Na manhã seguinte, Laura chegou mais cedo do que o habitual à Ferraz Group. Tinha dormido pouco, a cabeça ainda a mil com a reunião do dia anterior. As provocações dos acionistas não a haviam intimidado — na verdade, a deixaram ainda mais determinada.
Na recepção, a secretária do 28º andar a cumprimentou com um olhar hesitante. — Senhorita Mendes... o senhor Ferraz pediu que fosse direto para a sala de reuniões. Temos uma situação. Laura arqueou a sobrancelha, intrigada. — Que tipo de situação? A mulher hesitou. — Um vazamento de informações sigilosas. E, por enquanto... todos estão sob suspeita. --- Na sala de reuniões, Arthur estava em pé, tenso, ao lado do diretor jurídico e de sua equipe de confiança. Papéis espalhados sobre a mesa, telas exibindo gráficos e documentos confidenciais. — Bom dia, Laura — disse ele, sem tirar os olhos de uma tela. — Parece que nossa “pequena” família tem uma cobra no ninho. — O que aconteceu? — Um dossiê interno sobre uma fusão estratégica com uma empresa internacional foi vazado para a concorrência. Os detalhes são idênticos aos nossos planos. Isso pode custar milhões — e a credibilidade da Ferraz Group. Laura se aproximou e analisou os documentos. Algo chamou sua atenção. Um dos relatórios levava sua assinatura como estagiária. Mas... ela jamais havia enviado aquilo a ninguém. — Espera... isso aqui saiu do meu e-mail? Arthur a encarou. A tensão no olhar dele apertou o estômago dela. — Sim. Foi disparado ontem à noite. Horário em que você estava em casa. — Eu não fiz isso! — exclamou, indignada. — Eu jamais colocaria sua empresa em risco! Arthur cruzou os braços, sério. — Alguém usou sua conta. Um acesso externo pelo seu login. Estão tentando te incriminar, Laura. — Ótimo. Primeira semana de “noiva do CEO” e já tentam me queimar. — Isso prova duas coisas — ele disse, aproximando-se dela. — Primeiro: que você incomodou as pessoas certas. E segundo: que está muito mais envolvida do que gostaria. Ela respirou fundo. Os olhos dele estavam cravados nos dela, mas havia ali algo diferente — um lampejo de preocupação genuína. — Arthur... você acredita em mim? Ele demorou a responder. — Eu acredito na sua inteligência. E duvido que você cometeria um erro tão amador. Laura o encarou. — Isso não é uma resposta direta. — Não. É um voto de confiança limitado. O suficiente para manter você ao meu lado. E descobrir juntos quem realmente está por trás disso. --- As próximas horas foram sufocantes. Laura foi interrogada pela equipe de segurança cibernética, revisaram seu computador, refizeram sua senha, e ela precisou assinar termos de confidencialidade mais rígidos. Sentia-se como se tivesse pisado em um campo minado. Ao final do dia, quando estava prestes a ir embora, Arthur surgiu à sua frente, com duas taças de vinho e uma expressão estranhamente branda. — Achei que merecíamos um respiro. Ela aceitou a taça, relutante. — Você é sempre assim? Calmo quando tudo está desmoronando? — Não. Só quando quero manter o controle da situação. Ou da pessoa envolvida nela. Laura sentou-se no sofá do escritório, observando-o de longe. — Você não precisa fingir que se importa comigo, Arthur. Isso aqui é um jogo, lembra? Um contrato. Ele deu um gole no vinho, depois a fitou com intensidade. — Não estou fingindo. Estou tentando entender por que você me afeta tanto. Mesmo quando está prestes a arruinar tudo. — Talvez porque eu não te obedeça. Nem te tema. — Talvez porque, mesmo em silêncio, você me desafia. Laura sentiu o coração acelerar. Havia algo no olhar dele que a desarmava. Como se, por trás de toda a arrogância, existisse um homem que escondia mais do que mostrava. — O que vamos fazer agora? — Vamos jogar com inteligência. E vamos fazer parecer que está tudo normal entre nós. Mais do que normal... vamos fazer parecer que estamos cada vez mais próximos. Ela arqueou uma sobrancelha. — Isso é parte da estratégia? — Isso é parte do nosso acordo. Mas... talvez comece a ser mais do que isso. Laura prendeu a respiração. Ele se aproximou, abaixando-se diante dela no sofá, ficando a poucos centímetros de seu rosto. — Ainda tem tempo de desistir, Laura. Mas se continuar... vai ter que jogar o jogo comigo até o fim. Ela o encarou firme. — Eu não desisto. Nunca desisti. E se alguém tentou me tirar do caminho, vai se arrepender. Arthur sorriu, satisfeito. — Ótimo. Porque a partir de agora... você não é mais apenas uma peça. É meu trunfo. --- E, naquele momento, Laura entendeu que o que estava em jogo ia além do dinheiro ou da casa da família. Ela estava mergulhada em um universo onde o poder podia destruir ou proteger. E Arthur Ferraz... estava no centro disso tudo. E talvez, só talvez, ela começasse a sentir que não queria sair.