Mundo de ficçãoIniciar sessão
Eu só queria chegar na sala sem levar advertência.
Mas, como sempre, minha vida decidiu complicar tudo.O corredor estava vazio, exceto por um armário aberto — daqueles que ninguém usa faz meses — com uma pilha de coisas caindo pra fora.
Eu ia ignorar.
Juro que ia.Mas quando passei rápido, algo caiu no chão bem na minha frente.
Um livrinho preto, pequeno, com a capa meio gasta.Peguei no automático.
Não era meu.
Não tinha nome. Não tinha nada.Olhei pros lados.
Ninguém. Nem sinal de quem largou ali.— Ótimo… — murmurei. — Agora eu sou a idiota que coleta lixo perdido.
Guardei o livro na bolsa porque o professor já estava chamando os atrasados.
Só no intervalo eu abri.
E aí tudo começou a ficar estranho.
O diário estava cheio.
Páginas e páginas de letra bonita, organizada, mas… intensa.A primeira frase que li me deixou estática:
“Eu passo o dia inteiro fingindo que estou bem. Ninguém percebe. Ninguém nunca percebe.”
Engoli seco.
Virei outra página.
“Não sei o que é pior: me importar demais ou não conseguir dizer nada.”
Aquilo não parecia de alguém que eu conhecia.
Mas ao mesmo tempo… parecia.Continuei lendo.
Devagar. Com medo de parar.“Às vezes sinto tanta raiva que não sei o que fazer com as mãos.”
“Hoje quase explodi. Ela nem percebeu.”
Eu franzi a testa.
Ela quem?
Alguma namorada desesperada? Alguma menina sem noção? Ou só alguém que esse autor inventou?Fechei o diário por um segundo.
Meu coração estava estranho — acelerado sem motivo.Quando levantei a cabeça, vi ele.
Noah.
Entrando no corredor, fones no pescoço, expressão irritada, aquele jeito de que acordou brigando com o próprio reflexo.
Ele passou por mim sem olhar.
Mas quando passou, senti um arrepio idiota subir pela minha nuca.O cheiro dele sempre vinha antes: quente, amadeirado, marcante.
Balancei a cabeça.
Nada a ver. Eu estava só impressionada com o diário.Noah nunca falaria daquele jeito.
Ele era frio demais. Duro demais.Ou eu achava que era.
Coloquei o diário na bolsa rápido, como se alguém pudesse me acusar de alguma coisa.
Mais tarde, na biblioteca, abri de novo.
E li um trecho que fez meu estômago virar:“Se ela soubesse o que eu penso quando passa por mim… se soubesse o que eu imagino… ela nunca mais chegaria perto.”
Eu encostei no encosto da cadeira.
Ok.
Isso já era informação demais.O problema?
Eu queria saber mais.Muito mais.
Fechei o diário devagar.
E antes de sair, sem querer, olhei pela janela.
Noah estava lá fora, encostado no muro, mexendo no celular, dando chutes numa pedra com expressão de quem estava irritado com o mundo inteiro.
Por um segundo, só um segundo, me ocorreu algo absurdo:
E se o diário fosse dele?
Mas eu sacudi a cabeça na mesma hora.
Ridículo.
Impossível. Noah mal falava com alguém, muito menos escrevia sentimentos.Guardei o diário na bolsa.
E mesmo sem saber por quê…
Eu fiquei com medo de abrir de novo.
E com muito mais medo do que eu iria sentir se eu abrisse.O corredor parecia menor do que realmente era. Talvez fosse por causa da quantidade de gente saindo das salas ao mesmo tempo, talvez fosse por causa da minha cabeça que ainda latejava desde o momento em que abri o diário pela primeira vez.
Ou talvez fosse por causa dele.
Eu estava andando rápido, tentando chegar na aula seguinte antes do sinal, quando ouvi vozes altas atrás das minhas costas.
— Fala direito comigo, porra! — uma voz masculina, irritada, quase um rosnado.
Virei só o suficiente para ver Noah parado no meio do corredor, tensionado, peito subindo e descendo, maxilar marcado de tão travado. Ele estava cara a cara com um garoto mais baixo que ele, mas igualmente exaltado.
— Não esconde minhas coisas de novo, retardado! — Noah avançou meio passo, empurrando o ombro do cara.







