Uma noite. Um desconhecido. Um segredo que mudará tudo. Luna viajou para Veneza a trabalho, sem imaginar que um jantar fora da agenda mudaria seu destino para sempre. Ele estava lá: um homem alto, misterioso, olhar intenso e um sotaque que arrepiava sua pele. Uma noite foi suficiente para incendiar seus corpos e deixá-la com muito mais do que lembranças. Ao amanhecer, ele desapareceu — deixando apenas o perfume e uma gota de sangue no chão. Sem saber seu nome ou quem ele realmente era, Luna decide seguir em frente... até descobrir que carrega dentro de si um pedaço daquela noite. Anos depois, ele volta a cruzar seu caminho. Mais poderoso. Mais perigoso. E ainda sem saber que é pai. Mas quanto tempo Luna conseguirá esconder a verdade? E o que acontecerá quando esse homem, capaz de queimar o mundo por ela, descobrir que tem um herdeiro? Prepare-se para um romance intenso, cheio de desejo, segredos e reviravoltas — onde o amor e o perigo caminham lado a lado.
Ler maisSe você acha que viajar para Veneza é sinônimo de romance, gondoleiros cantando e eu sorrindo com uma taça de vinho, parabéns: sua imaginação é patrocinada pela indústria do cinema. A minha experiência foi um pouco diferente. Digamos… planilhas, investidores, um inglês técnico cheio de siglas e a sensação constante de que eu estava vendendo não só a minha empresa, mas também minha alma em suaves prestações.
E o mais irônico? Veneza era meu sonho de adolescência. Eu só não tinha previsto que o realizaria assim: sozinha, exausta, e tentando impressionar um grupo de homens engravatados que não sabiam pronunciar “Luna Navarro” sem transformar meu sobrenome em um novo dialeto.
Três dias inteiros de reuniões, apresentações e jantares corporativos em que eu sorria tanto que minha bochecha já estava prestes a pedir demissão. No hotel, minhas noites eram divididas entre relatórios intermináveis e a companhia nada sexy do café frio da recepção.
Até que, naquela noite, tudo mudou.
A culpa, claro, foi da Mariana. Minha melhor amiga, sócia e autoproclamada coach de vida.
— Você deveria sair. Nem que seja só para respirar algo diferente de ar-condicionado e ansiedade, — ela tinha dito por chamada de vídeo, direto de São Paulo, enquanto tomava chá no escritório. — Luna, você tá em Veneza! Pelo amor de Deus, vai viver um pouco. Ninguém lembra da planilha que você apresentou, mas todo mundo lembra da vez que se perdeu em uma rua estreita com cheiro de pizza.
Ela sempre exagerava, mas tinha razão. Por isso, quando um dos anfitriões do evento sugeriu um restaurante “para poucos”, escondido em alguma viela fora do circuito turístico, eu aceitei. Era isso ou enlouquecer no quarto do hotel revisando pela milésima vez os números do fluxo de caixa.
Caminhei pelas ruas estreitas sentindo o cheiro de maresia misturado ao de pão recém-assado vindo das janelas abertas. Em cima, lençóis brancos pendurados em varais balançavam com o vento, como se até eles vivessem melhor que eu. Me perguntei se era romântico ou só o caos logístico de morar em uma cidade que flutua.
O restaurante ficava atrás de uma porta de madeira escura, com a tinta descascada e uma lanterna antiga que piscava como se estivesse prestes a desistir. Lá dentro, paredes de pedra, toalhas bordadas, castiçais de ferro e um violino tocando baixinho em algum canto. Tudo parecia saído de um filme de época, um filme em que eu claramente estava com a roupa errada.
E então eu o vi.
Encostado no balcão, de costas para a luz. Alto. Barba por fazer. Cabelos negros perfeitamente desalinhados, como se tivesse demorado vinte minutos para deixá-los no ponto exato do “acordei assim”. Ombros largos sob um terno escuro que parecia caro demais para aquele cenário. Ele parecia não pertencer ali. Parecia não pertencer a lugar nenhum, na verdade. E talvez esse fosse o problema: homens assim não pertencem, eles dominam.
Meu olhar ficou preso nele antes mesmo de a minha mente gritar “perigo!”. E, claro, foi nesse exato instante que o garçom decidiu me conduzir direto para o balcão. Perfeito. Nada como ser pega encarando um desconhecido como uma adolescente que acabou de descobrir séries coreanas.
Ele me viu. E quando nossos olhares se encontraram, o restaurante inteiro pareceu silenciar.
— Se for vinho tinto, escolha o da casa. O branco deles é amargo demais. — A voz veio baixa, segura, em português… com um sotaque leve, quase imperceptível, que soou como promessa e alerta ao mesmo tempo.
Sorri de lado, tentando disfarçar o nervosismo.
— Só quando elas parecem precisar de uma desculpa para quebrar as próprias regras.
Eu ri. E, pela primeira vez em dias, foi um riso genuíno.
