Marcas Invisíveis 2
Caleb respirou fundo, fixando o olhar no monitor que pulsava ritmicamente.
—A partir de hoje, farei questão de acompanhar cada passo da recuperação dela. Declarou com firmeza.
—Não apenas como médico, mas como alguém que entende que a cura não é apenas física. Precisamos cuidar da alma, reparar as feridas invisíveis que ela carrega.
O ambiente do CTI parecia absorver cada palavra, cada suspiro carregado de angústia e esperança. Caleb sabia que o caminho seria longo e cheio de desafios, mas a determinação de resgatar Ava, de oferecer-lhe um recomeço digno, o impulsionava.
Ele se permitia, por um breve instante, agradecer a Deus por ter tirado de cena Taylor Mendes uma figura vil que representava a fonte de tanto mal para aquela mulher.
“Obrigado, Senhor, por esse sinal de que a justiça, de alguma forma, está ao nosso lado,”
Pensou com o coração apertado e os olhos brilhando com lágrimas contidas.
Enquanto Fabiana e Caleb continuavam a conversar sobre os detalhes dos abusos, os rostos dos presentes na sala refletiam uma mistura de pesar e revolta.
Todos sabiam da crueldade com que Ava fora tratada, mas o silêncio do medo havia mantido essa verdade oculta por tanto tempo.
Agora, diante da dura realidade, havia um compromisso renovado de lutar para que ela nunca mais precisasse suportar tanta dor.
Assim, naquele instante, o CTI tornou-se não apenas um local de tratamento, mas um santuário onde a verdade sobre o sofrimento de Ava foi exposta e reconhecida.
Caleb sentiu, em cada fibra de seu ser, a urgência de transformar aquela revelação em uma oportunidade de redenção.
Ele sabia que, ao cuidar de Ava, ele estaria, de certa forma, reparando o passado e abrindo caminho para um futuro onde a violência e o silêncio não mais prevalecessem.
E assim, com uma determinação silenciosa e um coração inflamado de compaixão, ele preparou-se para a batalha que seria a recuperação não só do corpo, mas também da alma daquela mulher que, mesmo ferida por dentro e por fora, ainda possuía a força de lutar por um novo amanhecer.
Alguns dias após o despertar de Ava, Dr. Caleb Vasconcellos sentiu que era hora de reunir um grupo de especialistas para definir a melhor estratégia de tratamento para ela e seu bebê.
No auditório silencioso do hospital, ele aguardava os colegas:
obstetras, cirurgiões, anestesiologistas, neonatologistas e um psicólogo especializado em traumas. Cada um trazia na expressão o peso da responsabilidade.
Quando todos se acomodaram, Caleb abriu a reunião com a voz calma, porém firme. A sala, iluminada por lâmpadas frias, vibrou com palpitações de ansiedade.
–Ava passou por múltiplas fraturas, está grávida de dois meses, e ainda recupera o movimento dos membros. Precisamos de um plano que preserve sua vida e a do feto, explicou.
Havia, em seu tom, uma mistura de cansaço e determinação que os tocou profundamente.
A obstetra-chefe, Dra. Renata, abriu a discussão:
Falava do risco de parto prematuro e da necessidade de repouso absoluto, monitoramento fetal diário e reposição nutricional rigorosa. Seus olhos, marejados, denunciavam a empatia pela jovem paciente.
Ao seu lado, o neonatologista Dr. Torres ponderou sobre as possibilidades de salvar o bebê caso nascesse antes do tempo, enfatizando a importância de uma UTI neonatal equipada para cuidar de um prematuro.
O cirurgião Dr. Hugo abordou a questão das cicatrizes internas de Ava, recomendando uma nova avaliação em três semanas para decidir se procedimentos ortopédicos adicionais seriam necessários.
Cada sugestão vinha acompanhada de olhares atentos de Caleb, que anotava tudo com a caneta trêmula de quem carrega o destino de duas vidas em suas mãos.
O anestesiologista fez questão de destacar a escolha de fármacos mais seguros para gestantes, equilibrando eficácia e mínimo impacto fetal.
Em seguida, o psicólogo Dr. Vieira falou sobre o trauma de Ava: recomendou sessões de terapia cognitivo-comportamental para que ela pudesse, pouco a pouco, enfrentar o medo remanescente dos abusos e do acidente.
