Máximo Giuseppe Ferraro Bianchi, herdeiro da Cosa Nostra, foi criado com amor, mas forjado na dor. Desde a infância, seu coração pertence a Isabella Moretti, seu porto seguro, sua paixão inabalável. No entanto, aos 24 anos, o destino lhe impõe um beco sem saída: um contrato de casamento com a máfia sérvia. Serena Petrović, a enigmática e poderosa herdeira da máfia sérvia, agora carrega seu sobrenome — não por amor, mas por dever. Dividido entre a lealdade à sua organização e o amor que sempre cultivou, Máximo jura odiá-la até seu último suspiro. Mas... seria ele realmente capaz? Capaz de negar o fogo que nasce do improvável? Capaz de construir um amor tão forte quanto aquele que viu em sua família? Enquanto carrega nos ombros o peso de um casamento arranjado, observa, com revolta e dor, que todos ao seu redor — seus pais, seus tios — se casaram por amor. Então, por que o fardo recai justamente sobre ele? Entre a honra, o dever e os sentimentos que insiste em negar, Máximo descobrirá que o amor, às vezes, nasce onde menos se espera… e que nem todo juramento de ódio está destinado a ser cumprido.
Ler maisPonto de vista de Máximo Bianchi
Crescer na minha família sempre foi viver um paradoxo. Dentro de casa, éramos puro amor. Fora dela… o inferno vestia terno italiano e tinha nosso sobrenome. Eu cresci rodeado por exemplos de homens que eram gigantes. Gigantes no amor, na lealdade, no poder… e, principalmente, na brutalidade quando se tratava de proteger quem amavam. Meu pai, Salvattore, subchefe da Cosa Nostra, era o tipo de homem que arrancava a alma dos inimigos sem piscar… e, no segundo seguinte, beijava minha mãe com tanta ternura que fazia qualquer um acreditar que ele nunca tinha sujado as mãos de sangue. Meu tio, Matteo, o Don, era a personificação do poder. Um líder que carregava o peso do mundo nos ombros, mas nunca deixava faltar amor dentro de casa. Sua esposa, Alessandra, e seu filho, Enrico Giuseppe, eram sua vida, sua fraqueza, sua força. E havia Erich, meu tio materno, consigliere da família. Inteligente, frio, estrategista. Casado com minha tia Chiara, irmã do meu pai. Eles eram o equilíbrio perfeito entre amor e guerra, como toda a nossa linhagem. Mas, de todos os laços que me formaram, nenhum era mais forte do que o que eu tinha com minha irmã, Giullia Ferraro Bianchi. Minha menina. Minha melhor amiga. Minha pequena. Eu a amava de um jeito que não sabia sequer explicar. Ela era meu pedaço de paz num mundo que exigia que eu fosse tempestade. E Deus sabe… se alguém ousasse tocá-la, conheceria o verdadeiro significado da palavra inferno. Apesar do amor, eu sempre soube que nascer na Cosa Nostra era assinar um contrato com o destino. Nunca fomos livres. Nunca seríamos. E eu entendi isso, de forma definitiva, no dia em que completei dezoito anos. Lembro como se fosse agora. O cheiro de couro impregnado no escritório do tio Matteo, misturado ao aroma forte do charuto que ele tragava. As cortinas pesadas filtravam a luz do entardecer, pintando de âmbar as paredes que testemunharam gerações da nossa história. Meu pai estava lá. Sério. Braços cruzados, expressão dura. Matteo, sentado na poltrona atrás da mesa, me observava com aquele olhar que perfurava ossos. — Sente-se, Máximo — ordenou, e eu obedeci. O silêncio pesava. Quase esmagava meu peito. Eu sabia que aquilo não era só uma conversa. Era um divisor de águas. — Eu e seu pai discutimos isso durante muito tempo — começou, e cada palavra parecia um golpe. — E tomamos a decisão. Quando eu deixar a coroa… ela será sua. O chão sumiu. Eu não esperava por aquilo. Não tão cedo. Não assim. Busquei os olhos do meu pai, e ele apenas assentiu, selando minha sentença. — Enrico será seu subchefe — Matteo continuou. — Ele carrega muito do sangue do seu pai. É impulsivo, explosivo. Uma lâmina afiada… boa para a guerra, mas instável demais para o trono. Meu pai interveio, firme: — Você, filho… você é diferente. Tem a mesma sede de sangue, mas sabe esperar. Sabe ser paciente. Analisa, calcula, antecipa. Você é letal… mas não desperdiça munição. Isso faz de você o Don perfeito. Eu deveria me sentir honrado. E me senti. Mas, junto com o orgulho, veio o peso. Um peso que esmagou minha juventude, minhas vontades, meus sonhos. E, como se isso não fosse suficiente, Matteo lançou o golpe final. — E… junto com a coroa, vem o acordo. — Ele inspirou fundo. — Aos vinte e quatro anos, você se casará