Mundo de ficçãoIniciar sessãoÉris nunca quis se meter na vida de ninguém — até encontrar um diário perdido no campus. Um diário confessional, cheio de raiva, desejo, confissões intensas e segredos demais para pertencer a qualquer pessoa normal. O plano era simples: devolver e fingir que nunca leu. Só que o diário é dele. Noah Hale. Arrogante. Fechado. Competitivo. O único cara capaz de transformar qualquer conversa em uma competição… e qualquer competição em guerra. Eris detesta Noah. Noah parece detestar Éris ainda mais. Mas o homem que escreve aquele diário não tem nada a ver com o inimigo que ela conhece. Ali, no papel, ele é vulnerável. Brutalmente honesto. Quente demais. Cheio de medos que ele jamais mostraria. E quanto mais Éris lê, mais percebe que está se apaixonando… não pelo Noah que existe, mas pelo Noah que ele tenta esconder. O problema? Ele descobre que ela leu. E quando isso acontece, o jogo muda completamente. Agora Noah não quer distância. Quer respostas. Quer controle. Quer ela. E Éris precisa decidir se devolve o diário… ou se devolve o coração que ele nem sabe que colocou ali. Um romance leve, afiado e cheio de tensão — onde o maior perigo não é o diário ser encontrado, mas o que acontece quando duas pessoas que se detestam descobrem que se desejam mais do que deveriam.
Ler maisEu só queria chegar na sala sem levar advertência.
Mas, como sempre, minha vida decidiu complicar tudo.O corredor estava vazio, exceto por um armário aberto — daqueles que ninguém usa faz meses — com uma pilha de coisas caindo pra fora.
Eu ia ignorar.
Juro que ia.Mas quando passei rápido, algo caiu no chão bem na minha frente.
Um livrinho preto, pequeno, com a capa meio gasta.Peguei no automático.
Não era meu.
Não tinha nome. Não tinha nada.Olhei pros lados.
Ninguém. Nem sinal de quem largou ali.— Ótimo… — murmurei. — Agora eu sou a idiota que coleta lixo perdido.
Guardei o livro na bolsa porque o professor já estava chamando os atrasados.
Só no intervalo eu abri.
E aí tudo começou a ficar estranho.
O diário estava cheio.
Páginas e páginas de letra bonita, organizada, mas… intensa.A primeira frase que li me deixou estática:
“Eu passo o dia inteiro fingindo que estou bem. Ninguém percebe. Ninguém nunca percebe.”
Engoli seco.
Virei outra página.
“Não sei o que é pior: me importar demais ou não conseguir dizer nada.”
Aquilo não parecia de alguém que eu conhecia.
Mas ao mesmo tempo… parecia.Continuei lendo.
Devagar. Com medo de parar.“Às vezes sinto tanta raiva que não sei o que fazer com as mãos.”
“Hoje quase explodi. Ela nem percebeu.”
Eu franzi a testa.
Ela quem?
Alguma namorada desesperada? Alguma menina sem noção? Ou só alguém que esse autor inventou?Fechei o diário por um segundo.
Meu coração estava estranho — acelerado sem motivo.Quando levantei a cabeça, vi ele.
Noah.
Entrando no corredor, fones no pescoço, expressão irritada, aquele jeito de que acordou brigando com o próprio reflexo.
Ele passou por mim sem olhar.
Mas quando passou, senti um arrepio idiota subir pela minha nuca.O cheiro dele sempre vinha antes: quente, amadeirado, marcante.
Balancei a cabeça.
Nada a ver. Eu estava só impressionada com o diário.Noah nunca falaria daquele jeito.
Ele era frio demais. Duro demais.Ou eu achava que era.
Coloquei o diário na bolsa rápido, como se alguém pudesse me acusar de alguma coisa.
Mais tarde, na biblioteca, abri de novo.
E li um trecho que fez meu estômago virar:“Se ela soubesse o que eu penso quando passa por mim… se soubesse o que eu imagino… ela nunca mais chegaria perto.”
Eu encostei no encosto da cadeira.
Ok.