A sensibilidade em suas palavras despertou lágrimas contidas em Matilde, presente para apoiar a sobrinha.
Caleb encerrou a rodada, unindo as propostas em um cronograma integrado.
Sentiu o coração pulsar acelerado, mas também a satisfação de ver aquele time apaixonado pelo que faz.
—Vamos trabalhar em conjunto, acompanhar semanalmente e ajustar conforme necessário. Ava precisa do nosso melhor, concluiu, os olhos marejados, incapaz de disfarçar a emoção.
Ao final, cada especialista aproximou-se de Caleb para um breve aperto de mão, compartilhando votos de sucesso.
Matilde, no corredor, segurava uma rosa branca para Ava, símbolo de esperança.
Caleb observou a cena e sentiu uma ponta de alívio, havia dado o primeiro passo para reconstruir não só o corpo, mas a vida inteira da paciente e de seu filho.
Naquela noite, com o plano traçado, Caleb voltou ao CTI com renovada fé.
Entrou silencioso ao lado de Ava, pousou a mão sobre a dela e sussurrou:
“Você não está sozinha. Juntos, salvaremos vocês dois.”
E, naquele instante, à luz tênue do corredor, nasceu uma co
nfiança mútua que prometia curar feridas físicas e emocionais para sempre.
AcidenteA noite estava pesada, carregada. Uma tempestade caía sobre a cidade.Raios riscavam o céu, iluminando por breves segundos a estrada sinuosa.O vento uivava entre as árvores, fazendo-as balançar de forma ameaçadora.O cheiro de chuva e terra molhada impregnava o ar, misturando-se ao aroma ácido do álcool derramado dentro do carro. Taylor segurava o volante com uma das mãos, a outra apertava com força o pulso de Ava. Seus dedos cravavam na pele dela, deixando marcas vermelhas que ardiam.O medo pairava como um peso no peito dela.— Eu já disse para não me desafiar, Ava! Sua voz soava como um rugido de fúria, um trovão ameaçador no meio da tempestade. Os olhos embriagados brilhavam sob a penumbra do painel.Ava tentou soltar-se, mas o aperto aumentou. Seu corpo tremia. A boca estava seca, a respiração entrecortada pelo medo que a consumia. Já conhecia esse olhar. O olhar de quem iria machucar.— Taylor, por favor...Sua voz era um sussurro. Sabia que qualquer palavra errada
O ResgateOs faróis da ambulância pintavam de tons fantasmagóricos a estrada, refletindo nas poças d'água como pequenos espelhos da tragédia.O som das sirenes ecoava pelas ruas desertas, enquanto a equipe médica dentro do veículo lutava para manter a frágil vida de Ava. O monitor cardíaco oscilava de maneira irregular, uma sinfonia incerta entre a vida e a morte.Dentro da ambulância, Ava permaneceu inconsciente. A cada ronco do motor, seu corpo estremecia levemente. O monitor cardíaco apitava de forma errática. O médico-chefe trocou um olhar preocupado com um dos enfermeiros.— Ela está muito fraca. Se não chegarmos a tempo...Ninguém completou a frase.A tempestade rugia lá fora, como se quisesse apagar qualquer vestígio daquela noite terrível. A ambulância acelerou pelas ruas vazias, atravessando semáforos, desafiando o tempo. Dentro do veículo, uma equipe lutava para mantê-la viva. O oxigênio foi colocado, compressões torácicas aplicadas. O eletrocardiograma apitava de manei
Luta Pela Vida.Quando, finalmente, a cirurgia chegou ao fim e Ava foi encaminhada para a Unidade de Terapia Intensiva, Caleb permaneceu por alguns momentos ao lado do leito.Ele observou o delicado sistema de fios e tubos que conectavam a jovem.A máquina da vida! Ele fez um juramento silencioso:Não apenas trataria os ferimentos físicos, mas procuraria ajudar a curar as feridas invisíveis, a reparar a alma que havia sido despedaçada. Enquanto deixava a sala, o médico olhava uma última vez para aquele corpo delicado, marcado pelo sofrimento, e em silêncio reiterou seu propósito de que faria tudo ao seu alcance para que aquela mulher pudesse um dia olhar para o espelho e ver não apenas cicatrizes, mas também a força de uma sobrevivente. O peso das memórias e a intensidade dos abusos que ela havia suportado pairavam no ar, transformando aquele momento decisivo. Caleb sabia que o caminho à frente seria longo e árduo, mas a determinação em salvar Ava e, por extensão, seu bebê, era ma