com Serena Petrović, filha do chefe da máfia sérvia. Senti meu estômago se contorcer. Uma ânsia amarga subindo pela garganta. Eu sabia desse maldito contrato desde garoto, mas me enganei. Me fiz acreditar que, quando chegasse a hora, algo teria mudado. Que meu pai, meu tio, ou até mesmo Deus, dariam um jeito de cancelar aquilo. Mas não. O acordo estava vivo. E eu… eu era a moeda de troca. O problema? Eu já pertencia a outra mulher. Meu corpo. Minha alma. Minha maldita existência inteira era dela. Isabella Moretti. O amor da minha vida desde que éramos crianças. A menina que me fazia queimar, sangrar, viver. A mulher que moldou o homem que sou. Lembro como se fosse agora da primeira vez que fizemos amor. Eu tinha dezesseis. Ela, quinze. Era proibido. Era perigoso. Mas o desejo… meu Deus, o desejo era avassalador. Ela estava linda naquela noite. Cabelos soltos, vestido leve, sorriso que me desarmava mais que qualquer arma. Me lembro de cada detalhe. Da forma como seus olhos se fecharam quando minhas mãos tocaram sua pele pela primeira vez. De como seus lábios tremiam quando eu disse que a amava. De como nossos corpos se encaixaram com a urgência de quem sabia que, dali em diante, jamais se pertenciam a mais ninguém. Foi intenso. Foi puro. Foi fogo. E foi amor. O tipo de amor que não se explica. Que se sente nos ossos, na carne, na alma. E era esse amor que agora estava prestes a ser esmagado sob o peso do maldito sobrenome que eu carregava. Saí daquele escritório como um homem marcado. O peito apertando, a respiração falhando. Dirigi como um louco até a casa dela. Quando Isabella abriu a porta, bastou um olhar. Ela sabia. Ela sempre soube me ler. Me puxou pra dentro sem perguntar nada. Nossas bocas se encontraram, e, mais uma vez, fizemos amor como se o mundo fosse acabar. Lento. Dolorido. Cheio de promessas que nunca seriam cumpridas. Mas algo estava errado. Eu sentia. O corpo dela estava comigo, mas a mente… não. Segurei seu rosto, olhando fundo nos olhos que eu mais amava nesse mundo. — O que está acontecendo, amor? Ela tentou ser forte. Mas os olhos marejados a traíram. — Meu pai… — a voz dela falhou. — Meu pai… prometeu minha mão. Para um dos filhos da máfia mexicana. Foi como se alguém tivesse arrancado meu coração com as próprias mãos. O ar sumiu. As mãos tremiam. Tudo em mim gritava. Porque, mesmo sendo o futuro Don da Cosa Nostra… eu não podia fazer nada. Eu não podia começar uma guerra. Não por amor. Abracei Isabella com toda a força que tinha, tentando, em vão, proteger ela de um mundo que não permitia finais felizes. E chorei. Chorei como nunca tinha chorado. Nem quando tomei meu primeiro tiro. Nem quando enterrei homens que considerava irmãos. Chorei porque, naquele momento, entendi… A coroa que todos invejavam… era, na verdade, a pior maldição que alguém poderia carregar.Ponto de vista: Máximo BianchiMinha mulher estava me deixando maluco com aquele vestido azul. Colado no corpo, cravejado nas curvas certas, com aquele decote que pedia para ser arrancado com os dentes. E porra, ela sabia disso. Serena tinha essa mania de se fazer de santa, mas conhecia cada um dos meus gatilhos — e os puxava como quem acende pavios.A festa estava chata pra caralho. Discurso aqui, cumprimento ali, risos forçados, e a porra toda da politicagem mafiosa que me dava nos nervos. Quanto mais demorava, menos tempo eu teria com ela nua na minha cama, gemendo meu nome e chamando Deus em vão.Mas a cereja do bolo, o estopim, foi o momento em que um filho da puta de garçom se aproximou demais da minha mulher.Eu estava de costas, rindo com Enrico e Paolo de uma piada sobre o terno ridículo de um dos chefes do norte, quando ouvi o tom da voz do desgraçado — meloso demais. Virei o rosto e vi. O infeliz sorria para Serena como se estivesse prestes a convidá-la pra dançar um tango
Ponto de vista de Serena BianchiHoje era um daqueles dias em que eu precisava vestir a armadura invisível que toda mulher de um Don carrega. Teríamos um evento da máfia. Um daqueles encontros pomposos, carregados de pretensões, sorrisos falsos e palavras medidas. Detestava a teatralidade. As mulheres sorriam como bonecas bem treinadas, os homens trocavam olhares afiados disfarçados de cumprimentos formais. Era uma dança de máscaras — e, mesmo sabendo o papel que me cabia, isso nunca me caiu com naturalidade.Mas estar ao lado do meu marido... isso me bastava. Eu seria a muralha que esperavam que a esposa do Don da Cosa Nostra fosse. E seria com classe.Vesti um longo azul royal, ajustado na cintura e cravejado de pedrarias que pareciam capturar a luz de cada canto da casa. Meu colar de diamantes brilhava contra a pele pálida do colo, e a maquiagem, um pouco mais ousada do que costumo usar, moldava o olhar como quem avisa: “Se eu sorrir, é porque escolhi não morder”.Assim que coloque
