Mundo ficciónIniciar sesiónAntonella Bellini aceitou um casamento por contrato para salvar os negócios da família, mas jamais imaginou que viveria sua pior dor ao lado do homem que sempre amou, e que a rejeitou cruelmente. Quando foge para recomeçar do zero, o destino lhe entrega mais do que uma nova vida: três bebês, frutos de uma única e inesquecível noite. Do outro lado do oceano, Alonzo Karvell, o bilionário arrogante que entregou o coração à mulher errada, começa a entender tarde demais quem realmente perdeu. Anos depois, ao descobrir que é pai de trigêmeos, ele impõe uma escolha impossível: ou ela aceita um novo casamento… ou ele luta pela guarda das crianças. Entre mágoas, promessas e uma convivência forçada, será que Antonella resistirá ao homem que a feriu… ou cairá de novo nos braços do pai dos seus filhos?
Leer másAntonella
O som do despertador cortou o silêncio do meu quarto. Eram seis da manhã e, como em todos os dias nos últimos seis meses, eu abri os olhos sozinha. Estiquei a mão para o lado direito da cama, onde o travesseiro permanecia intacto, sem nenhum sinal de que Alonzo Karvell havia estado ali. Por que eu ainda faço isso? Ele nunca dormiu comigo. Suspirei fundo, apoiando os cotovelos nos joelhos antes de me levantar. Caminhei até a janela e afastei a cortina. O céu de Toronto ainda estava coberto por uma névoa fina e cinzenta. — Mais um dia...— murmurei. O banheiro estava frio, assim como minha rotina. Prendi o cabelo em um coque frouxo e vesti uma camisola de seda clara, cobrindo o corpo com o robe que ele nunca viu. Não havia motivo para me arrumar de verdade, não para ele. Não quando meu marido mal me olhava nos olhos. Desci as escadas da mansão, e meus passos ecoavam no piso impecável. Nenhuma risada, nenhuma música, nenhum som além dos talheres sendo organizados pela governanta, Giulia. — Bom dia, senhora Karvell — disse Giulia, com um sorriso gentil. — Bom dia, Giulia. O café já foi servido? — Sim, senhora. Como o senhor Karvell saiu cedo, deixei a mesa apenas para você. Assenti e me sentei à mesa. Uma xícara de café preto, uma fatia de pão sem manteiga, frutas cortadas com perfeição clínica. Eu comia sozinha. Sempre. Meu olhar foi atraído para a cabeceira da mesa, onde o lugar de Alonzo permanecia intocado. Ele raramente tomava café ali. Se alimentava no escritório ou na sede da Karvell Corporation, e quando jantava em casa, o fazia depois que eu já havia subido para o quarto. As lembranças do casamento ainda estavam vivas. Um evento luxuoso, repleto de sorrisos falsos, flashes de câmeras e pessoas frias. Os votos eram decorativos, os olhares trocados uma obrigação. Mas eu, por dentro, tremia. Tremia por estar me casando com o homem que amo desde os dezessete anos. E ele... sequer parecia me enxergar. — Me diga uma coisa, Giulia — falei de repente, tentando afastar o silêncio. — Ele... parece feliz? Giulia hesitou, claramente surpresa pela pergunta. — O senhor Karvell é um homem reservado. Cumpre sua rotina. Focado no trabalho, como sempre. Forcei um sorriso. — Isso quer dizer "não", então. — Senhora... — Tudo bem. Eu só queria ouvir de outra pessoa que ele não sorri desde que me casei com ele. Giulia baixou os olhos. Terminei o café, limpei os lábios com o guardanapo e me levantei. Subi para o segundo andar e caminhei até o estúdio que montei com meus livros e algumas telas em branco. Pintar era o que ainda me mantinha respirando, meu passatempo favorito. Ali, eu criava cores que não existiam na minha vida real. Horas se passaram, pinceladas coloridas. Um céu alaranjado surgia na tela, contrastando com o frio que eu sentia no peito. No fim da tarde, desci para preparar o jantar. Como sempre fazia, outro passatempo meu. — Não precisa, senhora — avisou Giulia ao me ver entrando na cozinha. — O chef pode cuidar disso. — Eu quero fazer hoje. É o prato favorito dele — respondi, enquanto pegava os ingredientes para um risoto com lascas de parmesão. Era um gesto inútil. Eu sabia. Mas também sabia que, de algum modo, era o único jeito de ainda me sentir próxima dele. Mesmo que fosse só preparando sua refeição. Às oito da noite, o risoto estava pronto. Arrumei a mesa com velas, como fazia às vezes, na esperança de que ele aparecesse. Mas, como sempre, ele não apareceu. Deixei o prato na redoma de vidro, subi devagar e parei em frente à porta do escritório. Do outro lado, o som abafado de um teclado. Alonzo estava lá. Eu sabia. Criei coragem, ergui a mão... mas não bati. Ao me virar para ir embora, ouvi a maçaneta girar. O coração bateu mais rápido. Alonzo saiu, impecável em sua camisa branca e calça escura, o rosto sério como de costume. — Boa noite, Alonzo — disse, com a voz baixa. — Boa noite — ele respondeu, sem