O céu começou a escurecer às quatro da tarde. Clara percebeu quando saiu para recolher as toalhas do varal, suas mãos ainda marcadas pelo cheiro de álcool e sangue dos curativos da manhã. As nuvens rolavam em rolos cinzentos, engolindo o sol antes da hora, e o vento trazia aquele cheiro úmido de terra revolvida que sempre anunciava temporal. "Katiany!", chamou, dobrando as toalhas contra o peito enquanto recuava para a varanda. "Vem ajudar antes que a chuva chegue!" O silêncio respondeu. Dentro de casa, os cômodos vazios tinham um eco diferente - mais agudo, mais perigoso. Foi no quarto da filha que encontrou a janela entreaberta, cortinas esvoaçando como bandeiras de rendição, e o bilhete em cima da cama preso por um globo de neve: "Fui dar uma volta com o Tyler!" Não se preocupe, a gente volta antes de escurecer! (e não, eu não levei o celular!)" O papel amassou em sua mão ao mesmo tempo que o primeiro trovão rugiu, tão perto que fez as xícaras no armário tilintar