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Capítulo 6 – O Convite Irrecusável

O relógio do computador marcou 18h02 quando decidi encerrar o dia. Eu precisava ir embora antes que Enzo resolvesse aparecer pela porta de vidro com outra “conversa rápida”.

Fechei as abas do navegador, salvei o último arquivo e comecei a guardar minhas coisas.

— Vai tentar escapar pela escada de incêndio? — Vanessa encostou no batente, segurando um copo de papel. — Ou vai fingir que esqueceu o celular para não pegar o elevador com ninguém específico?

— Eu só quero um final de expediente normal — respondi, tentando soar leve. — Buscar o Santino, jantar, banho, cama. Nada de interrogatórios.

Ela me mediu com cuidado. 

— Ele está te testando.

— Eu sei. E eu estou fazendo o possível para que as coisas não “desandem”.

Enfiei a pasta na bolsa e respirei fundo. Estava pronta para levantar quando o reflexo no vidro denunciou a aproximação de alguém. Vanessa endireitou o corpo. Eu não precisei olhar para saber.

— Boa noite, Luna. — A voz grave cortou o silêncio da sala. — Um minuto?

— Eu vou… resolver um negócio na recepção — Vanessa disse, e desapareceu antes que eu pudesse segurá-la.

Enzo ficou na porta, me encarando. Gravata afrouxada, mangas dobradas. Detalhes que me reacendiam lembranças.

— Já estamos fora do horário — falei. — Amanhã posso te enviar o relatório com os ajustes no cronograma.

— Não é sobre o cronograma. — Ele deu dois passos para dentro. — É sobre nosso jantar hoje.

— Não posso.

— Compromisso?

— Compromissos. — Corrigi. — E não misturo trabalho com vida pessoal.

Ele inclinou a cabeça, como se registrasse a frase.

— Você disse isso da última vez. Eu respeito. Mas também sei quando uma regra está sendo usada como barreira.

— Às vezes, regras só são… regras.

A ponta de um sorriso.

— Enfim, não vim para discutir. Vim insistir. Jante comigo. Podemos conversar sobre o projeto.

Eu queria dizer não e encerrar o assunto. Ao mesmo tempo, sabia que negar indefinidamente só o faria continuar. 

— Não hoje — respondi, firme. — Tenho que buscar meu filho… — Minha voz falhou. Corrigi de imediato: — Tenho que buscar… minha mãe no médico.

O silêncio que se seguiu foi dilacerante. Ele não piscou. Apenas observou a alteração como quem encontra um rastro. 

— Entendo — disse, por fim. — Amanhã?

— Amanhã é pior.

— Depois de amanhã, então. — Deu de ombros. — Escolha o lugar. 

Segurei o fôlego. Ele não ia largar.

— Por que isso é tão importante para você?

— Porque gosto de ter certeza de quem está ao meu lado — respondeu sem piscar. — Nos negócios… e fora deles.

— Estamos falando de negócios.

— Estamos. — Ele se aproximou mais um passo. — E de algo que eu não consigo… localizar.

Minha pele se arrepiou. Eu sabia que ele sentia. Não sabia quanto.

— Você não precisa localizar nada — retruquei. — Precisa apenas aprovar entregas, conferir metas e liberar pagamentos.

— E, ainda assim, houve um dia em que você não controlou a própria agenda. — A frase veio calma, mas me atingiu como um golpe.

— Está sugerindo que nos conhecemos fora daqui?

— Estou sugerindo que não esqueço rostos. — O olhar dele prendeu o meu. — E o seu não é um rosto que se esquece.

Minha respiração ficou curta. Eu precisava sair daquela sala com a minha versão intacta.

— Eu preciso mesmo ir — falei, pegando a bolsa. — Minha “mãe” me espera.

Ele ignorou a ironia. 

— E eu espero sua confirmação do jantar.

Passei por ele, mas ele não abriu mais espaço do que o necessário. O perfume dele era o mesmo de cinco anos atrás. Inspirei fundo. Eu detestei reconhecer. 

