O que deveria ser só uma noite de diversão na Nox Trium — a boate mais badalada da cidade — se transforma em um mergulho no proibido quando Lexi cruza o caminho de dois homens tão enigmáticos quanto irresistíveis. Eles são filhos de anjos caídos e seres humanos. Seres amaldiçoados, fadados a caminhar pela terra, dependendo de algo específico, que poucos, com ela, podem fornecer. Entre olhares que queimam mais do que deveriam e uma tensão que ameaça consumir a razão, ela se vê presa em uma atração incontrolável por Cael, um homem de presença inumana, capaz de despertar nela desejo e medo na mesma medida. Ela tem tudo que eles precisam, mas, por trás da música e dos excessos de qualquer boate, a Nox Trium esconde segredos, jogos perigosos e inimigos que podem custar sua vida. E agora, que ela foi ameaçada por Azriel — outro como eles — ela precisa da proteção de Cael e Samiel. E acima de tudo, Lexi precisa decidir se foge… ou se se rende de vez ao fascínio letal que a envolve. No fim, restam apenas duas perguntas: até onde ela está disposta a ir para descobrir a verdade? E até onde eles irão para mantê-la no clã?
Leer más— Eu ouvi dizer que é um tipo de seita sexual — a garota de preto fala para de vermelho.
A fila para a entrada da Nox Trium — a nova boate da cidade — está a um metro de virar o quarteirão, e enquanto eu espero minha melhor amiga, Brinna, presto atenção na conversa de duas garotas na minha frente.
— A amiga de uma amiga, depois que começou a andar com eles, nunca mais foi a mesma — ela continua. — Minha amiga acha que roubaram a alma dela.
Balanço a cabeça para mim mesma. Como as pessoas podem ser tão supersticiosas?
— O que eu ouvi é que eles se juntam em uma sala e compartilham as mulheres — a de vermelho comenta, e agarra a minha atenção. — Não que eu me importasse de ser dividida entre aqueles dois… Olha para ele, naquela jaqueta de couro…
Meu olhar corre para a pequena porta de metal preto da boate, onde um segurança gigantesco só deixa passar as mulheres. Mas não é o segurança que elas estão admirando.
Calça jeans clara e uma jaqueta de couro marrom. O cabelo é castanho queimado, a pele bronzeada. O pescoço é largo, o maxilar… irresistivelmente masculino.
Quase prendo o ar só de olhar para ele.
Mas há alguma coisa nele… errada. A beleza me atrai, mas um desconforto me aperta por dentro, me perturba a ponto de eriçar os pêlos da minha nuca e dos braços.
Ele sai do meu raio de visão e o segurança deixa mais algumas garotas entrarem.
Afasto aquele homem do meu pensamento. Droga, Brinna, mesmo que seja seu aniversário, não precisava atrasar tanto…
É quando acontece.
Um carro freia bruscamente diante da boate, pneus gritando contra o asfalto.
Minha atenção corre para ele no momento em que a janela do carona se abaixa.
E sob a luz suave do letreiro neon da boate, o cano de uma arma brilha…
Apontado… para mim.
Em uma fração de segundo, um único pensamento: Vou morrer. Sozinha. Como cresci.
Os tiros ecoam pela rua. Secos. Dois.
Por instinto, meu corpo gira, o braço erguido em reflexo para proteger o rosto. O carro dispara para longe tão rápido quanto surgiu, desaparecendo na curva do quarteirão.
E então, eu sinto uma ardência atravessar a pele, mas antes que eu identifique o motivo da dor, o segurança e algumas pessoas me envolvem em perguntas desesperadas.
Quando sigo com os olhos o caminho da ardência, entendo o motivo da preocupação de todos… estou ensanguentada. O fluido rubi escorre grosso e morno pelo meu braço e despenca no chão pelos dedos.
Meu estômago embrulha e as pernas perdem a estabilidade, a escuridão está tomando minha visão e minhas forças.
De repente, mais nada.
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— Ei… acorda… — uma voz masculina, tão calma que chega a parecer angelical, me chama, enquanto sinto um toque na minha bochecha.
Abro os olhos, e a primeira coisa que vejo são íris cor de chocolate me encarando. Pisco algumas vezes e, por reflexo, meu corpo se senta.
Estou em um sofá de couro preto, no que parece ser uma pequena biblioteca. Encaro o homem ajoelhado no chão, na minha frente, e por um instante, prendo o ar.
Meus ombros se enrijecem.
É ele.
— Você se machucou, mas já está bem — diz, e sua voz desliza, se esfregando na minha pele.
Meus olhos descem para o braço. Vejo a gaze cercada de esparadrapos, onde antes ardia.
— Que lugar é esse? — ainda estou atônita.
— É o escritório da boate. Te trouxe quando desmaiou. Se sente bem?
— Sim. Eu desmaio quando vejo sangue… sempre fui assim.
