Caleb Vasconcellos, médico e empresário respeitado, divide sua vida entre a direção do hospital e o cuidado amoroso com seu pequeno filho, Lucas. Viúvo de Sofi, seu grande amor, ele enfrenta diariamente a solidão sufocante e a responsabilidade de manter vivo o legado que construíram juntos. Tudo parece imutável até que Ava, uma paciente marcada por abusos e um acidente trágico, desperta nele emoções há muito adormecidas. Enquanto Caleb se dedica à recuperação de Ava, buscando em seu sorriso uma esperança para seu próprio coração ferido, sombras se formam dentro de sua própria casa. Francine, cunhada e irmã de Sofi, administra a mansão com dedicação aparente, mas esconde uma obsessão perigosa. Desde sempre apaixonada por Caleb, nunca superou ter sido preterida pela irmã e, agora, vê em Ava e Lucas ameaças ao que acredita ser seu por direito. Consumida pelo ressentimento e pela inveja, Francine planeja, em silêncio, se tornar indispensável na vida de Caleb. Cada gesto de carinho entre ele e o filho é para ela uma ferida aberta, um lembrete cruel da felicidade que lhe foi negada. Movida por uma paixão distorcida, ela traça seu caminho com paciência e dissimulação, decidida a conquistar o que julga ser seu destino. Entre perdas, esperanças e traições silenciosas, Caleb, Ava e Lucas enfrentarão muito mais do que os desafios do hospital ou da empresa: lutarão pela própria sobrevivência emocional, ameaçados pela presença insidiosa de quem deveria protegê-los. Em um cenário de amor, ambição e loucura, a verdadeira batalha será pelo coração e pela vida.
Ler maisAcidente
A noite estava pesada, carregada. Uma tempestade caía sobre a cidade.
Raios riscavam o céu, iluminando por breves segundos a estrada sinuosa.
O vento uivava entre as árvores, fazendo-as balançar de forma ameaçadora.
O cheiro de chuva e terra molhada impregnava o ar, misturando-se ao aroma ácido do álcool derramado dentro do carro.
Taylor segurava o volante com uma das mãos, a outra apertava com força o pulso de Ava. Seus dedos cravavam na pele dela, deixando marcas vermelhas que ardiam.
O medo pairava como um peso no peito dela.
— Eu já disse para não me desafiar, Ava! Sua voz soava como um rugido de fúria, um trovão ameaçador no meio da tempestade. Os olhos embriagados brilhavam sob a penumbra do painel.
Ava tentou soltar-se, mas o aperto aumentou. Seu corpo tremia. A boca estava seca, a respiração entrecortada pelo medo que a consumia.
Já conhecia esse olhar. O olhar de quem iria machucar.
— Taylor, por favor...Sua voz era um sussurro.
Sabia que qualquer palavra errada poderia ser uma nova faísca na explosão que se armava.
Sem aviso, o punho dele se fechou e atravessou o ar, encontrando o rosto dela com força. O gosto ferroso de sangue preencheu sua boca.
Ava virou o rosto, engolindo o grito. O estômago se revirava em nojo e medo.
As luzes da estrada piscavam rápido através dos olhos lacrimejantes. A dor latejava.
O carro balançou na pista. Taylor ria, descontrolado. As palavras saíam emboladas pelo álcool.
— Se você pensa que pode me deixar, está enganada! Eu sou tudo o que você tem!
O motor rugiu quando ele pisou ainda mais fundo no acelerador. A velocidade aumentava. A chuva batia forte no para-brisa, os limpadores mal davam conta.
A noite estava densa, sufocante, como se a tempestade que se armava refletisse toda a tensão dentro do carro.
Nuvens carregadas encobriam a lua, e relâmpagos cortavam o céu com fúria.
A estrada sinuosa parecia se perder no meio da escuridão, iluminada apenas pelos faróis que tremulavam a cada solavanco do carro.
A chuva castigava o asfalto, formando poças traiçoeiras que faziam os pneus patinarem.
Seu coração batia acelerado, quase ensurdecedor. O medo era um gosto amargo na boca já ferida pelo soco.
— Eu já disse que não admito ser desafiado, Ava! Taylor rosnou, a voz arrastada pela embriaguez. Seu olhar, antes apenas ameaçador, agora transbordava ódio.
Ava tentou puxar a mão, mas o aperto só aumentou. Seus olhos percorreram o painel digital do carro, buscando uma esperança.
A velocidade marcava 140 km/h e subindo. A chuva, antes um obstáculo, agora parecia o menor dos problemas.
— Taylor, por favor... você não está bem. Vamos parar o carro, podemos conversar.
Sua voz saiu trêmula, mas ela sabia que palavras eram como gasolina em sua fúria.
Ele riu. Uma risada seca, sombria, que fez um calafrio percorrer a espinha dela.
— Conversar? Ele girou abruptamente o volante para a direita, fazendo o carro derrapar na pista molhada. Ava se segurou como pôde, sentindo o cinto de segurança apertar seu peito.
— A única coisa que você vai fazer é me escutar. Eu sou seu marido, sou seu mundo! Seus olhos estavam fixos nela agora, e não na estrada.