O som do elevador se abrindo ao fundo me salvou.

Contornei-o e saí. Senti os olhos dele nas minhas costas até o fim do corredor. O coração batia descompassado, mas eu tinha um objetivo: desaparecer. Busquei o celular para chamar um carro quando o ícone de mensagem acendeu:

Desconhecido.

Quarta-feira. 20h. Sem desculpas.

Nenhuma assinatura. Mas não precisava. Eu já sabia quem era.

Desci com Vanessa. No elevador, ela me estudou.

— Vai?

— Não quero. — Resposta imediata.

— Se você disser não para sempre, ele vai insistir cada vez mais — ela ponderou. — Se for, vá preparada. E, Luna… não olhe para a boca dele.

Eu ri. Ela tava certa.

— Obrigada pela dica científica.

— Eu juro que funciona.

No térreo, nos despedimos. No caminho até a saída, tentei organizar uma estratégia, mas a fala de Chiara me veio como uma lâmina. Eu tinha esquecido dela por alguns minutos, e isso nunca era bom.

Cheguei em casa exausta. Santino correu até mim. Abracei meu filho com força. Depois do banho e do jantar, coloquei-o para dormir e peguei o celular. A mensagem ainda piscava. Eu podia bloquear. Eu podia dizer não. Eu podia… aceitar e determinar as regras.

Escrevi: Quarta, 20h. Uma hora. Em local público. Vou escolher o restaurante.

Enviei antes que a coragem mudasse de ideia.

A resposta veio em menos de um minuto: Combinado.

—--

Na quarta-feira, trabalhei como quem se prepara para um acontecimento. Revisei contratos, alinhei com Vanessa os próximos passos, deixei e-mails agendados e passei instruções claras sobre qualquer urgência enquanto eu estivesse “em reunião externa”. 

Às 19h20, recebi outra mensagem: Estou no carro. Envie o endereço.

Respirei fundo, mandei o local — um restaurante discreto —, e saí. No espelho do elevador, ajeitei o cabelo, conferi o batom, ordenei meu rosto.

Cheguei cinco minutos antes e pedi uma mesa no canto. Quando olhei para a porta, ele já vinha. Sem gravata, blazer aberto. Eu vou precisar ser forte. O garçom nos conduziu, e eu agradeci com um aceno. 

— Obrigado por vir — disse Enzo, acomodando-se. — Eu sei que não foi fácil dizer sim.

— Não foi mesmo.

— Ótimo. — Ele sorriu de canto. — As coisas que importam nunca são.

Revirei os olhos e sorri. Ele estava se divertindo.

O garçom veio, fiz meu pedido rápido: uma salada e um suco. Ele pediu um prato que eu não registrei. Eu só queria que aquele jantar passasse rápido.

— Vou ser direto — começou. — Você mente mal.

— Eu não menti.

— A maior parte das pessoas diz isso quando mente. — Ele apoiou os dedos no copo. — Somos sócios e eu estou tentando entender por que o seu rosto me dá uma sensação de que conheço você a muito tempo. 

— Talvez você me confunda com alguém.

— Impossível. — A voz dele ficou mais baixa.

Minha garganta secou. Eu o encarei.

— Você deveria cuidar do seu noivado — respondi, precisa.

— Meu noivado não precisa de cuidados. — A afirmação veio sem emoção, posso dizer que até um pouco de desdém. — O meu trabalho é reconhecer ativos valiosos. Estou tentando entender o seu.

— Eu não sou um ativo.

— Não disse que era. — Ele inclinou a cabeça. — Eu disse que você é valiosa.

As comidas chegaram. Comi pouco; ele quase não tocou no próprio prato. A conversa seguiu. Quando a conta foi pedida, eu me levantei antes dele.

— Obrigada pelo jantar.

Ele também se levantou. Ficamos frente a frente, ele se inclinou um pouco, como se não quisesse que ninguém além de mim ouvisse, e sussurrou:

— Que a gente já se viu antes, eu tenho certeza… mas a questão agora é que estou decidido a lembrar cada detalhe.

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