Sarah
Sarah Miller ✨️ Revisei todos os documentos com paciência, tentando manter minha concentração — mesmo que fosse difícil com Kevin Fisher ao meu lado. De vez em quando, eu sentia um olhar sobre mim. De canto de olho, percebi que Kevin me observava, e isso me deixava um pouco… incomodada, mas fingi não perceber. A viagem era longa e chata, e depois de tanto tempo revisando aqueles documentos, comecei a sentir o peso do cansaço. O banco era confortável, então pensei que tirar um cochilo não seria má ideia. Mas, como conheço meu chefe nada amável… vai que ele se irrita e queira me demitir só por isso? Decidi perguntar antes. Vai que, né? — Já revisei tudo. Posso tirar um cochilo? — olhei pra ele, esperando sua resposta. Kevin ergueu uma sobrancelha, me encarando com confusão. — Cristo, você acha que vou te impedir de tirar um cochilo? — falou, parecendo ofendido. Senhor amado… ele lê pensamentos? — Acho — dou de ombros. — Pode dormir, senhorita Miller. — Ele ainda me observou antes de suspirar e desviar o olhar para a janela. Sem hesitar, ajeitei o banco e me acomodei, pronta para finalmente descansar. (….) — Miller. Escuto a voz firme e grave de Kevin, que me faz despertar. Ainda meio sonolenta, ajeito meu banco, piscando algumas vezes para me situar. — Já vamos pousar. — Ele fala, me olhando rapidamente. Apenas assenti. Assim que pousamos, Kevin foi à frente e eu fiquei um pouco mais atrás. Caminhamos para fora do avião. Kevin desceu primeiro e parou no final do degrau, me esperando. Eu, por outro lado, estava lidando com meus saltos velhos e apertados. Continuei descendo os degraus com todo o cuidado, com medo de cair, mas assim que pisei no degrau seguinte senti a merda de um dos saltos quebrar. Tentei me equilibrar o máximo que pude, mas sem sucesso. Meu coração disparou e me preparei para cair e passar uma grande vergonha. Mas antes que meu corpo atingisse o chão, senti braços fortes me envolverem com firmeza, num reflexo rápido e preciso. O corpo de Kevin colidiu suavemente com o meu enquanto suas mãos agarravam minha cintura com força, impedindo que eu despencasse como uma completa desastrada. Uma de suas mãos estava espalmada nas minhas costas, me mantendo ereta, e a outra ainda segurava firme minha cintura, os dedos pressionando de leve o tecido da minha blusa. Ele me segurava com segurança Seu corpo estava perto demais. Quente demais. O peito dele subia e descia devagar, encostado no meu, e por um segundo, meu coração esqueceu de bater no ritmo certo. Nossos rostos estavam próximos. Os olhos dele encontraram os meus Engoli em seco, tentando manter o controle, mas o cheiro amadeirado do perfume dele se espalhou pelo ar, ainda mais intenso com a proximidade. O olhar dele desceu devagar pelo meu rosto, parando nos meus lábios. — Senhor, seu carro já está aqui. Uma voz masculina nos tirou daquele momento vergonhoso como um balde de realidade. Kevin piscou algumas vezes antes de me soltar com cuidado mas não sem antes engolir em seco. Seu olhar logo desviou para o homem que havia falado. — Certo, obrigado. — Ele acenou para o motorista, que apenas assentiu antes de se afastar. Quando Kevin voltou a me olhar, seus olhos caíram diretamente nos meus pés mais especificamente para o meu salto, agora quebrado. Droga. Malditos saltos. — Da próxima vez, use sapatos mais confortáveis. E, de preferência, que não quebrem, ele disse com um tom indiferente, mas que me deixou irritada. Mas até parece… como eu ia saber que o salto ia quebrar? — Perdão. Ele apenas me ignorou e começou a andar na direção do carro. Revirei os olhos, soltando um suspiro pesado. Tirei os saltos e acompanhei Kevin até o carro. Continuei acompanhando Kevin até chegarmos no carro e é óbvio que ele não abriria a porta pra mim. Quem fez isso foi o motorista. Ele abriu a porta de um carro luxuoso, preto, que eu nem sei o nome, e eu entrei, sentando no banco enquanto Kevin entrou do outro lado, mantendo uma distância considerável. O interior era impecável, espaçoso e extremamente confortável, mas nada disso me surpreendia. Kevin Fisher era um homem milionário e exigente, então claro que qualquer coisa para ele seria sempre de alto padrão. Ele estava focado novamente no celular. Como sempre. Suspirei e me ajeitei no assento, tentando ignorar a dor que estava sentindo no tornozelo por ter torcido quando o salto quebrou. Passei o outro pé suavemente sobre o tornozelo, tentando amenizar a dor. Foi então que senti os olhos de Kevin pousarem nos meus pés. Ele ergueu as sobrancelhas, visivelmente incomodado, como se estivesse analisando uma aberração. Ah, pelo amor de Deus… Revirei os olhos discretamente, sem que ele percebesse. Porém, ele continuou olhando por tanto tempo que comecei a me sentir desconfortável. Já estava quase achando que ele tinha uma tara por pés. Então, lentamente, ele finalmente ergueu a cabeça, fixando o olhar no meu rosto. — Se o que estou te pagando não é o suficiente, me avise, ok? — disse com um tom de confusão e descrença. Juntei as sobrancelhas, confusa. Demorei um pouco pra processar… até que olhei para baixo e vi meus saltos quebrados no chão ao lado dos meus pés. E entendi. Ele estava falando dos meus saltos velhos. Mas que homem abusado. O salário que ele me pagava era ótimo, eu poderia comprar vários saltos novos. Mas não era essa a minha prioridade. Inclusive, eu até comprei um salto novo, mas vocês sabem o que aconteceu. Pro meu azar, não achei a droga dos saltos antes da viagem. Eu deveria dizer que não, que não é o suficiente, e pedir um aumento até porque, só por suportar ele, eu já mereço um. Mas preferi não responder. Revirei os olhos novamente, dessa vez sem me preocupar se ele notaria. E claro, ele notou. Kevin engoliu em seco e, para minha surpresa, afrouxou a gravata, se ajeitando no banco e soltando um suspiro que parecia… nervoso? Olhei pra ele, confusa. Eu hein, esse homem é estranho. — Responda — ele disse, voltando à postura e ao tom firme de sempre. Suspirei e olhei pra ele. — Não se preocupe, o que você paga é suficiente. Ele me analisou por um momento, até seus olhos voltarem para os meus saltos destruídos. — Tem certeza? — perguntou, como se não conseguisse acreditar. — Isso aqui não tem nada a ver com dinheiro, fique tranquilo — falei, apontando para os saltos. Kevin franziu a testa por um momento, mas depois soltou um suspiro. — Certo — pareceu aceitar, mas ainda desconfiado. Só que, claro, ele tinha que comentar sobre a minha quase queda. — Mas, de qualquer forma, quando chegarmos no hotel, use saltos mais confortáveis. Não quero que você caia em cima de mim de novo. Até parece. Eu não caí em cima dele, ele que me segurou. E já deveria ter esquecido isso. Cruzei os braços. — Fique tranquilo, isso não vai acontecer de novo. Kevin apenas acenou com a cabeça, satisfeito.