O impacto veio sem aviso.
Ava sentiu o murro antes de perceber o movimento. O punho dele atingiu seu rosto com força, fazendo-a ver flashes brancos.
A cabeça dela bateu contra a janela. Um zumbido preencheu seus ouvidos. O gosto ferroso do sangue se espalhou novamente por sua boca.
O carro balançou. Taylor ria, satisfeito, enquanto tornava a acelerar. Os faróis iluminaram uma curva fechada. Mas ele não freou.
— Você é minha, Ava! Se não pode ser minha, então não será de mais ninguém!
O carro deslizou sem controle. As rodas perderam a aderência.
O mundo pareceu girar em câmera lenta. As rodas perderam o contato com o asfalto. O carro deslizou, cruzou a pista e despencou ribanceira abaixo.
A primeira capotagem foi violenta!
O mundo girou!
O primeiro impacto foi brutal, como um soco do destino!
O veículo capotou uma, duas, três vezes. Ava foi jogada contra o cinto. O vidro explodiu em estilhaços que cortaram a pele de Ava como pequenas navalhas. O barulho de metal retorcendo era ensurdecedor.
O carro rolou mais uma vez, a estrutura de metal se retorcendo, esmagando-se.
Um impacto final!
Um estalo seco ecoou quando Taylor foi arremessado contra o painel.
Tudo doía em Ava. Seu corpo estava preso entre os destroços, e o cheiro de gasolina misturado ao de sangue enchia suas narinas.
A consciência vacilava, mas antes que tudo escurecesse, ela viu o corpo de Taylor caído, inerte. Seus olhos vazios encaram o nada.
E então veio o silêncio absoluto.
Lá fora, a tempestade continuava a rugir, indiferente à tragédia que acabara de engolir a estrada.
Minutos se passaram. Talvez horas. O tempo havia perdido o sentido.
O barulho distante de sirenes quebrou o vácuo. Os primeiros bombeiros chegaram correndo, lanternas cortando a escuridão.
A sirene da ambulância cortava a madrugada. Equipes de resgate se moviam rápido entre a lama e os destroços do carro.
— Temos um óbito masculino! E uma vítima inconsciente! Gritou um deles ao se aproximar dos destroços.
Os bombeiros puxaram Taylor primeiro. Ele estava morto. O corpo inerte, o rosto desfigurado pelo impacto. Mas ninguém parou. Havia outra vida a ser salva.
— Temos uma vítima presa! Gritou um dos paramédicos.
Ava foi encontrada ainda presa no banco, seu corpo retorcido em um ângulo estranho.
O sangue escorria de um corte profundo na testa, tingindo seus cabelos de vermelho escuro. O batimento dela era fraco, mas estava lá.
As ferragens haviam se fechado sobre ela. Seu corpo estava retorcido no banco do passageiro.
Havia sangue em seu rosto, na roupa, nas mãos que estavam inertes sobre o colo. Os olhos entreabertos não viam nada.
— Ela ainda respira! Anunciou outro socorrista.
As máquinas rugiram quando os bombeiros serraram o metal retorcido.
Cada segundo era crucial. Com extrema cautela, eles retiraram Ava dos destroços e a deitaram na maca. O batimento dela estava fraco, quase inexistente.
— Ela ainda está viva! Precisamos tirá-la agora! A voz do paramédico era urgente.
Quando finalmente a retiraram, um dos paramédicos segurou seu pulso, sentindo a vida pulsar de forma tímida sob sua pele fria.
A chuva castigava seus rostos enquanto a colocavam na maca, cobrindo-a com um lençol térmico.
— Vamos perdê-la! A voz ansiosa
de um dos paramédicos ecoou na noite.
Mas dentro daquele corpo frágil, um coração ainda lutava para continuar batendo!
