Nunca fui boa com regras. Nem com limites. E, muito menos... com problemas disfarçados de homem. A vida já tava caótica o suficiente. Faculdade, trabalho, decepções amorosas e uma coleção de traumas afetivos que nem terapia dá conta. A última coisa que eu precisava era... dele. Zion Bellini. O filho do meu padrasto. O erro mais gostoso, perigoso e proibido que já passou pela minha vida. Um encontro improvável numa festa. Um beijo que não devia ter acontecido. E, no dia seguinte... surpresa: ele é o novo hóspede da minha casa. Dormindo no quarto ao lado do meu. Agora, cada olhar, cada provocação, cada aproximação é uma batalha entre o desejo e o caos. Porque a gente sabe que isso não pode acontecer... mas, sinceramente? A gente nunca foi bom em seguir regras. Bem-vinda ao jogo mais perigoso de todos. Onde o prêmio pode ser o amor... ou a destruição completa. E a pergunta que não cala: Como se desinstala um homem da própria vida?
Ler maisAlice Kim Laurent
Sol. Calor. Cheiro de café queimado vindo da cantina. Sons de risadas, vozes, passos apressados. E eu ali, fingindo que minha vida não estava desmoronando.
Caderno aberto, tablet do lado, lápis na boca e um trabalho me encarando de volta como se dissesse: “Nem tenta, garota. Sua cabeça está em outro lugar.” E estava mesmo.
Meu celular vibrava pela milésima vez no grupo da faculdade, mas ignorei. Até que, sem querer, a notificação do I*******m subiu na tela. E foi aí que meu mundo, oficialmente, foi pro caralho.
Uma foto. Bem no feed. Ele. Matheus. O ser humano que eu chamava de namorado há quase dois anos. Sorrindo. De mãos dadas. Com outra. E não era qualquer foto não. Era legenda apaixonada, coraçãozinho, "o amor da minha vida"...
Uma foto. Ele. Matheus. Dois anos juntos. Dois anos de planos, de "te amo", de "você é minha vida". Agora, sorrindo, de mãos dadas com outra. E a legenda? "Encontrei o amor da minha vida."
O amor DA MINHA VIDA, ELE ESCREVEU. PRA OUTRA.
— Você tá de sacanagem... — murmurei, apertando tanto o celular que quase trinquei a tela.
O peito apertou. A mão tremeu. O estômago virou. E, por dois segundos, achei que ia vomitar ali, no meio da sala.
Dois dias atrás, tínhamos tido uma discussão besta—"Alice, você tá exagerando"—e ele desapareceu. Nem mensagem. Nada. Só silêncio. E agora isso?
Era a colega de estágio. A mesma que ele jurou que era "só amiga" quando eu perguntei por que ele curtia todas as fotos dela.
— Alice... — Júlia jogou o corpo na cadeira ao meu lado, cheia de energia, e travou quando me olhou. — Que cara é essa?
Levantei os olhos, sem conseguir nem disfarçar. — O Matheus... — minha voz falhou. — Aquele desgraçado... tá namorando. E não sou eu.
Ela arregalou os olhos, puxou meu celular da mão e... — O QUE??? — gritou tão alto que metade da faculdade olhou. — Ele tá... MEU DEUS, ELE POSTOU ISSO??? PERA. ELE TÁ NAMORANDO A MINA QUE VOCÊ TINHA CIÚME???
— Postou. — Cruzei os braços, tentando segurar o choro, mas meu corpo tremia inteiro. — Era a colega de estágio que ele dizia que era “só amiga”.
— EU VOU MATAR ESSE FILHO DA... — Ela largou o celular, se levantando. — Ele já estava com ela antes. COM CERTEZA. Sério, Alice, bora agora na porta do estágio dele, bora tacar pedra, tinta, gasolina, fogo, C4, o que você quiser!
Segurei uma risada amarga, passando a mão no rosto. — Não. Não vou dar esse gostinho pra ele.
Ela se sentou de volta, respirando fundo, e cruzou os braços. — Tá. Então você vai fazer o quê?
Pisquei, sentindo aquele tipo de dor que arde na carne, queimar no peito e congela na barriga. — Eu? — Forcei um sorriso. — Eu vou... me arrumar. Me maquiar. Colocar a roupa mais curta que eu tenho e sair.
Ela arqueou a sobrancelha, pegando o espírito na hora. — É ISSO. É SOBRE. — Bateu palminha. — Festa. Hoje. Do curso de TI. O Vitor me chamou. E adivinha? Você vai comigo.
— Júlia, não... — Suspirei, segurando o riso. — Festa de nerd?
