Sarah
Olho para aquele homem arrogante que estava parado na porta do escritório dele, imponente, com os cabelos castanhos escuros perfeitamente penteados, e a barba muito bem aparada, como se cada fio estivesse no lugar certo. A expressão no rosto dele era impossível de decifrar, neutra, séria, como sempre mas os olhos escuros estavam fixos em mim, intensos, cortantes. Ele usava um terno azul-marinho de três peças que parecia recém-saído da passarela. O tecido era visivelmente caro, ajustado ao corpo com perfeição, como se tivesse sido feito sob medida e, provavelmente, tinha sido. Arrogante? Demais. Feio? Nunca. Nunca na galáxia esse homem é feio. A beleza dele era surreal. Coisa de outro mundo. Mas o que ele tem de lindo, tem de frio e arrogante. E isso é algo que eu não suporto nem um pouco. — Senhorita Miller? — Ele me tira dos meus pensamentos, com as sobrancelhas levemente erguidas e aquele olhar impassível. — sim, senhor. Já estou indo — respondo, com a voz um pouco trêmula. Ele não diz mais nada. Apenas se vira com calma e entra novamente na sala dele. Respiro fundo, coloco minha bolsa em cima da minha mesa e olho para Bella, minha amiga, que me encara com os olhos arregalados. — Boa sorte — ela murmura, como se estivesse me desejando forças antes de eu ser sacrificada. Apenas aceno com a cabeça, sem conseguir responder, e sigo em direção ao escritório dele. Todos no andar me olham como se tivessem certeza de que algo horrível estava prestes a acontecer. E eu também achava. Engulo em seco, o som dos meus saltos ecoando alto no corredor silencioso. Entro na sala dele. O ambiente parece de revista: impecável, minimalista e luxuoso. As paredes são brancas com detalhes em cinza escuro, prateleiras com livros de arquitetura perfeitamente organizados, uma enorme estante de vidro com maquetes, diplomas emoldurados na parede, uma mesa de carvalho brilhando de tão limpa. Tudo estava perfeitamente alinhado absolutamente nenhum papel fora do lugar. O cheiro do ambiente misturava café fresco e madeira polida. Olho para ele. Kevin está sentado atrás da grande mesa de vidro, os olhos grudados no notebook à sua frente. Mas assim que me vê entrando, ajeita a postura, fechando o laptop com calma e cruzando as mãos sobre a mesa. Ele se recosta na cadeira de couro preto com elegância. O queixo levemente erguido, a coluna reta, os dedos entrelaçados. O tipo de postura que diz: “Eu mando nesse Caralho.E você vai me ouvir.” Sem dizer uma palavra, apenas faz um leve gesto com a cabeça, indicando a cadeira à minha frente. Sento, já imaginando o pior. Antes que ele fale algo, eu resolvo abrir a boca. Respiro fundo, endireito minha postura na cadeira, cruzo as pernas de maneira firme e o encaro com seriedade. Meus olhos vão direto para os dele, e, mesmo com o coração acelerado, minha voz sai firme: — Senhor, nesses dois anos em que trabalho aqui, eu nunca me atrasei. Sempre chego pontualmente, organizo todos os seus compromissos com antecedência, sempre te aviso quando algo muda, deixo seu café sem açúcar, exatamente do jeito que o senhor gosta, no lugar certo, e na hora certa. Eu nunca invado sua sala, só entro quando você manda ou para deixar o café, como combinamos. Eu atendo ligações indesejadas, recuso convites irritantes de reuniões inúteis, dou desculpas plausíveis para os almoços que o senhor não quer ir, cancelo convites de festas sociais que o senhor claramente detesta, respondo e-mails com aquele seu tom seco e profissional, e ainda finjo sorrisos para clientes escrotos que você detesta lidar. Então, com todo respeito… Me inclino um pouco para frente, sem piscar. — Você não pode me demitir só porque eu me atrasei hoje. Isso seria injusto. Cruel demais, até pra você. Kevin me encara com as sobrancelhas erguidas, claramente confuso. Eu, por reflexo, também o encaro confusa. Meu