A noite parecia sufocar. Não fazia calor, mas o ar dentro do pequeno apartamento era denso, carregado de mágoas não ditas, de palavras cuspidas em brigas passadas e silêncios cortantes. As paredes, tingidas de bege desbotado, pareciam encolher a cada novo conflito. O relógio digital da sala piscava em vermelho: 22h47mn.Clara Sarah Davis olhou na direção do quarto da filha e desejou, com todas as forças, que ela não estivesse absorvendo toda a dor que a crise conjugal despejava sobre a casa. Que, por um milagre, aquela noite passasse despercebida para Katiany.Sentada no sofá, ainda de jaleco, Clara segurava uma xícara de chá frio nas mãos. Os cabelos castanhos estavam presos num coque frouxo, revelando o cansaço de mais um plantão no hospital veterinário. Seu rosto, de traços suaves, agora trazia olheiras profundas e uma rigidez no maxilar que parecia permanente. Quando ouviu a porta da frente bater com força, levantou a cabeça lentamente, já sem se abalar.— De
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