Alice Kim
A música eletrônica fazia meu peito vibrar. As luzes piscavam em neon, alternando tons de azul, roxo e vermelho. Meus olhos varriam o ambiente, completamente lotado de gente que falava basicamente uma língua própria: programação, códigos, redes e servidores.
Definitivamente não era meu habitat natural.
Mas, cá entre nós... quem liga?
A culpa inteira era da Júlia — minha melhor amiga e a maior cupida desocupada que conheço. Foi ela quem me arrastou pra essa festa. O namorado dela é do curso de TI e, segundo ela, “onde tem nerd, tem homem fiel”. Eu ri. Só queria uma bebida.
Peguei um copo, virei metade e me encostei na bancada, observando o caos social desenrolar. Até que senti.
Aquele olhar.
Forte. Incômodo. Invasivo.
Me virei devagar. E, quando vi, desejei não ter olhado. Ou talvez... desejei o contrário.
Ele estava lá. Encostado na parede, camisa preta, tatuagem meio escondida subindo pelo braço, cabelo levemente bagunçado como quem passou a mão enquanto pensava em sei lá o quê... e aquele maldito piercing prateado na orelha esquerda que brilhava cada vez que a luz batia.
Sério... que tipo de ser humano anda por aí com uma voz sem nem abrir a boca? Porque o olhar dele falava. Alto.
E, sim, eu encarei de volta. Óbvio. Não sou de baixar a cabeça pra ninguém.
Ele largou o copo, andou até mim. Reto. Sem desviar. Sem sorrir. Zero joguinhos.
Parou tão perto que eu consegui sentir o perfume — amadeirado, fresco, meio cítrico... quase perigoso.
— Você não faz TI — soltou, assim, sem nem respirar.
Arqueei a sobrancelha. — E você percebeu isso rápido.
O olhar dele passeou por mim, sem nenhum pudor. E eu senti. Na pele. No estômago. No corpo inteiro.
— Qual seu nome? — a voz dele era rouca, meio arrastada.
— Alice. E o seu? — segurei firme o olhar, tentando não parecer afetada. Tentando, ok?
— Zion.
A forma como ele disse me atravessou. Simples assim. Quase como se aquele nome tivesse peso, história, cicatriz.
— E aí, Alice... — ele cruzou os braços, o bíceps esticou, as veias saltaram e, bom... foco, garota, FOCO! — O que uma designer faz no meio de um monte de nerd?
Dei um sorriso de canto. — Como você sabe que faço designer?
Ele riu. Curto. Quase debochado. — Talvez eu já tenha te visto pela faculdade.
Arrogante. Pretensioso. E, droga... absurdamente atraente.
Ele me olhou, analisando. O olhar desceu, subiu, ficou preso no meu rosto, e então... arqueou uma sobrancelha, com aquele sorriso torto, perigoso, do tipo que deveria vir com um aviso de “Cuidado: risco de destruição emocional.”
— E também... — ele inclinou um pouco o queixo, me olhando com uma mistura de diversão e algo que eu não sabia se era pena, sarcasmo ou puro interesse —... não é todo dia que a gente vê um barraco desses logo na entrada da festa.
Travei. — O quê? — arregalei os olhos.
Ele deu um gole no próprio copo, encostou o ombro na parede e, com aquele olhar de quem lê código-fonte de gente, soltou:
— A sua treta com aquele cara... Matheus, né? — Ele sorriu de canto, mordendo o lábio inferior. — Foi... interessante.
O sangue inteiro subiu pra cabeça. — Você viu... aquilo?
Ele inclinou a cabeça, rindo. — Difícil não ver. Você chegou quebrando o sistema inteiro, Alice. Confesso... me chamou atenção.
Apertei o copo na mão. — Ótimo. — Cruzei os braços. — Então além de bisbilhoteiro, também é fofoqueiro.
Ele se aproximou mais, tanto que eu consegui sentir de novo aquele perfume — aquele maldito cheiro que parecia ter sido criado pra bagunçar meu juízo.
— Não. — Ele abaixou um pouco a voz, deixando rouca, mais grave, mais perigosa. — Só achei... fascinante. O jeito que você destruiu ele... com palavras. — Fez uma pausa, olhando pros meus lábios. — Me pergunto... se você é assim em todas as situações.
