Aos olhos dele, ela era apenas uma garota rica, mimada e acostumada a ter o mundo aos seus pés. Aos olhos dela, ele era frio, ácido, e carregava um rancor que ela não conseguia entender. Ambos estavam errados — ou será que estavam mais certos do que gostariam de admitir? Ela vive cercada de luxo, mas o brilho do seu mundo esconde as sombras de um pai ausente e egoísta, que nunca se importou de verdade com ela. Ele, por sua vez, carrega cicatrizes de um passado que o ensinou a desconfiar de tudo e de todos, especialmente de pessoas como ela. Seria possível que duas pessoas de mundos tão diferentes encontrassem algo em comum? Entre confrontos intensos, segredos revelados e um desejo que teima em crescer, eles descobrirão que o certo e o errado nem sempre são o que parecem. O amor proibido nunca fez sentido — mas talvez, para eles, seja a única coisa que faça. Estariam preparados para enfrentar tudo e todos por aquilo que os une?
Leer másAdônis Hart
Sério isso? Uma reunião em pleno domingo de manhã? Senhor Conrado não podia ao menos esperar até depois do almoço? Tem dias que eu me pergunto se ele faz essas coisas só pra provar que manda em todo mundo. Saio da casa em que moro com meus pais, que na prática é um anexo para empregados na mansão dos Santini. Trabalhar para eles é um destino que já estava traçado desde que eu era moleque. Cresci sendo treinado para isso — técnicas de defesa, condução, segurança particular. Meu pai é segurança pessoal do senhor Conrado há anos, e desde pequeno ele deixou claro que um dia eu seguiria o mesmo caminho. O que eu não esperava era começar antes dos trinta. Enquanto caminho para o escritório, passo pela cozinha e cumprimento minha mãe, que já está ocupada organizando o café da manhã de todo mundo, inclusive o nosso. Dou um beijo rápido no rosto dela, e ela sorri antes de voltar ao trabalho. Minha mãe é daquelas que sabe tudo sobre a casa e a família Santini, afinal, ela trabalha aqui há mais de vinte anos. Entro no escritório onde meu pai já está, de pé, ao lado do senhor Conrado. Respiro fundo antes de falar, mantendo a postura que aprendi a ter desde cedo. — Bom dia, pai. Senhor Santini. — Bom dia, Adônis. Pontual, assim como seu pai. Gosto disso — ele diz, com aquele ar superior de quem acha que o mundo gira ao redor dele. — Vamos direto ao ponto. Tenho observado seu progresso nos treinamentos de defesa pessoal e segurança particular. Acho que está na hora de assumir um cargo aqui na casa. — Isso é ótimo, senhor — respondo, sem demonstrar nenhuma emoção. — Conversei com seu pai, e decidi que agora ele será meu segurança pessoal. Tenho algumas questões sigilosas para resolver e preciso de alguém em quem confie completamente. Sendo assim, você assumirá o lugar dele como motorista e segurança pessoal da minha filha, Pietra. Reviro os olhos internamente, mas mantenho a expressão neutra. Trabalhar para a princesinha? Fala sério. — Entendido, senhor — respondo. — Você será responsável por levá-la e acompanhá-la em todos os compromissos do dia. Além disso, é fundamental que me mantenha informado sobre tudo o que ela faz. Quero saber se ela está cumprindo sua agenda. — Certo — confirmo, ainda sem contestar. — Você começa amanhã, Adônis. Confio em você — conclui. Aceno com a cabeça, me retiro do escritório e respiro fundo. Grande coisa. Passei a vida inteira treinando para lidar com situações de risco, proteger pessoas importantes, e agora vou ser babá de uma patricinha mimada. Quando chego na cozinha minha mãe está me esperando, já sabendo que a reunião tinha acabado. Ela me lança um olhar curioso enquanto arruma uma bandeja. — E aí, como foi, meu filho? — pergunta, com aquele tom de mãe que já desconfia da resposta. — Adivinha só, mãe. Vou ser babá da mimadinha do chefe — digo, revirando os olhos enquanto me encosto na bancada. Minha mãe ri, mas não parece surpresa. — Você vai se surpreender com a dona Pietra. Ela é uma querida, e acredite em mim: de mimada, ela não tem nada. — Ah, fala sério, mãe. Você só defende ela porque praticamente