Sarah Miller
Seguimos direto para o elevador, com um funcionário do hotel nos acompanhando com as bagagens. O elevador chegou, e saímos com o funcionário seguindo logo atrás, ainda carregando as malas. Ele nos acompanhou até a porta do quarto e, como Kevin pediu, deixou as bagagens organizadas ao lado da entrada. Kevin abriu a porta do quarto e entrou primeiro, e eu logo em seguida. O quarto era esplêndido. Era enorme, com uma decoração luxuosa e extremamente refinada. As cortinas eram de um tecido pesado, dourado, com detalhes bordados à mão. O piso de madeira escura contrastava perfeitamente com o tapete felpudo bege que parecia feito de nuvem. Uma varanda com portas de vidro dava vista para uma parte iluminada da cidade, e havia uma lareira decorativa acesa, que deixava o ambiente ainda mais aconchegante. A cama era digna de realeza: enorme, com cabeceira estofada, lençóis brancos impecáveis e almofadas perfeitamente alinhadas. Sobre um aparador de mármore, descansava uma bandeja com frutas e duas taças de cristal. Um perfume suave de lavanda preenchia o ar. Esse quarto era um sonho. Eu poderia morar aqui facilmente. Mas meu encanto foi interrompido pela voz de Kevin. — Só tem uma cama — ele disse, suspirando. Virei rapidamente na direção dele, sentindo meu coração disparar. Kevin não parecia estar impressionado com a beleza do quarto — obviamente, porque ele já era acostumado com esses luxos. Olhei para a cama e depois para o pequeno sofá que também havia no quarto. — Isso só pode ser pesadelo — murmurei para mim mesma. Kevin soltou um suspiro longo, claramente exausto com toda a situação. — Sou muito grande para aquele sofá — ele falou, apontando para o sofá com uma das mãos enquanto colocava a outra na cintura. — Não! Nem pensar que eu vou dormir nesse sofá! — digo, balançando o dedo em negação. Eu caberia certinho no sofá, mas o Kevin, nunca. Porém, isso não significava que eu abriria mão da cama. — Miller, eu vou ficar desconfortável nesse sofá. Cruzo os braços, determinada. — Seja cavalheiro pelo menos dessa vez! Não pode colocar uma senhorita para dormir no sofá — peço, tentando parecer dramática, levando uma das mãos ao peito e me mostrando ofendida. Kevin me encara com uma expressão confusa, como se estivesse processando a acusação. Seus olhos pareciam perguntar: “eu não sou cavalheiro?”, mas logo ele relaxa o rosto. — Vamos resolver isso no cara ou coroa — ele propõe, como se fosse a coisa mais óbvia do mundo. Olho pra ele, incrédula. Quantos anos ele pensa que temos? — Senhor, não estamos no ensino médio. — Tem um jeito melhor de resolver? Suspiro e balanço a cabeça em negação. — Ótimo — ele murmura, já enfiando a mão no bolso. Puxa a carteira, procura por uma moeda e, quando a encontra, levanta no ar antes de olhar para mim. — Cara ou coroa? — Cara — respondo sem hesitar. Kevin apenas sorri de canto, convencido. Ele j**a a moeda para o alto, observando-a girar até cair na palma da sua mão. Sem olhar o resultado, ergue os olhos para mim com um olhar presunçoso. Mas assim que abre a mão e vê a moeda, seu sorriso se desfaz. Ele franze o cenho, confuso, encarando a moeda como se ela tivesse acabado de traí-lo. — Não é possível… — resmunga, quase em um sussurro. Dou um passo rápido para frente para confirmar e, assim que vejo que saiu cara, solto um gritinho de felicidade e começo a pular como se tivesse acabado de ganhar na loteria. — ISSO! Eu sabia! — comemoro, parecendo uma criança, balançando os braços no ar. Mas, quando percebo Kevin me olhando com uma sobrancelha erguida, claramente tentando entender por que eu estava tão empolgada por ter ganhado no cara ou coroa, fico sem graça e forço uma tosse para disfarçar, ajeitando a postura. Cristo, tenho que aprender a me controlar. Ele ainda me observa, mas vejo um sorriso quase imperceptível brincar no canto da sua boca. — Certo — ele diz, respirando fundo. Coloca as mãos nos bolsos e lança um olhar de