— Não começa. — Ela apontou o dedo na minha cara. — Onde tem nerd, tem homem fiel. Pelo menos é o que dizem... até eles beberem.
Revirei os olhos, mas o sorriso já escapava. — Onde vai ser essa palhaçada?
— No AP do Ícaro. Melhor amigo do Vitor.
— Aposto que vai ter LED piscando, notebook aberto rodando código e uma discussão se backend é mais importante que frontend.
Ela gargalhou. — E cerveja. E música. E... possibilidades.
Parei. Respirei. Senti a raiva. A dor. O gosto amargo da traição. E, pela primeira vez no dia, deixei um pensamento se instalar na minha cabeça: “Se ele não me valorizou... alguém vai.”
— Tá. Me manda o endereço. — Levantei, pegando minhas coisas. — Mas se eu me entediar, te largo lá e vou embora.
— Amém! — Júlia gritou, batendo palmas, quase fazendo coreografia. — Hoje você vai ressuscitar, mulher.
Meu celular vibrou. Mensagem da minha mãe: “Jantamos juntos amanhã? O Ricardo quer te apresentar o filho.”
Olhei. Revirei os olhos. “Filho? Desde quando ele tem filho?” Nem respondi. Se o universo tava no modo caos, deixa que venha tudo.
A noite caiu. E, quando abri meu guarda-roupa, sabia exatamente o que tava fazendo. Não era só roupa. Era armadura.
Top de renda. Calça preta justa. Jaqueta oversized. Delineado afiado. Batom vermelho. Unha vermelha. Olhei no espelho.
— Você não precisa de homem nenhum... mas hoje... — dei aquele sorriso de canto —... vai deixar um deles de joelhos.
A buzina da Júlia me chamou de volta pra realidade. Desci, entrei no carro, e ela quase bateu palmas:
— AAAH, MULHER! HOJE TU VEM PRO CRIME!
— Crime passional. — respondi, rindo. — Mas sem vítimas. Só sequelados emocionais.
O trajeto foi um misto de risadas, música alta e aquele frio na barriga. Quando paramos em frente ao prédio, meu radar de encrenca já gritava.
Subimos até o AP 302. Porta aberta. Música alta. Cheiro de álcool, suor, vida e promessas quebradas.
O cheiro de álcool, suor e promessas quebradas preenchia o apartamento. Luzes piscando, copos espalhados, gente dançando, gente rindo... e eu ali, tentando me lembrar de como se respira.
Até que, no meio do caos... meu corpo congelou.
Meus olhos bateram no outro lado da sala. E lá estava ele.
MATHEUS.
Sozinho. Sem ela. Sem a Clara. Sem o sorriso de comercial de pasta de dente que ele postou hoje de manhã.
O sangue ferveu. O corpo inteiro ficou tenso. E o mais absurdo? Ele me viu. E o desgraçado… sorriu.
Um sorriso debochado. Um sorriso do tipo “Ah, olha quem tá aqui...”.
— Você tá de sacanagem... — murmurei, apertando o copo na mão.
— Ai. Ai... não. Não acredito. — Júlia arregalou os olhos, segurando meu braço. — Alice... vamo embora. Sério. Não vale.
— Não. — Soltei. — Não. Eu não vou.
Endireitei a coluna. Levantei o queixo. E fui. Fui na direção dele como quem vai pra guerra. Como quem não teme mais nada, porque já perdeu tudo.
Ele cruzou os braços, me olhando de cima a baixo, e abriu aquele sorriso cínico.
— Nossa... nem esperou esfriar, né? — soltou, balançando a cabeça.
— Você tá falando o quê? — Arqueei uma sobrancelha, sorrindo daquele jeito que vem recheado de nojo, deboche e ódio.
— Se arrumou toda... só pra isso? Pra aparecer aqui? — Ele sorriu mais, olhando descaradamente pro meu corpo. — Tá desesperada assim, Alice?
O peito subiu. O sangue subiu. A mão formigou.
— Engraçado ouvir isso de quem me trocou numa terça e na quarta já tava postando declaração pra outra. — Cruzei os braços, mantendo o olhar firme. — Você é patético, Matheus. Patético.
Ele deu aquele passo pra frente, invadindo meu espaço.
— Você sempre foi exagerada, Alice. Sempre. Por isso que deu no que deu.
— Não. Deu no que deu porque você é um homem FRACO. Porque não teve coragem de terminar antes de me trair. — Minha voz saiu firme, cortante. — Porque você é aquele típico macho que gosta de manter a porta aberta, né? Comigo aqui segurando as pontas enquanto você ficava na putaria com a colega de estágio.
