Teste de fogo

O escritório da Ferraz Group, no 28º andar, era uma mistura impecável de poder e luxo. Paredes de vidro revelavam a cidade lá embaixo, enquanto móveis escuros e minimalistas transmitiam a frieza de quem mandava ali.

Laura passou pela recepção com a credencial recém-entregue. “Noiva do CEO” não constava oficialmente no crachá — mas os olhares que recebeu deixavam claro que todos sabiam.

— Senhorita Mendes? — chamou uma mulher de coque impecável. — O senhor Ferraz pediu que fosse direto para a sala dele. A porta está aberta.

Laura assentiu, ajeitando a pasta de couro que levava consigo. Entrou decidida, embora o coração estivesse inquieto.

Arthur estava de pé, diante da janela, de costas para ela. Trajava camisa branca com as mangas dobradas e a gravata solta no colarinho — um ar mais casual, mas ainda poderoso.

— Pontual. Impressionante — disse ele, sem se virar.

— Achei que começar bem era parte do acordo.

Arthur se virou, com um leve sorriso torto.

— Parte do acordo é manter as aparências. Mas isso não quer dizer que precise ser boa no que faz. Isso é por sua conta.

— Não se preocupe. Eu sei trabalhar. Estou aqui para ajudar, não para ser decorativa.

— Ótimo. Porque hoje você vai me acompanhar em uma reunião com os acionistas. Quero que preste atenção em tudo. Ouça. Observe. E se achar algo estranho, me diga depois.

— Como uma assistente?

— Como alguém com o olhar de fora. E, para todos os efeitos, minha futura esposa. Eles vão testar você.

Ela cruzou os braços.

— Que tipo de teste?

— Sorrisos, perguntas maldosas, comentários venenosos. Bem-vinda ao conselho.

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Na sala de reuniões, uma longa mesa de carvalho acomodava os principais nomes da empresa — homens mais velhos, engravatados, com olhares calculistas. Quando Arthur entrou com Laura ao seu lado, houve uma pausa no ar. Curiosidade, desdém e até espanto.

— Senhores — disse Arthur, com um leve aceno. — Esta é Laura Mendes, minha noiva. E a partir de agora, uma presença recorrente entre nós. Espero que lidem bem com mudanças.

Os olhares se voltaram para ela. Laura sustentou, sem baixar os olhos.

— Prazer — disse, firme. — Espero aprender bastante com todos aqui.

Um homem de cabelo grisalho e rosto vincado sorriu falsamente.

— Claro, querida. E se tiver alguma dúvida sobre fusões internacionais ou ativos em Hong Kong, é só perguntar — disse, sarcástico.

Arthur não respondeu. Mas seu maxilar travou por um segundo.

Laura, porém, devolveu com doçura.

— Vou anotar isso. E se tiver alguma dúvida sobre como manter o respeito com uma mulher em ambientes corporativos, posso te enviar uns artigos também.

Um leve murmúrio percorreu a mesa.

Arthur disfarçou um sorriso no canto dos lábios.

— Vamos começar — disse ele, voltando ao foco.

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Horas depois, Laura entrou novamente na sala de Arthur, cansada, mas vibrando por dentro. Ele a observava com atenção, as mãos cruzadas sobre a mesa.

— Foi uma apresentação interessante.

— Eles me odeiam — disse ela, se jogando na cadeira à frente dele.

— Odiaram mais a sua coragem do que sua presença. É uma ameaça para eles: mulher, jovem, de fora, e sem medo de falar.

— Costumo ser assim.

— Eu percebi. E... gostei.

Laura o encarou, séria.

— Você se esconde por trás da arrogância, Arthur. Mas no fundo... gosta de ser desafiado.

— Talvez. Ou talvez eu esteja só me divertindo com a ideia de que você pode ser mais útil do que imaginei.

— Sempre subestimando...

— Sempre testando.

O silêncio entre eles se alongou.

— E se eu não for apenas útil? — perguntou Laura. — E se eu for perigosa pra você?

Arthur se aproximou, apoiando os braços na mesa. Os olhos escuros, intensos.

— Aí você vai me obrigar a jogar com as cartas abertas. E isso... seria novo pra mim.

O clima carregou de tensão. Não era apenas profissional. Não era apenas contrato.

Era algo que fugia do controle. De ambos.

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Naquela noite, Laura voltou para casa com a mente em ebulição. Sabia que estava entrando em um mundo complicado. Mas também sabia que não era mais uma peça passiva nesse jogo.

Ela tinha voz. Ela tinha propósito.

E, talvez, começasse a ter poder.

Mesmo que isso significasse enfrentar o próprio Arthur Ferraz.

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