Mundo de ficçãoIniciar sessãoAyla Santana sempre lutou para proteger a irmã e a tia, até que Narin presencia um assassinato cometido por Emir Navarro, o homem mais temido da cidade. Para salvá-las, Ayla aceita a única condição que ele impõe: trabalhar para a família Navarro e viver sob suas regras, sem chance de fuga. Obrigada a conviver diariamente com Emir, Ayla descobre um homem frio, perigoso e impossível de enfrentar… mas também alguém que, inexplicavelmente, começa a protegê-la. A tensão entre os dois cresce, misturando ódio, atração proibida e uma guerra silenciosa que nenhum deles consegue controlar. Quando Ayla descobre que Emir está ligado à seu passado, tudo se quebra. Agora, entre ameaças, lealdades traídas e um sentimento que nunca deveria existir, ela precisa decidir: como amar o homem que pode ter destruído sua família? E como fugir do único homem que pode destruir seu coração?
Ler maisParte 1...
Ayla Santana
A gente aprende cedo que, em Nova Karam, nada vem fácil. Mas eu aprendi um pouco antes dos outros.
Aprendi quando perdi meus pais. Aprendi quando minha tia ficou doente. E aprendi, principalmente, quando percebi que, se eu não segurasse a barra, ninguém mais faria isso por mim, nem por Narin.
Era isso o tempo todo na minha cabeça naquela manhã cinzenta, enquanto corria para não perder o ônibus.
— Ayla, espera! - Narin gritava atrás de mim, tropeçando nos próprios cadarços. — Eu não alcanço você!
Olhei pra trás e ri sem querer. Era impossível ficar brava com ela.
— Corre, menina! – chamei com a mão. — O motorista não vai ter dó de nós hoje, não.
Narin veio toda atrapalhada, a mochila pulando nas costas, o rabo de cavalo meio torto.
— Eu tentei arrumar a tia antes de sair - ela disse, ofegante, quando finalmente me alcançou — Mas ela não quis levantar da cama. Disse que estava vendo meu pai pela janela.
Suspirei fundo. O coração deu aquela apertada que eu já conhecia bem.
— Ela está piorando - murmurei. — A gente precisa conversar com a médica de novo.
— Eu sei - Narin baixou o olhar. — Mas ainda acho que ela viu alguma coisa. Ela estava muito firme…
— Narim… - toquei o ombro dela. — A tia vê coisas. Sempre vê. Isso não quer dizer que é real.
— Eu sei - ela respondeu baixinho. — Mas dói igual.
Dói mesmo. Dói muito mais em mim do que eu deixo ela perceber. Porque a tia Salma foi tudo pra nós depois que o mundo virou pó.
Ela nos criou, alimentou, amou… Até que a doença começou a levar pedacinhos dela embora. E eu tive que segurar tudo com as mãos trêmulas de quem não estava pronta, mas não tinha escolha. Quando se tem que fazer, não se discute. Só faz.
Quando o ônibus parou, entramos espremidas entre gente suada, gente cansada e gente que, como nós, fingia que estava tudo bem. Nova Karam às vezes parecia feita só disso: gente fingindo. Narin me cutucou.
— Você vai sair tarde hoje?
— Provavelmente sim.
— Quer que eu faça janta?
— Não. Eu faço quando chegar.
— Ayla… Para. Você está exausta.
— E você tem prova amanhã - rebati. — Eu faço. Sem discussão. Você estuda.
Ela fez aquela cara de irmã mais nova irritada, mas que por dentro sabe que eu estou certa.
— Você é chata - murmurou.
— E você é lenta. Agora desce, que é o seu ponto.
Ela saiu do ônibus fazendo careta, e eu fiquei observando pela janela até ela desaparecer atrás dos prédios antigos do bairro universitário.
Aquele pedacinho de chão era o que ela tinha conquistado com esforço, e eu faria qualquer coisa, absolutamente qualquer coisa, para que ela não perdesse aquilo.
Depois que o ônibus voltou a andar, apoiei a cabeça no vidro e soltei o ar devagar. Eu tinha dormido quatro horas.
Trabalhado em dois turnos no bar. E ainda precisava ir para o emprego principal, o laboratório onde eu recebia quase nada para fazer quase tudo.Mas reclamo? Não. Eu só ia e fazia. Sempre fiz. Porque alguém tinha que manter nossa casa de pé.