Entre Linhas e SombrasO dia seguinte amanheceu com nuvens carregadas e uma brisa inquieta que parecia sussurrar segredos antigos entre as árvores. Na clínica, o clima estava mais denso que o habitual. O silêncio entre os funcionários se confundia com olhares furtivos. Algo estava mudando, e todos pareciam sentir, mesmo sem saber exatamente o quê.Ava chegou cedo. Na recepção, organizava os prontuários com mais vigor do que o necessário. Tentava esconder a ansiedade, mas seus dedos tremiam quando manuseava papéis. Havia algo no ar que a deixava em alerta.— Dormiu bem? Helena perguntou, chegando com uma xícara de chá de erva-doce. — Dormi... Mas acordei várias vezes com uma sensação estranha, como se alguém me observasse. Ava respondeu. — Não é só sensação. Disse Helena, baixando a voz. — Francine me perguntou ontem se você já tinha dado entrada no pré-natal formal. —O jeito dela não era preocupação. Era controle!—Ava assentiu. Estava cansada daquele jogo sutil, das palavras
Capítulo 17 – Labirintos de IntençõesA manhã chegou com uma névoa tênue sobre a cidade, como se até o céu hesitasse em revelar completamente o dia. Ava acordou com os primeiros raios filtrando pelas cortinas e uma sensação de calma incomum. O bebê parecia estar em paz dentro dela, e, pela primeira vez em muitos dias, não havia enjoo, nem ansiedade. Apenas o som distante dos pássaros e o cheiro de café vindo da cozinha.Na mesa do café, Matilde lhe entregou uma pasta simples, com documentos que Ava havia esquecido de revisar. — São apenas cadastros de pacientes antigos que você tinha trazido para organizar. Ava folheou mecanicamente os papéis enquanto mastigava um pedaço de pão. Mas algo num nome chamou sua atenção: Ana Lívia Bastos. Uma paciente que, segundo o registro, fizera um pré-natal supervisionado por Francine, mas cujo desfecho indicava complicações não justificadas. O prontuário tinha anotações rasuradas e um carimbo repetido mais de uma vez.— Isso está estranho. Mur
Laços e ArmadilhasO vento soprava forte naquela manhã de terça-feira, carregando as últimas folhas do outono pelas calçadas do bairro arborizado. A casa de Matilde estava aquecida, envolta em um aroma de bolo de fubá recém-saído do forno. Ava, com uma xícara entre as mãos, observava a chuva miúda que começava a cair, sentindo o bebê se mexer suavemente em seu ventre.— Já está se preparando para as manhãs de inverno Disse Matilde, sorrindo, enquanto colocava mais lenha na lareira. — Vai chegar quando tudo florescer de novo.— Assim espero. Ava passou a mão no ventre, absorta. — Não consigo parar de pensar em tudo o que está acontecendo. Parece que o tempo parou só para que a gente descubra o que está errado e conserte.— E você vai conseguir. Matilde disse com convicção. — Caleb está do seu lado. Helena está. E eu estarei até o fim.Enquanto isso, na clínica, Caleb revisava os áudios gravados do escritório de Francine. Vozes abafadas, risos calculados, algumas frases cortadas.
Vozes no SilêncioNo dia seguinte, Caleb passou mais tempo do que o habitual no carro antes de entrar na clínica. O gravador escondido em sua pasta continha três horas de áudio. Ainda não ouvira tudo, mas as primeiras palavras captadas haviam sido como agulhas. Vozes abafadas, risos frios, e, entre eles, o nome de Ava mencionado com desdém."Ela ganhou confiança demais. Caleb está vulnerável. Precisamos agir antes que se torne permanente."Francine não citava diretamente nenhuma intenção criminosa, mas as palavras carregavam veneno. Cada frase era uma arma, cada risada um sinal de alerta. Caleb agora tinha mais do que suspeitas. Tinha um mapa do veneno que se espalhava pelos bastidores da clínica.Enquanto isso, Ava acordava com um leve incômodo lombar, típico da fase em que estava. Matilde preparava um café leve e ofereceu um escalda-pés para relaxar. Elas conversavam sobre nomes de bebê quando Helena chegou com uma cesta de flores do jardim.— Lucas escolheu uma a uma. Disse que
Chão e CéuNa manhã seguinte, Matilde surpreendeu Ava com um café da manhã especial. — Vamos comemorar o batimento! A primeira mexida! — Isso é motivo de festa agora? Ava perguntou, rindo. — Cada pedacinho de alegria merece ser celebrado. E você, minha filha, aprendeu a sorrir de novo. Eu vi. Matilde segurou-lhe o rosto com as duas mãos. — Você vai ser uma mãe incrível.A mesa estava posta com detalhes simples, mas cheios de carinho: Um pão de queijo quentinho, chá de camomila, frutas cortadas em pequenos corações. Ava sentou-se e olhou a tia com ternura. — Às vezes esqueço que é possível ser feliz sem medo. — E é. Mas a felicidade precisa ser regada todos os dias. Matilde disse, servindo o chá.No trajeto até a clínica, Ava colocou as mãos na barriga mais uma vez. Ainda não havia grande volume, mas sentia-se plena. Como se cada passo que dava a aproximasse de uma nova versão de si mesma.Helena a aguardava com um abraço apertado e o desenho de Lucas: Um bebê-passarinho c
Batidas de amor Ava estava na recepção quando sentiu a pontada leve no baixo ventre. Não era dor, apenas uma pressão delicada, como um lembrete de que havia uma nova vida dentro dela. Levou a mão até o ventre quase sem perceber, e um sorriso sutil brotou em seus lábios.— Ele está crescendo. Murmurou para si mesma.Matilde apareceu com dois copos de suco e se deteve ao vê-la sorrindo daquele jeito.— Está tudo bem?— Está sim. Ele ou ela, se mexeu. Acho que foi a primeira vez que senti tão claramente.Matilde se aproximou e, com um gesto tímido, pousou a mão no ventre da sobrinha.— Meu Deus! Sou mesmo uma tia-avó. Sussurrou emocionada. — Ava, isso é um milagre. Você é um milagre.Ava abaixou o olhar por um instante, absorvendo o peso daquela afirmação. Depois dos anos de abuso, do silêncio, da dor... ter a chance de gerar vida era mais do que um recomeço. Era uma redenção!Na casa de Caleb, Helena ajudava Lucas a escolher desenhos para pintar. O menino estava mais animado nas
Último capítulo