Ele abre o sorriso de canto de boca mais irônico e mais absolutamente hipnótico que eu já vi quando fala:
— Você desmaia com sangue? Que… interessante.
Meus olhos se travam naquele sorriso e quando noto, estou segurando o ar de novo. Me forço a sair do transe inexplicável que está prendendo a minha mente:
— Eu tomei um tiro? Por que alguém faria isso comigo?
— Foi só de raspão. Tentaram atirar em mim. Eu estava voltando para a porta e parei perto demais de você.
— E por que atirariam em você?
Ele dá de ombros, casual, mas os olhos não desviam dos meus:
— Talvez eu tenha pisado em alguns calos com a abertura da boate. A concorrência é grande… essa cidade é cheia de mafiosos…
— Sou Samiel — estende a mão. — Meus amigos me chamam de Sami.
Quando nossos dedos se tocam, sinto o calor dele invadir a minha pele, e um simples cumprimento parece… íntimo demais para um estranho. Indecente. Mas de um jeito delicioso.
Continuo olhando para ele, presa no movimento dos seus lábios.
— Lindo… — limpo a garganta — o… seu nome.
Ele ergue uma sobrancelha e sorri, como se percebesse o efeito vergonhoso que tem sobre mim.
— Agora é a hora que você diz o seu.
Sinto uma sacudida interna, uma enxurrada de vergonha.
— Alexia — digo firme. — Lexi.
— Vem, Lexi. Tenho alguém para te apresentar — Sua voz dança em cada sílaba. Sinto borboletas subirem da boca do estômago até a nuca, meu corpo inteiro reage à presença dele.
Seguimos por um corredor pouco iluminado, aparentemente, no andar superior à boate, onde ainda ouço a música. O corredor termina em uma escada rústica, e quando subimos, uma antessala com um conjunto de sofás em couro se revela.
Mas não é a decoração do lugar que congela o meu corpo — e me deixa completamente atônita.
Bem na minha frente, dois homens e uma mulher estão envolvidos em uma cena de sexo a três tão explícita, que me deixa sem reação.
— Me espere aqui, já volto. — Samiel diz, atravessando outra porta e desaparecendo da minha vista.
Não consigo responder.
A mulher está no meio dos dois, sua boca completamente enterrada no membro de um deles, enquanto o outro está atrás dela, entrando e saindo do seu corpo com tanta força que movimenta todo o trio. Eles estão suados e seus rostos têm tanta satisfação que, por um instante, chego a acreditar que estão sob o efeito de alguma droga.
A umidade que se forma no meu centro parece capaz de escorrer pelas pernas, e a cada movimento deles, minha pele reage como se fosse eu ali. Meu pulso acelera. Não consigo desviar os olhos.
Esfrego as mãos pelos braços, amenizando os arrepios intensos. Eles também me vêem, mas não se importam com a minha presença.
— Você gosta? — A voz surge atrás de mim, baixa e quente.
Viro o rosto e Samiel está ali, seus olhos têm um brilho escurecido. Estava tão presa na cena, que não o vi chegar.
— Não — minto — é vulgar.
Ele só sorri.
— Vem, ele não está aqui.
Sigo atrás dele, com as bochechas e o pescoço ardendo de… nem sei bem o que, e então, encaro a minha mão, onde está o curativo. Arranquei sem nem perceber.
Encaro o local do machucado e…
O que?
Onde deveria ter um corte enorme, de um tiro de raspão, não tem… nada.
Encaro as três notas fiscais de bebidas na mesa. Deveria lançá-las no sistema, mas qual o sentido, se toda essa contabilidade é forjada?Mais uma noite com a Nox fechada. Mais uma noite sozinha.O estalo de vidro quebrando no primeiro andar corta meu tédio. Pulo da cadeira, o coração acelerando. Eu deveria estar sozinha aqui. E o sistema de segurança deveria ter soado.Outro barulho. Mais forte. Metálico. As portas dos fundos.— Alexia! — Uma voz masculina abafada grita lá embaixo.— Vai ser mais rápido se você se entregar! — Outra acrescenta.Alguém lá embaixo procura por mim. Congelo por um segundo. Minha única opção é subir. Corro pelo corredor, mas antes de alcançar a escada, um puxão violento no meu cabelo me arranca o fôlego. Grito, até mãos cobertas por luvas pretas abafarem minha boca. Sou erguida como uma boneca e esmagada contra o peito de um homem enorme, vestido todo de preto.Em seguida, outro como ele surge. Não vejo seus rostos, apenas os olhos, em máscaras de um tec