E esse alguém era eu.***** *****
Cheguei ao laboratório quinze minutos atrasada. De novo. Fazer o quê?
— Ayla, corre! - gritou Lídia, minha colega, acenando com luvas cirúrgicas. — A supervisora já rodou o setor. Se você não passar por ela agora, ela vai te engolir viva.
— Ótimo - murmurei. — Era tudo o que eu precisava.
Corri pelo corredor estreito e gelado, prendi o cabelo com um elástico improvisado e peguei o avental branco meio amassado. Quando virei a esquina, dei de cara com a supervisora.
— Santana. - ela me encarou por cima dos óculos, como se eu fosse um inseto. — Eu contei. De novo.
— Eu sei, eu sei - respondi, sem tentar inventar desculpa. — O ônibus…
— O ônibus sempre atrasa para você, né?
— Sempre - concordei, porque era verdade.
Ela bufou e empurrou uma prancheta nas minhas mãos.
— Já que chegou, comece pelo setor três. Está tudo atrasado.
— Sim, senhora.
Eu virei para entrar na sala quando ouvi Lídia sussurrar:
— Ela te odeia, Ayla.
— Não odeia - respondi baixinho. — Ela só gosta de sentir que tem poder. Eu já entendi o jogo dela.
— E você vai continuar deixando?
— Eu não preciso brigar por coisas pequenas. Tenho brigas maiores lá fora.
Lídia suspirou.
— Você é muito calma pra quem carrega o mundo nas costas.
Sorri de lado.
— Se eu não fosse calma, eu já tinha quebrado alguma coisa por aqui. – girei os olhos.
Ela riu.
— Verdade.
Enquanto colocava as luvas, pensei em quantas brigas eu já tinha engolido na vida. Quantas humilhações.
Quantas noites de sono trocadas por turnos duplos.Tudo para que minha família tivesse uma chance mínima de continuar inteira.
***** *****
Quando o turno acabou, já era noite.
Eu voltei para casa caminhando, porque o último ônibus tinha passado e eu não tinha dinheiro pra chamar carro.Nova Karam à noite era outra cidade.
As luzes douradas refletiam nas poças de chuva, criando caminhos que pareciam feitos de ouro falso. Os prédios altos lançavam sombras monstruosas nos becos, e o cheiro de especiarias vinha das ruelas onde gente vendia de tudo. Frutas, lembranças, falsificações, segredos.Eu morava no bairro mais simples da zona sul, onde tudo parecia meio improvisado, meio quebrado, mas era o que tínhamos.
Quando abri a porta do apartamento, ouvi a voz da tia Salma imediatamente.
— Ayla! Vi seu pai hoje! Ele bateu na janela e disse que vai entrar!
Narin apareceu da cozinha com a expressão cansada.
— Ela está assim desde as seis da tarde.
— Eu estou vendo ele, Ayla! - a tia insistiu, sentada na poltrona, mãos trêmulas. — Ele disse que precisa falar com você!
Ajoelhei na frente dela.
— Tia… Eu sei que parece real. Mas não é. - peguei suas mãos entre as minhas. — Ele não está aqui. Está só na sua lembrança.
Os olhos dela encheram de lágrimas.
— Mas eu queria tanto que fosse verdade…
Meu peito apertou.
— Eu sei, tia. Eu também.
Ela me puxou para um abraço fraco e quente, e eu fiquei ali, segurando o choro para não desabar.
Quando a soltei, fui até a cozinha.
Narin estava cortando legumes, mas do jeito errado, perigoso.— Ei! - falei gentilmente. — Me dá isso. Você tem prova amanhã.
— Ayla… Você está trabalhando demais. Você não vai aguentar. É muito estresse.
— Eu aguento. Sempre aguentei.
— Mas a que preço?
Parei. Respirei.
— O único preço que eu não posso pagar é ver você perder o que conquistou. Ou ver a tia piorar porque eu não estou aqui. Todo o resto… Eu dou um jeito.
Narin me olhou como se eu fosse uma espécie de muralha. Eu não era. Eu só estava cansada demais para cair.