peito sobe e desce com a respiração pesada, mas eu não desvio o olhar. — O senhor… vai me demitir, não vai? — pergunto, sem conseguir esconder o susto na voz. Ele solta um suspiro longo e se recosta um pouco na cadeira, girando levemente a caneta que estava entre os dedos. Seus olhos continuam fixos em mim, agora com uma expressão mais… analítica. Como se estivesse tentando entender o que diabos acabou de acontecer. — Não sei o que falam de mim por aí — ele começa, com a voz firme, mas sem agressividade —, mas eu não sou do tipo que demite funcionários por simples erros. — Então… o senhor não vai me demitir? — pergunto, meio incrédula, os olhos arregalados. — Não. — Ele responde seco, direto. Pisco algumas vezes, tentando processar o que acabei de ouvir. Azar e sorte no mesmo dia? Ou só sorte mesmo? Meu Deus, tô confusa. Sinto meu rosto esquentar de vergonha ao perceber que acabei falando muito além do necessário, parecendo uma maluca desesperada. Desvio o olhar por um segundo e ajeito a saia, tentando disfarçar a vergonha. — Eu… bom… obrigada, senhor — murmuro, mais baixa agora, torcendo pra cadeira me engolir. Ele não diz nada. Só continua me encarando com aquela expressão misteriosa e sobrancelhas levemente erguidas, como se ainda estivesse tentando entender minha existência. — Bom, posso falar por que te chamei aqui ou você tem mais alguma coisa pra me lembrar que faz? — ele fala, me deixando ainda mais envergonhada. — N-não, senhor… desculpe. Pode continuar… — respondo abaixando a cabeça, morrendo de vergonha. Eu não acredito que falei aquelas coisas. Eu poderia muito bem ter sido demitida só por achar que ia ser demitida e ainda por cima ser tão atrevida. Que vergonha, meu Deus. — Olhe para mim. Gosto de falar com as pessoas olhando nos olhos — ele diz, sério, me fazendo encará-lo. Balanço a cabeça concordando, um pouco hesitante, e levanto os olhos. — Você irá viajar comigo para a Itália. — Ele fala como uma ordem, e não como um convite. Eu me engasgo com a saliva e arreglo os olhos, totalmente em choque. Kevin sempre viaja para fora do país, mas nunca me leva. Sim, eu sou a secretária dele há dois anos, mas nunca participei de viagens ou nada do tipo. Pra isso ele tem o outro secretário dele. Aliás, nunca entendi por que esse homem precisa de dois secretários. Na verdade, eu não entendo nada sobre esse homem. Por isso, estou completamente surpresa por ele me “convidar” para uma viagem. Corrigindo: convidar, não. Ordenar. Porque ele nunca pede. Ele ordena. — Desculpa, senhor… acho que não escutei direito — falo ainda surpresa, com a expressão paralisada, ainda olhando pra ele. Ele respira fundo, visivelmente irritado. Misericórdia. Parece que tudo irrita esse homem. — No seu currículo tinha muitas coisas… menos que você tinha problema de audição. Por favor, não me faça repetir — ele diz, com um leve levantar de sobrancelha. — Desculpa novamente. É que quem participa das viagens com o senhor é o Samuel… — falo, tentando soar racional. — O Samuel teve um imprevisto e não poderá viajar comigo. Então você irá. Fico calada. Só concordo com a cabeça. — No seu currículo dizia que você falava italiano, além de outras línguas, e que já havia feito viagens para o exterior. Então, não vejo problema em levar você comigo. Engulo em seco, forçando um sorriso e concordando com a cabeça. Ok. Eu exagerei bastante no meu currículo. Na verdade, eu não sei falar outro idioma além do inglês. E eu nunca fiz nenhuma viagem internacional. Mas eu tava desesperada pelo emprego, então… tive que mentir um pouquinho. Só um pouquinho. Mas agora… o karma bateu com força. Será que consigo aprender italiano em um dia? Meu Deus. Eu tô ferrada. — Sabe falar italiano, certo? — ele pergunta, parecendo confuso com meu engolir seco. — Hm… sim — respondo, olhando pro lado, tentando disfarçar o