O corpo inteiro arrepiou.
— Talvez você descubra... ou não — rebati, fingindo mais segurança do que eu realmente tinha.
E ele riu. Baixo. Sexy. Provocante.
— Eu espero que sim. — Deu aquele meio sorriso torto. — Porque, se você faz amor do mesmo jeito que discute... então, Alice... — Ele chegou tão perto que nossos narizes quase se tocaram. — Você é uma ameaça.
Game over. Tela azul. Bug no sistema.
— Você sempre aborda quem invade seu território? — provoquei.
Ele se inclinou, abaixou um pouco a cabeça, aproximou a boca do meu ouvido, e eu juro... o universo inteiro deu tela azul.
— Só quando vale o risco. — A voz dele era uma promessa.
Engoli seco. Queria ter uma resposta rápida, afiada. Mas minha garganta falhou. Me limitei a pegar o copo, beber, e manter o olhar.
Ele sorriu de canto, como se soubesse exatamente o efeito que causava. E, olha... ele sabia.
— Vem — disse, apontando com a cabeça pra sacada. — Aqui tá barulhento.
E eu fui. Sem pensar duas vezes.
A noite lá fora estava fresca. O vento bagunçou meu cabelo e me trouxe uma falsa sensação de sanidade. Porque perto dele... não existia sanidade.
Ele acendeu um cigarro, tragou, soltou a fumaça devagar, olhando pro horizonte. — E aí, Alice... o que mais você gosta de quebrar além de regras?
Cruzei os braços, segurei o sorriso. — Algoritmos... e egos inflados.
Ele segurou a risada, balançou a cabeça. — Acho que você vai me dar trabalho.
— Só se você não souber jogar — rebati.
Ele me olhou. Firme. Profundo. Como quem decifra. Como quem desarma.
O celular dele vibrou. Ele puxou do bolso, olhou e franziu a testa. — Merda... preciso resolver um negócio.
Dei de ombros, fingindo não ligar. — Vai lá.
Mas, antes de ir, ele ficou me olhando. Um, dois... cinco segundos longos demais pra serem só casuais.
— A gente se vê, Alice.
Ele ia virar as costas. Juro que ia. Mas eu não sou santa. Nunca fui. Segurei no antebraço dele, puxei com firmeza. O olhar dele desceu pro meu toque, depois subiu, me encontrando de novo. O ar ficou pesado. O mundo inteiro pareceu pausar, feito bug de sistema.
— Se é pra dar trabalho... — minha voz saiu baixa, rouca, quase irreconhecível. — Que seja direito.
Zion não pensou duas vezes. Nem eu.
A mão dele veio na minha nuca, me puxando com força, colando a boca na minha como se fosse questão de vida ou morte. E, puta merda... que beijo.
Nada de selinho tímido. Nada de teste. Foi direto, intenso, urgente. Língua, dentes, lábios. Uma guerra deliciosa, desajeitada, quente, caótica. O gosto dele era álcool, cigarro e perigo. E eu queria mais.
As mãos dele desceram pras minhas costas, me colaram no corpo dele. E que corpo. Duro. Firme. Forte. Meu quadril bateu no dele, e a tensão era palpável. Química pura. Dinamite prestes a explodir.
Mordi o lábio inferior dele, só pra provocar. E ele riu, meio rouco, meio safado, apertando minha cintura como quem avisa: não faz isso que eu te jogo na parede agora mesmo.
— Você... — ele disse, entre um beijo e outro — vai... me... foder.
— Esse é o plano — rebati, segurando no colar da camiseta dele, puxando de volta pra mais um beijo, mais selvagem que o primeiro.
E foi ali que tudo perdeu o controle.
Zion apertou meu quadril, me virou, me prensando contra a parede da sacada. As mãos dele desceram, apertaram minha bunda, me ergueram como se eu não pesasse nada. Minhas pernas subiram, enroscaram na cintura dele.
O mundo inteiro deixou de existir. Só tinha nós dois. Só tinha aquela tensão, aquele desejo, aquele fogo que queimava tão alto que parecia queimar de dentro pra fora.
