Meu nome é Melissa Benetti, tenho apenas 17 anos e a vida nunca foi generosa comigo. Perdi minha mãe ainda criança e, desde então, meu pai se tornou um estranho que só sabia me culpar pela dor dele. Quando se casou novamente, passei a ser invisível dentro da minha própria casa. Sônia, minha madrasta, e seus filhos ocuparam o espaço que antes era meu — e eu fui reduzida a nada. Hoje, meu meio-irmão Vinícius afundou a empresa da família em dívidas, e minha meia-irmã Amelia, prestes a completar 18 anos, é tratada como a joia rara que eu nunca fui. Para salvar os negócios, meu pai decidiu me entregar como moeda de troca. Agora, estou destinada a um casamento arranjado com um homem que todos descrevem como cruel e implacável. Um monstro de carne e osso, capaz de destruir qualquer um que atravesse seu caminho. Mas o que é pior? Continuar vivendo nesse lar que sempre foi meu inferno… ou me arriscar ao lado de um estranho que pode ser ainda mais perigoso do que imagino? Em um mundo de pactos sombrios, jogos de poder e segredos, só existe uma certeza: nada em minha vida voltará a ser o mesmo.
Leer másCapítulo 1 – O Último Respiro do Meu Mundo
Acordei com o som distante de risadas vindas do salão principal, risadas que não eram minhas. Sentei-me na cama estreita, sentindo o peso do travesseiro encharcado de sonhos que nunca se realizaram. A luz cinzenta da manhã invadia o quarto pelas frestas da janela, iluminando a poeira que dançava no ar como se zombasse de mim. Minha mãe se foi há anos, mas a ausência dela ainda doía como se tivesse sido ontem. Meu pai, sempre distante, tornou-se apenas um vulto de reprovação em minha vida, e minha madrasta, Sônia, com seus sorrisos falsos, ocupava cada espaço que um dia fora meu. Vinícius e Amélia, seus filhos, passavam pelo corredor como se fossem a verdadeira família — e eu, invisível, aprendi a me encolher no próprio lar. Hoje, porém, algo era diferente. O silêncio da minha rotina tinha um corte afiado, uma pressa contida que eu não podia ignorar. Meu pai entrou no quarto com passos firmes, a expressão dura, os olhos sem vida. — Melissa — começou ele, sem rodeios — precisamos conversar sobre a situação da família. Senti um frio percorrer minha espinha. Sabia que nada do que viesse a seguir seria bom. — O que foi desta vez? — minha voz saiu mais fraca do que eu queria. Ele me fitou como se eu fosse uma peça em um tabuleiro. — Você vai se casar... Com Dominic Salvatore. As palavras ecoaram na sala vazia, pesada, esmagadora. Um casamento arranjado. Um estranho, descrito como cruel, implacável e perigoso, se tornaria meu destino. O mundo que eu conhecia — já tão frio — parecia desmoronar completamente. O silêncio entre nós parecia um abismo. Meu pai permanecia de pé diante de mim, os ombros rígidos, a mão crispada sobre a mesa como se quisesse quebrá-la. Eu ainda tentava processar as palavras que ele dissera. — Você… quer me vender? — minha voz tremia, mas cada sílaba saiu como uma lâmina. — É a única forma de salvar a empresa — ele respondeu, frio, sem piscar. — Você não tem escolha. Senti algo dentro de mim, uma força que eu mal conhecia, subir pelo peito. Passei a vida me encolhendo, obedecendo, tentando agradar um homem que nunca me enxergou. Mas naquele momento, algo quebrou. — Não. — falei firme, erguendo o queixo. — Eu não vou me casar. Nem que o senhor e Sônia me matem. Os olhos dele se estreitaram, e sua respiração se tornou pesada. — Você não serve para nada, Melissa. Nunca serviu. Ao menos agora, pode ser útil. Senti o estômago embrulhar. Meus dedos tremeram. Uma raiva quente, misturada a anos de dor, tomou conta de mim. — Não sirvo