Sentamos lado a lado. Ele pediu vinho tinto, eu pedi ravioli (porque o estômago estava no modo greve de fome forçada).
— Você sempre janta sozinho? — perguntei, em tom leve.
— Só quando vale a pena. — O olhar dele se prendeu ao meu por tempo suficiente para me fazer esquecer o cardápio. — E hoje vale.
— Como pode ter tanta certeza? — provoquei.
Ele sorriu de canto, como quem já sabe o resultado do jogo.
E foi assim: conversamos sobre Veneza, sobre música, sobre vinho… mas também havia outra conversa acontecendo, sem palavras. A cada olhar, a cada pausa longa demais, o subtexto era mais forte do que qualquer diálogo.
Não me pergunte como aconteceu. Mas, quando percebi, já estávamos no meu hotel.
O quarto parecia outro universo. Não havia mais violino, nem garçons, nem taças de vinho. Só o som abafado da porta se fechando atrás de nós e a respiração dele, próxima demais, aquecendo minha pele.
Fiquei parada, observando-o como quem encara um perigo irresistível. Alto, ombros largos, presença que preenchia cada centímetro do espaço. A camisa escura aberta no primeiro botão revelava um traço de pele bronzeada. Os olhos, escuros e intensos, me analisavam como se fossem predadores decidindo o melhor momento para atacar.
Ele não perguntou nada. Não sorriu. Apenas me olhou como se soubesse que eu iria até ele. E fui mesmo.
Soltei os sapatos devagar, mas antes que pudesse dar o segundo passo, ele encurtou a distância e tomou posse do espaço entre nós. Segurou meu rosto, os dedos firmes no meu queixo, me obrigando a encará-lo. Então me beijou. Sem aviso, deslizou sua língua na minha, preenchendo minha boca. Seu hálito quente de vinho me deixando meio zonza. Um beijo profundo, que me fez esquecer como respirar.
Senti o peso dele contra o meu corpo, a dureza inconfundível pressionando meu abdômen, e meu corpo reagiu antes que minha mente processasse. Ele me ergueu com facilidade, minhas pernas se encaixaram automaticamente em volta do quadril dele. O contato arrancou de mim um arrepio inteiro.
Fui deitada no colchão, e em um segundo meus pulsos estavam presos acima da cabeça, só para que eu soubesse que ele podia. As mãos dele deslizavam firmes pela lateral do meu corpo, subindo meu vestido sem cerimônia.
— Você é minha essa noite — murmurou contra minha boca, a voz grave, quase um comando.
Não havia espaço para dúvidas.
Horas depois, exausta e entregue, ouvi a voz dele perto do meu ombro:
Sorri de olhos entreabertos.
Ele riu, baixo, um som que parecia quebrar alguma barreira dentro dele.
E dormimos. Juntos. Como se não fôssemos dois estranhos.
Quando acordei, ele já não estava mais ali. O travesseiro ainda tinha a marca da cabeça dele, os lençóis estavam amassados, o quarto silencioso demais. Nenhum bilhete. Nenhuma pista. Apenas o cheiro dele no ar, perfume amadeirado, couro e tabaco.
E então vi a pequena mancha no chão.
Perto da poltrona onde ele jogara o paletó: uma gota seca de sangue.
Meu coração disparou. Toquei com os dedos, sentindo a textura áspera. Ele havia ido embora rápido. Talvez às pressas. Talvez ferido.
Encostei na parede, fechei os olhos e respirei fundo. Tentei lembrar se ele parecia ferido, mas tudo estava borrado pelo vinho e pelo desejo.
Apesar de não saber praticamente nada sobre aquele homem, uma certeza me dominava: algo nele era perigoso.
Olhei pela janela. A cidade acordava devagar, os canais encobertos por uma névoa dourada.
Mas dentro de mim, algo já tinha mudado.
E eu ainda não fazia ideia do quanto.
