Mundo de ficçãoIniciar sessãoA vida de Alexia sempre foi difícil. Cresceu em um orfanato, onde os maus-tratos eram parte do dia-a-dia, depois que a mãe — marcada por transtornos emocionais — tirou a própria vida, sem nem revelar quem era o seu pai. Agora, já adulta, tudo o que Alexia deseja é estabilidade, um canto seguro que nunca teve. Mas o que deveria ser apenas uma noite de diversão na Nox Trium, a boate mais badalada da cidade, se transforma em um mergulho no proibido quando ela é baleada e cruza o caminho de dois homens tão enigmáticos quanto irresistíveis. Caelith, de presença magnética, e Samiel, tão implicante quanto envolvente, não são humanos. São filhos de anjos caídos e humanas — amaldiçoados a vagar pela terra, dependentes do sangue raro que poucos, como Alexia, podem oferecer. Entre olhares que ardem mais do que deveriam e uma tensão que ameaça consumir sua razão, ela se vê dividida entre a atração inevitável por Cael e a perigosa e explosiva química com Samiel, que desperta nela sentimentos de raiva e desejo na mesma proporção. Mas a Nox Trium guarda segredos maiores do que a música alta e os excessos da diversão noturna. Segredos que envolvem inimigos capazes de custar a vida de Alexia — e um passado enterrado que começa a vir à tona. Agora que foi ameaçada por Azrion, outro como eles, Alexia precisa da proteção de Cael e Samiel. Precisa decidir se foge… ou se se entrega ao fascínio letal daquele que mais a provoca. No fim, duas perguntas permanecem: Até onde Alexia está disposta a ir para descobrir a verdade sobre suas origens? E até onde eles irão para mantê-la presa ao clã?
Ler mais— Eu ouvi dizer que é um tipo de seita sexual — a garota de preto fala para de vermelho.
A fila para a entrada da Nox Trium — a nova boate da cidade — está a um metro de virar o quarteirão, e enquanto eu espero minha melhor amiga, Brinna, presto atenção na conversa de duas garotas na minha frente.
— A amiga de uma amiga, depois que começou a andar com eles, nunca mais foi a mesma — ela continua. — Minha amiga acha que roubaram a alma dela.
Balanço a cabeça para mim mesma. Como as pessoas podem ser tão supersticiosas?
— O que eu ouvi é que eles se juntam em uma sala e compartilham as mulheres — a de vermelho comenta, e agarra a minha atenção. — Não que eu me importasse de ser dividida entre aqueles dois… Olha para ele, naquela jaqueta de couro…
Meu olhar corre para a pequena porta de metal preto da boate, onde um segurança gigantesco só deixa passar as mulheres. Mas não é o segurança que elas estão admirando.
Calça jeans clara e uma jaqueta de couro marrom. O cabelo é castanho queimado, a pele bronzeada. O pescoço é largo, o maxilar… irresistivelmente masculino.
Quase prendo o ar só de olhar para ele.
Mas há alguma coisa nele… errada. A beleza me atrai, mas um desconforto me aperta por dentro, me perturba a ponto de eriçar os pêlos da minha nuca e dos braços.
Ele sai do meu raio de visão e o segurança deixa mais algumas garotas entrarem.
Afasto aquele homem do meu pensamento. Droga, Brinna, mesmo que seja seu aniversário, não precisava atrasar tanto…
É quando acontece.
Um carro freia bruscamente diante da boate, pneus gritando contra o asfalto.
Minha atenção corre para ele no momento em que a janela do carona se abaixa.
E sob a luz suave do letreiro neon da boate, o cano de uma arma brilha…
Apontado… para mim.
Em uma fração de segundo, um único pensamento: Vou morrer. Sozinha. Como cresci.
Os tiros ecoam pela rua. Secos. Dois.
Por instinto, meu corpo gira, o braço erguido em reflexo para proteger o rosto. O carro dispara para longe tão rápido quanto surgiu, desaparecendo na curva do quarteirão.
E então, eu sinto uma ardência atravessar a pele, mas antes que eu identifique o motivo da dor, o segurança e algumas pessoas me envolvem em perguntas desesperadas.
Quando sigo com os olhos o caminho da ardência, entendo o motivo da preocupação de todos… estou ensanguentada. O fluido rubi escorre grosso e morno pelo meu braço e despenca no chão pelos dedos.
Meu estômago embrulha e as pernas perdem a estabilidade, a escuridão está tomando minha visão e minhas forças.
De repente, mais nada.
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— Ei… acorda… — uma voz masculina, tão calma que chega a parecer angelical, me chama, enquanto sinto um toque na minha bochecha.
Abro os olhos, e a primeira coisa que vejo são íris cor de chocolate me encarando. Pisco algumas vezes e, por reflexo, meu corpo se senta.
Estou em um sofá de couro preto, no que parece ser uma pequena biblioteca. Encaro o homem ajoelhado no chão, na minha frente, e por um instante, prendo o ar.
Meus ombros se enrijecem.
É ele.
— Você se machucou, mas já está bem — diz, e sua voz desliza, se esfregando na minha pele.
