Ela precisa salvar a casa da família. Ele quer provar que tudo tem um preço — inclusive ela. Laura Mendes sempre foi resiliente. Após perder a mãe e ser traída pelas dívidas deixadas pelo pai, tudo o que lhe resta é um estágio em uma das maiores empresas do país — sua única chance de manter o teto sobre a cabeça da avó e do irmão mais novo. O problema? O CEO. Arthur Ferraz, jovem, bilionário e conhecido por sua arrogância, aversão a laços emocionais e um olhar que paralisa qualquer um. Tudo nele grita perigo — e desejo. O que Laura não esperava era ser chamada em sua sala para receber uma proposta que não tem nada a ver com trabalho... e tudo a ver com rendição. Um contrato. Um prazo. Uma condição: fingir ser sua noiva por razões que ele não revela. Em troca, o suficiente para quitar as dívidas e proteger sua família. Mas em um mundo onde o amor é uma fraqueza e o poder dita as regras, quem sairá ileso de um acordo que nunca deveria envolver sentimentos?
Leer másA tela do celular piscava com notificações bancárias que Laura não tinha coragem de abrir. Sentada na recepção fria de uma agência, ela respirou fundo pela terceira vez em dois minutos, tentando manter a compostura. Do outro lado do vidro, a gerente conversava com um casal sorridente. Eles saíram abraçados. Laura sabia que sua conversa teria um desfecho bem diferente.
— Senhorita Mendes — a voz chamou com cordialidade ensaiada. — Pode entrar.
Ela ajeitou a blusa simples e o cabelo preso de forma improvisada, caminhando até a sala com o peso do mundo nos ombros.
— Infelizmente, seu perfil não é compatível com a linha de crédito solicitada — disse a gerente após os primeiros segundos.
Laura não ficou surpresa. Mesmo com o histórico limpo, não havia como convencer o sistema de que ela pagaria uma dívida que não era sua. Seu pai, antes de morrer, havia deixado uma herança nada nobre: contas atrasadas, boletos vencidos, um imóvel hipotecado e um vazio impossível de calcular.
Saiu da agência com um nó na garganta e a sensação de que o tempo estava contra ela. A casa onde morava com a avó e o irmão mais novo estava em nome do falecido — e as cobranças não paravam de chegar.
Não posso perder essa casa.
Era tudo o que tinham.
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Na manhã seguinte, Laura chegou à imponente sede do Grupo Ferraz, o arranha-céu que cortava o céu de São Paulo com sua estrutura de vidro e aço. Seu primeiro dia como estagiária. O lugar onde, talvez, ela conseguiria recomeçar.
Entrou no elevador com outras pessoas bem vestidas, todas de crachá dourado. O dela era prateado, o que a identificava como "estagiária visitante". E isso bastava para alguns olhares atravessados.
Ao chegar ao andar designado, foi recebida por Beatriz, uma assistente sorridente demais para a tensão do ambiente.
— Você é a nova estagiária da controladoria, certo? Laura Mendes?
— Sim.
— Ótimo. Só aguarde um instante aqui. O diretor pediu que entregássemos os novos relatórios direto ao CEO. Acho que houve uma mudança na agenda... — Beatriz folheou pastas e, sem muita cerimônia, entregou um envelope a Laura. — Pode levar isso até a sala dele. Última porta do corredor.
— A do Arthur Ferraz?
Beatriz assentiu com um sorriso nervoso. — Sim. Não respira errado e você sai viva.
Laura achou que era brincadeira. Até chegar à tal porta.
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A sala era enorme, imponente, envolta por janelas que davam vista para a cidade inteira. Ele estava de pé, de costas, olhando os prédios, com as mãos no bolso do terno perfeitamente alinhado.
Arthur Ferraz.
Famoso nas manchetes, temido pelos sócios, idolatrado pelas revistas de negócios. Alto, ombros largos, cabelo escuro perfeitamente penteado e uma presença que poderia silenciar qualquer ambiente.
— Entre — ele disse sem olhar para trás. — Fecharam a nova projeção?
Laura hesitou. — Eu... sou só a estagiária. Me pediram para entregar esse envelope.
Ele se virou lentamente, os olhos cinzentos encontrando os dela com uma frieza calculada.
— Estagiária da controladoria?
— Sim.
— Qual seu nome?
— Laura Mendes.
Ele a analisou por um segundo longo demais, como se estivesse estudando uma peça rara.
— Por acaso tem alguma experiência com administração de crises?