Isso já era informação demais.O problema?
Eu queria saber mais.Muito mais.
Fechei o diário devagar.
E antes de sair, sem querer, olhei pela janela.
Noah estava lá fora, encostado no muro, mexendo no celular, dando chutes numa pedra com expressão de quem estava irritado com o mundo inteiro.
Por um segundo, só um segundo, me ocorreu algo absurdo:
E se o diário fosse dele?
Mas eu sacudi a cabeça na mesma hora.
Ridículo.
Impossível. Noah mal falava com alguém, muito menos escrevia sentimentos.Guardei o diário na bolsa.
E mesmo sem saber por quê…
Eu fiquei com medo de abrir de novo.
E com muito mais medo do que eu iria sentir se eu abrisse.O corredor parecia menor do que realmente era. Talvez fosse por causa da quantidade de gente saindo das salas ao mesmo tempo, talvez fosse por causa da minha cabeça que ainda latejava desde o momento em que abri o diário pela primeira vez.
Ou talvez fosse por causa dele.
Eu estava andando rápido, tentando chegar na aula seguinte antes do sinal, quando ouvi vozes altas atrás das minhas costas.
— Fala direito comigo, porra! — uma voz masculina, irritada, quase um rosnado.
Virei só o suficiente para ver Noah parado no meio do corredor, tensionado, peito subindo e descendo, maxilar marcado de tão travado. Ele estava cara a cara com um garoto mais baixo que ele, mas igualmente exaltado.
— Não esconde minhas coisas de novo, retardado! — Noah avançou meio passo, empurrando o ombro do cara.
A noite cai daquele jeito lento, pesado, que parece puxar os pensamentos pra um lugar escuro.Eu não tinha planejado ler o diário hoje.Na verdade, eu jurei que ia parar.Que ia guardar aquela coisa embaixo da cama, fingir que não existia e que eu, definitivamente, não estava me importando demais.Só que ele estava lá.Em cima da minha mesa.Me encarando.Como se fosse… vivo.Eu sento, cruzo as pernas, puxo o moletom pra cima do nariz e digo pra mim mesma:“Cinco minutos. Só cinco.”Mas eu já sei que estou mentindo.Abro o diário.A mão treme.A luz do abajur bate no papel como se iluminasse algo que eu não deveria ver.E eu começo a ler.Trechos do diário“Às vezes penso que enlouqueci. Que algo em mim quebrou e não tem volta.”“Prometi não sentir mais nada, mas o corpo não obedece. O coração também não.”“Eu tento seguir em frente, mas tem dias que ainda sinto o cheiro dela. E isso me destrói.”Eu fecho o diário por um instante.Um aperto sobe pela garganta como se fosse uma mão.El
Fiquei paralisada, olhando para o corredor vazio onde Noah tinha desaparecido.Era impossível ignorar aquilo.Impossível fingir que eu não notei o olhar dele.A forma como os ombros estavam tensos, como se uma parte dele quisesse vir até mim… e a outra estivesse segurando ele pelas correntes.Val se inclinou na mesa.— Você vai ficar aí parada, encarando o nada?— Cala a boca. — murmurei, sem força.Bianca bateu a caneta no livro, olhando na direção onde ele tinha ido.— Amiga. Você precisa admitir.— Admitir o quê?Lia respondeu antes que as duas pudessem dramatizar:— Ele gosta de você.Mas não sabe lidar.Eu senti algo dentro de mim despencar.— Ele não gosta de mim. Ele me odeia.— É isso que piora tudo. — Val respondeu.E eu não tive como lutar contra a sensação.Meu corpo inteiro parecia ciente do olhar dele.Mesmo com ele longe, escondido em alguma prateleira da biblioteca… eu sabia que ele continuava olhando.Talvez não direto.Talvez só de canto.Mas olhando.E isso me fazia
Eu acordei com dor de cabeça, como se tivesse dormido com um peso preso no peito.A cena do corredor não saía da minha mente — a respiração dele quebrando, os olhos vermelhos, a voz implorando pra eu ir embora.Eu juro que tentei varrer aquilo da cabeça.Juro que tentei seguir o dia como se nada tivesse acontecido.Mas cada vez que fechei os olhos… eu vi ele encostado na parede, tremendo.E aquilo me corroía de um jeito irritante.Porque eu não queria me importar.Ele é Noah, o garoto que vive pra me provocar, me irritar, me tirar do sério.O garoto que já fez eu querer jogar livros nele.O garoto que vive me chamando de “exagerada”, “barulhenta”, “insuportável”.Eu não devia me importar.Mas me importei.E isso me fez acordar de péssimo humor.Entrei na sala de aula e o universo decidiu rir da minha cara.Noah estava lá.Sentei — obviamente — longe.Eu queria olhar pra ele.Mas eu jurei pra mim mesma que não olharia.E, claro… olhei.Ele estava diferente.Calado demais.Sério demais.