Meus olhos descem para o braço. Vejo a gaze cercada de esparadrapos, onde antes ardia.
— Que lugar é esse? — ainda estou atônita.
— É o escritório da boate. Te trouxe quando desmaiou. Se sente bem?
— Sim. Eu desmaio quando vejo sangue… sempre fui assim.
Ele abre o sorriso de canto de boca mais irônico e mais absolutamente hipnótico que eu já vi quando fala:
— Você desmaia com sangue? Que… interessante.
Meus olhos se travam naquele sorriso e quando noto, estou segurando o ar de novo. Me forço a sair do transe inexplicável que está prendendo a minha mente:
— Eu tomei um tiro? Por que alguém faria isso comigo?
— Foi só de raspão. Tentaram atirar em mim. Eu estava voltando para a porta e parei perto demais de você.
— E por que atirariam em você?
Ele dá de ombros, casual, mas os olhos não desviam dos meus:
— Talvez eu tenha pisado em alguns calos com a abertura da boate. A concorrência é grande… essa cidade é cheia de mafiosos…
— Sou Samiel — estende a mão. — Meus amigos me chamam de Sami.
Quando nossos dedos se tocam, sinto o calor dele invadir a minha pele, e um simples cumprimento parece… íntimo demais para um estranho. Indecente. Mas de um jeito delicioso.
Continuo olhando para ele, presa no movimento dos seus lábios.
— Lindo… — limpo a garganta — o… seu nome.
Ele ergue uma sobrancelha e sorri, como se percebesse o efeito vergonhoso que tem sobre mim.
— Agora é a hora que você diz o seu.
Sinto uma sacudida interna, uma enxurrada de vergonha.
— Alexia — digo firme. — Lexi.
— Vem, Lexi. Tenho alguém para te apresentar — Sua voz dança em cada sílaba. Sinto borboletas subirem da boca do estômago até a nuca, meu corpo inteiro reage à presença dele.
Seguimos por um corredor pouco iluminado, aparentemente, no andar superior à boate, onde ainda ouço a música. O corredor termina em uma escada rústica, e quando subimos, uma antessala com um conjunto de sofás em couro se revela.
Mas não é a decoração do lugar que congela o meu corpo — e me deixa completamente atônita.
Bem na minha frente, dois homens e uma mulher estão envolvidos em uma cena de sexo a três tão explícita, que me deixa sem reação.
— Me espere aqui, já volto. — Samiel diz, atravessando outra porta e desaparecendo da minha vista.
Não consigo responder.
A mulher está no meio dos dois, sua boca completamente enterrada no membro de um deles, enquanto o outro está atrás dela, entrando e saindo do seu corpo com tanta força que movimenta todo o trio. Eles estão suados e seus rostos têm tanta satisfação que, por um instante, chego a acreditar que estão sob o efeito de alguma droga.
A umidade que se forma no meu centro parece capaz de escorrer pelas pernas, e a cada movimento deles, minha pele reage como se fosse eu ali. Meu pulso acelera. Não consigo desviar os olhos.
Esfrego as mãos pelos braços, amenizando os arrepios intensos. Eles também me vêem, mas não se importam com a minha presença.
— Você gosta? — A voz surge atrás de mim, baixa e quente.
Viro o rosto e Samiel está ali, seus olhos têm um brilho escurecido. Estava tão presa na cena, que não o vi chegar.
— Não — minto — é vulgar.
Ele só sorri.
— Vem, ele não está aqui.
Sigo atrás dele, com as bochechas e o pescoço ardendo de… nem sei bem o que, e então, encaro a minha mão, onde está o curativo. Arranquei sem nem perceber.
Encaro o local do machucado e…
O que?
Onde deveria ter um corte enorme, de um tiro de raspão, não tem… nada.