A semana tem sido um inferno.Caelith foi chamado pelo Conselho de novo. Os cretinos querem se certificar de que Lexi está mesmo marcada, já que Azriel deixou clara a sua curiosidade por ela. Eles existem para evitar guerra entre clãs, mas essa garota tem o potencial de incendiar todos nós.Depois que peguei a pasta dela no orfanato, com as informações da mãe, não foi difícil levantar a questão do mestre dela. Mas de todas as possibilidades… tinha que ser a pior.Azriel, o pior irmão de Caelith. Inconsequente, entediado e faminto por caos. O tipo de Nephilim que transforma o tédio em destruição.— Uma umbra? Tem certeza? — ele me pergunta, recém chegado na boate.A porra de uma Victus Umbra. Uma Victus com resquícios de DNA Nephilim. Uma raridade venenosa. Beber do sangue dela é quase como beber do próprio Nephilim, mas sem a toxicidade do nosso sangue, que nos destruiria. Um combustível bem mais puro.— Qual outra explicação para você ter se curado tão rápido? — Sento metade do corpo
Desço do apartamento no instante em que Eryon transfere caixas e mais caixas de bebidas do estoque da Nox para os bares da boate.Ele carrega duas de cada vez, como se estivessem vazias. Zara se diverte, contabilizando as garrafas e lendo os ingredientes das bebidas coloridas. Hoje é um dos dois únicos dias na semana em que a boate não abre, e o lugar está calmo de uma forma estranha. Ela abre uma garrafa de vinho do bar, conecta o celular no cabo do palco e, de repente, uma batida alta explode das caixas de som. As luzes se apagam, os globos coloridos começam a girar, e temos a boate toda só para nós três.— Eu não terminei o trabalho, Eslovênia — Eryon diz, quando ela o puxa pela mão para o meio da pista de dança. Os dois dançam com intimidade, entre sorrisos maliciosos — nada mais do que amigos com benefícios. Ainda assim, ver os dois juntos me parece… confortável. Uma alegria simples me invade, e chega a aquecer meu peito, por uma coisa tão boba: estamos dançando em uma boate va
— Achou que ia conseguir fugir me seduzindo, garota? — Samiel ri alto. — Logo eu?Reúno todo o meu controle para não socar essa prepotência para longe do rosto dele. — Um simples “não” já bastava. Mas acho que você gosta de um teatro, não é?O sorriso dele vai morrendo aos poucos.— Nunca mais tente me colocar contra o meu clã.“O clã vem primeiro”, foi o que Zara disse. Tudo pelas regras do clã.Estreito os olhos para ele e avanço de repente. Antes que ele possa entender, envolvo minhas mãos no seu pescoço e colo a minha boca na dele com força. Já enfiei a minha língua na sua boca quando uma força me arranca do corpo dele. Cael.Mas não encaro o mestre, meus olhos estão na expressão surpresa de Samiel.— Beijando uma victus… — um sorriso se forma sozinho nos meus lábios. — Quebrando as regras, vicarius?Então, ele entende o que eu fiz. Claro, ele não descumpriu regra nenhuma, não foi um beijo consensual. Mas não importa, eu arranquei a prepotência do rosto dele, e isso já fez val
— Me deixem sair daqui! — grito, esmurrando as portas do apartamento de Cael.Já faz mais de vinte e quatro horas que estou trancada aqui. Sozinha. E pelo menos cinco delas eu passei batendo nessas malditas portas.Eryon me traz as refeições em silêncio, mas nunca abre a boca. Não sei onde Cael e Samiel estão, e cada minuto de espera aumenta a vontade de destruir esse lugar inteiro.— Vocês não podem me prender desse jeito! — chuto a porta, a cabeça latejando como se fosse explodir.De repente, as portas se abrem com tanta força que quase caio para trás.— Você está me irritando, garota. — Samiel surge na sala, com uma expressão animalesca. O espaço parece diminuir, esmagado pela presença enorme dele. — E você não quer me ver irritado.Meu coração dispara, mas não recuo. Ergo o queixo, forçando uma coragem que, definitivamente, não é natural para mim.— Eu sei que é contra as regras me prender aqui.Ele cruza os braços, o sorriso é frio.— É? E o que você vai fazer sobre isso? Rezar?
As portas da saída dos fundos da Nox se abrem como se um furacão atravessasse o beco.— Ainda virgem, Draven? — A voz de Samiel surge para mim antes que eu possa vê-lo. — Achei que agora que você foi expulso da ordem, iria correndo para um bordel. Expulso da ordem? De repente, Cael aparece, ao lado do vicarius, o rosto é uma pedra de gelo, mas os olhos ardem mais do que o inferno.O padre não se deixa intimidar. — Fico feliz que vocês acompanhem a minha vida tão de perto assim. Já não sou mais padre, mas… — Abre um sorrisinho e aponta a sua mão aberta — sem anel, sem sexo. Sabe, princípios… — Você me impressiona — Samiel volta a falar — Quantos anos, oitenta, noventa? Draven dá de ombros— Quem se lembra? Parei de contar… Sabe, festas de aniversário não são, exatamente comuns para um sentinela. Espera… Eles estão falando da idade do padre Draven? Reparo, pela primeira vez, o homem na minha frente, mesmo que já tenhamos nos encontrado outras duas vezes: Alto, uma mandíbula quadr
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