Mundo ficciónIniciar sesiónAlonzo
Os dias seguintes foram diferentes, mesmo que eu tentasse fingir o contrário. Antonella não me evitava, mas também não me procurava mais. Cumpria o contrato, comparecia aos eventos, sorria para os funcionários, mantinha tudo em ordem, e me ignorava com uma naturalidade que doía. No café da manhã, já não deixava o prato dela na mesa esperando por mim. Nos corredores da empresa, passava com a cabeça erguida, prancheta na mão, falando com a equipe. E, quando eu olhava, ela simplesmente não olhava de volta. Comecei a notar o quanto a casa parecia maior sem a voz dela. O quanto o silêncio ficava mais pesado. Naquela terça-feira, fui até a filial para revisar relatórios. Assim que entrei, ouvi risadas vindo da sala de reuniões. A voz dela se destacava. Segui o som e parei na porta de vidro, Antonella estava de pé, ao lado de um dos novos executivos contratados para o setor internacional, um italiano chamado Dario Ferri. Jovem, bem-apessoado, falava com as mãos, cheio de entusiasmo. Ela o observava com atenção, os braços cruzados, o queixo levemente erguido. — Se conseguirmos alinhar a logística em tempo, fechamos o contrato antes do próximo trimestre — ele disse, sorrindo. — Ótimo — respondeu ela. — Mande a proposta revisada. E obrigada por ter vindo tão rápido. — Por você, Antonella, eu viria até do outro lado do oceano — ele brincou. Ela riu. Um riso curto, educado, mas real. Senti o estômago revirar. Abri a porta. O barulho foi suficiente para os dois se virarem. — Senhor Karvell — Dario cumprimentou de imediato. — Estávamos discutindo a expansão da filial europeia. — Estou vendo. — Cruzei os braços. — Parece que estão se dando bem. Antonella me olhou firme, sem constrangimento. — Estamos trabalhando, Alonzo. — Imagino — respondi, seco. — Continue, então. Saí antes que minha expressão me traísse. Andei até minha sala, fechei a porta e fiquei olhando o vidro por alguns segundos. A imagem dela com aquele italiano não saía da minha cabeça. Senti algo que não sentia havia muito tempo: ciúmes. O mesmo incômodo que me atravessou quando aquele gerente elogiou Antonella semanas atrás. Mas agora era diferente. Mais forte. Tentei me concentrar nos números do relatório, mas as letras pareciam borradas. Mais tarde, Letícia entrou sem bater, trazendo café. — Está tudo bem, senhor Karvell? — Está. — Peguei a xícara sem olhar. — Só cansado. Ela se aproximou um pouco mais. — Posso perguntar uma coisa? — Fale. — O que te incomoda tanto nela? Respirei fundo. Olhei para a janela. — Sabe o que mais me incomoda nela? — falei, sem filtrar. — Ela tem coragem de seguir em frente. Letícia me observou em silêncio por alguns segundos antes de responder: — Pessoas que não amam desistem rápido. As que amam, mesmo humilhadas, ficam. As palavras dela ficaram presas na minha cabeça por horas. À noite, voltei para casa e jantei sozinho. Giulia perguntou se eu queria companhia à mesa, eu neguei. O silêncio era a única coisa que me fazia companhia de verdade. Subi as escadas, ainda com a gravata frouxa. Quando passei pelo corredor, parei diante da porta dela. Luz apagada. O quarto fechado. Fiquei parado, olhando a maçaneta. Minha mão chegou a se mover, mas recuei. Não tinha coragem. Como se bater naquela porta fosse um ato que não teria volta. Fui para o meu quarto. Tirei o terno, sentei na beira da cama e fiquei um tempo olhando para o nada. Tudo nela estava dentro da minha cabeça, o jeito que ela falava com firmeza, o perfume leve quando passava por mim, o som da risada na sala de reuniões. Deitei, mas o sono demorou a vir. Quando veio, me arrastou para um sonho que parecia mais real que o próprio dia. No sonho, eu estava na mansão. As luzes estavam baixas, a casa em silêncio. Desci as escadas e a vi na sala, de costas, com um vestido claro que deixava os ombros nus. — Antonella… — chamei, e a voz saiu rouca, quase um sussurro. Ela virou o rosto lentamente. Os olhos dela estavam diferentes, calmos, mas intensos. — O que foi, Alonzo? — perguntou, caminhando até mim. Não respondi. Só a encarei. Ela parou diante de mim, tão perto que o calor do corpo dela me atingiu. — Vai continuar me olhando assim? — ela provocou. Meu instinto foi segurá-la pela cintura. Senti o tecido do vestido, o toque quente da pele sob meus dedos. Ela não recuou. — Você não devia… — sussurrei. — Não devia o quê? — sussurrou, aproximando o rosto do meu. — Ser sua esposa? Ou fazer o que você finge não querer? Tentei responder, mas as palavras sumiram. Ela me puxou pela camisa e me beijou. Não era o beijo calmo que imaginei tantas vezes. Era urgente. Real. O som da respiração dela misturado ao meu fez o resto do mundo desaparecer. Levei as mãos ao cabelo dela, sentindo o perfume familiar. O beijo foi se tornando mais intenso, mais profundo. — Você não tem ideia do que me faz — ela disse entre beijos. — Tenho, sim. — A voz saiu rouca. — Tenho sonhado com isso há meses. Ela me empurrou devagar até o sofá e subiu no meu colo. Nossos olhares se encontraram. — Então para de fugir — pediu. A cada toque, a distância que mantive por tanto tempo se desfez. As mãos dela percorriam meu peito, os dedos apertavam a nuca. Eu a segurei, com força, como quem tenta prender um sonho antes que acabe. Quando o vestido caiu pelos ombros, vi a pele dela iluminada pela luz fraca da sala. Beijei o pescoço, a clavícula, o contorno do queixo. Ela gemeu meu nome, e eu senti algo dentro de mim quebrar de vez. Senti os beijos dela no meu pescoço, senti ela morder ali e com isso rasguei o vestido dela. Ela deu uma gargalhada gostosa de ouvir. Eu não parei, rasguei sua peça íntima, ela tirou minha blusa e arranhou meu peito me fazendo rosnar de prazer e arfar. Me livrei da minha bermuda e a penetrei. Joguei a cabeça para trás e gemi alto ao sentir o quão apertada e quente ela é. Acordei ofegante, suando. Olhei ao redor. O quarto estava escuro, o relógio marcava 3h17. Levei a mão à testa. O coração ainda disparado. Era só um sonho. Mas parecia tudo, menos mentira. Fiquei deitado, tentando recuperar o fôlego. A imagem dela continuava viva… o olhar, o toque, o som da voz. Por mais que eu quisesse negar, não dava mais pra fingir que nada existia entre nós. Fechei os olhos novamente, mas não dormi. Passei o resto da madrugada revendo cada lembrança, cada palavra, cada silêncio. E entendi o que estava acontecendo comigo. Eu estava perdendo o controle. E não tinha certeza se queria recuperá-lo.






