Capítulo 7

Sarah

Ficamos em silêncio: Kevin no celular e eu olhando pela janela, fingindo estar admirando a vista apenas para não encarar ele. Ficamos assim até chegarmos no hotel.

Finalmente chegamos ao hotel… se é que isso pode ser chamado de hotel  tá mais pra um palácio.

O lugar era enorme, com portas de vidro que refletiam o brilho dourado das gigantescas luminárias penduradas no teto. O saguão era um espetáculo: o chão de mármore polido parecia um espelho, os lustres de cristal pendiam em cascata iluminando tudo com um brilho suave e elegante. Havia arranjos florais sobre mesas espelhadas e quadros enormes nas paredes, todos com molduras douradas. Sofás de veludo estavam dispostos em perfeita simetria e até o perfume do ambiente parecia caro, como se tivesse sido criado especialmente para o lugar.

Como sempre, Kevin amava esfregar na cara do mundo que era milionário.

Me pergunto quanto custa a diária desse lugar… certamente mais que meu salário. Mas não vou me preocupar com isso, porque quem vai pagar é o senhor arrogante. E mereço isso e muito mais por aturar ele.

Além de toda essa beleza, o hotel estava movimentado. Bem movimentado, na verdade. Pessoas iam e vinham, todas elegantes e claramente ricas, vestindo grifes que eu só via em desfiles pela internet. Isso me deixou confusa.

Kevin sempre me pareceu alguém reservado, que preferia ambientes discretos e longe da multidão, mas agora estou duvidando disso. Estávamos cercados por gente da alta sociedade, e meu chefe olhava ao redor com uma expressão confusa, como se ele mesmo não entendesse por que aquele lugar estava tão cheio.

Kevin parou abruptamente e virou-se para mim.

— Só um minuto. Vou falar com a recepcionista — falou, me lembrando da minha existência.

Que coisa… Kevin me avisando de algo.

Apenas assenti e o vi se afastar em direção ao balcão.

Continuei parada, olhando maravilhada para cada canto daquele hotel, ainda encantada. Tava parecendo uma criança em uma loja de brinquedos. Meu Deus… eu realmente ia ficar aqui? O quarto desse hotel devia ser maior que meu apartamento inteiro.

Enquanto admirava os detalhes, notei olhares de julgamento sobre mim  mais especificamente sobre os meus pés descalços e meus saltos quebrados na mão.

Uma mulher loira e mais velha passou por mim, encarando meus pés com puro desprezo, como se eu fosse uma afronta à elegância do lugar. E não foi só ela. Outras pessoas também me lançaram olhares de julgamento e desdém.

Ótimo.

A mulher continuou me encarando enquanto passava por mim, e eu simplesmente não resisti: mostrei a língua pra ela.

Velha vadia.

Quase falo isso em voz alta

Ela arregalou os olhos, claramente chocada com a minha ousadia, mas logo virou o rosto e continuou andando.

— Abusada — murmurou.

Ri sozinha, sem me importar com os olhares dos outros. Essas pessoas acham que dinheiro as faz superiores, mas por dentro são todas vazias.

De repente, lembrei de Kevin e procurei por ele com o olhar. Ele ainda estava falando com a recepcionista, mas parecia mais inquieto que o normal. Nada escandaloso, claro Kevin era um robô  mas, pelo tempo que trabalho com ele, consigo perceber pequenas mudanças.

Ergui as sobrancelhas e decidi me aproximar para entender o que estava acontecendo.

— Não é possível que um hotel gigante desses só tenha um quarto disponível! — ele falou com irritação evidente.

Pisquei algumas vezes, confusa.

Um quarto?

— Desculpe, senhor, apenas uma reserva antecipada foi feita. O hotel está cheio por conta de um evento importante que está acontecendo aqui na Itália — respondeu a recepcionista, em inglês, o que era ótimo, porque se fosse em italiano eu estaria ferrada.

— Certo — ele suspirou, passando a mão pelos cabelos, claramente incomodado.

Ok… então só tínhamos um quarto.

Ele se afastou da recepção, ainda visivelmente frustrado, e eu fui atrás, incrédula.