me encarar. — Eu preparei seu jantar. Seu prato preferido. Ele parou por um segundo. — Obrigado. Mas comi mais cedo, na empresa. Assenti, mordendo por dentro da boca para não mostrar o que sentia. — Claro. Passei por ele no corredor, e por um momento nossos braços quase se tocaram. Mas ele não tentou manter contato. Nem um olhar. Entrei no quarto e fechei a porta com cuidado. Não queria chorar alto. Não queria que ninguém ouvisse. Mas, quando encostei as costas na madeira fria da porta, as lágrimas vieram sozinhas. — Por que você me odeia tanto...? — sussurrei. — O que foi que eu fiz pra ser invisível? Na cama, encolhida sob o cobertor, senti a ausência dele como um peso físico. Um vazio impossível de preencher. Antes de dormir, olhei para o celular. Nenhuma mensagem dele. Nenhuma notificação além de atualizações corporativas que eu mesma já havia lido. Apaguei o abajur, virei-me para o lado direito da cama mais uma vez, estiquei a mão... e toquei o vazio. Era sempre vazio. Fechei os olhos. Tentei fingir que era apenas uma fase. Um ciclo difícil. Que talvez, um dia, ele olhasse para mim como olhava para o mundo, com atenção, com respeito... com um mínimo de ternura. Mas por enquanto, tudo o que eu tinha era a ausência dele. E a mim mesma. Antes de dormir, sussurrei de novo: — Só mais um dia... só mais um dia sem você. Sentei na beira da cama, o sono não vinha. Eu puxei meu diário da gaveta. A capa vermelha já estava desgastada nas bordas, como eu. Peguei a caneta, respirei fundo e comecei a escrever. — “É estranho amar alguém que mal olha nos seus olhos. Eu, Antonella Bellini, esposa de Alonzo Karvell, e ainda assim, sozinha todas as noites. Sinto falta de um carinho que nunca tive, de um toque que só imagino, de palavras que ele jamais disse. Me pergunto se ele sabe da minha existência fora do contrato. Talvez, para ele, eu seja só um nome em papel timbrado.” Senti meu peito rasgar, meus dedos tremerem e meus olhos ficarem embaçados. Ignorei tudo e continuei: — “Hoje deixei o jantar servido como sempre. Eu não jantei. Não tinha fome. Ou talvez só não quisesse mais fingir. O som da porta do escritório dele se fechando foi como um lembrete de que estou aqui… e ele, lá. Nunca juntos. Nunca reais.” Fechei o diário devagar e encostei a testa nele. O celular vibrou em cima da cômoda. Minha mãe. Respirei fundo antes de atender. — Oi, mãe. — “Filha! Que bom que atendeu. Está tudo bem por aí?” — Está — menti, em voz baixa. — “Sua voz está diferente. Aconteceu alguma coisa?” — Só estou cansada. — “Ah, imagino! A vida de esposa de Ceo não deve ser fácil, né?” — riu. — “Mas olha, eu e seu pai estamos em Dubai. Um verdadeiro paraíso! Parece até uma lua de mel atrasada.” Fechei os olhos. O som de risos e brindes veio do outro lado da linha. — Que bom que estão aproveitando… — “Estamos sim! E olha, o dinheiro da empresa caiu hoje. Um valor ótimo. Você tem noção de como esse casamento fez a Bellini crescer? Seu pai está radiante! O Alonzo pode até ser meio frio, mas é um homem de visão. Tem que aproveitar isso, filha.” Apertei o celular com força. — Mãe… você se importa mesmo com o que estou sentindo? Minha mãe ficou calada. Do outro lado, ela suspirou. — “Me importo que esteja tudo bem, filha. E, se a empresa vai bem, isso significa que você está segura, confortável, vivendo bem… Isso não é o suficiente?” Não respondi. Porque, no fundo, eu sabia a verdade… para eles, o amor sempre foi secundário. Mas para mim… era tudo.AlonzoPor que ela ainda me afeta tanto?A pergunta veio sem aviso, direto, como se alguém tivesse sussurrado dentro da minha cabeça. Antonella estava diante de mim, os olhos firmes, a respiração descompassada. Ainda estávamos na sala, parados desde o fim da discussão. A tensão entre nós não tinha diminuído, tinha mudado de forma. O ar parecia denso. Eu conseguia sentir o cheiro suave dela, a pouca distância.— Vai continuar me olhando assim? — ela perguntou, a voz baixa, quase um desafio.— Estou tentando entender o que você quer — respondi.— Quero ser tratada como uma pessoa. Não como uma assinatura num contrato.As palavras dela doeram mais do que deveriam. E, ainda assim, o que me dominava naquele instante não era raiva. Era desejo. Desejo e medo misturados, numa proporção perigosa.Dei um passo à frente. Ela não recuou. O olhar dela prendeu o meu, e o tempo pareceu parar. O som da chuva lá fora, os ponteiros do relógio, tudo ficou distante. Só havia nós dois. O instinto tomou c