Ecos do PassadoNo silêncio filtrado pelas janelas grandes de seu gabinete, Dr. Caleb Vasconcellos repousava por um momento a caneta sobre os relatórios de contabilidade hospitalar e fechava os olhos, deixando as lembranças invadirem sua mente. Há três anos, ele perdera sua amada esposa, Sofi, vítima de um aneurisma cerebral fulminante, em um verão que jamais esqueceria.Desde então, o hospital havia se tornado em seu refúgio e sua prisão. Como acionista majoritário de um conglomerado de saúde que reunia especialistas de ponta em todas as áreas e , ele se dividia entre reuniões de diretoria, decisões estratégicas e investigações discretas sobre movimentações financeiras estranhas que ameaçavam a reputação construída com tanto esforço.Enquanto isso, seu filho Lucas, agora com cinco anos, passava a maior parte do tempo sob os cuidados de uma babá de confiança. Caleb raramente chegava a tempo do jantar e quase nunca via os primeiros progressos do filho. O sacrifício parecia inevitável
Entre o Dever e o DesejoNas primeiras luzes da manhã, o hospital ganhava vida: Corredores iluminados, enfermeiras apressadas e o som familiar dos termômetros digitais anunciando cada batimento. Caleb Vasconcellos chegava com o olhar focado, mas sentia o peso das noites mal dormidas e das decisões urgentes. Sua agenda incluía reuniões com acionistas, decisões sobre a expansão de unidades e a revisão de contratos suspeitos. Apesar da importância dessas tarefas, era na recuperação de Ava que seu coração encontrava razão para persistir.A rotina doméstica, sob o comando de Francine, tornava-se cada vez mais apressada. Ela atendia telefonemas sobre Lucas, organizava a mansão e preparava almoços que raramente eram desfrutados em família. Seu amor por Caleb permanecia velado em gestos de carinho e conselhos insistentes: "Você precisa descansar, Caleb. Deveríamos contratar mais médicos para aliviar sua carga." Mas algo em seu tom insinuava uma vontade de aproximar-se, de se tornar in
Semanas se passaram.A cada dia, os médicos relatavam sua luta silenciosa para sobreviver. Os cortes cicatrizavam normalmente, os hematomas já clareavam, mas o corpo ainda não respondia.Um dos médicos responsável pelo acompanhamento de Ava Dr. Caleb olhou para a paciente em coma naquele leito.A fome de vida que ela demostrava era tremenda e apesar dos cortes, ferimentos e hematomas ela tinha traços perfeitos, delicados, e lutava bravamente para sobreviverE ele queria garantir que tudo estaria correndo bem, mesmo que ela ainda leve um tempo para acordar. Ele queria ajudar a dar essa chance a ela.Ava era uma sobrevivente, uma guerreira da vida!A luz branca e intensa do hospital contrastava com a escuridão em que Ava havia mergulhado. Sons distantes ecoavam em sua inconsciência, vozes murmuradas, o apito rítmico de máquinas que monitoravam sua vida frágil. Seu corpo paralizado sobre a cama de UTI, cercado por fios e tubos que pareciam uma rede que a prendia entre a vida e a mort
Marcas InvisíveisOs dias seguintes à cirurgia foram envoltos por um silêncio carregado e um clima de tensão palpável. Enquanto Ava permanecia em coma, seu corpo lutava para se recuperar dos traumas recentes, mas havia algo muito mais profundo escondido sob as feridas cicatrizes que contavam histórias de um sofrimento prolongado e de uma violência que não se encerrava com o acidente. Caleb, sempre atento e com o coração apertado, visitava o CTI a cada oportunidade, examinando os sinais vitais e, discretamente, os rastros de dor que marcavam a pele da jovem. Foi em uma dessas visitas que Fabiana, uma enfermeira jovem e sensível, aproximou-se dele com a urgência de quem tem um fardo pesado para compartilhar.Sentados em um canto menos movimentado da sala de descanso do CTI, Fabiana começou a falar em tom baixo, quase sussurrado, como se o simples ato de expor a verdade pudesse reavivar os horrores do passado.–Doutor, eu sei que Ava é uma sobrevivente, mas você precisa saber a exten