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CAPÍTULO 7 – ENTRE FRUTAS E FLECHAS

Clara despertou com os primeiros raios de sol entrando pela janela da casa. Olhou para Katiany, que dormia profundamente, abraçada ao travesseiro. A menina parecia pequena demais para o turbilhão de emoções que estava vivendo. Clara passou a mão pela testa, aliviada por finalmente estarem longe de  Joseph mas a saudade do antigo emprego e das pessoas que deixara sem se despedir causava uma sensação estranha — como se estivesse em dois lugares ao mesmo tempo: no presente e no passado.

A paz que sentia ali, no campo, parecia contraditória dentro do peito. Enquanto preparava o café, ao abrir uma gaveta por acaso, seus olhos se fixaram em um porta-retratos. Era uma foto dela, do ex-marido e de Katiany. Certamente, a filha a trouxera. Clara compreendia aquele gesto — por mais que o pai a tivesse decepcionado, o amor de filha não desaparece de uma hora para outra. Um nó formou-se em sua garganta. Era curioso como as lembranças podiam ser assim: uma mistura de dor e nostalgia.

Com um suspiro, Clara guardou a foto e se dirigiu à janela. O dia clareava. O campo, ainda banhado pela luz suave da manhã, parecia sereno, tão distante da antiga vida. Era como se, ao atravessar aquelas montanhas, ela estivesse fugindo da própria história.

A campainha tocou. Clara se virou, surpresa. Imaginou que fosse algum vizinho querendo se apresentar, mas era Enéas. Ele estava com um sorriso largo e segurava uma sacola com frutas e verduras. Também trazia uma garrafa de café fresquinho.

— Olá, jovem senhora! — disse ele, animado. — Trouxe umas coisinhas para vocês. E pensei que podia me dar uma mãozinha... apesar da aposentadoria, não consigo ficar parado. Mas não se preocupe, não estou roubando seus clientes! — acrescentou, soltando uma gargalhada.

Clara sorriu, agradecida, e fez um gesto para que ele entrasse.

— Como está o trabalho por aqui? Está precisando de ajuda com alguma coisa? — perguntou ele. — Posso te ajudar nas visitas depois. Minha mulher já não me aguenta em casa... e olha que nem faz um mês que me aposentei! — falou, coçando a cabeça.

— Na verdade, sim... vou precisar de um bom par de mãos. A casa ainda precisa de reparos. O que foi feito não vai durar muito. E hoje só tenho uma visita à tarde...

— Ah, sinto muito. Minhas mãos não seguram mais um martelo, e se eu me curvar além do permitido, minhas costas nunca mais voltarão ao lugar — respondeu ele, piscando com um sorriso travesso.

Antes de sair, Enéas comentou: — Ah, e não se esqueça do Noah. Pode chamá-lo novamente. Ele gosta de ajudar.

Clara balançou a cabeça, relutante. — Sim...

— Exato. Ele tem suas manias, mas é confiável. Só não esqueça de pagar o justo, ou ele vai te lembrar disso daquele jeitinho dele.

Clara assentiu, pensativa. Talvez fosse hora de lidar com aquele faz-tudo, se quisesse mesmo transformar a casa.

Após a saída de Enéas, Katiany desceu já pronta para ir à escola. Olhou ressabiada para a gaveta semiaberta e depois encarou a mãe, que fingiu não perceber. Clara, no entanto, ficou satisfeita ao notar que a filha não usava os fones de ouvido.

— Hoje começam as atividades equestres na escola... não tenho certeza se vou participar — disse a menina, hesitante.

— Filha, lembre-se de que Leo e Tyler estão ajudando você. Eles contam com você na equipe.

— É por isso mesmo, mãe. E se eu decepcioná-los? Vão ficar chateados e talvez parem de falar comigo...

— Tenho certeza de que você não vai decepcionar. Eles sabem que você não é uma amazona. Então, fique tranquila. Tome seu café, o ônibus não deve demorar.