AntonellaEu sonhei que tinha dezessete anos de novo. Estava no corredor do colégio, com meu uniforme azul e uma pasta nas mãos. Dentro, cartas que eu nunca tive coragem de entregar. “Para Alonzo Karvell”, eu escrevia no topo, como se fosse normal escrever para alguém que parecia um mito. Ele passava cercado de gente importante, convidados de palestras, diretores. Eu só o via de longe. No sonho, eu sentava no banco do pátio e escrevia:— “Um dia você vai me notar”. — Quando terminei a frase, o sino tocou e o papel voo...Acordei com o coração apertado. Demorei alguns segundos para entender onde eu estava. A mansão, o quarto grande, a vida vazia. Sentei na cama e respirei fundo. Não era mais o colégio. Era minha casa. E ele dormia em outro quarto.Vesti uma calça confortável, um suéter simples e desci para a cozinha. Eu ia pegar café e subir, como sempre, mas parei na porta. Alonzo estava sentado à mesa com o notebook aberto e a xícara de café ao lado. Cena rara. Ele não costuma apar
AlonzoOs dias seguintes foram diferentes, mesmo que eu tentasse fingir o contrário. Antonella não me evitava, mas também não me procurava mais. Cumpria o contrato, comparecia aos eventos, sorria para os funcionários, mantinha tudo em ordem, e me ignorava com uma naturalidade que doía.No café da manhã, já não deixava o prato dela na mesa esperando por mim. Nos corredores da empresa, passava com a cabeça erguida, prancheta na mão, falando com a equipe. E, quando eu olhava, ela simplesmente não olhava de volta.Comecei a notar o quanto a casa parecia maior sem a voz dela. O quanto o silêncio ficava mais pesado.Naquela terça-feira, fui até a filial para revisar relatórios. Assim que entrei, ouvi risadas vindo da sala de reuniões. A voz dela se destacava. Segui o som e parei na porta de vidro, Antonella estava de pé, ao lado de um dos novos executivos contratados para o setor internacional, um italiano chamado Dario Ferri. Jovem, bem-apessoado, falava com as mãos, cheio de entusiasmo.E
AntonellaVoltei de Montreal no primeiro voo da manhã, com a sensação de que, pela primeira vez desde o casamento, minha vida estava em minhas mãos. A filial abriu com casa cheia, os números da pré-venda surpreenderam e o conselho local me recebeu com respeito. Eu falei com calma, mostrei projeções, respondi perguntas difíceis. Nada de floreios. Só trabalho. Quando o avião pousou em Toronto, olhei pela janela e pensei que precisava guardar essa sensação. Competência também é afeto quando ninguém te dá carinho.Cheguei à mansão pouco depois das nove. Tomei banho, troquei o terno por um vestido confortável e desci para a cozinha. Giulia me deu um sorriso orgulhoso.— Como foi, senhora?— Melhor do que eu esperava. — Abri a geladeira e peguei água. — Fechamos dois contratos com fornecedores locais, e três franquias sinalizaram expansão para o próximo semestre.— Sabia que ia dar certo. A senhora trabalha demais.— Obrigada, Giulia.Subi para o escritório que montei no quarto de hóspedes
AlonzoPassei boa parte da manhã no escritório, tentando me concentrar nos relatórios pendentes. Mas, no fundo, meu foco estava em outro lugar. Desde cedo, algo estava me incomodando, uma sensação de que as coisas estavam mudando, e eu não tinha mais controle sobre nada.Letícia entrou na sala logo depois das nove, trazendo um café e uma pilha de documentos.— Bom dia, senhor Karvell. — Ela pousou a bandeja sobre a mesa com seu sorriso ensaiado. — Aqui estão as atualizações da filial de Montreal.Peguei o relatório sem olhar para ela. Folheei as páginas, lendo rapidamente as notas de viagem, os dados da filial, e então algo chamou minha atenção. O nome de Antonella estava ali, destacado no rodapé:— "Antonella Bellini Karvell – Ceo Conjunta / Responsável pela inauguração oficial da filial de Montreal."Por um momento, pensei que fosse um erro de digitação. Ela disse que iria, mas pensei que fosse apenas um jeito de chamar a minha atenção e não me importei em negar sua ida.Fechei a pa
AntonellaA manhã começou diferente. O clima na mansão estava mais agitado do que o habitual, e os empregados pareciam andar em movimento controlado, como se algo importante estivesse para acontecer. Eu descia as escadas quando ouvi vozes vindas do hall de entrada.Reconheci uma delas antes mesmo de ver o rosto.Letícia.A assistente pessoal de Alonzo estava ali, de salto alto e sorriso estudado, segurando uma pasta de couro e uma xícara de café que parecia ter sido feita especialmente para ele.Ela falava com um tom leve demais, rindo de algo que Alonzo disse. Ele estava de costas para mim, com o blazer no braço e o celular na mão. Letícia, por outro lado, parecia totalmente focada em agradá-lo.— Trouxe os relatórios do novo fornecedor de Toronto, senhor Karvell — ela disse, inclinando-se levemente para entregar os papéis. — E o café… como o senhor gosta.Ele pegou os documentos sem sequer olhar para ela, mas o simples fato de ela saber o jeito exato que ele gostava do café me incom
Último capítulo