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Capítulo 5 — E se eu só... Não me controlar?

Alice Kim

A mesa estava cheia. Barulhenta. Louca de risadas, pratos empilhados e comentários aleatórios sobre séries que ninguém mais assistia, mas todo mundo fingia que sim. Minha mãe estava animada. Meu padrasto, falante. Zion... calado.

Mas não calado de quem está alheio. Era aquele silêncio dele que fala. Que morde. Que arrasta o olhar como faca na pele. Ele ria baixo quando minha mãe dizia alguma coisa engraçada, mas não sorria com os olhos. E esses olhos... estavam em mim. O tempo todo. Como um raio-X. Como uma lembrança suja de tudo que aconteceu ontem à noite.

Eu fingia comer. Fingia escutar. Fingia existir.

Mas cada célula do meu corpo... estava consciente dele. Cada vez que ele mexia o garfo, respirava fundo, passava a língua nos lábios... Era tortura. E eu? Eu me perguntava quantas vezes mais conseguiria sentar naquela mesa fingindo que a gente não dividiu a cama. Que ele não tirou minha sanidade com as mãos. E com a boca.

— Isso aqui está maravilhoso. — disse meu padrasto, batendo levemente a barriga e se jogando pra trás na cadeira. — Já volto, vou buscar mais bebida... Alguém quer alguma coisa?

— Traz um vinho, amor. — minha mãe pediu, pegando o guardanapo. — E eu vou lá em cima ajeitar umas roupas no armário antes que eu esqueça.

Levantei os olhos. Devagar. E encontrei o olhar de Zion já me esperando.

Perigo.

Era isso. Ele era isso. Uma faísca acesa dentro de um barril de pólvora. E, por algum motivo masoquista, eu não queria apagar.

Nossos pais subiram. Os passos ficaram mais distantes. A voz da minha mãe se perdeu no andar de cima.

E então... só restamos nós.

O ar mudou.

O som da cadeira de Zion arrastando no piso foi como um disparo. Ele se levantou, pegou os pratos da mesa com a calma de quem sabe que controla a bomba-relógio. E eu? Eu fiquei ali, com o coração batendo no ritmo do fim do mundo.

Ele foi até a pia, abriu a torneira. A água caiu, barulhenta, cortando o silêncio como navalha.

Minhas mãos suavam.

— Quer ajuda? — minha voz saiu antes da minha consciência autorizar. Falha. Mole. Um “sim” disfarçado de pergunta.

Ele virou levemente o rosto, só o suficiente pra lançar aquele olhar de canto. O olhar que já vinha assinado, carimbado, selado: Se você vier... não sai a mesma.

— Vem. — respondeu. Grave. Rouco. Quente.

E eu fui.

Como se não tivesse aprendido nada. Como se meu corpo tivesse vida própria e o nome da desgraça tatuado na alma: Zion Bellini.

Me aproximei. Juntei os copos, fui até a pia. Fiquei ao lado dele.

Perto demais.

Ele lavava os pratos como quem não tava nem aí. Mas eu via. O ombro dele roçava no meu. A respiração dele esbarrava no meu pescoço. O calor do corpo dele fazia meu cérebro derreter.

Liguei a torneira, peguei um prato das mãos dele.

Nossos dedos se tocaram.

A descarga elétrica percorreu meu corpo tão rápido que eu quase deixei tudo cair.

E então... ele falou.

— Você está sempre assim?

Minha mão congelou no meio do sabão.

— Assim como?

Ele virou só um pouco, o suficiente pra me mirar.

— Meio... marrenta. Meio... deliciosa.

E foi aí que eu percebi: essa noite não acabou. Ela só estava começando de novo. Quase derrubei um prato. Juro.

— Você está sempre assim? — rebati. — Meio... inconveniente. Meio... irresistível?

O sorriso subiu no canto da boca dele. — Irresistível, é?

A mão dele passou na minha cintura. Na. Maior. Cara. De. Pau.

Apertou. Segurou. Me puxou de leve pra mais perto, só o suficiente pra minha respiração engasgar na garganta.

— Está dizendo isso por experiência própria... ou... — Ele não terminou. Não precisou.

O olhar dele mergulhou no meu. E, por um segundo — UM mísero segundo — o universo parou.

O som da água. O cheiro do sabão. As vozes dos nossos pais lá em cima, bem distantes. Tudo sumiu.

Só existia ele.

E eu.

E aquele espaço ridículo de sete centímetros que separava a boca dele da minha.

Ele passou a língua nos lábios, lento, maldito, indecente. — Tá tremendo, Alice.

— É o frio... — MENTIRA DESCARADA.

Ele segurou minha mão, levou até o peito dele, apertou ali, sobre o coração. O dele estava tão acelerado quanto o meu.

— Então somos dois... — sussurrou.

E antes que eu tivesse tempo de processar o que estava prestes a acontecer...

Ele me beijou.

Não foi um beijo tímido, hesitante, com dúvidas. Foi beijo de ataque. De quem não está mais disposto a esperar, nem disfarçar, nem fingir. A boca dele encontrou a minha com fome, urgência, e uma possessividade que me desmontou por inteiro.

Me empurrou de leve contra a pia, o quadril pressionando o meu. As mãos dele exploravam como se conhecessem todos os caminhos. E eu? Eu estava perdida. Inteira. Aflita. Entregue.

Meus dedos se enroscaram no cabelo dele, puxando, sentindo, reagindo.

— Zion... — tentei, no meio da falta de ar.

— Shhh... — ele murmurou, a boca deslizando do meu queixo pro meu pescoço. — Eles estão lá em cima. E a gente... aqui embaixo.

A língua dele tocou minha clavícula...

E foi quando...

PAH. O som de passos no andar de cima. Pesados. Vindo na direção da escada.

Meus olhos arregalaram. O dele também.

— Merda... — ele sussurrou, soltando minha boca, mas sem me soltar de verdade.

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