Mundo ficciónIniciar sesiónIara e Lucas tinham uma história de amor que começou na escola e seguiu até a vida adulta, repleta de sonhos e planos para o futuro. Mas, em uma noite inesperada, tudo mudou. Após um grave acidente, Iara desperta no hospital e descobre que Lucas ainda não acordou. Enquanto aguarda, ela revive os momentos que marcaram sua jornada juntos—estudos na biblioteca, passeios, viagens e o carinho da família e dos amigos. História emocionante sobre amor, superação e esperança
Leer másCapítulo 01
Tudo dói, até os músculos dos olhos. Olho à frente e vejo
minha mãe, meu pai, minha irmã com o namorado, dois policiais e o advogado da família. Tenho que relatar o acidente. Em algum momento tenho que falar, não posso mais postergar. Levanto-me e peço água à minha mãe. É tão raro vê-la sem maquiagem, com cabelo desalinhado e repetindo a mesma roupa, ainda mais por dois dias. Já faz dois dias que estou aqui? ― O.k.! Querem que eu fale o quê, exatamente? O advogado, com seu terno caríssimo, se aproxima e puxa uma cadeira próximo a minha cama. ― Iara, se você quiser descansar, pode deixar para amanhã... Faço que não com a cabeça― Vamos acabar com isso! ― falo, com os olhos
tremendo. ― Lucas me mandou mensagem dizendo que estava indo me buscar, que era para eu esperá-lo pronta no hall do prédio. Ele tinha terminado um projeto e queria comemorar. Me arrumei e desci. Fomos ao shopping para assistir a um filme, depois fomos jantar... “Quando estávamos indo embora, antes de sair do estacionamento (queria deixar tudo claro), ligamos o som e colocamos nossa banda preferida dos anos 80 para tocar. Estávamos muito felizes, pois íamos marcar a data do nosso casamento. Começamos a cantar ‘Forever’. Saindo para a rua, só lembro do caminhão e do braço do Lucas no meu rosto. O que um caminhão estava fazendo ali? A rua era mão única!”. Quando término meu relato, minha mãe e meu pai estão chorando. Eles não sabiam dos nossos planos. Gostavam do Lucas e esperavam por esse momento. Os pais dele também, mas antes ele queria terminar o primeiro projeto sozinho. Eu ainda não tinha meu consultório, mas atuava na mesma clínica que meu tio. Era veterinária, e ele arquiteto. ― Só precisamos do seu relato para ter provas e condenar o motorista. Ele estava drogado. Fico ali, apenas absorvendo minhas lembranças, enquanto meu pai, que parece ter envelhecido cinquenta anos, acompanhaos policiais e o advogado. Minha mãe se aproxima e passa a mão
no meu cabelo; parece que faz dias que eu não lavo. ― A médica disse que amanhã poderá te dar alta. Mandei limpar seu quarto. Seu tio disse que pode tirar umas férias. Está tudo certo na clínica e na ONG, ele e o Tomás estão com tudo sob controle. Meu tio havia montado uma ONG junto com o namorado. Fiz faculdade de veterinária por causa disso, queria cuidar dos animais abandonados, e na minha cidade tem muitos. No começo, meu pai me atormentava, dizendo que eu tinha que me preocupar com gente, mas minha mãe o convenceu de que temos que trabalhar com amor. Me formei há um ano, mas trabalho com eles desde o ensino médio. ― Não quero férias, só quero que isso tudo acabe! ― A Bia e a Iza vieram mais cedo, mas como você estava dormindo, foram embora. Amanhã elas vêm te visitar. Balanço a cabeça. Não quero visitas, só quero dormir e voltar nove anos, reviver tudo e mudar os últimos três dias.― O Lucas não está me olhando!
