Os Trigêmeos São do Meu Ex-Bilionário Arrogante
Os Trigêmeos São do Meu Ex-Bilionário Arrogante
Por: Rosana Lyra
Capítulo 1

Antonella

O som do despertador cortou o silêncio do meu quarto. Eram seis da manhã e, como em todos os dias nos últimos seis meses, eu abri os olhos sozinha.

Estiquei a mão para o lado direito da cama, onde o travesseiro permanecia intacto, sem nenhum sinal de que Alonzo Karvell havia estado ali. Por que eu ainda faço isso? Ele nunca dormiu comigo.

Suspirei fundo, apoiando os cotovelos nos joelhos antes de me levantar. Caminhei até a janela e afastei a cortina. O céu de Toronto ainda estava coberto por uma névoa fina e cinzenta.

— Mais um dia...— murmurei.

O banheiro estava frio, assim como minha rotina. Prendi o cabelo em um coque frouxo e vesti uma camisola de seda clara, cobrindo o corpo com o robe que ele nunca viu. Não havia motivo para me arrumar de verdade, não para ele. Não quando meu marido mal me olhava nos olhos.

Desci as escadas da mansão, e meus passos ecoavam no piso impecável. Nenhuma risada, nenhuma música, nenhum som além dos talheres sendo organizados pela governanta, Giulia.

— Bom dia, senhora Karvell — disse Giulia, com um sorriso gentil.

— Bom dia, Giulia. O café já foi servido?

— Sim, senhora. Como o senhor Karvell saiu cedo, deixei a mesa apenas para você.

Assenti e me sentei à mesa. Uma xícara de café preto, uma fatia de pão sem manteiga, frutas cortadas com perfeição clínica. Eu comia sozinha. Sempre.

Meu olhar foi atraído para a cabeceira da mesa, onde o lugar de Alonzo permanecia intocado. Ele raramente tomava café ali. Se alimentava no escritório ou na sede da Karvell Corporation, e quando jantava em casa, o fazia depois que eu já havia subido para o quarto.

As lembranças do casamento ainda estavam vivas. Um evento luxuoso, repleto de sorrisos falsos, flashes de câmeras e pessoas frias. Os votos eram decorativos, os olhares trocados uma obrigação.

Mas eu, por dentro, tremia. Tremia por estar me casando com o homem que amo desde os dezessete anos. E ele... sequer parecia me enxergar.

— Me diga uma coisa, Giulia — falei de repente, tentando afastar o silêncio. — Ele... parece feliz?

Giulia hesitou, claramente surpresa pela pergunta.

— O senhor Karvell é um homem reservado. Cumpre sua rotina. Focado no trabalho, como sempre.

Forcei um sorriso.

— Isso quer dizer "não", então.

— Senhora...

— Tudo bem. Eu só queria ouvir de outra pessoa que ele não sorri desde que me casei com ele.

Giulia baixou os olhos. Terminei o café, limpei os lábios com o guardanapo e me levantei.

Subi para o segundo andar e caminhei até o estúdio que montei com meus livros e algumas telas em branco. Pintar era o que ainda me mantinha respirando, meu passatempo favorito. Ali, eu criava cores que não existiam na minha vida real.

Horas se passaram, pinceladas coloridas. Um céu alaranjado surgia na tela, contrastando com o frio que eu sentia no peito.

No fim da tarde, desci para preparar o jantar. Como sempre fazia, outro passatempo meu.

— Não precisa, senhora — avisou Giulia ao me ver entrando na cozinha. — O chef pode cuidar disso.

— Eu quero fazer hoje. É o prato favorito dele — respondi, enquanto pegava os ingredientes para um risoto com lascas de parmesão.

Era um gesto inútil. Eu sabia. Mas também sabia que, de algum modo, era o único jeito de ainda me sentir próxima dele. Mesmo que fosse só preparando sua refeição.

Às oito da noite, o risoto estava pronto. Arrumei a mesa com velas, como fazia às vezes, na esperança de que ele aparecesse.

Mas, como sempre, ele não apareceu.

Deixei o prato na redoma de vidro, subi devagar e parei em frente à porta do escritório. Do outro lado, o som abafado de um teclado. Alonzo estava lá. Eu sabia.

Criei coragem, ergui a mão... mas não bati.

