Primeiros PassosOs dias que seguiram foram de adaptação e dor. Ava mal podia se mover sem sentir o impacto de suas feridas, mas algo dentro dela havia despertado: a vontade de viver.Caleb acompanhava sua evolução de perto. Ele não precisava, mas sempre encontrava um motivo para estar por perto. Em uma tarde tranquila, ele entrou no quarto e encontrou Ava tentando segurar um copo d'água sozinha.—Deixe-me ajudar!—Eu consigo. Respondeu ela, a voz fraca, mas determinada.Eu dou um sorriso.–Eu sei que consegue! Mas não precisa enfrentar tudo sozinha."Ela o olhou por um momento, segurando o copo com as mãos trêmulas. —Eu passei tempo demais dependendo de alguém que só me machucava. Agora, quero aprender a ser forte!Eu assinto.—E você será. Mas aceitar ajuda não significa fraqueza. Significa que você não precisa carregar tudo sozinha.Ava encarou seus olhos e viu algo ali que nunca havia visto antes: Segurança. Pela primeira vez em muito tempo, sentiu que poderia confiar.Os dias q
UM MÊS DEPOIS… Os dias na casa de Matilde eram banhados por uma tranquilidade que Ava não se lembrava de ter sentido há anos. A pequena propriedade no interior exalava aconchego, com suas janelas de madeira pintadas de azul, as cortinas brancas dançando suavemente com o vento e o aroma de café fresco misturado ao cheiro adocicado das flores do jardim. Os primeiros meses de recuperação foi um desafio para Ava. Seu corpo ainda carregava as marcas do acidente. Hematomas que se tornavam sombras amareladas sobre sua pele, cicatrizes que contavam histórias de dor. No entanto, a maior batalha não era visível! As noites eram povoadas por pesadelos, flashes de memórias sufocantes que a faziam acordar sobressaltada, o peito arfando, sentindo ainda o aperto dos dedos de Taylor em seu pulso, a ameaça em seus olhos. Matilde nunca questionava. Apenas estava lá. Com chá de camomila, com palavras doces, com abraços silenciosos que ofereciam mais conforto do que qualquer remédio. Uma tarde, ao
O Despertar do Amor Com o passar dos dias, a recuperação de Ava ganhou contornos de uma lenta e dolorosa renascença. As cicatrizes físicas, embora visíveis, tornavam-se menos imponentes diante da determinação que agora iluminava seus olhos. Em meio à tranquilidade da pequena propriedade de Matilde, ela encontrava momentos de alívio e esperança. Cada manhã era uma batalha vencida, cada respiração um passo rumo à reconstrução de si mesma. Nas longas tardes de sol, quando a brisa suave fazia as cortinas brancas dançarem pela sala, Ava se permitia refletir sobre o passado e seu futuro. A propriedade onde havia vivido com Taylor, marcada por memórias turbulentas e decepções dolorosas, pesava como um fardo. O velho casarão, outrora símbolo de um lar, agora carregava o eco dos gritos e dos conflitos. Em seu íntimo, a vontade de vender aquele lugar se misturava a um desejo urgente de recomeçar, de se estabilizar na cidade, longe das sombras que tanto a atormentavam. Enquanto ela
O Recomeço e as Escolhas do AmanhãOs dias se transformavam em semanas, e o ambiente acolhedor da casa de Matilde, com seus detalhes rústicos e a calma do interior, dava lugar a um novo ritmo de vida. Ava passava horas caminhando pelos jardins, absorvendo a energia do sol e permitindo que a natureza a ajudasse a cicatrizar, tanto o corpo quanto a alma. Mas, apesar do progresso visível, as dúvidas persistiam. Cada vez que passava pela casa onde antes morou com Taylor, o passado batia à porta com força, lembrando-a dos momentos de violência e medo.Decidida a buscar uma solução, Ava começou a conversar com amigos e consultores sobre a venda da antiga propriedade. A ideia não era simplesmente desfazer-se do lugar, mas sim se libertar do legado que o relacionamento conturbado representava. Em suas conversas, misturava o desejo de um futuro próspero com a necessidade de deixar para trás os traumas que a impediam de seguir em frente. A proposta de mudar-se para o litoral, onde poderi