para nada? — minha voz subiu. — Eu passei a minha vida tentando te agradar, tentando ser alguém para você! Enquanto Sônia e os filhos dela tomavam tudo, eu ficava invisível! Eu me anulava para ter um pai — e o que recebi? Desprezo! Ele deu um passo em minha direção, mas eu continuei. — Você fala como se fosse minha culpa… mas a culpa não é minha. A culpa é sua. A culpa pela morte da mamãe é sua. Foi você que a esmagou, que a deixou sem vida muito antes do corpo dela desistir. E agora quer fazer o mesmo comigo. O silêncio estourou no ar antes que eu percebesse o movimento dele. A mão veio rápida, um estalo seco no meu rosto. A dor queimou a pele, mas doeu mais ver o ódio nos olhos dele do que o impacto. — Você vai se casar! — ele gritou, a voz ecoando pelo quarto. — Vai e ponto final! Fiquei parada, os olhos marejados, o gosto metálico da raiva misturado às lágrimas. Não respondi. Meu corpo tremia inteiro. Ele virou as costas e saiu, batendo a porta. Sozinha, caí de joelhos no chão frio. Chorei até a garganta doer, até não sentir mais nada. As lágrimas escorriam pelo rosto, molhando as mãos trêmulas. Em algum momento, no meio do desespero, o sono me venceu. Adormeci ali mesmo, abraçada à minha própria dor, sabendo que quando despertasse, meu destino já estaria traçado. ---Capítulo 107Na casa dos Benetti, o clima estava pesado.Amélia entrou na sala e encontrou a mãe sentada à cabeceira, com Jorge lendo um jornal.— Pai… — começou ela, hesitando um pouco. — Melissa voltou pra cidade.O som do nome bastou para o homem largar o jornal e encarar a enteada com olhos duros.— Voltou? — repetiu ele, com um meio sorriso irônico. — Enfim essa garota burra apareceu. Se escondeu bem pra não tomar a surra que merecia.Sônia olhou para Jorge e disse _ Oque vai fazer? essa sonsa some e aparece assim...Mas ele a ignorou.— Como ela teve coragem de abandonar o marido o deixando para outra mulher? — disse, bufando. — Aquela idiota não presta pra nada!Amélia fingiu uma expressão neutra, mas o brilho de malícia apareceu em seus olhos.— Ah, e tem mais… — disse, cruzando os braços. — A Melissa agora tem dois filhos.Jorge travou. — O quê?— É. Dois. Tinha um cara com ela, agindo como se fosse pai dos pirralhos.O homem ficou vermelho de raiva. Num movimento brusco, va
Capítulo 106O sábado amanheceu tranquilo. O sol entrava pelas cortinas da casa de Melissa, que terminava de preparar o café quando Ana apareceu na sala, de caneca na mão e expressão cúmplice.— Ainda pensando no idiota do Dominic? — perguntou ela, se jogando no sofá.Melissa suspirou. — Eu não devia, mas é difícil esquecer tudo o que ele fez.Ana ergueu as sobrancelhas. — Difícil? Ele te humilhou na frente de todo mundo, Mel. Aquele homem não merece um minuto do teu pensamento.Melissa olhou pro nada, mexendo o café devagar. — Eu sei... só que às vezes eu me pego lembrando de como ele era antes.— Antes dele virar um babaca, né? — cortou Ana. — Chega. Você já perdeu tempo demais com ele. Tá na hora de seguir em frente.Melissa deu um sorriso triste. — Talvez você tenha razão.Antes que pudessem continuar, Felipe apareceu na porta, ajeitando o relógio.— Gente, vou buscar a Camile no aeroporto. Ela acabou de mandar mensagem, o voo chegou mais cedo.— Sério? — Ana se animou. — Então va