Não fazia sentido, mas a Bia não parava de dizer isso. Eu era vista como a metida, e ele era o mais mulherengo. Até fazia sentido, já que todos comentavam que eu tinha tirado 10 na provade química. O professor José disse para todos que deveriam
seguir meu exemplo e estudar. Agora, era mais admirada na escola. ― Ele deve estar pensando em pedir emprestada a minha prova para estudar para a recuperação... ― respondi, rindo da cara da Isa, quando ele se aproximou com um amigo. Lucas era alto e tinha cabelos pretos na altura da orelha. A camiseta do uniforme era meio justa, mostrando que ele era atleta; jogava futebol no time da escola, e por isso não estudava tanto. ― E aí, tudo bem? ― ele perguntou. ― Sim. Foram bem na prova? ― respondeu Bia, que tinha tirado 9,5 e a Isa 9,0. Eram as melhores notas da sala, e o professor deixou isso claro. ― Não. E queremos fazer uma proposta pra vocês. Será que conseguem nos ajudar na recuperação? Senão, vamos reprovar, e perdemos muito tempo nos treinos do intercolegial.Foi assim que tudo começou, nas aulas na biblioteca, duas
vezes na semana. Fiquei sabendo que os pais dele eram donos da mais conceituada construtora da cidade. Lucas já era apaixonado por arquitetura desde pequeno. Nos tornamos amigos, e em cinco meses ficamos pela primeira vez.Acordo com a enfermeira entrando no quarto. Ela mede
minha temperatura, afere minha pressão e pergunta como me sinto. Respondo com um sorriso. Chega a ser irônico as pessoas perguntarem como você se sente quando você se encontra em um quarto de hospital... Ouço uma batida na porta e vejo minha mãe com a Dra. Cristina, que é muito amiga dela, desde os tempos de escola. Ela é alta, tem cabelos pretos presos em um rabo de cavalo curto, seus olhos escuros estão atrás dos óculos discretos, e seu corpo é estilo mignon. Ela veste jeans, uma camiseta azul-claro, um jaleco por cima e o estetoscópio no pescoço. ― Olá, Iara, como se sente hoje? ― pergunta, com seu sorriso amável. ― Como acha que me sinto? ― Não queria ter sido irônica, mas cansa toda hora ouvir essa pergunta, sabendo que quem a faz já sabe a resposta. Minha mãe só suspira. Eu vejo o medo que ela tem que eu entre em depressão. Ela viu a minha avó morrer assim há alguns anos. ― Tenho boas notícias, você pode ir para casa. Vai ficar de repouso. Seu trauma foi apenas psicológico, por isso peço que procure um psicólogo. Vou deixar uma guia e recomendar uma amiga querida, Dra. Adriana. Você vai gostar dela.― Ela vai, sim, Cris, pode deixar! ― afirma minha mãe,
aliviada e esperançosa. ― O.k. ― É tudo o que eu consigo dizer. Juntamos as coisas e vamos para casa. Quando entro no carro, sinto meu coração disparar. Respiro fundo, pois não quero dar espaço para uma síndrome do pânico também. Quando percebo que entramos no nosso bairro, sinto um aperto no peito e os olhos se enchem de lágrimas. Não será nada fácil retomar a vida como era antes do acidente, olhar as ruas por onde tanto andamos... Aquele caminhão acabou com tudo. Como voltaria a rir com minhas amigas? A estudar e trabalhar? Parece que faz uma eternidade que saí para encontrar com Lucas, mas foi há apenas três dias. Ele ficou na UTI, enquanto levei três pontos na testa e quebrei o pulso... Como gostaria de voltar e pedir para ficarmos em casa assistindo a algum streaming. Talvez isso tivesse evitado o acidente. ― Oh, Iara, não chore, ele vai ficar bem... Minha irmã, Nayara, entrou no quarto e eu nem percebi. Ela vem até mim, que estou na janela, e me abraça. Ela é três anos mais nova que eu, mas somos parecidas em tudo. Ambas de estatura mediana, magras, cabelos castanhos-claros, olhos castanhos, como minha mãe. Nayara usa o cabelo curto na alturadas orelhas, repicado, e muda a cor constantemente; hoje está
preto com lilás. Eu já sou mais clássica e deixo o meu longo. ― Eu sei, mas não é muito fácil esperar.2017Quando já estávamos há mais ou menos um ano juntos,tínhamos uma boa rotina. Além de namorados, éramos bonsamigos. Fazíamos quase tudo juntos e sempre dávamos um jeitode incluir um ao outro em nossas atividades.Quando começamos a namorar, a única coisa que euentendia de futebol era que gol era quando a bola entrava na trave,agora já entendia, mais ou menos, a língua que ele falava, meesforçava. Ele sempre me levava aos jogos, e quando tinha tempoentre jogos e trabalho com o pai (desde que entrou no ensinomédio o pai o incluía nas tarefas da empresa), ele ia comigo àclínica e me ajudava com os animais da ONG. Lucas até projetouum canil melhor para que pudéssemos abrigar mais animais, alémde nos ajudar a conseguir lar para vários outros.Costumávamos ir a um parque andar de bicicleta, depoisnos sentávamos para tomar caldo de cana e planejar o quefaríamos depois de nos formar. Tínhamos planos de casar e passaralguns meses na Europa, depois de conhecer todo o Sul do Bra