Marcar o RetornoO telefone de Ava repousava sobre a mesinha de madeira clara, enquanto o aroma do chá de camomila se espalhava pela cozinha aquecida pelo sol da manhã. O tempo parecia correr em um ritmo diferente ali, como se a casa de Matilde se recusasse a acompanhar o mundo lá fora. Mas naquele dia, Ava sentia um impulso diferente, como se algo a chamasse de volta para enfrentar o que por tanto tempo evitou.Ela olhou o visor do celular, o número da clínica aparecendo na lista de contatos recentes. Respirou fundo, os dedos tremendo levemente, e tocou para ligar.— Clínica Monte Claro, bom dia! Atendeu a recepcionista, com a voz doce e profissional.— Bom dia… Aqui é Ava Santiago. Gostaria de marcar uma consulta com o Dr. Caleb, por favor. Sua voz soou firme, mas seu coração batia acelerado.— Claro, senhora Ava. Temos disponibilidade para esta sexta-feira, às nove da manhã. Pode ser?— Pode sim. Muito obrigada.Ao desligar, Ava sentiu uma espécie de alívio. Era como se aquele si
Corações que BatemA cidade parecia mais silenciosa naquela manhã de sexta-feira. O céu estava nublado, como se acompanhasse o peso das minhas emoções. Eu vesti a primeira roupa confortável que encontrei e saí cedo. O caminho até a clínica foi feito com os dedos entrelaçados sobre o colo, tentando conter a ansiedade que se remexia dentro de mim como uma maré instável.A fachada branca da Clínica Monte Claro me pareceu intimidadora. Era elegante, moderna, diferente de tudo o que eu conhecia. Talvez exatamente como deveria ser essa nova fase da minha vida.Entrei. O saguão era amplo, com poltronas de tecido bege, um aroma suave de lavanda no ar e uma música instrumental tocando ao fundo. Respirei fundo, caminhando até a recepcionista.— Ava Santiago, consulta com o Dr. Caleb às nove. Murmurei.Ela sorriu com delicadeza e fez um gesto para que eu me sentasse.Sentei-me perto da janela, observando um casal do outro lado da sala. Ela acariciava a barriga enquanto o homem lhe beijava a tes
Primeiras RaízesO cheiro de madeira molhada me recebeu antes mesmo de cruzar a porta do ateliê. Respirei fundo, como se o aroma pudesse me ancorar naquele momento. Era reconfortante o perfume da criação, da paciência e da permanência.Cheguei mais cedo do que deveria, mas Caio já estava lá.Ele se curvou sobre uma tábua de cedro, lixa em mãos, movimentos firmes e cuidadosos. A luz da manhã atravessava a janela e desenhava sombras suaves em seu rosto. Fiquei observando por alguns segundos, silenciosa, tentando entender por que aquele lugar me acalmava tanto.— Ei! Falei baixinho.Ele ergueu os olhos e sorriu. Um sorriso sem pressa, daqueles que aquecem antes mesmo de encostar.— Você chegou cedo.— Tive vontade de vir. Ontem, foi um dia importante. Estiquei a mão com a imagem do ultrassom. — Quis te mostrar.Ele largou a lixa e veio até mim, pegando a folha como se fosse algo sagrado. Seus olhos correram pela imagem em preto e branco, e então pousaram nos meus.— Isso aqui… é fort
AcidenteA noite estava pesada, carregada. Uma tempestade caía sobre a cidade.Raios riscavam o céu, iluminando por breves segundos a estrada sinuosa.O vento uivava entre as árvores, fazendo-as balançar de forma ameaçadora.O cheiro de chuva e terra molhada impregnava o ar, misturando-se ao aroma ácido do álcool derramado dentro do carro. Taylor segurava o volante com uma das mãos, a outra apertava com força o pulso de Ava. Seus dedos cravavam na pele dela, deixando marcas vermelhas que ardiam.O medo pairava como um peso no peito dela.— Eu já disse para não me desafiar, Ava! Sua voz soava como um rugido de fúria, um trovão ameaçador no meio da tempestade. Os olhos embriagados brilhavam sob a penumbra do painel.Ava tentou soltar-se, mas o aperto aumentou. Seu corpo tremia. A boca estava seca, a respiração entrecortada pelo medo que a consumia. Já conhecia esse olhar. O olhar de quem iria machucar.— Taylor, por favor...Sua voz era um sussurro. Sabia que qualquer palavra errada