Capítulo 105 O sol da manhã entrava pelas grandes janelas da mansão Salvatore. Dominic estava sentado à mesa de café, o rosto ainda carregando os sinais da ressaca da noite anterior. À sua frente, Ofélia folheava o jornal, e Jade mexia distraída no celular. O silêncio só foi quebrado quando o som de passos firmes ecoou no corredor. Bruno e Gustavo entraram. — Bom dia — disse Bruno, jogando as chaves sobre a mesa. — Bom pra quem? — resmungou Dominic, levando a xícara aos lábios. Gustavo trocou um olhar rápido com Jade. Ela fingiu não ver, mantendo a atenção no café. — Mãe, hoje à noite eu tenho um encontro — disse Jade, tentando soar casual. Ofélia ergueu as sobrancelhas, surpresa. — Encontro? Com quem? — Com um homem maravilhoso — respondeu Jade, olhando discretamente para Gustavo. Ele arqueou um canto da boca, um meio sorriso escapando. — Que foi? — perguntou Jade, irritada. — Tá rindo do quê? — Nada não — respondeu ele, com um tom provocante. — Duvidando de mim, é iss
Capítulo 104 A música continuava alta, o ambiente mergulhado em luzes coloridas e risadas. Ana e Bruno estavam juntos em um canto da pista, trocando olhares tranquilos e carícias sutis. Entre um drink e outro, dançavam próximos, sussurrando algo que fazia os dois rirem como se o caos ao redor não existisse. Mais adiante, Jade se divertia com o rapaz moreno que conhecera naquela noite. Dançava provocante, consciente de cada olhar que atraía — especialmente o de Gustavo. Ele a observava de longe, o maxilar travado, os punhos cerrados sobre o balcão. Quando Jade notou o olhar dele, inclinou a cabeça e riu, dançando ainda mais perto do rapaz, provocando de propósito. Mas não durou muito. Gustavo atravessou a pista decidido, os olhos cravados nela. Parou atrás de Jade e, sem pedir licença, segurou sua cintura com firmeza. Ela tentou se soltar, mas ele passou a mão pelos cabelos dela e a puxou devagar para si. O beijo veio intenso, profundo, carregado de tudo o que os dois vinham evit
Capítulo 103 O motor do carro cortava o silêncio da noite. Dominic dirigia sem pressa, o olhar fixo na estrada escura que levava ao galpão. O ar dentro do veículo era pesado — como se a raiva que ele carregava tivesse forma, espessa, sufocante. Quando chegou, os seguranças o aguardavam do lado de fora. — Ela está lá dentro, senhor. — disse um deles, abrindo a porta de ferro. Dominic entrou. O cheiro de mofo e ferrugem tomou-lhe as narinas. No canto, Thais tremia, as roupas sujas, o rosto marcado pelo choro. Assim que o viu, tentou se levantar, cambaleando. — Dominic... por favor, me tira daqui... — sussurrou, a voz embargada. Ele se aproximou devagar, o olhar frio como gelo. — Achei que já tivesse aprendido o que acontece com quem brinca comigo. Thais soluçava, tentando se aproximar. — Eu juro que não sabia... Dominic a interrompeu com um tapa seco, não de violência física extrema, mas o suficiente para deixá-la sem palavras. — Chega de mentiras. — disse com calma, uma cal
Capítulo 102 A noite estava pesada sobre a mansão Salvatore. O silêncio cortante se quebrou quando Dominic atravessou a grande porta de madeira, os olhos frios e sombrios como aço. Todos estavam reunidos na sala — sua mãe, Ofélia, sua irmã, Jade, e Thais, sentada ao lado de Pedro. Ofélia foi a primeira a perceber a tempestade que vinha com o filho. — O que aconteceu, meu filho? — perguntou, erguendo-se, aflita. Dominic não respondeu. Passou direto por ela, ignorando o tom preocupado, e parou diante de Thais. Num gesto brusco, agarrou-a pelos braços e a fez levantar-se do sofá. — Que isso, Dominic?! — exclamou Thais, assustada. O olhar dele a atravessou com fúria contida. — Já sei de tudo — rosnou entre os dentes. — Você me enganou durante três anos. Mentiu. Me manipulou... mais uma vez. Pedro não é meu filho. Thais empalideceu. — Não... não é verdade! Ele é sim seu filho! Quem te disse isso? Dominic riu sem humor. — Eu fiz o teste. E deu negativo. Você não presta. Pedro,
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