AtualmenteQuando chego em casa após a visita, estou exausta e comum nó no estômago. Passei o dia com o Lucas e me sinto umainútil. Eu não tenho nenhuma crença, nenhum Deus para recorrer.Minha família não tem nenhuma religião, acreditando apenas naciência. Então, só conheço a igreja pelo que a escola ensinou. Àsvezes eu ia com a família do Lucas. Eu gostava e me sentia bem ládentro, então resolvo tomar um banho e ir até a igreja que elesfrequentam.Como ainda são apenas 19h, vou caminhando. A igrejafica a apenas algumas quadras da minha casa. Ao entrar no local,o cheiro de vela emanava no ar. Algumas pessoas estão lá dentroassistindo à missa. Sento-me em um banco em frente a umaimagem de Maria, com os braços abertos, como se tivesseacolhendo quem estava ali.Fico olhando para a mãe de Jesus e começo a chorar,deixando as lágrimas escorrerem e molharem meu rosto. Começoa soluçar, mas não fico com vergonha. Fecho os olhos e desabafotudo o que não consegui até agora. Fosse
Verão de 2019Bia, Isa e eu marcamos uma tarde no shopping. Faríamoscompras, iríamos almoçar por lá e também marcamos manicure.― É bom de vez em quando ter uma tarde com amigas,né, Iara? Agora você só tem tempo para o namorado ― falou Bia,enquanto olhava uma calça jeans rasgada.Peguei uma blusinha azul com a alça bordada e pus naminha frente, olhando no espelho.― Se você desse uma chance para um dos seus fãs,saberia como é bom.― Eu sei que é, mas eu não tenho a mesma sorte quevocê.― Você escolhe demais.Percebi que a Isa estava muito quieta. Achei que elaqueria contar alguma coisa, mas a Bia não dava brecha.― Vamos para a praça, estou com fome.Quando nos sentamos com as nossas bandejas da Subway,olhei meu celular. Havia uma mensagem do Lucas dizendo queme amava. Respondi dizendo que também o amava e enviei umemoji de beijos com coração.― Então, Isa, diga o que está te incomodando. Você estámuito quieta ― perguntei.Ela deu uma mordida no lanche, tomou o suco, e fize
Capítulo 04HojeAcordo em meu quarto, lembrando de tudo que aconteceunos últimos dias, e sinto um enjoo por lembrar que Lucas aindanão acordou. Vejo que são 8h. Vou ao banheiro, lavo o rosto,escovo os dentes, passo creme no rosto e ignoro as profundasolheiras. Prendo o cabelo com uma piranha.Chego à cozinha, e Ester me assusta.― Bom dia, Iara! Quer ovos?― Bom dia. Não, só quero uma xícara de café, vou aohospital.― Seu pai saiu cedinho com a sua mãe. Ela ia passar láantes da clínica, disseram que você deveria ficar deitada.― Eu tô bem...Engulo o café e vou antes que a Nayara acorde. Vou deUber, para evitar falatório.Quando chego à recepção do hospital, sou informada deque terei que ir até o terceiro andar. Vou caminhando pelasrampas, mas o cheiro piora a cada passo, me embrulhando oestômago. Quando chego ao andar, preciso ir direto ao banheiro evomitar todo o café. O estresse está me causando uma gastrite.Quando saio do banheiro, dou de cara com a dona Olívia.Seu c
AtualmenteOlho meu quarto e não é mais o mesmo. Onde antesficava Lúcia, hoje tem o Bruce, um Lhasa branco e preto de 3anos que ganhei do Lucas, numa tentativa de me confortar pelamorte da Lúcia, que morreu aos 13 anos. Minha cama agora é decasal, com cortinas corta-sol, tapetes cinza e guarda-roupa grande,que ocupa uma parede inteira. No lugar da escrivaninha, há umapoltrona e uma TV na parede acima das prateleiras. Bruce levantaa cabeça, se anima com a minha presença e, abanando o rabo, vemfazer a festa que sempre faz, e isso me faz chorar.― Papai ainda está dormindo, bebê, mas logo vem te ver― digo, na tentativa de me confortar.― Olha o leite, Iara. Trouxe também um sanduíchemaravilhoso que a Ester fez... ― Minha irmã chega no quarto.― Obrigada ― respondo. ― Coloca na mesa decabeceira, por favor... A mãe e o pai chegaram?Duvido que eu vou comer, mas, para agradá-la, eu iatentar.― Eles foram ver como o Lucas está.― Que bom, vou comer e vou lá também.― A mãe disse
Quando Lucas me chamou para sair foi no mesmo dia queele recebeu a nota do primeiro semestre. Foi no ano de 2016. Eleestava radiante de felicidade porque tirou 9,5. Lembro-me daalegria na voz dele.Marcamos de ir ao cinema, era um sábado de primavera,uma noite fria. Fomos ver um filme de dinossauro que haviaacabado de estrear. Depois, comemos hambúrguer com batatasfritas. Ele disse que tinha reparado que eu lia bastante e meconvidou para darmos uma volta na livraria. Claro que aceitei deimediato. Fiquei muito feliz por ele ter notado isso. Percebi queele também gostava de ler. Enquanto eu preferia romances,biografias, ele se interessava mais por guerras medievais ehistórias de heróis. Ficamos mais de uma hora na livraria, até nosdarmos conta de que já era hora de ir.Quando chamamos o Uber, descobri que ele morava pertode mim, na mesma rua, apenas três quadras à frente. Marcamos deir para a aula juntos na semana seguinte.Nossa amizade foi se tornando cada vez mais próxi
Último capítulo