— Às vezes acho que você é feita de ferro - disse ela.
— Não sou, não - respondi, rindo um pouco. — Mas finjo bem.
Ela largou a faca e me abraçou de repente.
— Eu te amo, Ayla.
— Eu também te amo, chatinha.
Quando finalmente sentamos para comer, percebi que a comida estava salgada demais, mas engoli sem reclamar.
Era nossa rotina. Nossa tentativa de vida normal.Depois do jantar, enquanto Narin estudava e a tia dormia, fui lavar a louça. Água quente nas mãos, vapor no rosto, e um silêncio pesado na mente.
Às vezes, nesses minutos sozinha, eu imaginava como seria uma vida sem medo. Sem correr atrás de contas.
Sem me preocupar se a tia teria um surto enquanto eu estivesse fora. Sem carregar tudo o tempo todo.Mas esse tipo de pensamento é perigoso.
Dói mais do que ajuda. Então eu deixava ir.Quando terminei tudo, me sentei no sofá e peguei meu caderno velho de anotações. Ali eu escrevia as metas impossíveis que fingia acreditar.
“Pagar dívida do hospital... Conseguir emprego melhor... “Fazer Narin se formar em paz...
Cuidar da tia.”Listei tudo de novo. Substituí uma ou outra meta.
E, enquanto fazia isso, ouvi Narin me chamar do corredor:— Ayla?
— Oi.
— Amanhã vou passar no mercado antes de voltar. Falta café.
— Não precisa, eu compro no caminho.
— Ayla… Você precisa parar de resolver tudo.
Sorri sem olhar para ela.
— É o que eu faço.
Ela suspirou, mas deixou pra lá. De certa forma, ela sabe que eu tenho que fazer, senão as coisas pioram.
Parte 16...EmirSubi para o sótão assim que cheguei em casa. A porta estava encostada. Estranho, eu sei que fechei direito.Empurrei. E dei de cara com o caos.Caixas no chão. Livros abertos. Uma cadeira tombada. A respiração dela denunciava onde estava. Atrás da estante. Como um animalzinho acuado tentando achar uma saída.Minha mandíbula travou.— Tentando fugir de novo, Ayla? - minha voz saiu baixa, fria.Ela se levantou devagar, o rosto ainda molhado de choro e raiva. E mesmo assim, me desafiando.— Eu não… Eu só queria achar um modo de diminuir minha raiva.— Não tem que fazer isso. Raiva só vai te fazer mal. Aceite. - dei dois passos para frente.Ela recuou. Mais um passo, ela recuou de novo. Até bater as costas na parede. Perfeita. Exatamente onde eu queria. Fiquei tão perto que senti a respiração dela bater no meu queixo.— Fica parada - ordenei.Ayla apertou os dedos na barra da própria camisa, tentando parecer firme. Tentando fingir que não estava tremendo.Eu segurei a mão
Parte 15...EmirEla franziu as sobrancelhas.— Que problema?— Não interessa.— É minha família? O que você fez?— Tss... – mexi o nariz.— Fala! O que você fez com elas?— Estou começando a pensar em fazer – dessa vez eu apertei seu braço — Acho que cometi um erro ao trazer você. Deveria ter trazido a sua irmã mesmo, já que ela é a testemunha certa.— Não! Eu disse que ia cuidar disso. Eu sou responsável por elas.— Elas não sabem no que se meteram. Você é um desastre – a sacudi e ela gemeu baixinho — Fez um acordo comigo e em menos de quarenta e oito horas já o quebrou.— Porque o homem disse...— Ah, já chega!A arrastei de novo até o sótão. Soltei o braço dela devagar, trancando a porta de novo. Antes de fechar totalmente, disse:— Fica aqui. Quietinha. Quando eu voltar… A gente resolve o resto.— Resolve como? - ela rebateu rápido.— Da minha maneira.— Não vou me casar com você – cruzou os braços.— Veremos!Bati a porta. Tranquei e desci as escadas enquanto o celular vibrava o
