CAPÍTULO 2 O RESGATE

 O Resgate

Os faróis da ambulância pintavam de tons fantasmagóricos a estrada, refletindo nas poças d'água como pequenos espelhos da tragédia.

O som das sirenes ecoava pelas ruas desertas, enquanto a equipe médica dentro do veículo lutava para manter a frágil vida de Ava. 

O monitor cardíaco oscilava de maneira irregular, uma sinfonia incerta entre a vida e a morte.

Dentro da ambulância, Ava permaneceu inconsciente. A cada ronco do motor, seu corpo estremecia levemente. 

O monitor cardíaco apitava de forma errática. O médico-chefe trocou um olhar preocupado com um dos enfermeiros.

— Ela está muito fraca. Se não chegarmos a tempo...

Ninguém completou a frase.

A tempestade rugia lá fora, como se quisesse apagar qualquer vestígio daquela noite terrível. 

A ambulância acelerou pelas ruas vazias, atravessando semáforos, desafiando o tempo. 

Dentro do veículo, uma equipe lutava para mantê-la viva. O oxigênio foi colocado, compressões torácicas aplicadas. O eletrocardiograma apitava de maneira instável.

No hospital, a equipe médica comandada pelo Dr. Caleb já estava a postos. 

O médico-chefe do plantão daquela noite, Dr. Caleb Vasconcellos, já estava preparado na entrada do hospital. Aos 40 anos, dono de uma rede hospitalar e especialista em obstetrícia, carregava nos olhos a exaustão de anos de trabalho incessante. 

Desde a morte da esposa, vítima de um aneurisma cerebral fulminante, sua vida se resumia ao hospital e ao filho de cinco anos, Lucas.

 Evitava qualquer envolvimento emocional, qualquer laço que pudesse abalar sua frágil estabilidade.

Mas, ao ver Ava ser retirada da ambulância, seu coração falhou um compasso. Algo naquela mulher, além dos ferimentos graves, chamou sua atenção. Os paramédicos lhe passaram o relato rápido: 

Acidente de carro, perda de sangue significativa, o marido, um policial morreu no local.

No centro cirúrgico, enquanto removiam os fragmentos de vidro e tratavam as fraturas, Caleb notou algo alarmante. 

O ultrassom confirmou suas suspeitas: Ava estava grávida. O feto, ainda pequeno, lutava para se manter vivo, assim como a mãe.

O cirurgião respirou fundo, sentindo o peso da responsabilidade.

—Você vai sobreviver. Você e seu bebê. Murmurou, antes de retomar a cirurgia.

A luz intermitente dos monitores preenchia o centro cirúrgico com um brilho frio e impessoal. O som ritmado dos batimentos do coração de Ava misturava-se ao zumbido constante dos equipamentos médicos. 

Em um instante que parecia eterno, a jovem paciente foi subitamente acometida por um colapso. O corpo que antes lutava, agora cedia diante da intensidade dos ferimentos e do trauma acumulado, o sangue jorrava de ferimentos internos.

O rosto pálido, os olhos semicerrados e a rigidez progressiva dos músculos anunciaram o início de um coma profundo.

 Foi nesse exato momento, enquanto a equipe médica trabalhava freneticamente para estabilizá-la, que o Dr. Caleb Vasconcellos sentiu uma inquietação que ia além do protocolo cirúrgico.

Caleb, com sua experiência consolidada e olhar atento, notou algo que ultrapassava as evidências do acidente.

Enquanto removia os fragmentos de vidro e suturava os cortes, seus olhos percorreram o corpo de Ava e logo se fixaram nas marcas que contavam uma história de violência.

 Hematomas de diversos tamanhos e em diferentes estágios de cicatrização adornavam a pele dela, especialmente nas áreas dos braços, das costas e do pescoço. 

E uma cirurgia de emergência foi iniciada. Horas de luta, de médicos correndo contra o tempo.

Cada mancha avermelhada e cada cicatriz, quase imperceptível em meio ao caos da cirurgia, sussurravam segredos sombrios de abusos prolongados.

O cirurgião parou por um breve instante, enquanto a sala mergulhava em um silêncio tenso. 

Caleb observou com olhos preocupados, tentando juntar as peças de um quebra-cabeça que ele ainda não compreendia completamente.

 Por que aquela jovem apresentava marcas que não tinham nada a ver com um acidente comum? 

Em um murmúrio contido, ele disse para si mesmo:

—O que ela passou...? Mas as respostas não vinham facilmente.

E então, ela entrou em coma.

Enquanto o corpo de Ava começava a ceder ao estado de coma, a equipe médica ajustava os equipamentos para garantir que cada sinal vital fosse monitorado com extrema precisão. 

Caleb ordenou que os anestésicos fossem dosados cuidadosamente, consciente de que a vulnerabilidade dela era ampliada não só pelos ferimentos recentes, mas também pelos traumas antigos que agora apareciam em forma de cicatrizes e hematomas. 

Ele se permitiu um olhar longo e triste para o semblante de Ava adormecido pelo coma como se pudesse, por um breve momento, decifrar as dores e os horrores que ela havia enfrentado.

No meio da tensão, uma enfermeira mais jovem, Fabiana, aproximou-se discretamente de Caleb, com o semblante sério e repleto de compaixão. Em um sussurro, ela compartilhou o que sabia: 

—Doutor, Ava era casada com o policial Taylor Mendes. Ela sempre sofria em silêncio, os vizinhos diziam que os abusos eram frequentes. 

—E ela nunca denunciou, temendo pela segurança dos seus pais, que moravam próximos. Eles faleceram no começo deste ano. 

—Esses hematomas e cicatrizes não são do acidente, mas de algo que ela suportou por muito tempo. Completou Fabiana.

Caleb sentiu o peso dessas palavras, como se cada revelação acrescentasse uma camada de angústia a seu coração já endurecido pela rotina do hospital.

Ele assentiu lentamente, absorvendo cada detalhe. Embora sua carreira lhe ensinasse a tratar emergências, aquele relato despertava nele um sentimento de impotência e, ao mesmo tempo, um impulso incontrolável de protegê-la. 

"Ela não deveria ter passado por isso", pensou, enquanto observava a delicadeza de seu rosto agora adormecido, marcado não só pela violência recente, mas também pelo sofrimento prolongado.

Entre os murmúrios do centro cirúrgico, o monitor continuava a pulsar de forma irregular. 

Caleb voltou sua atenção para o procedimento, mas agora com um novo propósito. Cada sutura que ele fazia, cada movimento preciso, era impregnado por uma promessa silenciosa: 

Proteger aquela jovem de mais dores. Ele ordenou que a cirurgia fosse concluída com máxima cautela, sabendo que a próxima etapa seria manter tanto a vida de Ava quanto a do feto, que ainda lutava por sua própria existência no ventre.

O ambiente, que estava dominado pela adrenalina da emergência, foi lentamente se transformando em um cenário de vigilância atenta. 

Caleb permaneceu no centro cirúrgico até o final, suas mãos firmes não escondiam a preocupação estampada em seus olhos.

 Ele mal conseguia afastar o pensamento dos abusos que aquela mulher havia sofrido, e se perguntava como alguém poderia ter vivido tanta violência sem encontrar um refúgio.

–Quem pode imaginar o desespero de uma alma que precisa suportar tant

o? Ele se indagava, enquanto o som dos equipamentos continuava a ditar o ritmo da batalha pela vida.

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