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CAPÍTULO 5 – TERRA DE GENTE CURIOSA

                A estrada de cascalho serpenteava entre campos dourados, levantando uma nuvem de poeira que dançava sob os pneus da caminhonete de Clara. O GPS do celular, antiquado e hesitante, quase não colaborava, mas ela insistia, teimosa, em encontrar o endereço da fazenda dos McCoy — uma das famílias mais antigas e faladas do condado. Segundo o doutor Enéas, também uma das mais teimosas.

Ao estacionar, Clara avistou o velho Elmer McCoy sentado na varanda, um pedaço de palha pendendo dos lábios finos como um cigarro imaginário, o chapéu de couro desgastado cobrindo metade do rosto enrugado pelo sol. Aos seus pés, um vira-lata cinzento de olhos atentos repousava, as orelhas erguidas ao menor ruído.

— Doutora Clara? — rosnou Elmer, sem mover um músculo além da boca. A voz saiu áspera, como se cada palavra fosse um esforço.

— Sim, senhor. Vim ver a vaca com mastite. Me disseram que a situação estava feia.

Elmer se levantou com a lentidão de quem carregava décadas nas costas. Seu olhar, duro e desconfiado, percorreu Clara de cima a baixo, como se estivesse avaliando um animal de fazenda.

Achei que mandariam o Enéas. Ele conhece meus bichos há trinta anos.

— O Dr. Enéas se aposentou. Agora sou eu quem cuida disso— respondeu Clara, mantendo a voz firme, embora sentisse o coração acelerado contra as costelas.

O olhar dele dizia tudo: uma mulher, jovem, metida a veterinária? Elmer já havia julgado e condenado sem precisar de mais palavras. Clara reconhecia aquele tipo de resistência — uma mistura de desconfiança do novo com machismo arraigado, tão comum em lugares onde o tempo parecia ter parado.

Veterinária mulher. E novata. Não sei se isso vai funcionar— resmungou, cuspindo a palha no chão, bem perto das botas de Clara.

Ela respirou fundo, contando mentalmente até dez antes de responder.

Senhor McCoy, pode me levar até onde está a vaca? Não posso desperdiçar meu tempo conversando. Tenho outros clientes para atender.

O velho soltou um resmungo, algo entre irritação e uma admiração mal disfarçada, e apontou com o queixo para o celeiro ao fundo.

— No celeiro. E vê se não estraga nada.

O celeiro era grande, mas os anos de descuido estavam gravados em cada detalhe: a pintura vermelha desbotada, a cerca meio caída, o cheiro forte de esterco se misturando à poeira do chão batido. Clara não precisou de muito tempo para perceber o problema: faltava limpeza. As vacas, embora robustas, viviam em condições que só favoreciam doenças.

Enquanto examinava a vaca doente, orientou o velho homem, que observava da entrada do celeiro:

— Seu Elmer, o senhor precisa cuidar melhor da limpeza aqui. A mastite pode se espalhar. O bezerro pode adoecer, e o leite contaminado pode fazer mal a quem consumir.

O velho bufou, mas não retrucou. No fundo, sabia que ela tinha razão, mesmo que relutasse em admitir.

Terminando o atendimento, Clara anotou as recomendações num bloco e deixou uma receita com antibióticos. Ao subir na caminhonete, sentiu um alívio misturado com frustração — havia tratado a vaca, mas conquistar o respeito do velho seria uma batalha mais longa.

Enquanto dirigia de volta para a clínica, os pensamentos se embaralhavam. Talvez devesse pedir ajuda ao doutor Enéas para interceder junto a Elmer. Quem sabe até organizar uma limpeza coletiva na fazenda, convencendo alguns vizinhos a ajudar. Apesar dos desafios, pela primeira vez, sentiu que poderia fazer a diferença ali.

De volta à clínica, Clara lavava as mãos no pequeno banheiro quando, através da janela, avistou Katiany sentada nos degraus da frente, cabeça baixa, os costumeiros fones de ouvido tampando o mundo exterior. O estômago de Clara se apertou — sua menina claramente não estava se adaptando.

Abriu a porta e sentou-se ao seu lado, envolvendo-a num abraço e deixando um beijo no topo de sua cabeça. Katiany se aconchegou, mas as lágrimas já escorriam pelo seu rosto antes mesmo de falar.

