Semanas se passaram.
A cada dia, os médicos relatavam sua luta silenciosa para sobreviver.
Os cortes cicatrizavam normalmente, os hematomas já clareavam, mas o corpo ainda não respondia.
Um dos médicos responsável pelo acompanhamento de Ava Dr. Caleb olhou para a paciente em coma naquele leito.
A fome de vida que ela demostrava era tremenda e apesar dos cortes, ferimentos e hematomas ela tinha traços perfeitos, delicados, e lutava bravamente para sobreviver
E ele queria garantir que tudo estaria correndo bem, mesmo que ela ainda leve um tempo para acordar. Ele queria ajudar a dar essa chance a ela.
Ava era uma sobrevivente, uma guerreira da vida!
A luz branca e intensa do hospital contrastava com a escuridão em que Ava havia mergulhado.
Sons distantes ecoavam em sua inconsciência, vozes murmuradas, o apito rítmico de máquinas que monitoravam sua vida frágil.
Seu corpo paralizado sobre a cama de UTI, cercado por fios e tubos que pareciam uma rede que a prendia entre a vida e a morte.
Uma noite, quando a chuva voltava a açoitar as janelas do hospital, Caleb entrou no quarto com passos cuidadosos. Matilde ergueu o olhar cansado.
Doutor ela voltará para nós? Pergunta Matilde esperançosa.
Dr. Caleb suspirou.
— A pressão dela está estabilizando. O corpo tem reagido bem ao tratamento, mas ainda não podemos prever quando ou se ela acordará. Seu estado é crítico, mas Ava é forte.
Matilde apertou ainda mais a mão fria da sobrinha.
— Ela sempre foi. Ela vai voltar para nós. Sussurrou, como uma promessa.
Caleb concorda com um aceno, ele espera muito que isso aconteça. Ele está fascinado pela jovem que parece dormir naquela cama de hospital.
Os dias se transformaram em semanas. Ava, perdida em sua inconsciência, flutuava entre lembranças e sombras.
Ecos de sua vida passada a assombravam. O som da voz de Taylor, seus olhos cheios de cólera, o gosto do sangue, a dor, isso era uma constante em sua inconsciência.
Mas, então, algo mudou.
Uma leve pressão em seus dedos. Um reflexo quase imperceptível, mas Matilde percebeu.
— Ava? Sua voz quebrou o silêncio sepulcral do quarto.
Os olhos de Ava se moveram sob as pálpebras. Um suspiro vacilante escapou de seus lábios ressecados.
A campainha de emergência foi pressionada, e em segundos os médicos entraram apressados.
— Ava, se puder me ouvir, tente abrir os olhos. Disse o dr. Caleb, enquanto ajustava os aparelhos.
Foi um esforço tremendo, como se estivesse puxando uma corrente pesada do fundo do oceano. Mas, lentamente, Ava abriu os olhos.
A luz a cegou por um momento. O mundo pareceu um borrão indistinto de formas e sombras. Seus lábios se moveram, mas nenhum som saiu.
— Você está segura, querida. Você sobreviveu. A voz de Matilde era pura emoção, os olhos marejados de lágrimas.
Ava piscou, tentando absorver o que acontecia. O torpor ainda dominava seu corpo, mas a dor... Ah, a dor era real. Estava viva.
E, por um instante,em meio a sonolência causada pelos medicamentos a consciência da sobrevivência trouxe uma nova emoção:
Liberdade!
O inferno havia terminado!
O monitor cardíaco começou a apitar com mais intensidade, o ritmo acelerando como se o próprio coração de Ava respondesse ao chamado do mundo.
Os olhos entreabertos, ainda enevoados, buscaram algo em meio à claridade.
O rosto de Matilde surgiu em sua visão turva, e o calor de sua mão apertando a dela foi a âncora que Ava precisava para não se perder outra vez naquele vazio sem tempo nem espaço.
Caleb se aproximou, o estetoscópio pendendo ao redor do pescoço, mas sua expressão era de um homem que acabava de presenciar um milagre.
Seus olhos não se desviavam dos dela. A jovem, que por semanas havia se mantido inerte, respirava agora com mais firmeza.
Havia vida ali, e não apenas a que as máquinas sustentavam, era a força bruta do retorno, da resistência, da alma que se recusava a ceder.
— Ela está acordando… Disse uma das enfermeiras, já preparando os procedimentos para a transição do coma induzido para a lucidez gradual.
A movimentação foi imediata. Mais enfermeiros entraram no quarto, os médicos se comunicavam rapidamente em termos técnicos, ajustando as doses de sedativos e oxigênio.
