Após anos presa a um casamento marcado por vícios e mentiras, a veterinária Clara Sarah Davis decide dar um basta. Em uma noite que muda tudo, ela pega a filha pela mão e foge para o desconhecido, em busca de um recomeço. No interior do Texas, Clara encontra abrigo em um haras isolado, rodeado por céu aberto, cavalos feridos e silêncios que finalmente não machucam. Lá, ela conhece Noah Walker, um homem fechado, pai solteiro, que também carrega marcas do passado — e um filho pequeno que há muito deixou de sorrir. Entre tarefas no campo, manhãs frias e olhares silenciosos, nasce entre eles uma conexão sutil, construída com empatia, dor compartilhada e uma esperança tímida. Clara, forte e determinada a proteger a filha, encontra em Noah um espelho de suas próprias feridas. E seus filhos, Katiany e Tyler, pouco a pouco, redescobrem o que é sentir segurança. Mas recomeçar exige mais do que coragem. O passado insiste em assombrar, e nem sempre chega batendo — às vezes, ele se arrasta em silêncio, esperando a hora certa para destruir tudo. Quando figuras antigas ressurgem com intenções perigosas, Clara e Noah precisarão se unir para proteger aquilo que construíram juntos. "Debaixo do Céu do Texas" é uma história sobre recomeços possíveis, amores inesperados e cicatrizes que não definem quem somos — apenas mostram o quanto sobrevivemos. Com ritmo envolvente, cenários bucólicos e uma tensão emocional crescente, o livro conduz o leitor por um caminho de superação, descobertas e amor onde menos se esperava. E no fim, Clara aprenderá que para seguir adiante… é preciso encarar o que foi deixado para trás.
Leer másGolden Creek parecia ter sido pincelada por luzes coloridas, laços de palha e bandeirinhas dançando com o vento. Era a festa anual da colheita, onde todos da cidade se reuniam para rever conhecidos e contratar parcerias amigáveis. As mesas estavam repletas de tortas caseiras, milho cozido, bolos cobertos de glacê e garrafas de limonada artesanal. Crianças corriam com os rostos pintados, enquanto os mais velhos se reuniam para trocar histórias antigas e rir das mesmas piadas de sempre.Clara hesitou antes de sair do carro. Katiany, trajando um vestido florido e tênis, revirava os olhos.— Isso é cafona, mãe.— É tradição. — Clara sorriu. — E tradição às vezes é uma forma de se enraizar de novo.Noah já estava lá, encostado num dos cercados, usando camisa jeans e chapéu. Conversava com o prefeito, mas seus olhos buscaram, quase sem querer, a chegada de Clara.Ela vestia um vestido simples, mas bonito, e botas combinando, parecia sorrir com mais facilidade ali do que em qualq
Aos poucos, a rotina voltava ao normal em Golden Creek. Para alívio dos moradores, os estragos não foram tão severos quanto temido. Apenas algumas casas precisaram de reparos nos telhados, e o clima de reconstrução trazia certo alento à comunidade.Do outro lado da rua, Clara observava em silêncio a fachada da casa recém-reformada. A pintura fresca, exatamente como ela havia solicitado, destacava-se sob a luz suave da manhã. Tudo estava como queria — embora não graças a Noah, que se encontrava ocupado com os danos em sua própria fazenda. Ela mesma contratara trabalhadores da cidade vizinha para concluir os serviços por ali.As portas e janelas verdes faziam um belo contraste com as paredes brancas, e o jardim começava a florescer timidamente. Clara admirava o resultado com um leve sorriso nos lábios, imersa em pensamentos, até perceber a presença de alguém ao seu lado. Uma voz típica do interior a fez despertar.— "Verdade que oce noitou com o Noah? A roça toda tá mexer
Na manhã seguinte à aventura de Tyler e Katiany, a fazenda parecia suspensa em silêncio. As nuvens ainda pairavam baixas, e o chão ainda úmido contava histórias da tempestade da noite anterior. O cheiro de terra molhada misturava-se ao de feno e madeira envelhecida. Na propriedade, Noah verificava as cercas danificadas e contabilizava os prejuízos. Coçava a cabeça preocupado, já não bastavam as dívidas acumuladas, mais esses prejuízos. Para não acumular mais credores, teria que vender seu melhor cavalo manga-larga. Ou era venda ou era mais obrigações financeiras. Bateu mais forte a marreta no tronco, chamando a atenção de Clara, que examinava a pata de uma égua.Na cerca ao lado do estábulo, Tyler e Katiany estavam sentados, balançando as pernas no ritmo tranquilo da manhã. Observavam à distância os movimentos de Clara e Noah, imersos nas tarefas do dia. Katiany soltou uma risada leve, abafada, como quem tenta conter a alegria — era uma piada boba, provavelmente, mas f
A chuva havia diminuído, mas o céu permanecia pesado, uma manta cinzenta estendida sobre o Texas. O vento ainda soprava, carregando o cheiro de terra molhada e folhas esmagadas. A noite avançava rápido, engolindo o que restava da claridade, e o terreno estava traiçoeiro — lama escorregadia, poças que pareciam sem fundo, galhos caídos como ossos quebrados no caminho. A cidade inteira parecia ter se recolhido, segurando a respiração enquanto a tempestade se dissipava.Clara apertava as rédeas com força, os dedos dormentes de tanto tensionar o couro. Seu corpo oscilava desajeitado no lombo da égua marrom, Bella, que parecia notar sua inexperiência e, por piedade ou teimosia, mantinha um passo estável. Ela não era uma amazona natural — tinha começado a aprender a montar só nas últimas semanas, por necessidade, e cada solavanco a fazia sentir-se mais próxima de cair. Mas o medo de perder Katiany era maior que o desconforto.— Acha que eles podem ter seguido pela tril