Quando vi que ele pegava o celular, provavelmente para ligar para alguém, decidi intervir antes.

— Como assim você só reservou um quarto?! — perguntei, ainda tentando processar a informação.

Kevin se virou devagar pra mim, apertando os olhos como se minha pergunta fosse idiota.

— Você realmente acha que eu reservaria apenas um quarto sabendo que você estaria comigo? — ele rebateu, um pouco irritado. — Óbvio que não fui eu quem fez a reserva.

Eu odeio, odeio esse homem com todas as minhas forças. Como alguém pode ser tão arrogante? Se não fosse pelo dinheiro, eu mandava ele se ferrar nesse exato momento. Mas tive o azar de nascer pobre.

Realmente, não era ele quem fazia as reservas. Óbvio, né? Eu tinha esquecido disso. Quem cuidava dessa parte era o outro secretário dele, que lidava com toda a parte de logística das viagens.

Fiquei em silêncio e apenas fechei a cara, me sentindo ligeiramente ofendida com a grosseria dele.

Kevin pareceu perceber que exagerou, porque sua expressão suavizou. Ele soltou um suspiro pesado e até pensei que iria pedir desculpa ou algo do tipo… mas me enganei. É óbvio.

— Vou verificar se há outro hotel com dois quartos disponíveis.

Apenas concordei com um aceno da cabeça.

O observei se afastar e começar uma ligação, aparentemente tentando resolver o problema.

Suspirei, me apoiando no balcão.

E se não tivesse outro hotel disponível?

Quer dizer que eu teria que ficar no mesmo quarto que esse jumento arrogante?

Não. Não, de jeito nenhum.

Depois de alguns minutos, Kevin voltou parecendo frustrado. Havia passado um bom tempo ao telefone, provavelmente tentando resolver a situação.

— Realmente, está acontecendo um evento popular aqui na Itália, e todos os hotéis estão lotados — ele disse, suspirando pesadamente.

— Tem certeza que não há hotel com vagas? — perguntei, ainda na esperança de uma resposta diferente.

Kevin apenas balançou a cabeça negativamente e suspirou outra vez.

Também soltei um suspiro longo.

Ele me olhou com uma expressão tensa, como se estivesse prestes a dizer algo que não gostaria.

— Miller… não seria um grande problema dividirmos o quarto, certo?

Meus olhos se arregalaram. Não. Não, eu não vou dividir um quarto com esse homem.

— Não! Definitivamente não! — retruquei, negando com firmeza.

— Miller, eu não estou interessado em você, fique tranquila — ele disse, parecendo cansado. — Só quero resolver isso o mais rápido possível até que outro quarto fique disponível. Tenho um projeto importante aqui na Itália e não posso perder tempo.

Eu sabia que ele não estava interessado em mim. Kevin não era o tipo de homem que misturava trabalho com vida pessoal, e muito menos do tipo que olharia pra mim desse jeito. Mas só a ideia de ficar no mesmo quarto que ele já me deixava irritada.

Apenas balancei a cabeça, negando, de braços cruzados.

Kevin suspirou e passou a mão pelos cabelos.

— Miller, eu também não estou feliz com a ideia — disse, olhando pra mim. — As pessoas podem ver e pensar outras coisas…

Óbvio. Ele só se importava com a reputação dele.

— Mas, como eu disse, tenho um trabalho importante aqui na Itália e não posso perder mais tempo procurando hotéis.

Fechei os olhos por um momento e soltei um suspiro derrotado. Minha avó e meus amigos certamente estariam pulando de felicidade se soubessem dessa situação.

— Ok — disse, concordando com a cabeça.

Kevin assentiu.

— Obrigado.

O quê? Esse homem tá me agradecendo?

Isso foi surpreendente. Kevin não é o tipo de homem que agradece. Ele só dá ordens e espera que sejam seguidas. Mas dessa vez parecia que ele estava realmente pedindo, não mandando. Ele respeitou minha decisão.

Apenas assenti e o observei se afastar até a recepcionista para pegar o cartão-chave do quarto.

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