criou a garota. Minha mãe me encara com aquela expressão que só ela tem, misto de paciência e autoridade. — Pietra não é nada do que você imagina. Você a viu poucas vezes, Adônis. Mal teve contato com ela e já tirou conclusões. É verdade. Eu realmente não convivi com Pietra. A vi algumas vezes em festas da família ou passando pela mansão, sempre com aquele jeito de princesa loira dos olhos claros, vestida de marca da cabeça aos pés. No meu mundo, é o suficiente pra classificar alguém como patricinha. — Não sei, mãe. Ela sempre me pareceu o tipo que nunca levantou um dedo pra nada na vida. Aposto que vou ter que abrir portas pra ela, carregar as compras e ouvir sobre a última bolsa que ela quer comprar. Minha mãe ri de novo, mas dessa vez com mais força, como se eu tivesse contado uma grande piada. — Ah, meu filho, você realmente não conhece a Pietra. Vai descobrir que ela é bem diferente do que pensa. — Sei lá, mãe. Mas, de qualquer forma, é o que tem pra agora, né? Não tem como discutir com o senhor Santini. Ela se aproxima, me dá um beijo rápido na bochecha e sorri, daquele jeito que só ela consegue, misturando carinho e ordem. — Já mandei o café dos seguranças e pedi pra um deles levar o seu lá pra casa. Agora vai descansar, porque amanhã você começa uma nova fase. — Tá bom, dona Malena. Não vou discutir com a chefe aqui de casa também — brinco, arrancando um sorriso dela. Saio da cozinha e caminho até o pequeno anexo onde moramos. Meus ombros largos e braços fortes carregam um peso maior do que aparenta: a expectativa da minha família e o legado do meu pai. Cresci sabendo que minha vida seria assim, mas algo sobre essa nova tarefa me incomoda. Ser motorista e segurança de Pietra parece um rebaixamento, algo que está muito aquém de tudo o que treinei a vida inteira. Por outro lado, uma parte de mim — talvez a que puxei da minha mãe — sente que tem algo nessa história que ainda não entendi. Pietra pode ser mais do que a patricinha que imagino? Só o tempo vai dizer. E eu? Eu só espero que esse “trabalho de babá” não teste minha paciência mais do que já imagino que vai.Augusto Santini Hart As férias na chácara eram uma tradição na minha família desde que eu me entendo por gente. Desde bebê, passei todos os Natais e verões aqui, cercado por meus avós Malena e Alberto, minha mãe Pietra, meu pai Adônis, minha irmã Luna e minha melhor amiga Mirella e seu irmão mais novo Lucas. Agora, que somos mais velhos, os churrascos, as partidas de futebol e os mergulhos na piscina continuam sendo os pontos altos dessas férias. Mas este ano, algo estava diferente.Eu tinha 19 anos agora, e Mirella, minha melhor amiga de sempre, tinha 18. Ela era praticamente uma irmã pra mim, e crescemos juntos, dividindo segredos, risadas e até algumas lágrimas. Mas o que começou como uma amizade profunda e leal se transformou em algo mais nos últimos meses. Passávamos tanto tempo juntos que não havia como ignorar a atração crescente que estava entre nós.Naquele dia, enquanto meu pai,Luke e meu avô acendiam o fogo para o churrasco e as crianças brincavam na piscina, nós três,mamã
Pietra Santini O dia estava perfeito. O sol brilhava alto no céu, iluminando cada canto da chácara com um calor agradável. O som das risadas infantis ecoava pela piscina, misturado ao barulho da água sendo espirrada e ao estalar da carne na churrasqueira. Era o tipo de dia que ficava gravado na memória, repleto de simplicidade e amor.Augusto, agora com seus 15 anos, assumia o papel de irmão mais velho como se tivesse nascido para isso. Ele estava na piscina com Luna, sua irmãzinha de 5 anos, segurando-a nos ombros enquanto ela gritava:— Mais rápido, Augusto! Eu quero ganhar da Mirella!Mirella, de 14 anos, nadava ao lado, tentando alcançar os dois.— Vamos ver se vocês são bons mesmo! — ela desafiou, rindo e tentando derrubá-lo.Na borda, Lucas, de apenas 4 anos, batia palmas entusiasmado.— Vai, Luna! Vai, Mirella! Todo mundo é bom!Perto da churrasqueira, Adônis estava ao lado de Luke e seu pai, Alberto, todos cercados pelo aroma delicioso da carne assando. Alberto, já grisalho,