O olhar dele endureceu. O sorriso sumiu.
— Acha mesmo que foi fácil ficar com você? Com essa sua boca? Esse seu gênio de merda? Esse teu jeito de achar que é dona da razão?
— Você acha que é sobre ser fácil, Matheus? — Minha voz subiu. As pessoas começaram a olhar. — Você quer uma mulher fácil? Uma que abaixe a cabeça pra tua covardia? Parabéns. Achou. Ela tava lá. No teu colo. Enquanto eu acreditava em você, idiota.
O silêncio se instalou, pesado. Todo mundo olhando. Gente parando de dançar. Copo parando no meio do caminho.
Ele me encarou, olhos faiscando.
— Sabe o que é pior? Você tá aqui... bancando a fodona... mas eu sei que você me quer. Você ainda me quer, Alice.
Meu corpo inteiro travou. Por meio segundo, eu achei que ia socar ele. De verdade. Mas não. Eu não ia dar esse show. Não.
Respirei fundo. Cheguei perto. Muito perto. A ponto do nariz quase encostar no dele.
E soltei, com a voz mais fria, cortante e letal que já usei na vida:
— Matheus... você não é nem mais digno do meu desprezo. Você não vale nem a minha raiva. Nem meu ódio. Nem meu tempo. Nem meu nome.
Segurei o copo, virei a bebida, olhei ele nos olhos uma última vez e...
Sorrindo, soltei: — Sorte da Clara. Ela ainda não percebeu que pegou um LIXO..
Virei as costas. Saí. A perna tremia. O corpo inteiro tremia. Mas eu saí. Inteira. De cabeça erguida.
E foi nesse exato momento, no segundo em que respirei fundo pra tentar não surtar... que meu olhar cruzou com um dos garotos, provavelmente de TI. Encostado na parede, copo na mão, sorriso de canto, olhar pesado, intenso, perigoso.
Me olhando como se... como se tivesse acabado de ver o incêndio mais bonito da vida.
E, naquele instante, eu soube: Se o universo estava me destruindo... então que se prepare. Porque eu também sei brincar de caos.
E a noite... mal tinha começado
Alice Kim O relógio da parede fazia aquele tic-tac irritante. Quase duas da manhã. A casa no mais absoluto silêncio.Exceto pelo meu peito.Que estava gritando.Zion não tava em casa. Saiu horas atrás. Não disse pra onde. Não mandou mensagem. Nem sinal de vida. E eu?Fritando.— Idiota. — murmurei, andando de um lado pro outro pela sala, abraçando uma almofada no peito. — Escroto, babaca, tatuado do inferno.Peguei o celular pela milésima vez. Nada. Olhei pra porta. Nada. Deitei no sofá. Rolei. Levantei. Sentei de novo. Cada segundo que passava, mais eu me odiava por me importar. Mas... eu me importava. Aconteceu algo? Bebeu demais? Bateu a moto? Está com outra? A cabeça rodava. Uma espiral de pensamento tóxico, ansiedade e ciúme engolido.E quando eu já estava prestes a pegar o celular e sair atrás dele...TRANC.A maçaneta girou. A porta se abriu devagar.E lá estava ele.Zion.A jaqueta jogada no ombro. A camisa meio aberta. Cabelo bagunçado, cheiro de cigarro e bebida, os olhos v
Zion BelliniMe afastei da janela devagar, como se meu próprio corpo precisasse de tempo pra digerir o que tinha acabado de ver.Alice sorrindo pra aquele cara. Alice aceitando carona de um estranho de terno e charme importado. Alice… sendo gentil. Suave. Rindo.Com ele.Minha mandíbula ainda doía de tanto travar. Mas me obriguei a respirar fundo e fingir. Fingir calma. Fingir que não me importava. Fingir que não estava dois segundos de colocar esse inglês de terno embaixo do carro dele.Me joguei de novo no sofá, dessa vez com a postura mais relaxada que consegui forçar. Peguei meu celular, abri qualquer app só pra ocupar as mãos. Fiquei ali, de pernas esticadas, como se a vida estivesse perfeita e o mundo não estivesse em chamas.A porta se abriu.O som dos passos dela no corredor foi como chicote na minha pele. Eu sabia reconhecer. O jeito leve, despretensioso… mas hoje vinha com um toque diferente. Meio tenso. Meio culpado?Ela apareceu no batente da sala.— Oi… — disse, colocan
