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CAPÍTULO 6 – BATISMO DE SELA

                    O lago era um espelho verde, cercado por árvores. Crianças e adolescentes pescavam com varas improvisadas. Risadas ecoavam no ar.

Enquanto Katiany observava a paisagem, um cavalo se aproximou, trotando suavemente. No lombo, vinha um garoto de olhos azuis, cabelos loiros bagunçados e uma postura elegante: Tyler.

Ele conduzia o cavalo com uma habilidade que prendia o olhar. Notando o encantamento de Katiany, Leo comentou: — Ele monta bem, né? Compete em hipismo e rodeios. Semana que vem vão ter uns eventos na escola, tipo minicompetições. Quem quiser pode participar. A professora pode ajudar a treinar.

— Mas... eu nem sei montar — Katiany respondeu, envergonhada.

— Não seja por isso — sorriu Leo. — Eu posso ensinar. Lá na fazenda tem cavalos sobrando. E depois que sua mãe curou o cavalo do Tyler, aposto que até o senhor Noah deixa você escolher um para treinar.

O cavalo diminuiu o passo, e Tyler parou próximo a eles. Desceu da sela com facilidade, segurando as rédeas com uma mão. Sorriu, revelando um dente levemente torto — o tipo de imperfeição que tornava tudo mais real e simpático.

— Tyler, essa aqui é a Katiany — apresentou Leo. — Ela é filha da veterinária que cuidou de seu cavalo.

— Prazer — disse Tyler, oferecendo a mão. — Estou muito agradecido à sua mãe. Gosto muito do Tufão, ele é meu cavalo preferido. Escutei Leo falando para você sobre o evento equestre na escola. Se quiser, posso te ensinar a montar.

Katiany olhou para Leo, que apenas assentiu com a cabeça, encorajando-a. Ela respirou fundo e aceitou o aperto de mão.

— Você já montou alguma vez? — Tyler perguntou, guiando-a até o cavalo.

— Só em pônei no parque... Quando era pequena — respondeu, com um sorriso tímido.

— Então vai ser moleza — garantiu ele, afagando o pescoço do animal, que relinchou baixo, manso. — Este aqui é o Lucky. Ele é tranquilo. Não vai fazer gracinha.

Katiany se aproximou com cuidado. O cheiro de feno, couro e cavalo invadiu seus sentidos. Era novo, diferente... e de um jeito estranho, acolhedor.

— Primeiro, você precisa confiar nele. Cavalos sentem quando a gente tem medo — explicou Tyler, seus olhos azuis brilhando sob o sol da tarde.

Guiada pela paciência dele, ela subiu com cuidado na sela. Lucky permaneceu imóvel, como se soubesse que precisava ser gentil.

— Isso aí, garota da cidade!

Katiany riu, sentindo uma pontada de orgulho.

Tyler caminhou ao lado dela, guiando o cavalo pelas rédeas.

— Agora você pode participar das competições na escola. Tem algumas provas fáceis para iniciantes. Se quiser, eu te ajudo a se preparar.

Katiany piscou, surpresa. Ela, participando de uma corrida de cavalos?

Por um momento, esqueceu das meninas zombeteiras, dos tênis errados e da saudade da antiga casa.

Ali, montada em Lucky, com Tyler e Leo ao seu lado, sentiu que talvez... apenas talvez... estava começando a encontrar o seu lugar naquele pedaço de mundo.

Clara estava em frente à clínica, com o olhar fixo na direção por onde Katiany e Leo haviam desaparecido. Já se passara mais de uma hora, e os dois ainda não haviam retornado. Ela suspirou, sentindo um misto de alívio e curiosidade, ao avistar Leo surgindo ao longe, carregando as duas bicicletas. Atrás dele, vinha Katiany — montada em um cavalo — com Tyler ao lado, segurando as rédeas e conduzindo o animal com calma.

Clara levou a mão à boca, tomada por uma emoção súbita diante da cena. A filha, com o semblante concentrado, lutava para controlar o medo e manter-se firme na sela. Era uma imagem tão inesperada quanto poderosa. Um sorriso terno surgiu em seus lábios. Seu coração lhe dizia, com uma certeza silenciosa, que, apesar dos tropeços e incertezas, haviam feito a escolha certa ao mudar para ali.

O trio passou por ela sem parar, seguindo em direção ao pasto aberto bem em frente à clínica. Nesse instante, o telefone tocou, e Clara se apressou para atender.

Mais tarde, já dentro da clínica, Katiany falava sem parar. As palavras saíam tão depressa de sua boca que Clara teve dificuldade em acompanhar. A empolgação da filha era contagiante. Enquanto a escutava, um pensamento persistia em sua mente: talvez aquela cidadezinha, com todas as suas dificuldades, desafios e surpresas, fosse mesmo a terra das segundas chances.