Eu só queria pegar um livro no prédio de Humanas e voltar pra casa. Era tarde. Mais tarde do que eu percebi. As luzes do campus estavam fracas, meio amareladas, e os corredores quase vazios.Quase.Porque quando virei a esquina do bloco C… eu ouvi uma voz.Não era alta. Não era um grito.Era pior.Era uma voz quebrada.— Eu já disse que não posso… não posso agora, tá? — uma respiração falhou. — Eu tô tentando…Parei. Instintivamente.E então ouvi outro som. Um que eu nunca tinha escutado dele.Ar arranhado. Nariz fungando. Como se ele estivesse segurando o choro com força demais.Meu coração apertou tão rápido que eu nem raciocinei.Quando olhei… ele estava lá.Noah.Encostado na parede. Cabeça baixa. Uma mão segurando o celular com tanta força que os nós dos dedos ficaram brancos. A outra mão tremia — literalmente tremia — enquanto ele passava pelos cabelos como se quisesse arrancar algum pensamento que não deixava ele respirar.Ele não me viu. Não ainda.— Eu já falei que
O universo tem um senso de humor péssimo.De todos os dias possíveis para eu trombar com o Noah de novo, claro que tinha que ser hoje, quando eu acordei com a mente mais bagunçada do que o quarto dele provavelmente é.Depois do que aconteceu com o Miguel, eu passei dois dias inteiros evitando o Noah com precisão cirúrgica.Entrava por portas diferentes, mudava de rota, inventava compromissos.Eu nem sabia que era tão habilidosa em táticas de guerra psicológica.Mas o problema do Noah é que ele sempre aparece quando NÃO deveria.E naquele fim de tarde, com o campus quase vazio, as sombras longas e o vento frio, ele estava lá.No pátio interno.Sentado no muro.Me olhando como se eu fosse um problema que ele estava decidido a resolver.Merda.Tentei desviar, como sempre.Mas ele se levantou devagar — e veio na minha direção.Cada passo soltando a mesma tensão elétrica que sempre vinha com ele.— Indo pra onde? — perguntou, voz baixa.— Longe de você. — respondi.— Pena. — ele disse, par
Eu não tinha planejado falar com ninguém naquela tarde.Depois do que aconteceu com o Noah — os empurrões, o silêncio forçado, a maneira como ele me olhava como se eu tivesse feito algo imperdoável — eu só queria manter distância. Respiração estável. Pensamentos no lugar. Coisas que eu normalmente tenho… e que desapareceram desde que o maldito entrou na minha vida.Mas o campus estava cheio, quente, barulhento.E aí apareceu Miguel. Alto, sorriso fácil, aquele tipo de cara que parece gostar de ouvir as próprias piadas. Nos conhecíamos da aula de Teoria Literária.Eu estava parada perto da fonte, mexendo no celular só pra fingir ocupação, quando ele chegou.— Ei, Éris, sumiu da aula hoje?Sorri, meio automático.— Precisei resolver umas coisas.Ele se encostou no corrimão, perto demais.— Você parece cansada.“Se ele soubesse…” pensei.Conversamos sobre nada — aula, clima, professores. Nada profundo, nada relevante. Ele estava animado demais, e eu… eu só queria clareza dentro da minha
Último capítulo