A boca dele desceu pro meu pescoço, mordendo, chupando, deixando um rastro que eu ia sentir no corpo e na alma por dias. Minhas mãos seguraram no cabelo dele, puxando, arranhando, pedindo mais, querendo mais.
— Me diz que isso não é loucura... — ele rosnou no meu ouvido, a voz rouca, pesada, quase dolorida de tanto desejo.
— É. — Respirei, arfando. — E eu não tô nem aí.
Zion me virou de novo, abriu a porta da sacada e me arrastou pra dentro, até encontrar o primeiro quarto vazio. Trancou a porta. Me olhou. E, sem dizer uma palavra, arrancou a própria camisa.
E, meu Deus... que visão. Tatuagens cobrindo o braço, descendo até a costela. Abdômen definido. Veias saltando no antebraço. Olhar faminto. Boca inchada do nosso beijo.
— Tira — ordenou, apontando pro meu top.
E eu tirei. Sem pensar. Sem hesitar.
As mãos dele subiram, apertaram meus seios com uma mistura de sede e reverência. A boca desceu, sugou, mordeu. Eu arqueei as costas, gemendo, perdida, entregue, fora de mim.
— Você é... — ele gemeu, mordendo meu ombro — tão fodidamente linda.
As mãos dele desceram, abriram minha calça, me livraram dela como quem rasga presente de natal. Em segundos, estávamos os dois praticamente nus, ofegantes, famintos.
Ele me deitou na cama, se posicionou entre minhas pernas, e me olhou. Aquele olhar que diz tudo. Que promete tudo. Que ameaça acabar comigo de um jeito que eu não sabia se ia sobreviver.
— Tem certeza? — perguntou, a voz falhando, o corpo inteiro tremendo.
Segurei o rosto dele, puxei, roçando nossos lábios, e respondi:
— Se você não fizer isso agora, eu te mato.
Ele riu. E, no segundo seguinte, me preencheu.
E, puta que pariu... nunca senti nada igual.
Foi urgente, intenso, desesperado. Corpo contra corpo. Pele contra pele. Mordidas, gemidos, arranhões, mãos apertando forte, como se quisesse gravar no corpo um do outro aquele momento.
O cheiro dele. O gosto dele. A voz dele rosnando meu nome no meu ouvido. O som do nosso corpo se chocando. As mãos dele segurando minha cintura, puxando, marcando.
Cada embate era uma resposta, cada gemido um desafio. Minhas unhas marcaram a pele dele, eu queria que doesse, queria que ele lembrasse. A cama batia na parede no mesmo ritmo caótico que a gente, e em algum momento eu percebi que estava gritando – não de dor, não de medo, mas porque ele tirava isso de mim, porque eu não conseguia segurar.
Zion mudou o ângulo, um movimento quase imperceptível, e eu vi estrelas. Meu corpo traiu tudo – pernas tremendo, unhas cravando, voz quebrada.
— Isso... porra... ISSO...
Ele me olhou então, realmente me olhou, enquanto me levava ao limite. E eu odiei como aquele olhar me fez sentir descoberta, como se ele visse tudo que eu tentava esconder.
Quando o orgasmo chegou, foi como ser jogada de um penhasco. Incontrolável, violento, glorioso. Eu me contraí em volta dele, e ele gemeu meu nome como uma maldição antes de seguir meu exemplo, enterrado até o fim dentro de mim.
Ficamos assim por séculos, ou talvez cinco segundos.
Quando ele rolou pro lado, a primeira coisa que eu fiz foi rir. Um riso sem graça, ofegante, meio desesperado.
— Que porra foi essa? — Zion perguntou pro teto, a voz ainda rouca.
Virei a cabeça pra olhar pra ele. Seu lábio estava sangrando. Eu não lembrava de ter mordido.
O silêncio que veio depois foi tão pesado quanto o barulho dos nossos gemidos minutos antes. Só o som da nossa respiração descompassada, dos nossos corações batendo desgovernados.
— Isso... — ele disse, arfando — não estava nos meus planos.
Virei, apoiei a cabeça no braço dele, também ofegante. — Nem nos meus.
Ele olhou pra mim. Olhos nos olhos. Como se, mesmo sem saber, a gente já soubesse: isso... isso não ia acabar aqui.