Resultado inesperado

As mãos de Helena tremiam levemente ao ler aquelas palavras e, por alguns segundos, ela tentou se convencer de que podia ser um erro. Mas a voz grave e fria de Adrian a arrancou desse transe:

— A senhora está grávida. Os outros sintomas podem estar relacionados ao estresse — explicou ele, estreitando os olhos ao observar atentamente a reação da paciente.

Helena abriu a boca, tentando dizer alguma coisa, mas nenhuma palavra saiu. Um nó apertava sua garganta. Ela forçou a mente a buscar respostas, mas só encontrou a lembrança amarga de uma noite em que Alexander, bêbado e cruel, a forçou mais uma vez.

Adrian, ainda a observando, viu o que poucas pessoas saberiam ler: não havia felicidade naqueles olhos marejados. Havia medo. Havia confusão. E uma dor silenciosa que ele conhecia bem demais.

Helena apertou o exame contra o peito, sentindo como se o chão tivesse desaparecido sob seus pés. O mundo que ela lutava tanto para sustentar começava a ruir — e agora, não havia mais como fingir.

— Me desculpe, eu... eu... — a voz de Helena falhou, e ela não completou a frase. Num impulso, levantou-se de súbito.

O consultório parecia encolher ao seu redor, como se o ar estivesse se esgotando. Ela precisava sair dali. Precisava pensar. Precisava absorver a verdade que ainda martelava em sua mente. Adrian permaneceu em silêncio, observando-a atravessar a porta como uma sombra perdida. Ele podia ver a angústia em cada passo hesitante.

Helena caminhou pelos corredores do hospital sem rumo, sem nem mesmo saber ao certo onde estava indo. Como um instinto de sobrevivência, seus pés a levaram até a cafeteria. Entrou, buscando a mesa mais afastada, e sentou-se, tentando encontrar um fôlego que parecia sempre escapar.

Fez o pedido de um café forte, mas quando a xícara chegou, ela permaneceu intocada sobre a mesa. Helena apoiou o rosto entre as mãos ainda trêmulas e, depois de alguns minutos, ergueu o olhar para o celular ao seu lado. Ela precisava tentar de novo.

Com dedos inseguros, discou para Alexander. A ligação chamou, chamou, chamou — e ninguém atendeu. Insistiu mais uma vez. Nada. Escreveu mensagens apressadas, desesperadas, quase sem pensar.

Nenhuma resposta.

A frustração a invadiu como uma maré sombria, misturada a um turbilhão de medo, dor e raiva. Sozinha naquela cafeteria fria, Helena se deu conta de que estava travando uma batalha onde só ela ainda insistia em lutar.

Helena tentou, mas não conseguiu impedir a lágrima solitária que deslizou por seu rosto. Com um gesto rápido, limpou-a com as costas da mão, determinada a não chamar atenção das poucas pessoas que circulavam pela cafeteria.

O celular vibrou sobre a mesa, e por um instante seu coração deu um salto de esperança. Talvez fosse Alexander. Talvez, dessa vez, ele finalmente atendesse.

Mas a esperança durou apenas um segundo. Não era ele. A notificação era de Isabelle. Com os olhos marejados, Helena abriu a mensagem, sentindo o golpe ainda antes de ler as palavras.

"Não insista. Ele está ocupado... e não se importa com a sua saúde."

A crueldade daquelas palavras atingiu-a em cheio, mas antes que pudesse reagir, outra mensagem chegou. Dessa vez, uma foto.

Isabelle, sentada no colo de Alexander, no escritório que Helena conhecia tão bem. Ele sorria para a amante, com aquele olhar carinhoso que Helena sempre desejou — e jamais recebeu.

O chão pareceu ruir debaixo de seus pés. Mesmo não sendo a primeira imagem, a dor era a mesma: dilacerante, sufocante.

Por que ainda dói tanto? — ela se perguntou, enquanto outra lágrima escapava, escorrendo em sua pele já tão marcada pela tristeza.

O amor deveria ser fonte de vida, de alegria... Mas, para ela, só restava a dor. Ela permaneceu ali, imóvel, enquanto o tempo parecia seguir seu curso indiferente ao que sentia. Não tinha forças para se levantar, nem coragem para enfrentar o mundo do lado de fora.

As xícaras e bandejas se acumulavam nas mesas próximas, testemunhas silenciosas do movimento constante da cafeteria. A sua, no entanto, continuava intacta — o café esfriando, esquecido.

Helena estava perdida dentro da própria dor, tão imersa em seus pensamentos que não percebeu quando alguém parou na entrada da cafeteria e a observou.

Adrian Sinclair.

Ele a viu encolhida na cadeira, os olhos vermelhos e inchados, a expressão derrotada. Uma parte dele — a parte que se protegia do mundo — queria ignorar aquela cena e seguir adiante. Não era da sua conta. Ele sabia o preço de se envolver na dor dos outros.

