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C 6 - LEXI - "NÃO BRINQUE COM A COMIDA"

Chego na Nox no fim da tarde. Samiel me pediu para trabalhar no turno noturno, que é quando eles trabalham e, por mais que isso não faça muito sentido para mim, aceitei. Por um salário dez vezes maior, eu trabalharia até de cabeça para baixo, se eles pedissem. 

As planilhas que agora existem no computador são tão atualizadas e perfeitas que só me resta analisar uma a uma. Até ontem, eles disseram que o controle era feito à mão, hoje está tudo aqui, no sistema administrativo. Tudo perfeito. 

Tudo estranho, como sempre.

Já é noite quando entro no salão de jogos, que hoje está mais cheio do que o normal. Talvez alguns clientes tenham sido convidados para o lugar. 

Sami e Cael dividem a mesa de sinuca enquanto todos os sofás são ocupados, e algumas pessoas dançam com copos na mão.

— Preciso que um de vocês me mostre as notas fiscais das bebidas e de todo o resto, para que eu dê entrada no sistema. 

Nenhum dos dois me olha, as atenções completamente focadas nas jogadas.

— Eryon pode te ajudar com isso — Sami diz. 

Assinto e já estou saindo, em direção a Eryon, o barman, quando Sami chama o meu nome. 

— Venha relaxar um pouco, Lexi. Ninguém se importa com as notas fiscais. 

Suspiro. Como vou conseguir trabalhar assim?

— Só um pouco — conclui, com aquela voz angelical, que eu já percebi que não permanece o tempo todo. 

Me aproximo de novo e paro em frente à mesa. 

— A sua voz… — estreito os olhos para ele. — Isso que você faz… como você faz isso?

— Não sei do que você está falando — responde, casual demais enquanto dá uma tacada.

Sei que ele está mentindo, porque seu timbre normal surge quando ele relaxa.

Olho para Cael, que pela primeira vez não tem uma expressão dura. Pelo contrário, um sorrisinho irônico surge no rosto dele. Meu coração dispara, mesmo sem ele estar me olhando diretamente.

— Sabe sim — volto a falar. — Você faz essa coisa com a voz quando quer me convencer de alguma coisa. 

Agora ele me encara.

— E funciona?

Sou obrigada a sorrir e só balanço a cabeça. Quando olho para Cael de novo, seus olhos estão em mim, uma sombra de curiosidade atravessa o seu rosto. 

A excitação parece entrar por baixo da minha pele, porque sinto uma fisgada na coluna, e todos os meus pelos se arrepiam.

De repente, Sami me entrega o taco e se afasta, deixando um silêncio cheio de tensão entre nós. Ele também usa o truque da voz? 

Então, percebo que não conheço a voz de Cael. 

— Ainda não ouvi a sua voz. — comento e ele me avalia. — Você fala? 

— Quando me interessa. 

A voz dele é grave, firme, nada suave, e ainda assim, tão sensual que me pega desprevenida. Minha pulsação acelera e a respiração fica agitada.

Ele me assusta, me acelera, mas de uma forma estranha, me vejo querendo continuar a conversa. Pergunto a primeira coisa que vem à cabeça, instintivamente:

— Você também faz isso com a voz, sabe, para convencer as garotas?

Ele encaçapa uma bola com perfeição, sem me olhar:

— Você quer saber se eu faço ou se eu posso fazer?

Sorrio.

— Os dois.

Deus, eu estou flertando com esse homem?

— Eu posso fazer. Nós todos aqui podemos. Mas não faz o meu estilo.

— Por que não?

Ele se aproxima um pouco enquanto se prepara para a próxima tacada, tão perto que consigo sentir o calor dele invadir meu espaço pessoal.

— Prefiro convencer de outra forma.

Mordo o lábio inferior, e sem perceber, estamos perto demais. Os olhos dele me prendem, profundos e fixos, e a música da boate lá embaixo parece ter desaparecido. Tudo que ouço é o meu coração acelerado e minha própria respiração, misturada à excitação que desce para onde não devia.

— Sua vez — ele diz.

Mas no instante em que eu me preparo para fazer a tacada, tudo parece desacelerar:

Cael se vira bruscamente para as portas do salão de jogos — os olhos se tornam assassinos e o maxilar trava — um instante antes de elas serem abertas com violência.

Ele é jovem, pele de oliva, cabelos de um encaracolado leve que caem até o queixo. Sorri. Mas tem alguma coisa muito errada nesse sorriso — uma ameaça tão clara quanto uma faca apontada para um pescoço.

— Sua mãe nunca te disse para não brincar com a comida, Caelith?

Cael me empurra para trás do corpo enorme, devagar, enquanto Samiel já se coloca ao lado do amigo.

— Como você entrou aqui, Azrion? — Cael praticamente cospe o nome do homem.

Mas o sorriso do homem cresce, cruel e sarcástico.

— O segurança da porta me convidou com tanta educação, que não resisti.

— Todo mundo para fora. — Samiel grita, e os outros se apressam para sair.

Eu demoro a reagir, meus pés parecem presos no chão. Só quando quase todos já passaram, consigo sair de trás de Cael e andar em direção à porta.

Mas antes que eu consiga atravessá-la, sinto um puxão no cotovelo. O choque me arranca o ar — meu corpo resvala sem controle, até que olhos verdes, impossíveis de ignorar, prendem a minha atenção.

— Você fica, princesa.

Meu estômago se contrai, como se eu tivesse engolido gelo.

Cada nervo meu em está em alerta, e enquanto nossos olhos se conectam, o medo se espalha rápido. Olhar para este homem é uma combinação de ameaça e magnetismo imobilizante.

— Seu perfume é uma delícia, sabia? — ele continua, e suas palavras deslizam pela minha mente, como um veneno gostoso.

— O que está fazendo com a minha victus, Azrion? — Cael tem o tom baixo, calmo, enquanto caminha para mais perto. — Quer problema com o conselho?

Azrion não olha para ele. Os olhos continuam em mim, saboreando o meu medo.

— Engraçado, não sinto o seu cheiro nela. Nem o do seu vicarius. Se ninguém a reivindicou, ela é minha agora.

Meu coração b**e tão forte que parece que vai explodir pelas costelas, e um frio glacial percorre a minha espinha.

“Ela é minha agora”. A frase berra na minha cabeça, me mandando correr, mas estou presa no aperto deste desconhecido.

— Talvez seu olfato esteja prejudicado pela idade. — A voz de Sami não tem nada de angelical agora. 

Eu ouço a tensão nas vozes de Samiel e Cael, mas não consigo desgrudar dos olhos do desconhecido. Ele me solta devagar, e por um instante penso que estou livre. Mas, quando tento me mover, sua mão prende meu punho como uma algema de aço.

— Eu vou estar por perto, princesa. — seu sussurro parece um arranhão nos meus ouvidos. — De olho em você.

Quase corro até o escritório para pegar a minha bolsa. Quero sair desse lugar e nunca mais voltar.

Mas antes que eu chegue até a porta da boate, Sami me alcança. 

— Me desculpe, Samiel, mas dinheiro nenhum vale problemas com a máfia — digo apressada. — Obrigada pelo emprego, mas estou me demitindo.

Ele bloqueia o meu caminho.

— Se você sair agora, sua vida vai estar em risco.

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