POV Máximo
Eu nunca imaginei que amor pudesse doer tanto. Uma dor que não sangra por fora, mas dilacera por dentro, rasga, corrói, destrói. Passei os últimos dias tentando, de todas as formas, encontrar uma saída. Uma brecha. Uma maldita rachadura nesse sistema podre que me colocava entre a cruz e a espada. Mas Isabella… ela se esquivava. Me evitava. Me mantinha distante, como se criar mais laços fosse só tornar tudo mais difícil. E, no fundo, eu sabia que ela tinha razão. Só que a razão dela não bastava pra calar a fúria dentro de mim. Cada vez que tentava falar, ela me bloqueava. Me pedia pra não insistir. Pra não sonhar com algo impossível. Eu via no olhar dela… o medo, a dor, o amor. Mas também via… a desistência. E isso me matava. O pensamento mais cruel, mais miserável, se infiltrava nas frestas da minha mente como veneno. E se eu tivesse sido só uma aventura? E se, no fim, eu era só um capítulo proibido na vida dela? Não. Não podia ser. Eu conhecia Isabella melhor do que qualquer homem nesse mundo. Eu sabia que ela me amava. Sabia. Mas, então… por que diabos ela estava me deixando escorregar pelos dedos? Eu andava de um lado pro outro no escritório, mãos no cabelo, o peito tão apertado que parecia que ia explodir. O relógio marcava quase meia-noite, e eu não conseguia respirar, não conseguia pensar em nada além do medo paralisante de perdê-la. Golpeei a parede com força, deixando os nós dos dedos arrebentarem. Mas nem a dor física me trazia de volta. — Maldição… — murmurei, cerrando os olhos, tentando sufocar o grito preso na garganta. A porta do escritório se abriu devagar. Quando levantei o olhar, encontrei minha mãe. Rafaella. Linda. Firme. Com aquele olhar que sempre conseguiu atravessar minha alma. Ela caminhou até mim, tão serena quanto seu nome não era. Seus olhos denunciavam que ela sabia. Sabia de tudo. Se aproximou e, sem pedir permissão, segurou meu rosto entre as mãos, como fazia quando eu era menino. — Figlio mio… — sua voz saiu baixa, cheia de amor, mas carregada de dor. — Eu sei… Eu sei o quanto isso está te dilacerando. Fechei os olhos, engolindo em seco. — Mamma… — sussurrei, e naquele instante não importava ser homem, ser Don, ser o diabo encarnado. Eu era só o filho dela, quebrado, perdido. — Eu não consigo… eu não sei como suportar isso. Ela passou a mão carinhosamente no meu cabelo, como fazia quando eu me machucava, quando acordava assustado nas noites da infância. — Máximo… meu amor… escuta a sua mãe. — Respirou fundo. — Eu te amo mais do que qualquer coisa nesse mundo. E te juro… te juro, filho… que eu entendo sua dor. Se afastou um pouco, segurando minhas mãos ensanguentadas. — Eu não vou mentir pra você… — seus olhos marejaram, mas ela manteve a voz firme. — Serena não é Isabella. Ela nunca será. Mas ela… ela é uma boa menina, Máximo. Doce. Meiga. E te garanto… ela será uma esposa carinhosa. Ela não merece seu ódio. Senti meu maxilar travar, o sangue borbulhar nas veias. — Eu a odiarei, mamma. — Cuspi as palavras como se fossem ácido. — A odiarei até meu último suspiro. Ela apertou minhas mãos com mais força. — Não fala isso, amor… não fala. — As lágrimas finalmente desceram, silenciosas. — Você não sabe o que o destino pode te reservar. Você é jovem. O amor… às vezes… às vezes ele nasce no meio do caos, filho. Assim como foi com seus avós. Arfei, fechando os olhos, tentando segurar a raiva, o nó, tudo. — Não compara, mamma. Não é igual. — Você acha que foi fácil pra sua nonna se apaixonar pelo seu nonno, Giuseppe Bianchi? — Ela balançou a cabeça. — Eles também tiveram um casamento arranjado. Também começaram com medo, com raiva, com rejeição. Mas, olha só… — um sorriso triste escapou — …eles construíram um amor que até hoje ecoa nessa família. Fiquei em silêncio. As palavras dela ficaram reverberando na minha mente, queimando, machucando, como se cada uma delas fosse uma faca cravada no meu peito. Mas não respondi. Não consegui. Porque, por mais que eu quisesse negar… algo dentro de mim sabia que, no fundo, a vida nem sempre seguia os nossos planos. Minha mãe me puxou pra um abraço. Forte. Apertado. E por um instante, só por um instante, eu desejei voltar a ser aquele garoto que acreditava que o colo dela era suficiente pra afastar todos os monstros do mundo. Mas o monstro agora… era eu. Porque amanhã… Amanhã seria o maldito jantar de noivado. Amanhã todas as peças do tabuleiro estariam reunidas. Todos os rostos mais poderosos da máfia italiana… e da sérvia. Inclusive ele. Rodrigo Moretti. O pai de Isabella. E ela estaria lá. Perfeita. Intocável. Tão perto… e, ao mesmo tempo, prestes a se tornar tão inalcançável quanto uma estrela. Amanhã seria o começo de um inferno do qual eu jamais poderia escapar.