relance para o sofá, como se estivesse tentando aceitar o destino. Quero só ver ele se esforçando pra caber nesse sofá. — Boa sorte tentando caber aí. Ele só me ignora. Como chegamos bem tarde da viagem — que foi super cansativa — resolvi dormir logo, ainda mais porque amanhã já teremos trabalho. Tomei banho primeiro… aliás, que banheiro deslumbrante! Logo em seguida, foi a vez do Kevin. Como eu disse, fui a primeira a tomar banho. Vesti o pijama confortável que trouxe na mala — um short de algodão com uma blusinha de alças finas — e me sentei na cama com as costas encostadas na cabeceira. Kevin saiu do banheiro com uma toalha enrolada na cintura e… eu tentei ignorar, de verdade. Mas não consegui. Meu olhar caiu direto no abdômen definido que parecia esculpido à mão. Dava pra ver a entradinha. E os ombros dele… impressionantes. Engoli em seco e desviei o olhar, torcendo pra ele não ter percebido que eu o encarei. Ele foi direto para o closet e, quando saiu, vestia apenas uma calça de moletom. Pegou um travesseiro e um lençol e seguiu para o sofá, ignorando completamente a minha existência. Fiquei um tempo no celular, parei de prestar atenção nele e conversei um pouco com a Mia e o Justin. Até que minhas pálpebras começaram a pesar de sono. Coloquei o celular na mesinha ao lado da cama e me ajeitei no colchão — que, aliás, era extremamente confortável. Já estava quase dormindo quando… — Droga — escutei Kevin resmungar baixinho. Levantei um pouco a cabeça, curiosa, e vi Kevin se remexendo no sofá, que era pequeno demais para o tamanho dele. Ele tentava se ajeitar de todas as formas possíveis. Se virava de um lado pro outro, dobrava as pernas, esticava o corpo, visivelmente desconfortável. E meu Deus… ele quase caiu. — Porra… — ele sussurrou, irritado. Depois de algumas tentativas frustradas, soltou um suspiro cansado e se sentou, jogando a cabeça pra trás e encarando o teto. Fechei os olhos com força e me virei de novo, tentando ignorar. Sarah, não sinta pena desse homem. Não sinta! Abri os olhos e olhei para a cama. Ela era enorme. Caberíamos os dois ali com facilidade. Suspirei, já sabendo que ia me arrepender. — Senhor Fisher — chamei baixinho. Ele levantou a cabeça, surpreso. — Você ainda está acordada? Me ajeitei, sentando na cama e cruzando os braços. — Bom… não dá pra dormir com o senhor fazendo esse barulho todo. Ele passou a mão no rosto, claramente frustrado. Olhou pra mim e depois para o móvel minúsculo, com um olhar derrotado. — Perdão… é que eu sou muito grande pra esse sofá. Duas desculpas em uma noite? Uau. O que está acontecendo com esse homem? Suspirei. — Bom… eu estava pensando… Certo. Somos adultos. Podemos fazer isso. — Sim? — ele arqueou uma sobrancelha, confuso. Engoli em seco. — Eu acho que não teria problema você dormir aqui. Os olhos dele se arregalaram no mesmo instante, e ele se levantou rapidamente. — Sério?! Assenti com a cabeça. Ele já ia deitar na cama quando levantei a mão, impedindo. — Calma, calma! Kevin parou no meio do movimento e me olhou, confuso. Peguei algumas almofadas e travesseiros e comecei a criar uma barreira no meio da cama. — Agora sim — declarei, satisfeita. — Isso é realmente necessário? Eu não tenho interesse em encostar em você — disse ele, com o tom sério de sempre. — Só por precaução. — Certo, se você quer assim — ele deu de ombros. Ele se deitou no lado dele e eu no meu, respeitando a barreira. Fechei os olhos, me preparando pra dormir. — Sarah. Arregalei os olhos. Ele me chamou de Sarah? Kevin nunca me chamava de Sarah. Sempre era “senhorita”, como todas as outras funcionárias. Ou, no máximo, “Miller”. Esse homem tá muito estranho. — Sim, senhor? — perguntei sem me virar. — Obrigado — ele disse, após um momento de silêncio. — E… não precisa me chamar de “senhor” fora do trabalho. Senti um sorriso surgir no meu rosto… mas ele não podia ver. — Certo. Boa noite. Ele não respondeu, mas o silêncio confortável já dizia tudo.