Parte 14...EmirQuando cheguei no corredor do escritório, ouvi barulho de metal batendo. Tlec. Tlec. Tlec. Suspirei. Só podia ser ela. Abri a porta.Ayla estava na varanda, algemada na grade, parecendo um gato molhado e enfezado.Assim que me viu, ela levantou o queixo.— Não fala nada. - ela disse primeiro, irritada. — Se vier com sermão, eu pulo daqui mesmo.Eu encostei a mão na porta, segurando a vontade de rir pra que não visse.— Parece confortável. - falei seco.— Confortável? - bateu a algema na grade. Tlec. — Eu devia processar essa casa inteira por tortura psicológica! E começando por você.Me aproximei.— Você tentou fugir pelo telhado.— Eu estava caminhando! - me cortou. — Caminhando num lugar alto. Acontece.— Acontece? - levantei a sobrancelha. — Caiu quantas vezes?— Nenhuma! - ela cruzou os braços, mas a algema puxou seu pulso de volta. — Só… Quase. Levemente. Minimamente, uma vez.Um canto da minha boca quis subir. Segurei.— Os meus homens me disseram que você quase
Parte 13...Ayla— Anda, Ayla… - sussurrei para mim mesma.Girei o corpo de lado e enfiei primeiro o ombro. A borda arranhou minha pele, mas eu continuei empurrando até conseguir passar metade do tronco. O ar lá fora era mais gelado, batendo no meu rosto e fazendo meu coração acelerar.Abaixei a cabeça para avaliar o caminho.O telhado lateral começava logo ali, a poucos centímetros, mas era inclinado e escorregadio. Se eu errasse um passo, caía direto no pátio.— Ótimo, perfeito… - respirei fundo. — É isso ou morrer aqui dentro. Aquele homem doido vai me tirar do sério e não posso confiar.Olhei outra vez para trás. Voltei a me empurrar, passando a cintura, depois as pernas. Precisei dobrar o joelho e torcer o quadril para escapar. Quando finalmente consegui sair inteira, me apoiei com as duas mãos no beiral, tentando não fazer barulho.A telha rangeu. Parei na hora, prendendo o ar. Os mesmos dois homens de antes apareceram lá embaixo, conversando. Um deles olhou para cima.Meu coraç
Parte 12...EmirHakan apareceu ao meu lado.— Já mandei preparar os carros. Vamos atrás da irmã.Faruk inclinou a cabeça, analisando.— Por que perder tempo, sobrinho? Deixe que se livrem dela, vai ser melhor para nós.— Tio, eu já lhe disse o que houve. As coisas saíram um pouco do controle – passei a mão pela barba — Eu não sei o que houve, quem a levou e por que?— Sim, já sei... E isso é ótimo – bateu em meu ombro — Vai ser menos uma. Depois nos livramos da velha e também da que está lá em cima.Eu olhei para ele com uma questão em mente. Por que essa pressa?— Meu tio, parece que o senhor está preocupado.— E não deveria? – abriu as mãos — Você me conta o que houve, eu fico preocupado. É minha função, cuidar para que tudo saia bem e você não se machuque.— Isso não vai acontecer – dei uma risadinha.— Ainda assim... Deveria deixar isso pra lá. Quem vai levar para esse resgaste desnecessário?— Eu mesmo. - passei por ele novamente. — E dois homens.Ele me acompanhou pelo corredor
Parte 11...EmirEu a vi desabar no banco do carro antes mesmo de conseguir dizer seu nome. Ayla estava fraca, pálida, o olhar perdido. Eu não podia mostrar hesitação. Hesitar agora significava perder tudo.— Ayla - falei, firme — Olhe para mim.Nada. Ela respirava rápido demais, o peito subindo e descendo como se estivesse tentando engolir o próprio medo.Respirei fundo. O carro rangia nas curvas, a estrada deserta parecia mais longa do que deveria.Eu precisava terminar isso, e ela precisava entender: não havia escolha. Era melhor assim. Pra nós dois.— Eu disse, olhe para mim - repeti, baixo, perigoso.Ela piscou algumas vezes, voltando a si e me encarou com os olhos cheios de terror, mas finalmente parou de se debater. O silêncio caiu pesado entre nós. Eu deixei que ele pesasse.— Suas regras acabaram, Ayla. Agora são as minhas.Ela abriu a boca, mas não disse nada. O medo falava por ela.— Sua tia vai para o hospital. Ela vai sobreviver. - pronunciei devagar, medindo cada palavra
Último capítulo