Ponto de vista de Máximo Bianchi.
O som dos meus próprios passos no corredor da mansão parecia me irritar mais do que o normal. Eu odiava estar aqui. Odiava estar preso nesse maldito jogo de alianças, obrigações e falsas promessas. Quando virei a última curva do corredor, lá estava ela. Serena. Encostada na varanda, olhando para o jardim como se buscasse respostas no meio das flores. O vestido claro colava na sua pele de forma indecente, como se até o tecido quisesse traí-la, marcando cada curva que — contra a minha vontade — meu olhar percorreu. Ela era bonita. Inacreditavelmente bonita. Daquele tipo de beleza que não se esforçava pra ser notada, mas que queimava na pele de quem olhava. E isso me irritava. Porque, por mais que minha mente berrasse que eu a desprezava... meu corpo parecia ter outras intenções. — "Se está tentando fugir, te aviso que por aqui não tem saída." — soltei, cruzando os braços, deixando a arrogância escorrer pela minha voz. Ela se virou devagar. O olhar doce, mas ferido, encontrou o meu. — "Não estou fugindo. Só estava... respirando." — "Respirando...?" — arqueei uma sobrancelha, dando dois passos em direção a ela. — "Engraçado. Achei que pra isso fosse necessário estar viva... e sinceramente, olhando nos teus olhos, Serena, parece que alguém te matou hoje." Vi seu maxilar se travar, os olhos brilharem, não sei se de raiva ou se de dor. Talvez os dois. — "Você não faz ideia do que eu senti hoje, Máximo." — respondeu, cruzando os braços na altura do peito, tentando criar uma barreira invisível entre nós. Me aproximei mais. Talvez perto demais. A ponto de sentir seu perfume. Doce, fresco... irritantemente viciante. — "Sabe qual é o problema, Serena...?" — inclinei meu rosto, roçando meus lábios perigosamente perto do seu ouvido. — "Você entrou num jogo pra gente grande. E aqui... ninguém se importa com os teus sentimentos." Ela se afastou, me empurrando com as mãos pequenas, mas firmes no meu peito. — "Você acha que isso é fácil pra mim? Que eu escolhi estar aqui? Você me trata como se eu fosse a vilã dessa história, mas a única coisa que eu fiz foi aceitar algo que, no fundo, você também aceitou." Soltei uma risada seca, inclinando o queixo. — "Aceitei? Você acha mesmo que eu tive escolha? Acha que eu queria te ter como esposa? Que eu desejei dividir minha vida, minha cama, meu nome... com alguém que eu mal conheço?" — dei mais um passo, prendendo-a entre meu corpo e o parapeito. — "Você é a substituta, Serena. Só isso. O prêmio de consolação de um jogo sujo que eu perdi." Vi seus olhos marejarem, mas ela ergueu o queixo, orgulhosa. Forte. — "Então me odeie, Máximo. Me despreze. Jogue na minha cara todos os dias que eu sou sua segunda opção. Mas você vai ter que engolir, porque eu não vou a lugar nenhum. Você pode me tratar com frieza, pode fingir que não me deseja, mas sabe tão bem quanto eu... que eu acendo um fogo em você que nem Isabella conseguiu." Senti meu corpo inteiro enrijecer. Ela não fazia ideia do quanto aquilo era verdade. — "Cuidado com o que você fala, piccola." — segurei seu queixo entre os dedos, apertando mais do que devia. — "Porque mexer comigo tem consequências... e eu não sou homem de dar aviso duas vezes." Ela respirou fundo, apertando os olhos, mas não recuou. — "Sabe o que eu acho, Máximo...? Que você me odeia... porque, no fundo, te apavora a ideia de que eu posso te fazer esquecer ela." Aquilo foi como um soco no estômago. Prendi a respiração, apertando o maxilar. — "Você se acha demais, Serena." — minha mão escorregou do queixo para a linha do pescoço, meus dedos roçaram sua clavícula, e minha boca quase roçou a dela. — "Acha mesmo que uma menininha mimada, que mal conhece esse mundo, vai me fazer esquecer... tudo o que vivi?" Ela arqueou a sobrancelha, desafiadora. — "Você pode continuar fugindo, Máximo. Fingindo que não me vê. Mas seu corpo te trai. Sua respiração te trai. O jeito que você me olha... te denuncia." Senti minha mão apertar sua cintura, puxando-a de forma brusca, colando seu corpo no meu. — "Quer testar até onde vai essa sua coragem, Serena...?" — minha voz saiu rouca, carregada de desejo, mas também de fúria. — "Porque, se você continuar me provocando desse jeito, piccola... vai descobrir que nem sempre o perigo vem disfarçado de ódio. Às vezes... ele vem vestido de desejo." Ela apertou os lábios, respirando fundo, e por um segundo achei que ela fosse me empurrar de novo. Mas não. Seus olhos varreram meu rosto, do meu olhar até minha boca, e voltou a me encarar com aquele desafio ardente. — "Então, Máximo... me odeie. Me deseje. Me destrua. Mas não finge que eu sou invisível. Porque nem você acredita nessa mentira." Soltei sua cintura com brutalidade, como se ela queimasse na minha mão. Dei dois passos pra trás, passando as mãos no cabelo, cerrando os olhos. — "Você é uma maldição na minha vida, Serena." — disparei, encarando-a. — "E que Deus me perdoe... mas parte de mim já quer te possuir, só pra te ensinar que brincar com fogo... tem um preço alto demais." Me virei, saindo dali antes que fizesse uma loucura. Antes que aquele desejo misturado ao ódio me fizesse cruzar linhas que eu sabia... seriam impossíveis de voltar atrás. E enquanto meus passos se perdiam pelo corredor... só conseguia pensar no toque dela, no cheiro dela, na boca que eu não beijei... e que já me assombrava.