Matilde, porém, não tirava os olhos da sobrinha, e sussurrava palavras doces em seu ouvido como quem tenta consolar uma criança após um pesadelo.
— Estou aqui, meu amor… Está tudo bem agora. Você voltou para nós. As lágrimas escorriam por seu rosto sem contenção, misturando-se com o sorriso que finalmente se formava depois de dias de angústia.
Ava piscava devagar, como se o simples ato de manter os olhos abertos fosse uma luta contra as forças que ainda a queriam no escuro.
Ela tentou mover os lábios, e um som quase inaudível escapou, um sussurro rouco, perdido entre a realidade e o delírio.
Caleb se aproximou ainda mais e tocou com delicadeza a mão enfaixada dela.
— Ava, você está no hospital. Sofreu um acidente, mas está segura agora. Você está em recuperação, e está cercada de pessoas que estão cuidando de você.
Houve uma breve contração em seu cenho. Caleb viu nos olhos dela o lampejo da confusão, da dor, e de algo mais:
Medo.
As imagens vinham em flashes: o volante, a estrada molhada, os gritos, o impacto... e Taylor. Sempre ele.
O corpo de Ava, mesmo fragilizado, enrijeceu brevemente, e Matilde sentiu isso.
— Está tudo bem, Ava. Ele não está aqui. Ninguém vai te machucar. Disse a tia, com firmeza.
— Eu estou com você. E o doutor Caleb também.
A jovem piscou novamente, agora duas vezes, como se finalmente começasse a entender.
Uma lágrima solitária escorreu pelo canto do olho esquerdo. Caleb a enxugou com um lenço com o mesmo cuidado que teria com uma flor machucada pelo vento.
— Você é muito forte. Ele murmurou, quase como se dissesse a si mesmo.
A tensão no quarto começou a ceder. Os exames mostravam que Ava estava estabilizando. A sedação seria reduzida aos poucos, e os próximo
s dias seriam decisivos.
Mas ali, naquele instante, Caleb soube:
Ela escolhera viver. E isso mudaria tudo!
Marcas InvisíveisOs dias seguintes à cirurgia foram envoltos por um silêncio carregado e um clima de tensão palpável. Enquanto Ava permanecia em coma, seu corpo lutava para se recuperar dos traumas recentes, mas havia algo muito mais profundo escondido sob as feridas cicatrizes que contavam histórias de um sofrimento prolongado e de uma violência que não se encerrava com o acidente. Caleb, sempre atento e com o coração apertado, visitava o CTI a cada oportunidade, examinando os sinais vitais e, discretamente, os rastros de dor que marcavam a pele da jovem. Foi em uma dessas visitas que Fabiana, uma enfermeira jovem e sensível, aproximou-se dele com a urgência de quem tem um fardo pesado para compartilhar.Sentados em um canto menos movimentado da sala de descanso do CTI, Fabiana começou a falar em tom baixo, quase sussurrado, como se o simples ato de expor a verdade pudesse reavivar os horrores do passado.–Doutor, eu sei que Ava é uma sobrevivente, mas você precisa saber a exten
Marcas Invisíveis 2Caleb respirou fundo, fixando o olhar no monitor que pulsava ritmicamente.—A partir de hoje, farei questão de acompanhar cada passo da recuperação dela. Declarou com firmeza. —Não apenas como médico, mas como alguém que entende que a cura não é apenas física. Precisamos cuidar da alma, reparar as feridas invisíveis que ela carrega.O ambiente do CTI parecia absorver cada palavra, cada suspiro carregado de angústia e esperança. Caleb sabia que o caminho seria longo e cheio de desafios, mas a determinação de resgatar Ava, de oferecer-lhe um recomeço digno, o impulsionava. Ele se permitia, por um breve instante, agradecer a Deus por ter tirado de cena Taylor Mendes uma figura vil que representava a fonte de tanto mal para aquela mulher. “Obrigado, Senhor, por esse sinal de que a justiça, de alguma forma, está ao nosso lado,” Pensou com o coração apertado e os olhos brilhando com lágrimas contidas.Enquanto Fabiana e Caleb continuavam a conversar sobre os detalhes
AcidenteA noite estava pesada, carregada. Uma tempestade caía sobre a cidade.Raios riscavam o céu, iluminando por breves segundos a estrada sinuosa.O vento uivava entre as árvores, fazendo-as balançar de forma ameaçadora.O cheiro de chuva e terra molhada impregnava o ar, misturando-se ao aroma ácido do álcool derramado dentro do carro. Taylor segurava o volante com uma das mãos, a outra apertava com força o pulso de Ava. Seus dedos cravavam na pele dela, deixando marcas vermelhas que ardiam.O medo pairava como um peso no peito dela.— Eu já disse para não me desafiar, Ava! Sua voz soava como um rugido de fúria, um trovão ameaçador no meio da tempestade. Os olhos embriagados brilhavam sob a penumbra do painel.Ava tentou soltar-se, mas o aperto aumentou. Seu corpo tremia. A boca estava seca, a respiração entrecortada pelo medo que a consumia. Já conhecia esse olhar. O olhar de quem iria machucar.— Taylor, por favor...Sua voz era um sussurro. Sabia que qualquer palavra errada