— Crises? — Ela franziu o cenho.
— Situações em que tudo parece desmoronar e ainda assim alguém precisa manter a pose. Já passou por algo assim?
Laura engoliu em seco, lembrando-se das cartas de cobrança empilhadas em casa, da avó chorando no quarto e do irmão perguntando se seriam despejados.
— Sim — respondeu com firmeza.
Arthur apoiou-se na mesa, os braços cruzados.
— Estou lidando com uma situação... delicada. Preciso de alguém ao meu lado que pareça confiável, sem estar envolvida com nenhuma das panelinhas daqui dentro.
Ela ficou em silêncio, sem entender aonde aquilo levaria.
— E o que exatamente o senhor quer de mim?
Ele se aproximou um passo. Laura sentiu a tensão entre os dois se tornar palpável.
— Preciso de uma noiva.
— Desculpe?
— Falsa, claro. Temporária. Um contrato de fachada. Dois meses. Aparições públicas. Alguns eventos importantes. E você volta para sua vida, com a sua dívida quitada.
Laura ficou em choque.
— O senhor está me oferecendo dinheiro... para fingir um relacionamento?
— Estou oferecendo uma solução. Eu ganho o que preciso. E você, o que tanto tenta manter. A casa, certo?
Ela recuou um passo, o rosto queimando.
— Isso é ilegal. Imoral. Absurdo.
Arthur deu um meio sorriso, o primeiro traço de humanidade em seu rosto.
— Tudo depende da perspectiva. Você acha absurdo alguém pagar por lealdade. Eu acho absurdo alguém deixar a família perder o único bem por orgulho.
Ela mordeu o lábio, dividida entre a raiva e o desespero.
— Por que eu?
— Porque você tem olhar firme. Porque não tremeu quando me viu. E porque precisa mais do que está disposta a admitir.
Laura encarou-o, desafiadora.
— E o que o senhor ganha com isso?
Arthur desviou o olhar por um breve segundo — quase imperceptível — antes de voltar a encará-la.
— Uma herança. Mas só se provar que posso manter um compromisso... Está tudo aqui. — Ele deslizou um contrato fino até a beirada da mesa. — Leia. E me dê uma resposta até amanhã.
Ela segurou o papel, mas não leu.
— Não estou à venda.
Arthur se aproximou mais um passo, seu tom firme, quase provocativo.
— Todo mundo tem um preço, Laura. Alguns só demoram mais para descobrir qual é o seu.
Ela saiu da sala sem dizer nada.
Mas seu coração... batia forte demais para ignorar.
Arthur segurava a pasta com as provas nas mãos enquanto o silêncio da sala parecia gritar. As palavras estavam ali, impressas em papel, frias e cruéis. E cada linha lida era como um golpe certeiro em sua convicção.Helena.Sua tia. Sua mentora. A mulher que o criou quando ninguém mais o queria. A mesma que jurava lealdade à empresa, ao legado dos Ferraz… era quem havia envenenado tudo por dentro.Laura estava sentada à sua frente, observando cada nuance de sua reação. Não tentou interrompê-lo. Não tentou consolá-lo. Apenas esperou. Porque sabia que ele precisava digerir sozinho antes de conseguir respirar.Minutos depois, Arthur levantou-se sem dizer nada. Caminhou até a janela, os olhos fixos na cidade que ele tanto lutava para dominar.— Eu devia ter percebido — murmurou. — Ela sempre foi boa demais em parecer perfeita.— Às vezes, a gente se engana com quem ama — respondeu Laura, com suavidade.Ele a encarou, os olhos vermelhos, mas ainda intensos.— Ela me criou. Me ensinou tudo q
O nome piscava na tela como uma sentença.Helena Ferraz.Laura piscou algumas vezes, sem acreditar. Daniel, o analista de TI, estava sentado ao lado dela com expressão tensa.— Tem certeza de que é um acesso autorizado? — perguntou ela, com a voz presa na garganta.— Absoluta. Essa chave só pode ser usada com autenticação biométrica. E nas últimas duas semanas, ela foi utilizada três vezes para acessar diretórios confidenciais... os mesmos que depois apareceram nos vazamentos.Laura se recostou na cadeira, tentando assimilar.— Helena não precisa disso. Ela tem o controle da empresa. Ela é... família do Arthur.— Justamente por isso. Ninguém desconfiaria dela.Era um soco no estômago. Helena sempre parecera firme, justa, admirável. Foi ela quem apoiou Laura no início, quem a promoveu, quem a orientou nos dias mais difíceis. Mas agora...Agora havia um indício. E pior: se fosse verdade, Arthur seria o maior prejudicado.Laura saiu da sala de TI com o coração em chamas. Ela precisava pe