Ponto de vista de Máximo Bianchi. Sete meses. Sete longos e curtos meses.A matemática do tempo tem me pregado peças. Parece que foi ontem que pousei no México com o peito em chamas, pronto para deixar rastros de sangue na terra quente de Valverde. E, ao mesmo tempo, parece que foi há uma vida inteira.A aliança com Héctor, que no início era apenas uma obrigação estratégica, se provou o passo mais sensato que demos em anos. Os lucros estão estáveis, as rotas funcionando como um relógio bem ajustado. A confiança, ainda que construída sobre a cautela, virou uma ponte firme entre dois homens que tinham tudo para se odiar, mas aprenderam a respeitar o peso das próprias dores.A filha dele, Clarinha... pequena guerreira. Os relatórios médicos são animadores: o tratamento teve resposta positiva, e em breve ela fará o transplante de medula. A esperança nos olhos de Héctor era algo que eu não via desde que olhei para meu pai quando soube que mamãe sobreviveria ao transplante.Mamãe... ela vo
Ponto de vista de Máximo Bianchi.O céu da Sicília parecia mais azul naquele dia.Assim que o avião pousou e descemos pela pista da propriedade Bianchi, senti o peso das últimas semanas finalmente começar a escorrer dos meus ombros. Lá estavam elas — as mulheres da nossa família — vindo em nossa direção com pressa, como se não nos vissem há meses. Tia Alessandra foi a primeira a me abraçar, chorando discretamente contra meu peito. Giovanna, minha prima, jogou os braços ao redor de Enrico com um grito emocionado de “Finalmente!”. Tio Matteo vinha logo atrás, com um sorriso orgulhoso estampado no rosto.Mas nada me preparou para a cena que veio em seguida.Tio Erich, tia Chiara e minha irmã Giullia vieram correndo como se o chão ardesse. As duas estavam com os olhos marejados e riram ao mesmo tempo em que agarraram Serena e Lucas. Minha irmã pegou nosso filho no colo como se ele fosse feito de ouro, beijando sua testa repetidas vezes, enquanto Chiara abraçava Serena com força, as duas m
Ponto de vista de Máximo BianchiO papel ainda cheirava a tinta fresca quando o último dos contratos foi assinado. Meu nome. O dele. Testemunhas. Advogados. Cópias. Selos. Tudo como eu exigi.Serena estava sentada ao meu lado, com um meio sorriso cansado no rosto. Aron e Enrico mantinham o olhar atento, mas havia um certo relaxamento na postura deles. Como se, por um momento breve, deixássemos de ser soldados e voltássemos a ser apenas… homens. Famílias.O jantar foi servido na casa de Héctor como um gesto de boa vontade. Formalidade disfarçada de cortesia. Mas ali, cercado por paredes antes inimigas, eu sentia que algo realmente havia mudado.Lucas e Clara estavam estirados sobre um amontoado de almofadas no canto da sala, dormindo de mãos dadas. Um riso abafado escapou da minha garganta.— Porra… que gracinha — murmurei, quase sem acreditar no que via.Serena suspirou devagar, com os olhos fixos na cena. A mão dela pousou sobre meu joelho, e pela primeira vez em dias, senti paz no t
Ponto de vista de Máximo BianchiO som dos nossos passos ecoava pelos corredores como um anúncio de guerra — ou de trégua. Ainda não sabia qual das duas opções me esmagava mais por dentro. Eu seguia à frente, com Aron e Enrico ao meu lado. Serena vinha atrás, silenciosa, com Lucas no colo. A expressão dela era uma mistura de alívio e preocupação. Meu peito ardia com essa incerteza que me corroía.Atravessamos o corredor até o salão reservado. Dois soldados de Héctor abriram as portas duplas e, por um segundo, o mundo pareceu parar.Héctor Valverde estava ali. De pé. Sozinho.Atrás dele, as cortinas pesadas balançavam suavemente com o vento que entrava por uma grande janela. O homem parecia mais velho do que eu imaginava, embora fosse apenas alguns anos mais velho que eu. As olheiras fundas, os ombros levemente curvados, o rosto marcado por cicatrizes que o tempo não teve vontade de apagar. Mas havia uma firmeza nos olhos dele. A mesma firmeza de um homem que já viu o inferno… e sobrev
Último capítulo