No dia seguinte, logo após as aulas, Katiany correu até a clínica, onde Clara já a esperava, observando-a pela janela com um sorriso discreto. Tyler estava lá também, encostado na cerca de madeira envelhecida que separava o quintal da clínica do pasto aberto.

Lucky, o cavalo manso, pastava tranquilamente sob a luz dourada do fim de tarde.

— Pronta para sua primeira aula de verdade? — perguntou Tyler, ajustando o chapéu na cabeça com um gesto confiante.

— Pronta... eu acho — respondeu Katiany, sentindo o coração bater rápido, entre nervosismo e empolgação.

Leo estava sentado na cerca novamente, animado para assistir.

Tyler segurou Lucky com firmeza e ajudou Katiany a montar, como havia feito no dia anterior.

— Lembra o que eu falei? — disse ele, enquanto ajeitava o estribo no pé dela. — Confiança. Lucky é seu amigo agora.

Ela assentiu, respirando fundo. O cheiro de terra e capim invadiu suas narinas, misturando-se à adrenalina.

— Vamos começar devagar — orientou Tyler. — Só no passo. Segura as rédeas com calma, não puxa bruscamente.

Katiany conduziu Lucky por alguns metros, sentindo-se mais segura a cada passo do cavalo.

— Muito bem! — Tyler a incentivou. — Agora, quer tentar um trote leve?

— É muito rápido? — perguntou ela, meio rindo, meio temendo.

— Não, se você confiar em mim — ele respondeu, com um brilho maroto nos olhos.

Com um estalo suave da língua, Tyler fez um sinal para Lucky, que começou a acelerar.

Katiany sentiu o corpo ser puxado levemente para trás e soltou um gritinho involuntário.

— Relaxa! Deixa o corpo acompanhar o movimento! — gritou Tyler, correndo ao lado dela.

Ela tentou se equilibrar como ele havia ensinado, rindo nervosamente. Lucky trotava animado pelo pasto, e cada batida dos cascos no chão parecia ecoar dentro dela, uma mistura de medo e liberdade pura.

Porém, quando uma borboleta branca passou voando bem na frente do cavalo, Lucky deu um pequeno pulo para o lado — nada demais para um cavaleiro experiente, mas para Katiany, foi o bastante para soltar um segundo gritinho e quase escorregar da sela.

— Ai! — ela exclamou, agarrando as rédeas com mais força.

Tyler, rápido, alcançou Lucky, segurando a borda da sela.

— Está tudo bem! Segura firme! — disse ele, olhando para ela com um sorriso tranquilizador.

Katiany, ainda meio assustada, acabou soltando uma risada, meio alívio, meio nervosismo.

— A gente chama isso de "batismo de sela" — brincou Leo da cerca, gargalhando.

Tyler a ajudou a desacelerar Lucky até o passo, depois até parar completamente. Ele estendeu a mão para ela.

— Tá vendo? Você sobreviveu. E ainda montou muito melhor do que muita gente na primeira vez.

Katiany desceu do cavalo, as pernas bambas, mas o peito cheio de orgulho. Deu um tapinha carinhoso no pescoço de Lucky.

— Obrigada, amigo — murmurou. Ela olhou para Tyler, que sorriu de volta de um jeito que fez suas bochechas esquentarem.

E, por um instante, sob aquele céu aberto, com cheiro de terra e risadas no ar, Katiany sentiu que talvez... estivesse começando a amar aquela nova vida.

Da varanda da clínica, Clara observava em silêncio. Viu quando Katiany soltou a primeira risada verdadeira desde que chegaram àquela cidade. Viu quando Tyler a ajudou a se equilibrar no cavalo, com paciência e gentileza. Viu Leo sempre por perto, pronto para apoiar. O peito de Clara se encheu de uma emoção difícil de nomear — uma mistura de alívio, orgulho e uma pontada de medo. Talvez porque, pela primeira vez em muito tempo, Katiany não parecia querer fugir. Ela enxugou discretamente uma lágrima teimosa no canto do olho.

Sim, ainda haveria dias difíceis.  Ainda haveria saudade, ainda haveria batalhas. 

Mas naquele fim de tarde, com o sol tingindo o pasto de dourado, Clara percebeu algo simples e poderoso: talvez... elas pudessem encontrar um lar ali.  Não o lar de onde fugiram.  Não o lar que perderam.  Mas um novo lar.  Feito de esperança, coragem e sorrisos sinceros. Com um último olhar carinhoso para a filha, Clara se virou para dentro da clínica.  Havia trabalho a fazer, cavalos para cuidar, e uma vida inteira para reconstruir.  E, dessa vez, ela não estava sozinha.

                                                                       07

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