — interrompeu, a voz tão fria quanto a noite lá fora. — Vou subir e tomar um banho. Quero apenas dormir.
Sem esperar resposta, Helena se virou e subiu as escadas, cada passo parecendo pesar toneladas.
Edward a observou em silêncio, o coração apertado. Ela parecia uma sombra da mulher com olhar gentil.Murmurando, tomou o celular do bolso e discou rapidamente. Após alguns toques, a voz de Alexander atendeu.
— O que foi, vovô?
— Você ainda tem a coragem de perguntar? Te avisei sobre o aniversário da Helena! Você a humilhou na frente de todos.
— Não me importo. Nada do que diz respeito à Helena me importa. A Isabelle voltou para o país, e dessa vez não vou deixá-la ir embora.
A ira subiu pelas veias do velho.
— Me pergunto quem você puxou para ser tão cego... — disparou. — Você está jogando fora a única pessoa que te amou de verdade. Isabelle te vendeu, Alexander! Ela pediu dinheiro para sumir da sua vida, você que se recusa a enxergar!
— Mentira! — Alexander berrou. — Vocês fizeram de tudo para afastar a Isabelle! Não vou permitir novamente! E, vovô... se não for para me dar boas notícias, como a morte da minha querida esposa, não me ligue mais.
A linha ficou muda. Edward fechou os olhos com força, lutando contra a tristeza e a fúria.
— Alexander, um dia você vai acordar. Só espero que não seja tarde demais...
Enquanto isso, Helena, em seu quarto, encarava o ambiente que parecia tão grande e, ao mesmo tempo, tão opressor. A pouca luz que vinha do jardim iluminava as pegadas molhadas no piso de madeira polida.
Cada canto daquele quarto escuro a fazia reviver lembranças. O dia em que Alexander a salvou no ensino médio... presa em um armário escuro, ela pensou que nunca sairia dali. Mas então ele apareceu — o garoto bonito, de olhos intensos e perfume amadeirado — estendendo-lhe a mão. O primeiro herói de sua vida. O primeiro amor.
Agora, aquele herói era seu maior carrasco. Sentindo o estômago revirar novamente, Helena tirou os sapatos e deixou o celular cair no chão. Correu para o banheiro e se ajoelhou diante da privada, vomitando novamente.
Ofegante, encostou-se à parede fria. A dor já não parecia apenas emocional. Era física. Profunda.
— Algo está errado... — murmurou, quase sem voz.
Segurou o abdômen, os olhos marejados. No fundo, já sabia: sua vida estava prestes a mudar. E não havia volta.









