— Não é possível que você ache tão normal assim o que nós acabamos de ver ali — digo, enquanto caminhamos de volta pelo corredor.
Seu rosto ainda não tem nenhuma expressão.
— E não é normal? É sexo. Foi o que sempre moveu o mundo. — Ele arqueia a sobrancelha quando me encara, um sorriso cheio de ironia. — Até os anjos caíram por ele.
Balanço a cabeça, ainda sem acreditar, e resolvo mudar de assunto.
— O que você passou no meu braço?
— Antisséptico.
— Mas não tem nada aqui. Eu estava ferida. O corte era grande… sangrou muito.
Agora a minha voz era uma mistura de susto com dúvida. E medo. Eu imaginei aquilo?
Ele para e se aproxima. Devagar. Uma mão pega uma mecha do meu cabelo claro e encaracolado e a coloca atrás da orelha.
— Foi só um arranhão. Sua cicatrização é boa.
O timbre da sua voz é tão delicado, tão doce, que envia uma onda de calor pelo meu corpo. Não consigo resistir e fecho os olhos, absorvendo a sensação.
Quando volto a abri-los, é como se aquele assunto não me interessasse mais. Não é importante.
Caminhamos pelo corredor, até que Samiel abre mais uma porta dupla e, então, um salão de jogos surge.
A mesa de sinuca é a primeira coisa que eu noto. Depois, a de pôquer e a de pebolim. Ao redor, vários sofás espalhados. A iluminação baixa poderia deixar o ambiente relaxante, mas não existe nada de relaxante nos olhares que se voltam para mim.
Dez, talvez doze pares de olhos me encaram quando entramos.
As mulheres dançam de forma sedutora em um canto, esfregando seus corpos. Os homens, todos eles, estão reunidos em torno da mesa de sinuca.
Todos… menos um.
Ele está no sofá, exatamente de frente para o jogo, com uma mulher largada no seu colo como se fosse uma almofada, mesmo que os outros assentos estejam vazios.
— Lexy, esse é Cael, meu… sócio aqui na boate.
Se Samiel tem uma beleza meio hipnótica, como um tipo de veneno lento… Cael é o extremo oposto.
O cabelo escuro cai bagunçado até a altura da boca, mais curto na frente. A mandíbula marcada não é bonita de um jeito comum, tudo nele é perfeito… mas de um jeito que me acelera.
Os olhos… são de aço, e não é só a cor das íris, é a frieza com que ele me encara, de um jeito que diz: “você não vai conseguir fugir de mim”.
— Muito prazer — eu digo a segunda mentira da noite.
Ele segura a garota pela cintura, com as duas mãos, e a coloca no assento ao lado, como se ela fosse mesmo leve como uma almofada. Então, se levanta.
Tão alto que faz minha cabeça ir para trás para seguir o seu olhar.
Tão perto que me faz prender o ar.
De repente, se vira e sai.
— Simpático — encaro Samiel, que só sorri.
—----------------- // -----------------------
As luzes da boate me engolem quando Samiel me puxa para o meio da pista de dança. A música é tão alta que parece entrar pela minha pele e vibrar entre os meus ossos.
O calor é quase sufocante, mas ninguém parece se importar: ao meu lado, as pessoas estão se esfregando, se beijando, se devorando em público como se o mundo fosse acabar quando o sol nascesse.
Samiel desliza atrás de mim, suas mãos grandes descendo pela minha cintura, cheias de confiança. Meu centro pulsa. Molhado.
Ele guia o meu quadril no ritmo do dele, não no da música eletrônica.
É bom. É tão bom que parece errado.
— Tem alguma coisa estranha, Samiel, eu estou…
— … gostando. — ele termina a frase por mim.
Sim. Mas não era isso que eu ia falar. O que mesmo que eu estava pensando?
Minha mente parece uma nuvem de névoa.
Jogo a cabeça para trás, contra o peito de Samiel, mas meu olhar encontra outro.
Encostado no bar, Cael tem os braços fortes cruzados no peito, mandíbula travada… me observando. Sério. E seu olhar é tão excitante que eu pisco devagar.
E então… ele está atrás de mim.
Não sei como atravessou a pista sem que eu percebesse, em uma fração de segundo, mas agora é o peito dele que está firme contra minhas costas. A diferença de altura some quando ele curva a cabeça até meu ouvido.
O hálito quente roça minha pele e, no mesmo instante, sinto a pressão dura da ereção dele contra a minha bunda.
Choques atravessam meu corpo inteiro. Minhas pernas fraquejam, mas ele me sustenta, conduzindo meus movimentos de leve.
Nossos quadris não se descolam, e eu arqueio mais contra ele, minha bunda massageando seu membro sem pudor.
Cada batida da música deixa o atrito mais lento, mais… surreal.
Meus olhos voltam a se fechar, sem autorização. Estou dançando… mas parece sexo.
O corpo dele contra o meu, a respiração arfada no meu ouvido, o calor que sobe pelas minhas pernas e se espalha pelo resto do corpo.
E quando penso que vou me perder ali…
Cael desaparece.
Abro os olhos, atordoada, mas encontro apenas Samiel, com um sorrisinho irônico.
— Acho que você precisa descansar… já bebeu muito.
Espera… beber?
— Eu não bebi nada — tento dizer, mas minha voz é sufocada pela música alta.
Ele me guia pela pista de dança, e me leva até a porta da boate.
— Descanse, ok? Já está tarde. — Seu polegar toca o meu lábio e esquenta o meu rosto. — Eu vou entrar em contato.
— Você não tem o meu…
— Eu dou um jeito — Ele diz, já de costas.
Pego o meu telefone para chamar um carro de aplicativo e…
Meu Deus…
Quase cinco da manhã?
Como é possível? Só passava das oito quando eu estava na fila… perdi alguns minutos desmaiada no escritório… Não mais do que uma hora dançando…
Não foi?
Olho o telefone mais uma vez e agora tudo em mim gela. Quinze ligações perdidas…
Brinna.
Eu esqueci do aniversário da minha melhor amiga.
O que aconteceu comigo essa noite?