O dia amanheceu com um céu nublado sobre São Paulo, como se o clima refletisse exatamente o que Laura sentia por dentro. Ao chegar à empresa, ela percebeu que os olhares já não eram apenas curiosos — havia respeito neles. Ou, ao menos, um reconhecimento de que ela não era mais apenas “a estagiária do CEO”.Agora, era a mulher que expôs uma traição interna e continuava de pé, mesmo ameaçada.Mas dentro dela, a ansiedade era uma sombra constante.E o pior: ela sentia que aquilo estava longe de terminar.---Enquanto Arthur mergulhava em reuniões com o departamento jurídico, tentando conter os danos causados pelas tentativas de sabotagem, Laura decidiu que precisava ir além.Não queria ser apenas protegida.Queria entender quem estava por trás de tudo. E por quê.Começou cruzando dados que não estavam na apresentação oficial de Arthur. Notou movimentações estranhas nas agendas da antiga supervisora de TI. Cláudia havia feito duas viagens inesperadas a Campinas, e em ambas, esteve com um
O silêncio na sala de reuniões de emergência da Ferraz & Co. era cortante. Arthur mantinha os olhos fixos no celular de Laura, projetando a mensagem ameaçadora no telão para os membros da diretoria de segurança e jurídico.— A origem foi mascarada com um servidor proxy russo — disse Daniel, o chefe da TI. — Mas conseguimos rastrear um segundo IP que foi usado para acessar um dos nossos e-mails internos: um notebook corporativo ainda não devolvido por Cláudia Martins.Arthur respirou fundo, o maxilar rígido.— Quero uma investigação silenciosa. Sem alarmes, sem pânico. Isso não é só um problema interno. É pessoal. — E seus olhos recaíram sobre Laura.Ela manteve o rosto firme, embora por dentro tudo estivesse em ebulição. Desde que recebera aquela mensagem, algo nela havia mudado. Não era só o medo. Era a certeza de que aquele jogo de poder havia ultrapassado a barreira profissional. E agora, atingia diretamente quem ela era — e o que queria.---Horas depois, Laura se encolheu em um c
Laura sentia a adrenalina correr pelas veias enquanto observava Arthur se levantar e encarar a diretoria reunida. Cada passo dele em direção ao telão era acompanhado de um silêncio desconfortável e cheio de expectativa.Ela ainda mal acreditava no que tinham descoberto na noite anterior — e no que Arthur estava prestes a expor. Aquilo podia salvar sua carreira… ou jogá-los num buraco ainda mais fundo.— Estamos sendo infiltrados — começou Arthur, a voz firme. — Por alguém que conhece bem o sistema interno da Ferraz & Co. E tentou incriminar uma funcionária inocente: Laura Silva.Todos se entreolharam. Um ou dois diretores franziram o cenho. Helena, como sempre, mantinha o semblante calmo, mas com os olhos atentos a cada movimento do sobrinho.— A senhorita Silva teve seu login utilizado em acessos não autorizados, às 10h24 de anteontem, quando estava comigo em uma reunião. — Ele pausou. — Usaram um terminal antigo do setor administrativo, com senha mestra. E nós temos os logs.Arthur
O burburinho pelos corredores da Ferraz & Co. era inconfundível. Em menos de vinte e quatro horas, o nome de Laura Silva já circulava pelos setores como o da “estagiária que salvou a empresa de um escândalo financeiro”. Mas para Laura, a euforia era apenas o início de algo muito maior.Na sala de café, alguns funcionários a olhavam com respeito velado. Outros, com desconfiança. Mas quando Paula, a recepcionista, lhe trouxe um chá e um sorriso sincero, ela soube que tinha plantado a primeira semente de algo raro naquele ambiente: confiança.— Você virou assunto, Laurinha — comentou Paula. — Tem gente apostando que vai subir direto pro financeiro.Laura riu, mas sem arrogância.— Ainda sou estagiária.— Mas não por muito tempo, se depender da dona Helena.Laura ergueu o olhar.— Helena? A vice-presidente?— Ela mesma. Comentou com a diretoria que você tem “instinto de liderança e faro pra risco”.Aquilo a pegou desprevenida. Helena Ferraz era uma lenda viva na empresa — e tia de Arthur.
Último capítulo