A noite havia avançado, mas Laura não conseguia dormir.
Deitada em sua cama, observava o teto do quarto como se ali estivessem gravadas todas as perguntas que atormentavam sua mente. Quem tinha acessado seu e-mail? Quem queria incriminá-la logo agora que seu nome estava começando a ser respeitado na empresa? E, pior... por quê? O celular vibrou na mesa de cabeceira. Era uma mensagem de Arthur: Arthur Ferraz: Encontre-me no meu apartamento. Agora. Laura arregalou os olhos. Por um segundo, pensou em ignorar. Mas algo no tom da mensagem — seco, direto e urgente — a fez levantar da cama sem hesitar. --- Vinte minutos depois, ela estava diante da porta do apartamento do CEO, no último andar de um prédio de luxo. Ele a recebeu usando uma camisa preta aberta no colarinho e calça social. Descalço. O que contrastava violentamente com seu costume habitual de impecável formalidade. — Alguma novidade? — ela perguntou, cruzando os braços. — Sim. E você não vai gostar. Arthur a guiou até uma sala ampla, moderna, mas fria. Tudo nele parecia refletir controle: o ambiente, as palavras, os gestos. Mas havia algo fora do lugar naquela noite. Ele jogou uma pasta sobre a mesa de vidro. Laura abriu. Cópias de e-mails impressos, conversas em grupos internos, registros de movimentação de arquivos. Tudo apontava para um nome. — Soraia? — Laura sussurrou, incrédula. — A gerente de marketing? — Ela usou seu login, Laura. Um acesso feito pelo computador da sala dela, com um espelhamento do seu sistema. Inteligente. Discreto. Mas não para mim. — Ela me odiou desde o primeiro dia... — Laura murmurou. — Sempre insinuava que eu estava ali por “outros motivos”. — E agora ela está suspensa. Mas isso é apenas o começo. Arthur se aproximou, lento. Seus olhos analisavam Laura como se ela fosse parte de um quebra-cabeça ainda incompleto. — Você conseguiu irritar muita gente, Laura. E o que mais me impressiona... é que fez isso só sendo quem é. Ela tentou desviar o olhar, mas ele se aproximou ainda mais, encurtando a distância entre eles. — Você não tem ideia do que causa quando entra numa sala. — E você gosta disso? — ela perguntou, voz baixa. Arthur hesitou. Depois, encostou a mão no rosto dela, com uma delicadeza que contrariava tudo que ele representava até então. — Gosto do que você me provoca. E detesto admitir isso. Laura sentiu a respiração dele contra sua pele. O coração disparou. Ela podia sentir o magnetismo pulsando entre os dois, como uma linha invisível que os puxava para o inevitável. Mas então, recuou um passo. — Isso não faz parte do acordo, Arthur. Ele assentiu, quase como se estivesse se lembrando de algo que queria esquecer. — Eu sei. Mas está ficando cada vez mais difícil fingir. — Então... não finja. Mas também não complique. Ela sorriu de canto, tentando parecer mais segura do que realmente estava. Porque no fundo... também estava se perdendo. --- Na manhã seguinte, Laura voltou à empresa sentindo o mundo pesar diferente. Era como se tudo estivesse prestes a desabar — ou a começar. No elevador, encontrou Soraia sendo escoltada para fora por dois seguranças. Ela lançou um olhar venenoso para Laura. — Aproveite enquanto pode, estagiária. Nada é para sempre nesse lugar. Laura sustentou o olhar, firme. — Algumas verdades também não são. E elas sempre vêm à tona. Soraia foi levada. Mas as palavras dela ecoaram na cabeça de Laura. Nada é para sempre. --- Mais tarde, ao revisar relatórios com Arthur em sua sala, ele cruzou os braços e a observou, em silêncio, por um tempo longo demais para ser apenas profissional. — Tenho uma proposta — disse ele. — Outra? — Mais pessoal. Laura o encarou, tensa. — Fale. — Vamos jantar hoje. Fora daqui. Só nós dois. Sem contratos. Sem obrigações. Quero entender quem é a mulher que está mudando a forma como enxergo o mundo. Laura sentiu o chão fugir por um segundo. Aquilo não era mais parte do jogo. Aquilo era Arthur Ferraz... abaixando a guarda. — E se eu disser não? — Você não vai dizer. Ela sorriu, provocadora. — Arrogante. — Determinada. — Um perigo. Arthur se inclinou, a voz rouca. — Exatamente por isso... irresistível. E, naquele instante, Laura soube que a fronteira entre o acordo e o sentimento estava prestes a ser cruzada. E uma vez cruzada... não haveria volta.