O ResgateOs faróis da ambulância pintavam de tons fantasmagóricos a estrada, refletindo nas poças d'água como pequenos espelhos da tragédia.O som das sirenes ecoava pelas ruas desertas, enquanto a equipe médica dentro do veículo lutava para manter a frágil vida de Ava. O monitor cardíaco oscilava de maneira irregular, uma sinfonia incerta entre a vida e a morte.Dentro da ambulância, Ava permaneceu inconsciente. A cada ronco do motor, seu corpo estremecia levemente. O monitor cardíaco apitava de forma errática. O médico-chefe trocou um olhar preocupado com um dos enfermeiros.— Ela está muito fraca. Se não chegarmos a tempo...Ninguém completou a frase.A tempestade rugia lá fora, como se quisesse apagar qualquer vestígio daquela noite terrível. A ambulância acelerou pelas ruas vazias, atravessando semáforos, desafiando o tempo. Dentro do veículo, uma equipe lutava para mantê-la viva. O oxigênio foi colocado, compressões torácicas aplicadas. O eletrocardiograma apitava de manei
Luta Pela Vida.Quando, finalmente, a cirurgia chegou ao fim e Ava foi encaminhada para a Unidade de Terapia Intensiva, Caleb permaneceu por alguns momentos ao lado do leito.Ele observou o delicado sistema de fios e tubos que conectavam a jovem.A máquina da vida! Ele fez um juramento silencioso:Não apenas trataria os ferimentos físicos, mas procuraria ajudar a curar as feridas invisíveis, a reparar a alma que havia sido despedaçada. Enquanto deixava a sala, o médico olhava uma última vez para aquele corpo delicado, marcado pelo sofrimento, e em silêncio reiterou seu propósito de que faria tudo ao seu alcance para que aquela mulher pudesse um dia olhar para o espelho e ver não apenas cicatrizes, mas também a força de uma sobrevivente. O peso das memórias e a intensidade dos abusos que ela havia suportado pairavam no ar, transformando aquele momento decisivo. Caleb sabia que o caminho à frente seria longo e árduo, mas a determinação em salvar Ava e, por extensão, seu bebê, era ma
Ecos do PassadoNo silêncio filtrado pelas janelas grandes de seu gabinete, Dr. Caleb Vasconcellos repousava por um momento a caneta sobre os relatórios de contabilidade hospitalar e fechava os olhos, deixando as lembranças invadirem sua mente. Há três anos, ele perdera sua amada esposa, Sofi, vítima de um aneurisma cerebral fulminante, em um verão que jamais esqueceria.Desde então, o hospital havia se tornado em seu refúgio e sua prisão. Como acionista majoritário de um conglomerado de saúde que reunia especialistas de ponta em todas as áreas e , ele se dividia entre reuniões de diretoria, decisões estratégicas e investigações discretas sobre movimentações financeiras estranhas que ameaçavam a reputação construída com tanto esforço.Enquanto isso, seu filho Lucas, agora com cinco anos, passava a maior parte do tempo sob os cuidados de uma babá de confiança. Caleb raramente chegava a tempo do jantar e quase nunca via os primeiros progressos do filho. O sacrifício parecia inevitável
Entre o Dever e o DesejoNas primeiras luzes da manhã, o hospital ganhava vida: Corredores iluminados, enfermeiras apressadas e o som familiar dos termômetros digitais anunciando cada batimento. Caleb Vasconcellos chegava com o olhar focado, mas sentia o peso das noites mal dormidas e das decisões urgentes. Sua agenda incluía reuniões com acionistas, decisões sobre a expansão de unidades e a revisão de contratos suspeitos. Apesar da importância dessas tarefas, era na recuperação de Ava que seu coração encontrava razão para persistir.A rotina doméstica, sob o comando de Francine, tornava-se cada vez mais apressada. Ela atendia telefonemas sobre Lucas, organizava a mansão e preparava almoços que raramente eram desfrutados em família. Seu amor por Caleb permanecia velado em gestos de carinho e conselhos insistentes: "Você precisa descansar, Caleb. Deveríamos contratar mais médicos para aliviar sua carga." Mas algo em seu tom insinuava uma vontade de aproximar-se, de se tornar in