Mas havia algo em Helena... uma fragilidade que, mesmo contra sua vontade, o tocou. Impulsionado por algo que nem ele soube explicar, Adrian atravessou o espaço entre eles e sentou-se à sua frente.

— Você está bem? — sua voz saiu firme, mas havia uma hesitação sutil ali, como se temesse que ela fugisse outra vez, como havia feito no consultório.

Helena ergueu os olhos devagar. Pela primeira vez desde que o conheceu, não encontrou frieza ou distância naquele olhar cinza. Em vez disso, viu empatia. Um gesto simples, mas que, para ela, significou mais do que qualquer palavra de conforto.

Pela primeira vez naquele dia — talvez em muito tempo — Helena sentiu que alguém realmente queria saber se ela estava bem. Não por obrigação. Não por aparência.

Mas de verdade.

E, só por isso, ela conseguiu, ainda que por um breve instante, desviar seus pensamentos da traição, da solidão e da gravidez inesperada. Ali, diante daquele estranho de olhos tristes, Helena percebeu que talvez... apenas talvez... ainda existisse alguém disposto a vê-la.

— Não, eu não estou bem. — Helena respondeu com um sorriso amargo. — Nem me lembro da última vez que me senti bem.

Adrian sustentou seu olhar por um instante, como se entendesse mais do que ela dizia.

— Olha, eu não sei o que você está enfrentando — ele disse com uma calma que contrastava com o caos dentro dela —, mas... você não está sozinha.

As palavras dele, tão simples, tiveram um impacto maior do que deveriam. Ela queria acreditar naquilo. Queria se agarrar a essa ideia como uma tábua de salvação. Mas a realidade era outra. Helena estava sozinha.

Sempre esteve.

Nunca contou a seu pai sobre a vida que levava na mansão dos Whitford. Para o mundo, ela era uma mulher feliz, casada com um homem rico e respeitado.

A verdade, no entanto, era uma corrente fria que a prendia a uma existência miserável.

— Obrigada. — ela murmurou, a voz embargada. — Eu não sei se deveria... se deveria falar sobre isso com o senhor, mas...

Helena não teve tempo de concluir. A porta da cafeteria se abriu bruscamente, chamando a atenção de todos no local. Alexander atravessou o espaço com passos duros e olhos faiscando de irritação, varrendo o ambiente até encontrar sua esposa.

Seus olhares se cruzaram. E em segundos, ele já estava à frente da mesa, ignorando completamente a presença de Adrian.

— Você deve estar de brincadeira comigo! — ele rosnou, a voz alta o bastante para fazer alguns clientes olharem. — Meu avô me encheu a paciência dizendo que você estava no hospital, que estava passando mal... e eu te encontro aqui, de papo com um médico?

Helena encolheu os ombros, surpresa e constrangida.

— Eu não estou me sentindo bem, Alexander — Helena respondeu, tentando, em vão, controlar a emoção que fazia sua voz falhar.

Adrian cruzou os braços, apenas observando de lado a cena diante dele. Seu instinto gritava para interferir, mas ele sabia que precisava medir seus passos.

— Tem noção dos compromissos que eu tive que cancelar para vir aqui? — Alexander continuou, o tom carregado de desprezo. — Ele fez parecer que você estava morrendo, só que, mais uma vez, foi uma perda de tempo.

Helena sentiu o sangue ferver. Seu peito subia e descia em ritmo acelerado. Ela não suportaria mais calar.

— Compromissos? — Ela se levantou bruscamente, fazendo a cadeira ranger — Está falando de ficar no seu escritório flertando com a Isabelle?

Alexander estreitou os olhos para ela, um brilho ameaçador surgindo em seu olhar.

— Isso não é da sua conta. Se estou com ela, isso não te diz respeito.

— Não me diz respeito? — Helena sentiu a garganta arder. — Eu sou sua mulher, Alexander! E estou grávida!

O silêncio que se seguiu pareceu congelar o ambiente ao redor. Alexander travou o maxilar, o olhar gélido se tornando ainda mais cortante. Em seu rosto, a irritação deu lugar a uma expressão de puro desprezo.

— E de quem é esse bastardo? — ele cuspiu as palavras, apontando para Adrian, que ainda observava a cena com uma expressão impassível. — Dele?

Helena recuou um passo, sentindo como se tivesse levado um golpe físico. Mas Alexander não deu espaço para que ela respondesse.

— Mesmo que fosse meu, eu também não iria querer um filho que viesse de você! — ele vociferou, aproximando-se dela rapidamente e segurando-a com força pelo braço.

Helena tentou se soltar, mas ele apertou ainda mais.

— Você vai abortar. — disse, a voz baixa e ameaçadora.

Por um instante, tudo ao redor pareceu girar. A dor física em seu braço era insignificante perto da dor que atravessava seu peito.

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