Zara sobe para o escritório e eu corro atrás de Cael. E assim que ele passa pelas portas dos fundos da Nox, para o beco, seu caminhar trava. Sentiu o meu cheiro, provavelmente.O ar frio da rua agride o meu rosto, e mesmo na escuridão do beco, quando ele se vira para mim, nossos olhares se encontram. — Você armou para mim. — começo. E, de um jeito estranho, minha voz sai fraca. Eu não tinha percebido, até então, como isso me magoou. Não até falar em voz alta.— Foi você que me entregou para Volkov — continuo — só porque queria matá-lo.“Eu precisava que você cometesse um crime, Volkov. Para eu poder te matar sem problemas com o conselho.” Ele mesmo tinha admitido isso para o Sentinela, na minha frente.Cael dá um passo à frente, maxilar tenso, e uma sombra de tristeza e culpa atravessa a sua expressão quando, por reflexo, eu dou um passo atrás.— Você não entende, Lexi… — a voz dele também quase falha — …eu precisava fazer isso. Quando ele te chamou de pecado maior… ele não ia descans
A boate está lotada. Eryon está no bar com a Lexi, Samiel está no escritório e Cael passa de um lado para o outro com os novos integrantes do clã de tempos em tempos. Cada um na sua.Tudo normal até aí.Mas não tem nada de normal no silêncio e nos olhares perdidos de cada um deles. O clima está pesado, e ninguém parece ter coragem de assumir.Eryon não admite para mim que Cael forjou a ameaça de Arielle sobre uma guerra. Ele é fiel demais ao clã, mas posso ver a insatisfação e a tensão nos seus olhos. E se eu estiver certa, Cael fez isso para introduzir Lexi ao clã sem o consentimento de Samiel — dar aos outros um gostinho da força do sangue dela. Pressionar o vicarius.No Exilium, o clima é o mesmo. Acho que todos perceberam que Cael tem mostrado um lado sombrio — um lado que eu nunca tinha visto. Draven sempre alertou as victus para nunca confiar nos filhos de Lúcifer — eu nunca confiei em Nephilim nenhum — mas vivemos em paz por anos. E talvez essa paz esteja para acabar.Me aprox
Eu tinha certeza de que aquele homem ia me beijar. De que ele faria amor comigo da forma mais apaixonada e mais louca possível depois daquela declaração, que me deixou de queixo caído. E eu sabia bem que ele queria isso, porque a vontade dele tocou a minha barriga quando estávamos próximos, e me encheu de curiosidade. Mas não. Samiel me levou para outro lugar — uma boate com uma moradia completa no porão — me enfiou em um chuveiro e tirou todo o sangue do meu cabelo, com uma expressão preocupada que não abandonava o seu rosto. E com a roupa encharcada, a vontade dele ficava ainda mais nítida. Depois, simplesmente, me deu uma blusa de malha e me colocou para dormir, como se eu fosse uma criança. Ficou ao meu lado na cama, em silêncio, mas com o corpo parecendo totalmente tensionado, enquanto meu centro pulsava de vontade e curiosidade por ele, e meu coração disparava como doido. Ainda bem que ele não tem como saber desses detalhes, ou eu morreria de vergonha. —--------- // —------
O homem na minha frente me encara com olhos apreensivos, metade do corpo sentado em uma mesa de mogno enorme, enquanto eu conto tudo que eu sei sobre a noite. Seu nome é Samiel, mas eu ainda não entendi bem qual a natureza da nossa relação.Estamos no que ele chama de escritório, mas parece o lounge de um bar dentro de outro bar, e eu calço as botas que parecem um número abaixo do meu — botas sujas e cheias de pó por dentro. — Faz sentido que Volkov seja o seu pai, sua mãe se refugiou entre eles quando… — ele para de falar, como se tivesse mudado de ideia sobre me contar alguma coisa.— Eu não sou uma pessoa religiosa, mas sei que os padres deveriam ajudar as pessoas. Não matar. — Então, minha voz fica um pouco embargada. — Mesmo que eu seja uma vergonha para ele. Ele ameaça levar uma mão até o meu rosto, mas trava o movimento no meio do caminho. Seu tom de repente fica suave.— Eles são padres diferentes, Lexi. — Suspira, parecendo estar acordado há uma semana inteira. — Você tomou
— Diga para o seu chefe que tem uma mulher aqui fora procurando por um meio-chimpanzé. O segurança da porta parece estar vendo uma assombração — não é todo dia que ele encontra uma mulher toda machucada e suja, com um par de botas agarrado ao peito como se fosse um bote salva vidas no meio do oceano — e me encara em silêncio por segundos, antes de entrar pelo bar.Olho mais uma vez para o homem que me deu a carona. Ele apoia a lombar no carro e me lança um olhar incentivador, mas ainda preocupado. Resolveu não ir embora, talvez esteja esperando para saber se aqui realmente tem alguém que pode me ajudar ou se eu sou só alguém que foi agredida no meio de uma mata e perdeu a noção de realidade. Acho que nós dois vamos descobrir. Porque a coisa de beber sangue ainda me parece bem… inacreditável.Minhas mãos tremem cada vez mais e, por mais que o resto do meu corpo esteja gelado, não estou racionalizando o frio. Deve ser a adrenalina.Os segundos passam e o segurança volta ao seu posto. S
Basta que eu diga “sim”. E nada mais desse desespero, nunca mais sentir que é difícil respirar só por estar longe de uma pessoa, como eu senti quando estive preso pelo conselho. Ser dono de mim mesmo de novo.E então, vem o sorriso dela, a gargalhada. Fecho os punhos e vejo seu rosto perfeito — a respiração leve, dormindo no meu peito… exigindo tão pouco de mim, quando eu seria capaz até de gelar a porra do inferno se ela pedisse.“...você nunca vai ser um pecado. Não para mim. O que quer que tenha te trazido para esse mundo… eu fico feliz que tenha existido”, foi o que ela me disse. E pela primeira vez na vida o vazio que eu sempre senti no peito, sumiu. Foi ela que preencheu.Quando Arielle me chamou de estraga-prazeres, dizendo que eu mudei e que não gostaria de estar no meu lugar, eu deveria ter dito para ela que antes da Alexia eu não era ninguém de verdade, sem propósito nenhum na vida.E que nenhuma droga, nenhuma bebida, nenhuma mulher — nem cinco ou dez delas ao mesmo tempo
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