— Mãe, eu odeio aquela escola. Não gosto desse lugar. Podemos voltar, por favor? — a voz saiu entrecortada, como se cada palavra doesse.

Clara sentiu o coração pesar.

— O que aconteceu?

Katiany olhou para ela, os olhos vermelhos de tanto chorar.

— Uma menina ficou tirando sarro do meu tênis e do jeito que eu falo! Disse que "as vacas daqui não gostam de gente da cidade grande"! — esbravejou, esfregando o rosto na manga da camiseta.

Clara suspirou, tentando acalmar a menina, mas os cantos de sua boca tremiam contra a vontade. Apertou os lábios, tentando não rir daquelas palavras absurdas - como se as vacas do interior tivessem algum preconceito contra gente de cidade grande.

— Filha, ela só estava provocando. Hoje mesmo fui tratar de uma vaca, e te garanto que foi bem boazinha comigo. — Tentou brincar, mas Katiany não sorriu. —Dá uma chance. Essas meninas estão só curiosas... Com o tempo, elas se acostumam.

Mas Katiany sacudiu a cabeça, obstinada.

— Eu quero ir embora! Quero voltar, mesmo que seja com o papai!

Os pedidos da filha ainda cortavam como faca. Dois meses já haviam se passado, e ela ainda parecia presa ao passado.

Clara segurou suas mãos, olhando-a nos olhos.

Querida, sei que é difícil. Para mim também não está sendo fácil. Também fico pensando... Por que as coisas não poderiam ser diferentes? Por que seu pai não poderia ter sido um homem melhor? Às vezes, acho que o fim da nossa família foi culpa minha. — A voz fraquejou por um instante, mas ela continuou. — Mas então eu lembro da última discussão, de como você ficou abalada. E te digo com certeza: não vamos voltar, Kat. Aqui é nossa casa agora. Vamos encontrar nosso lugar.

Katiany virou o rosto, magoada. Antes que Clara pudesse dizer mais, um menino afrodescendente, de sorriso largo e roupas simples, apareceu empurrando duas bicicletas.

— Você é a filha da nova veterinária? — perguntou ele, com um tom tão natural que até Katiany hesitou antes de responder.

— Quem quer saber? — retrucou, ainda desconfiada, secando o rosto na camiseta.

Sou o Leo. Meus pais trabalham na fazenda do senhor Noah. Disse que sua mãe curou o cavalo favorito do filho dele.

Katiany cruzou os braços.

E?

Leo apenas sorriu, sem se incomodar com a frieza.

— Achei legal. Quer pedalar até o riacho? Tem umas crianças pescando lá. Se não quiser pescar, só pedalamos.

Clara observou o garoto — havia algo nele, um jeito calmo e sincero que transmitia confiança.

— Mãe, eu posso? — Katiany olhou para ela, os olhos ainda úmidos, mas agora com um brilho de interesse.

Não é perigoso?

Não, dona— Leo respondeu antes que Katiany pudesse. —O lago fica na frente do departamento de polícia. O xerife às vezes pesca lá.

Clara hesitou por um segundo, mas viu na expressão da filha algo que não via há dias: esperança.

— Voltem em uma hora, certo?

Katiany sorriu — o primeiro sorriso genuíno em semanas — e entregou os fones para a mãe, como quem entrega um pedaço do passado. Depois, ela e Leo partiram pedalando rua abaixo.

Clara ficou na escada, observando-os desaparecerem na curva.

Katiany observava tudo como se visse a cidade pela primeira vez.

O caminho até o lago era puro encanto: casinhas alinhadas feito bonecos de cerâmica, um café de toldo azul desbotado pelo sol, uma barbearia antiga com a cadeira de barbeiro exposta na calçada, e um pequeno hotel de fachada alegre, pintada em cores vivas.

Ela sorriu para Leo, em um agradecimento silencioso, e, tomada por uma onda de leveza, acelerou a bicicleta. Leo não hesitou e pedalou ao lado dela, rindo sob a luz dourada da tarde.

Sorrindo com leveza pela primeira vez desde que haviam chegado, Clara sentiu o coração se aquecer. Talvez, finalmente, Katiany estivesse encontrando seu lugar. E, quem sabe, ela também.

                                                                         06

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