Pietra Santini Depois da festa, todos começaram a voltar para suas casas. A noite tinha sido mágica, cheia de amor e celebração, mas agora o silêncio do campo trazia uma calma bem-vinda. O chalé ficava em uma região montanhosa, rodeada por árvores altas e flores silvestres que preenchiam o ar com um perfume suave. Malena se ofereceu para levar Augusto de volta ao apartamento, insistindo que era o momento de nos concentrarmos um no outro. — Divirtam-se. E não se preocupem com o Augusto, ele está comigo. Aproveitem como se o mundo fosse só de vocês hoje. — Sua voz era doce, mas cheia de determinação, enquanto carregava nosso pequeno, que dormia profundamente em seus braços. Assim que ficamos sozinhos, a magia do lugar pareceu nos envolver. O chalé era acolhedor, com paredes de madeira rústica e janelas grandes que deixavam a luz da lua entrar. Uma lareira acesa aquecia o ambiente, e pétalas de rosas estavam espalhadas pelo chão e pela cama de dossel no centro do quarto. O aroma das
Pietra Santini Dois anos se passaram desde que Augusto nasceu, e agora, com a vida mais estável, Adônis e eu finalmente decidimos oficializar nosso amor. Adônis sempre disse que queria que o nosso casamento fosse uma celebração da nossa história: cheia de simplicidade, emoção e cercada apenas pelas pessoas que verdadeiramente importam. Foi assim que acabamos escolhendo um campo ao ar livre, na periferia da cidade, para ser o cenário do nosso grande dia.O local era perfeito. Um extenso gramado verde se estendia até o horizonte, cercado por árvores altas e flores silvestres. Bem ao fundo, havia uma grande figueira, cujos galhos imponentes criavam uma sombra natural, e foi ali que decidimos montar o altar. Optamos por uma decoração simples, com o charme rústico que amávamos: arcos de madeira adornados com flores frescas em tons pastel – lilás, branco e rosa. Pequenas luzes de corda estavam penduradas entre as árvores, prontas para iluminar a noite com um brilho mágico.— Você acha que
Pietra Santini Quando saímos do hospital naquela manhã, o céu estava limpo e o sol brilhava suave, como se o mundo inteiro soubesse que aquele era um dia especial. Augusto estava em sua cadeirinha, aconchegado e alheio ao quanto sua chegada transformava a minha vida. Adônis segurava a alça da cadeirinha com as duas mãos, com um cuidado exagerado e o olhar atento de um pai de primeira viagem.— Está tudo bem? — perguntei, segurando um riso nervoso.— Claro — ele respondeu, tenso. — Só quero ter certeza de que ele está seguro.Sorri e o segui até o carro, onde ele colocou Augusto no banco traseiro com uma concentração que eu nunca tinha visto antes. Eu me sentei ao lado da cadeirinha, observando meu bebê dormir tranquilamente, e uma pontada de ansiedade misturada com emoção subiu pela minha garganta.O caminho para casa foi tranquilo, mas para mim, parecia durar uma eternidade. Era como se cada minuto aumentasse o peso daquela nova responsabilidade. Eu agora era mãe. Não existia mais v
Adônis Hart Nunca vou esquecer a madrugada em que Augusto decidiu que era hora de vir ao mundo. Estávamos há semanas esperando, ansiosos, mas nada poderia me preparar para o que senti quando Pietra me acordou com a voz tremendo e uma mistura de dor e excitação.— Adônis… Acho que está na hora.Abri os olhos num salto, meu coração já disparado. Ela estava sentada na cama, segurando a barriga com as duas mãos, respirando profundamente como a médica havia ensinado.— Tem certeza? — perguntei, me aproximando e segurando sua mão.Ela assentiu, os olhos brilhando com lágrimas.— As contrações começaram faz uns vinte minutos. Estão ficando mais intensas.Por mais que tivéssemos nos preparado para esse momento – as aulas de pré-natal, os conselhos da nossa obstetra, a bolsa pronta ao lado da porta – nada parecia suficiente agora que estava acontecendo de verdade. Respirei fundo, tentando manter a calma por nós dois.— Tudo bem, vamos para o hospital. Eu estou com você, Pietra.Ajudei-a a se
Último capítulo