Ao me virar para ir embora, ouvi a maçaneta girar. O coração bateu mais rápido. Alonzo saiu, impecável em sua camisa branca e calça escura, o rosto sério como de costume.

— Boa noite, Alonzo — disse, com a voz baixa.

— Boa noite — ele respondeu, sem me encarar.

— Eu preparei seu jantar. Seu prato preferido.

Ele parou por um segundo.

— Obrigado. Mas comi mais cedo, na empresa.

Assenti, mordendo por dentro da boca para não mostrar o que sentia.

— Claro.

Passei por ele no corredor, e por um momento nossos braços quase se tocaram. Mas ele não tentou manter contato. Nem um olhar.

Entrei no quarto e fechei a porta com cuidado. Não queria chorar alto. Não queria que ninguém ouvisse. Mas, quando encostei as costas na madeira fria da porta, as lágrimas vieram sozinhas.

— Por que você me odeia tanto...? — sussurrei. — O que foi que eu fiz pra ser invisível?

Na cama, encolhida sob o cobertor, senti a ausência dele como um peso físico. Um vazio impossível de preencher.

Antes de dormir, olhei para o celular. Nenhuma mensagem dele. Nenhuma notificação além de atualizações corporativas que eu mesma já havia lido.

Apaguei o abajur, virei-me para o lado direito da cama mais uma vez, estiquei a mão... e toquei o vazio.

Era sempre vazio.

Fechei os olhos. Tentei fingir que era apenas uma fase. Um ciclo difícil. Que talvez, um dia, ele olhasse para mim como olhava para o mundo, com atenção, com respeito... com um mínimo de ternura.

Mas por enquanto, tudo o que eu tinha era a ausência dele.

E a mim mesma.

Antes de dormir, sussurrei de novo:

— Só mais um dia... só mais um dia sem você.

Sentei na beira da cama, o sono não vinha. Eu puxei meu diário da gaveta. A capa vermelha já estava desgastada nas bordas, como eu. Peguei a caneta, respirei fundo e comecei a escrever.

— “É estranho amar alguém que mal olha nos seus olhos. Eu, Antonella Bellini, esposa de Alonzo Karvell, e ainda assim, sozinha todas as noites. Sinto falta de um carinho que nunca tive, de um toque que só imagino, de palavras que ele jamais disse. Me pergunto se ele sabe da minha existência fora do contrato. Talvez, para ele, eu seja só um nome em papel timbrado.”

Senti meu peito rasgar, meus dedos tremerem e meus olhos ficarem embaçados. Ignorei tudo e continuei:

— “Hoje deixei o jantar servido como sempre. Eu não jantei. Não tinha fome. Ou talvez só não quisesse mais fingir. O som da porta do escritório dele se fechando foi como um lembrete de que estou aqui… e ele, lá. Nunca juntos. Nunca reais.”

Fechei o diário devagar e encostei a testa nele. O celular vibrou em cima da cômoda. Minha mãe. Respirei fundo antes de atender.

— Oi, mãe.

— “Filha! Que bom que atendeu. Está tudo bem por aí?”

— Está — menti, em voz baixa.

— “Sua voz está diferente. Aconteceu alguma coisa?”

— Só estou cansada.

— “Ah, imagino! A vida de esposa de Ceo não deve ser fácil, né?” — riu. — “Mas olha, eu e seu pai estamos em Dubai. Um verdadeiro paraíso! Parece até uma lua de mel atrasada.”

Fechei os olhos. O som de risos e brindes veio do outro lado da linha.

— Que bom que estão aproveitando…

— “Estamos sim! E olha, o dinheiro da empresa caiu hoje. Um valor ótimo. Você tem noção de como esse casamento fez a Bellini crescer? Seu pai está radiante! O Alonzo pode até ser meio frio, mas é um homem de visão. Tem que aproveitar isso, filha.”

Apertei o celular com força.

— Mãe… você se importa mesmo com o que estou sentindo?

Minha mãe ficou calada. Do outro lado, ela suspirou.

— “Me importo que esteja tudo bem, filha. E, se a empresa vai bem, isso significa que você está segura, confortável, vivendo bem… Isso não é o suficiente?”

Não respondi.

Porque, no fundo, eu sabia a verdade… para eles, o amor sempre foi secundário. Mas para mim… era tudo.

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