O céu começou a escurecer às quatro da tarde. Clara percebeu quando saiu para recolher as toalhas do varal, suas mãos ainda marcadas pelo cheiro de álcool e sangue dos curativos da manhã. As nuvens rolavam em rolos cinzentos, engolindo o sol antes da hora, e o vento trazia aquele cheiro úmido de terra revolvida que sempre anunciava temporal. "Katiany!", chamou, dobrando as toalhas contra o peito enquanto recuava para a varanda. "Vem ajudar antes que a chuva chegue!" O silêncio respondeu. Dentro de casa, os cômodos vazios tinham um eco diferente - mais agudo, mais perigoso. Foi no quarto da filha que encontrou a janela entreaberta, cortinas esvoaçando como bandeiras de rendição, e o bilhete em cima da cama preso por um globo de neve: "Fui dar uma volta com o Tyler!" Não se preocupe, a gente volta antes de escurecer! (e não, eu não levei o celular!)" O papel amassou em sua mão ao mesmo tempo que o primeiro trovão rugiu, tão perto que fez as xícaras no armário tilintar
O sol da tarde derramava um brilho dourado sobre a varanda de madeira da clínica, tingindo o cenário de um calor amarelado que parecia acalentar até as menores folhas secas espalhadas pelo chão. Clara finalizava a organização dos frascos na prateleira, alinhando-os com cuidado enquanto ouvia o vento sussurrar entre as árvores. Era um daqueles dias tranquilos, em que o tempo parecia passar mais devagar, como se o mundo respirasse fundo antes do cair da noite.Foi então que escutou passos leves se aproximando pelas tábuas da varanda. Conhecia aquele ritmo — era Katiany. Mas havia algo diferente na cadência, uma ligeira pressa, como se a menina estivesse carregando uma notícia que não podia esperar.— Mãe, posso ir andar de cavalo com o Tyler?Clara se virou, surpresa. Katiany estava ali, com os cabelos castanhos presos num rabo de cavalo alto, alguns fios rebeldes escapando e dançando ao redor do rosto. Seus olhos, antes opacos nos últimos meses, agora brilhavam com uma
Clara despertou com os primeiros raios de sol entrando pela janela da casa. Olhou para Katiany, que dormia profundamente, abraçada ao travesseiro. A menina parecia pequena demais para o turbilhão de emoções que estava vivendo. Clara passou a mão pela testa, aliviada por finalmente estarem longe de Joseph mas a saudade do antigo emprego e das pessoas que deixara sem se despedir causava uma sensação estranha — como se estivesse em dois lugares ao mesmo tempo: no presente e no passado.A paz que sentia ali, no campo, parecia contraditória dentro do peito. Enquanto preparava o café, ao abrir uma gaveta por acaso, seus olhos se fixaram em um porta-retratos. Era uma foto dela, do ex-marido e de Katiany. Certamente, a filha a trouxera. Clara compreendia aquele gesto — por mais que o pai a tivesse decepcionado, o amor de filha não desaparece de uma hora para outra. Um nó formou-se em sua garganta. Era curioso como as lembranças podiam ser assim: uma mistura de dor e nostalgia.Com um suspiro
O lago era um espelho verde, cercado por árvores. Crianças e adolescentes pescavam com varas improvisadas. Risadas ecoavam no ar.Enquanto Katiany observava a paisagem, um cavalo se aproximou, trotando suavemente. No lombo, vinha um garoto de olhos azuis, cabelos loiros bagunçados e uma postura elegante: Tyler.Ele conduzia o cavalo com uma habilidade que prendia o olhar. Notando o encantamento de Katiany, Leo comentou: — Ele monta bem, né? Compete em hipismo e rodeios. Semana que vem vão ter uns eventos na escola, tipo minicompetições. Quem quiser pode participar. A professora pode ajudar a treinar.— Mas... eu nem sei montar — Katiany respondeu, envergonhada.— Não seja por isso — sorriu Leo. — Eu posso ensinar. Lá na fazenda tem cavalos sobrando. E depois que sua mãe curou o cavalo do Tyler, aposto que até o senhor Noah deixa você escolher um para treinar.O cavalo diminuiu o passo, e Tyler parou próximo a eles. Desceu da sela com facilidade, segurando as rédeas
A estrada de cascalho serpenteava entre campos dourados, levantando uma nuvem de poeira que dançava sob os pneus da caminhonete de Clara. O GPS do celular, antiquado e hesitante, quase não colaborava, mas ela insistia, teimosa, em encontrar o endereço da fazenda dos McCoy — uma das famílias mais antigas e faladas do condado. Segundo o doutor Enéas, também uma das mais teimosas.Ao estacionar, Clara avistou o velho Elmer McCoy sentado na varanda, um pedaço de palha pendendo dos lábios finos como um cigarro imaginário, o chapéu de couro desgastado cobrindo metade do rosto enrugado pelo sol. Aos seus pés, um vira-lata cinzento de olhos atentos repousava, as orelhas erguidas ao menor ruído.— Doutora Clara? — rosnou Elmer, sem mover um músculo além da boca. A voz saiu áspera, como se cada palavra fosse um esforço.— Sim, senhor. Vim ver a vaca com mastite. Me disseram que a situação estava feia.Elmer se levantou com a lentidão de quem carregava décadas nas costas. Seu olh