nervosismo e a cara de mentirosa. — Ótimo, então. Viajaremos na próxima semana. Avisarei o dia exato. Certo. Pelo menos terei alguns dias pra tentar aprender italiano. Caso contrário, estarei muito ferrada. Esse homem odeia mentiras. E o que ele não odeia, né? — Certo — digo, tentando soar confiante, mas com a voz meio trêmula. — Agora pode se retirar — ele diz, fazendo um gesto com a mão em direção à porta, sem tirar os olhos de mim. Me levanto da cadeira com elegância e começo a caminhar em direção à saída. — Miller. — Paro imediatamente quando escuto ele me chamar. Me viro lentamente para encará-lo. — Espero que não se atrase novamente. Da próxima vez, não será mais um erro. Agora pode ir. Apenas concordo com a cabeça, quase engolindo o coração pela boca, e saio da sala. Assim que fecho a porta atrás de mim, coloco a mão no peito e suspiro profundamente.Sarah Estava sentada na cama, pijama velho, coque bagunçado e um restinho de dignidade tentando sobreviver. Com o notebook apoiado entre as cobertas, os fones de ouvido enfiados até a alma e eu pronta para começar minha maratona: "Italiano básico em 7 dias". Sete dias. Sete. O homem me mandou para a forca com um leve movimento de sobrancelha e agora eu tô aqui, tentando aprender uma nova língua com uma professora digital que fala como se tivesse engolido um acordeão. - "Buongiorno!" - a mulher do vídeo disse com uma animação que me irritou instantaneamente. - Tá, tá. Buongiorno também, fia. Vai devagar - resmunguei, apertando o botão de voltar três vezes porque já tinha perdido metade da explicação. A lição dizia que era só repetir, imitar, praticar. Fácil. Como se meu cérebro fosse uma esponja e não uma massa gelatinosa em pânico. - Certo, vamos lá. É só repetir, imitar e praticar. Não deve é difícil - falei, me ajeitando na cama com as pernas entrelaçadas. - "Come stai?" - C
SarahDesço do táxi e faço o pagamento ao motorista.- Obrigada - digo, e o taxista apenas acena, saindo logo em seguida.Olho para frente, vendo a simples casa da minha avó. Suas paredes em um tom claro já desbotado pelo tempo, uma varanda charmosa com duas cadeiras de madeira e um jardim modesto com algumas flores que ela mesma cultiva com carinho. Tudo tem um ar de paz, aconchego e saudade.- Bom, lá vamos nós - falo, suspirando e indo em direção à casa da minha avó, Miriam.Subo as pequenas escadas da varanda e bato na porta.- Saraaah! - ela aparece, abrindo os braços pra me abraçar.Minha avó mora sozinha, e não se engane, ela se vira muito bem. Meu avô morreu há dez anos, vítima de um ataque cardíaco. Ele era maravilhoso, igual a ela. Desde que saí de casa, minha avó ficou sozinha. Até pedi pra ela morar comigo ou se mudar para um lugar mais perto, mas ela negou. Diz que aqui se sente mais próxima do meu avô e que quer morrer aqui, igual a ele. Acho isso muito fofo e emocionant
Sarah Tento ignorar, mas o barulho insuportável do meu celular continua tocando sem parar. Mexo o braço, tateando até encontrar o celular ao meu lado na cama. Dormi com ele ali mesmo, depois de passar boa parte da noite jogando e assistindo série. — Meu Deus, quem é que tá me ligando a essa hora? — resmungo, pegando o celular ainda sonolenta, os olhos quase sem abrir. — Chicletinha… — escuto a voz da minha amiga Mia do outro lado da linha. — Por que você tá me ligando agora? — resmungo, ainda com a voz arrastada de sono. — Liguei pra avisar que vou me atrasar um tiquinho pra gente se encontrar depois do trabalho… Minha tia me chamou e eu vou ter que dar uma passadinha lá rapidinho. Eu sei, eu sei que você odeia quando eu faço isso — mas juro que é coisa de 20 minutinhos! Não me mata, tá? Te compenso com fofoca, docinho ou um elogio bem exagerado, do jeitinho que você gosta. — Tudo bem… mas precisava me ligar agora? — resmungo, passando a mão no rosto. — Peraí… você ain