Alice KimA tarde na escola foi... longa.Crianças correndo, tintas voando, uma em mini colapso porque o pincel caiu no chão e, aparentemente, isso é motivo de luto em escala infantil.E eu? Eu só conseguia pensar numa palavra: Zion.A casa me esperava. Ele me esperava. E eu… fugi.Não literalmente — ok, talvez literalmente. Mas eu precisava de ar, precisava lembrar como era respirar sem sentir o cheiro dele grudado na pele.Peguei o caminho da praça. Aquela do centro, com bancos de pedra e uma sorveteria que sempre tinha fila.Comprei um casquinha de chocolate com flocos e me sentei debaixo da sombra de uma árvore.As crianças ao redor corriam. Casais riam. Pombos discutiam pão no chão.E eu ali. Sozinha. Fingindo que estava bem. Fingindo que não tinha um homem tatuado vivendo na minha cabeça como um hacker do meu juízo.Tomei um pouco do sorvete, respirei fundo, olhei pro céu.E então, sem nem pensar, puxei meu caderninho da bolsa. O de esboços. O mais velho. Aquele que eu só uso qu
Zion BelliniSabe aquele papo clichê de “a vida é uma merda”? Pois é. No meu caso, não é só um papo. É um roteiro. Eu aprendi cedo que o mundo não é um lugar feito pra quem espera coisas boas.Meu pai me ensinou isso. Não diretamente, claro. Porque pra ensinar, ele teria que estar presente. E presença nunca foi o forte do Ricardo Bellini.Ele me abandonou.Não só a mim, mas à minha mãe também. Deixou a gente quando ela mais precisou. Quando ela adoeceu… ele não tava lá. Não pra segurar a mão dela, não pra ajudar nas contas, não pra me ensinar a ser homem. Sumiu. Desapareceu como quem apaga um arquivo que não quer mais ver.E eu? Cresci assistindo minha mãe se esfarelar. Vi ela lutar, vi ela quase perder, vi ela se reconstruir sozinha. E tudo isso… com uma doença filha da puta rondando ela feito urubu.O que meu pai não sabe... é que cada mensagem que eu recebo, cada ligação que faz meu celular vibrar, vem carregada desse medo. O medo de que a doença volte. O medo de perder a única pess
Alice KimSubi pro quarto com Júlia logo atrás, andando rápido, quase tropeçando na própria ansiedade. Ela entrou, largou a bolsa na cadeira, cruzou os braços e me olhou como quem tá pronta pra invadir meu HD inteiro.— Senta. — Apontou pra cama. — E começa a falar. AGORA.— Sobre o quê? — fingi demência. Ativando todos os protocolos de negação possíveis e imagináveis.— NÃO VEM, ALICE! — Ela se jogou na cama, batendo a mão no colchão. — Você acha que eu sou burra? Que eu não saquei? O QUE O ZION ESTÁ FAZENDO AQUI? — Ela arregalou os olhos. — ZION, ALICE. O ZION! ELE MORAVA COM O VITOR! ELE É AMIGO DO MEU NAMORADO!Parei. Piscando. Travei. — Você... sabia disso?— ÓBVIO! — Ela jogou o corpo pra trás, olhando pro teto. — Zion é conhecido no rolê, Alice. Mister problema, sabe? Nunca namorou, nunca ficou sério com ninguém. A galera diz que ele é do tipo “entra, quebra tudo e some”. — Ela virou pra mim, olhos semicerrados. — E agora você me diz que ele mora... AQUI. COM VOCÊ.Engoli seco.
Alice KimMeus olhos seguiam ele pela cozinha como se ele fosse... sei lá... uma bomba-relógio prestes a explodir na minha cara. E, convenhamos, ele era. Zion era a materialização perfeita do colapso nervoso misturado com desejo carnal e arrependimento antecipado.Ele abriu a geladeira, pegou um suco qualquer, encostou na bancada, bebeu direto da garrafa — CLARO QUE BEBEU — e ainda teve a ousadia de me olhar por cima da borda.— Então... o que vamos fazer hoje, Alice? — perguntou, como quem fala sobre previsão do tempo.— Sobreviver. — respondi, cruzando os braços, me apoiando na parede, porque minhas pernas... ah, minhas pernas não estavam colaborando.Ele largou a garrafa, deu dois passos na minha direção e... pronto. Já era. Lá vem bomba.— Sobreviver? — A mão dele veio pra minha cintura, apertou, quente, firme, como quem já sabe que dali não sai ilesa. — Certeza que não quer... outra coisa? — sussurrou, roçando os lábios no meu pescoço, na mandíbula, quase, quase...Empurrei ele —
Último capítulo