Se houve um momento em que eu entendi exatamente quem era Enzo Bellini, foi naquela madrugada. Não foi nos golpes calculados, nas ordens em italiano, na rede invisível que se movia quando ele dizia “agora”. Foi no instante em que a localização do vídeo do Santino piscou no painel e ele acelerou sem olhar para trás.A rota nos levou para fora da cidade, por uma estrada de terra. Luigi, em outro carro, mantinha o perímetro. Dois homens de Enzo vinham atrás, faróis apagados. Eu praticamente não respirava. O vídeo do meu filho preso na memória, como se minha cabeça tivesse virado uma tela que não desligava.— Fica comigo, Luna — ele repetiu, uma vez, como se isso fosse suficiente para manter meus pés no chão.Quando dobramos uma curva, surgiu uma casa de veraneio de muros altos e portão de ferro. Enzo cortou os faróis; paramos a uns cinquenta metros. Luiz enviou no grupo: câmera lateral confirmada, dois homens no pátio, um no corredor, luz acesa nos fundos. Enzo assentiu com a cabeça.— V
As sirenes distantes ecoavam, misturadas ao ronco do motor. Eu estava sentada ao lado de um homem que não era apenas investidor, nem apenas pai. Ele era algo que sempre esteve ali, escondido nos cantos que eu evitava enxergar. E agora era exatamente esse homem — com toda sua sombra — que corria atrás do meu filho.— Enzo… — Minha voz saiu quebrada. — E se… e se ele…— Não termina a frase. — A resposta foi firme, quase um corte de faca. — Ele vai voltar para nós. Eu juro.Antes que eu pudesse retrucar, ele ligou para outro número. O italiano disparado preenchia o carro. Eu não entendia as palavras, mas o ritmo era de guerra declarada.Meu pensamento me traiu.— Eles levaram o Santi porque você mexeu com a Chiara, não foi?Ele não tentou negar.— Foi. — A admissão caiu como um soco. — Ela atravessou todos os limites.Eu apoiei a cabeça contra o vidro frio da janela. O peito doía tanto que respirar parecia errado.— Eu não acredito que isso chegou nesse ponto.Ele não respondeu. O GPS do
Enzo saiu do celular com um rosto que eu só tinha visto uma vez no hospital, quando Santino teve febre alta e ele tentou esconder que estava com medo. Ele agarrou minha mão, firme, e me puxou para perto do peito.— Agora você respira comigo — disse, quase encostando a testa na minha. — Respira, Luna.Eu tentei. O cheiro do cabelo de Santino ainda estava na minha blusa, misturado com o cheiro do parque. Era como tentar respirar debaixo d’água.— O que significa essa localização? — perguntei, mostrando a tela.— Que talvez estejam com a Camila ou só estão testando a nossa reação. — Ele já estava discando para Luigi. — Mas não vão t
— Eu vou acabar com isso — disse. — Mas eu quero fazer sem te expor mais. Sem fazer de você um alvo em praça pública. — Não precisa disso.— Precisa sim e já estou resolvendo. — Ele pegou o telefone e falou por comando de voz. — Luigi, nível três. Família D’Angelo: cancelar convites e retirar todos os acessos. — Olhou para mim enquanto dizia a última frase: — E prepara o dossiê para o pai dela. Hoje.Eu sabia o que aquilo significava: custo político, econômico e, provavelmente, pessoal. Não me deu alívio. Me deu foi medo de qual seria o troco, porque sempre há volta quando se tenta tirar poder de quem vive dele.— E se ela responder da pior forma? — perguntei.— Eu mostro todas as provas. — Ele me encarou. — E, se for preciso, respondo com força também.— Não quero você nisso por nossa causa — falei, baixando a voz. — Não assim.— Tarde demais. Já estou nessa.O trânsito desacelerou. O semáforo fechou. Ficamos presos num cruzamento. Enzo apoiou a mão no câmbio e, sem pensar, eu cobri
Quando o elevador abriu no subsolo, Enzo já estava com a chave do carro na mão e o maxilar tenso. Eu fui atrás. Não fazia sentido, mas ficar parada fazia menos ainda. — Liga para a Camila — ele disse, atravessando o saguão sem olhar para trás. — Já liguei — respondi, acompanhando o passo dele. — Caixa postal. — A escola? — Tentando. — Mostrei a tela: chamada em andamento, “ocupado”. Ele apertou o alarme do SUV, e o som curto cortou o ar do estacionamento. Entramos. O motor respondeu na primeira tentativa, e a arrancada foi firme. Eu segurei o cinto com uma mão e, com a outra, continuei discando para qualquer pessoa que pudesse me devolver o controle de alguma coisa. — Você tem certeza do que a Vanessa viu? — perguntei, mais para manter a cabeça ocupada do que por dúvida real. — Tenho. — Ele passou para a faixa da esquerda. — E vou ter mais em minutos. — “Mais” significa o quê? — Provas. — O olhar dele foi rápido para o meu, antes de voltar à rua. — E, se necessário, v
Ele sorriu, mas não o suficiente para aliviar meu peito. Por um momento, ficamos perto demais. Nada aconteceu: meu pulso desacelerou no ritmo da respiração dele; meus ombros relaxaram meio centímetro quando o braço dele encostou de leve no meu. Eu devia me afastar. Não me afastei.— Precisamos falar com a revista — Vanessa interrompeu pelo lado, eficiente como sempre. — Eles querem uma entrevista gravada. Agora.— Eu vou — respondi, automática.— Eu vou junto — Enzo acrescentou, automático também.— Não precisa — falei, num reflexo que doeu. Eu sabia por quê: cada imagem ao lado dele era gasolina em qualquer fogo que Chiara quisesse acender. — Eu faço.Ele mediu meu rosto como se tivesse ouvido o pensamento exato.— Tudo bem — disse. — Mas eu fico na sala ao lado.Fui conduzida ao estúdio improvisado. O jornalista técnico estava animado. Amava gráficos. Amava derrubar boatos com termos chatos. Me fez perguntas boas. E, no meio da entrevista, quando uma notificação apareceu no monitor d
Último capítulo