Clara estava na pequena mercearia da cidade quando Roxane entrou. Assim que a viu, se aproximou apressadamente.

— Doutora Clara, como tem passado? Soube por uma das minhas afilhadas que sua filha vai competir nas atividades da escola. Espero que ela não se machuque montando... montar a cavalo não é o mesmo que andar de patins!

— Agradeço sua preocupação, senhora Roxane. Mas minha filha está bem amparada por Leo e Tyler. Confio neles.

— Tyler? O filho do Noah? Não acredito! Aquele garoto é mais arisco que um touro bravo. Não deixa ninguém se aproximar muito...

— Pois é... estou muito feliz, a amizade dos dois parece crescer rapidamente. É um alívio ver minha filha confiando em mais alguém.

Antes que Roxane pudesse responder, uma figura alta entrou na mercearia, interrompendo a conversa. Era Noah. O olhar dele era sério, como se carregasse o peso do mundo nos ombros. Não parecia ter paciência para cumprimentos. Clara tentou desviar o olhar, mas ele a viu e veio em sua direção.

— Enéas me ligou. Disse que você quer retomar os reparos da casa — disse ele, ajeitando o chapéu na cabeça. — Tô com uns dias livres. A gente pode combinar um preço que seja justo para os dois. As calhas ainda não estão do jeito que eu queria.

“Cidade de gente intrometida...” — pensou Clara, irritada. Ela o encarou de frente, sem rodeios:

— Olha, Noah... você fez o trabalho, mas não me convenceu de que valeu o que cobrou. Aquele primeiro serviço foi malfeito.

A tensão subiu entre os dois como fumaça. Noah soltou uma risada curta, quase sem humor, e balançou a cabeça.

— Pode achar o que quiser. Mas se acha que não cobrei o justo, então nunca vai entender o que é trabalhar de verdade, Clara.

Ela sentiu o peito apertar. O tom dele a cortava, mas não se intimidou. — Eu pago o que acho que devo. E isso é o que importa.

Noah ajeitou o boné na cabeça, o olhar sério, direto.

— Enéas me ligou. Disse que você quer retomar os reparos da casa. Tô com uns dias livres. A gente pode combinar um preço justo — para os dois. As calhas ainda não estão do jeito que eu queria.

Clara cruzou os braços, firme.

— Olha, Noah, você fez o trabalho... mas, sinceramente? Não achei que valeu o que cobrou. Não estava do jeito que eu esperava.

Ele soltou uma risada seca, balançando a cabeça como quem já ouviu esse tipo de crítica antes. — É mesmo? Porque, para mim, ficou claro que você queria pagar pelo que achava justo, não pelo que o serviço realmente custava.

— Eu pago pelo que entregam, não por promessas ou simpatia — respondeu ela, seca.

Noah se inclinou ligeiramente para a frente, sem perder a calma, mas com o tom mais cortante: — Então é isso. Você tem sua régua. Eu tenho a minha. Só não me peça milagre por trocado, Clara.

Os dois se encararam por um segundo longo, como se estivessem medindo forças em silêncio. Sem esperar resposta, ele deu meia-volta e saiu da mercearia. As botas batendo no piso pareciam um recado.

Clara permaneceu imóvel. As palavras dele rodavam dentro dela como pedras atiradas na água. Machucavam mais do que ela gostaria de admitir.

Foi quando notou Roxane, parada perto da prateleira de condimentos. A mulher a encarava com um olhar vitorioso. Não disse nada. Apenas ergueu o queixo com aquele ar superior e satisfeito, como se dissesse: "é assim que se fala com gente como você".

Com um sorrisinho enviesado, passou por Clara e saiu, indo atrás de Noah com passos leves, quase elegantes.

Clara não disse nada. Apenas respirou fundo. Ela sabia, no fundo, que aquele homem estava mais próximo do que gostaria. E não estava falando apenas de telhados ou calhas.

O sol do Texas ardia lá fora. Mas, de algum modo, o chão sob seus pés ainda a mantinha firme. Debaixo desse céu... a gente vai conseguir.

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