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Capítulo 3 – Cinco anos depois

Cinco anos.

Esse é o tempo desde Veneza. Desde que acordei sozinha naquele quarto de hotel. Desde que descobri que estava grávida.

Hoje, minha vida gira em torno de um garotinho de cinco anos com olhos castanhos claros e um sorriso que consegue desmontar qualquer problema. Santino acorda todos os dias com a energia de quem acha que pode mudar o mundo — e, de certa forma, muda o meu.

— Mamãe, você colocou dois pedaços de queijo no meu sanduíche? — ele perguntou, aparecendo na cozinha com o uniforme meio torto e o cabelo que parecia ter brigado com o travesseiro.

Sorri, terminando de fechar a lancheira. — Coloquei três, chefão. Assim você aguenta até a hora do almoço.

Ele sorriu satisfeito e correu para pegar a mochila. Essa energia… essa alegria… é o que me lembra todos os dias que, apesar das dificuldades, a gente se vira. Sempre.

Minha rotina é um malabarismo: mãe solo, empreendedora, tentando não enlouquecer. E hoje era um daqueles dias em que tudo parecia importante e urgente.

— Preparada para o grande dia? — Vanessa entrou na cozinha segurando um café, como quem entrega uma arma carregada.

— Preparada não é bem a palavra… — peguei a xícara, grata. — Se eu não desmaiar antes de apresentar, já é lucro.

— Desmaiar? — ela riu. — Você trabalhou nesse pitch como se fosse salvar o planeta. E, considerando nossa startup, não é nem exagero.

Vanessa é mais do que amiga. Está comigo desde antes de Santino nascer. Nos últimos anos, se tornou sócia e meu apoio em absolutamente tudo.

Depois de deixar Santino na escola, prometi que o buscaria mais cedo para irmos ao parque. Ele saiu correndo pelo portão com aquele aceno rápido, sem nem imaginar que minha cabeça estava a mil.

No carro, Vanessa ajeitou meus papéis. — Hoje é só mais uma reunião. A diferença é que eles têm o dinheiro e nós, a solução.

— Só isso? — ironizei.

— Só isso — ela sorriu.

O prédio da sede do grupo investidor parecia saído de uma revista. Vidro por todos os lados, recepção minimalista, segurança discreta. O tipo de lugar que respira confiança.

No elevador, Vanessa ajeitou meu blazer. — Lembra, Luna: eles precisam da gente tanto quanto a gente precisa deles.

Assenti, tentando disfarçar o frio na barriga.

Entramos na sala de reuniões: ampla, moderna, com uma mesa de vidro ocupando o centro. Cumprimentei alguns empreendedores, me sentei e respirei fundo.

Foi aí que aconteceu.

Aquele arrepio. Como se o ar tivesse mudado. Olhei para a porta. Ele entrou. Reconheci na hora e agora finalmente sei seu nome.

Enzo Bellini.

Meu coração falhou. Ele estava exatamente como me lembrava — talvez mais. O cabelo mais curto, o terno impecável, o olhar intenso que parecia atravessar qualquer pessoa. E aquela forma de andar imponente… impossível de confundir.

Senti minhas mãos suarem, a respiração encurtar. O ambiente inteiro pareceu encolher.

— Tá tudo bem? — Vanessa perguntou baixo, percebendo minha tensão.

— É ele… — minha voz saiu quase sem som.

— Ele…? — ela começou, mas parou ao seguir meu olhar. — Meu Deus…

Enzo foi até a cabeceira da mesa. Cumprimentou os presentes com apertos de mão firmes e um sorriso controlado. Postura de quem sabe exatamente o poder que carrega.

Quando nossos olhares se cruzaram, senti o estômago revirar. Nada. Nenhum reconhecimento.  Ele me olhou como olharia para qualquer outra pessoa. Como se eu fosse só mais uma na sala.

— Obrigado por estarem aqui hoje — disse, com aquela mesma voz grave que ecoou no meu ouvido cinco anos atrás. — Vamos direto ao ponto.

Sentei mais ereta tentando manter a postura. Vanessa, ao meu lado, colocou a mão sobre a minha como um lembrete silencioso para eu não me perder.

Enquanto ele falava sobre o propósito do encontro e apresentava a equipe, minha mente se dividia: a profissional que precisava focar na reunião e a mãe que sabia que o homem à minha frente era o pai do meu filho.

Não consegui evitar pensar em Santino. No sorriso, no jeito curioso de observar o mundo… e nas semelhanças que agora pareciam gritantes.

— Luna Navarro? — a voz dele cortou meus pensamentos.

— Sim. — levantei, sentindo o peso do seu olhar.

Fui até o projetor, respirei fundo e comecei. As palavras saíam, mas cada frase parecia exigir mais esforço. Eu me obriguei a manter o tom firme, a olhar para todos, e não só para ele.

Quando terminei, recebi alguns acenos de aprovação. Ele agradeceu, passou para o próximo, e seguiu a reunião como se nada tivesse acontecido. Voltei para meu lugar ao lado de Vanessa tentando processar tudo que estava acontecendo.

Assim que a reunião terminou, peguei minha pasta, tentando esconder o caos que latejava dentro de mim. Cada passo até a porta ecoava junto ao som acelerado do meu coração e ao turbilhão no estômago. Parte de mim esperava ouvir meu nome…

No corredor, ele passou por mim. Não parou. Não desviou o olhar. Apenas seguiu.

Mas eu senti o mundo girar. O pai do meu filho estava ali. E não fazia ideia.

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