Dizem que Manuela Romanova foi amada por três anos, pelo menos é o que contaram. Ela não lembra. Expulsa de casa ao engravidar de Fred, baterista da 4 Nipes, Manuela reconstruiu a vida sozinha. Anos depois, um diagnóstico devastador coloca seu filho entre a vida e a morte e apenas Fred pode ser a chance de salvá-lo. Mas alcançar um astro global cercado por seguranças, fãs e um império de mentiras não será fácil. E, quanto mais se aproxima, mais ela descobre que por trás dos holofotes existe um jogo perigoso, onde revelar seu segredo pode custar muito mais do que imagina. Esta não é uma história sobre perdão. Nem sobre finais felizes dados de mão beijada. É sobre uma mulher que, sem fadas madrinhas ou magia, decidiu quebrar o castelo de mentiras dos 4 Nipes, a banda mais famosa do mundo, com as próprias mãos. ⚠️ AVISO AO LEITOR: Esta obra contém linguagem inapropriada, referências a drogas lícitas e ilícitas, cenas de violência e conteúdo sexual. Recomenda-se discrição e atenção por parte de leitores sensíveis a esses temas.
Ler maisPOV MANUELA
Dizem que eu, Manuela Romanova, fui amada por três anos. Pelo menos é o que contaram. Eu não lembro, porque até os três anos crianças não adquirem memórias do que viveram. Ainda assim eu me apegava ao que ouvia, para seguir em frente, ou morreria de tristeza e dor.
Minha vida era o caos. Eu era rejeitada pela minha própria família, mantida como empregada e responsável por manter a casa. Ainda assim seguia em frente, porque acreditava que poderia ser pior.... tipo eu sequer ter sido adotada um dia e passar a vida num orfanato sem saber o que era de fato uma casa.
Há um ano atrás eu flagrei meu noivo, Dominic, que atualmente é meu chefe no Hotel Bali, onde eu trabalho de camareira, na minha própria cama, transando com a minha irmã. Terminei o relacionamento, mas segui tendo que responder a ele por tudo que eu fazia no trabalho, tendo que lidar constantemente com seu assédio e insistência em me levar para a cama, só pelo fato de eu ainda ser virgem e o sujeito achar que eu lhe devia minha virgindade pelo tempo que “perdeu comigo”. Dominic fez com que eu acreditasse que me traiu porque nunca o deixei me tocar. E por muito tempo concordei com a fala dele.
Sofri, porque eu gostava de Dominic. Mas com as maldades que ele me fez depois do ocorrido, aquele sentimento foi sendo substituído por algo doloroso e a certeza de um relacionamento que jamais seria reatado. No fim, foi só mais uma rejeição, daquelas que eu estava acostumada. Não era só por parte dele, das minhas irmãs, da minha mãe... eu sempre fui rejeitada pela vida.
Ainda assim todos os dias levantada da minha cama com um sorriso no rosto, disposta a enfrentar a vida com o meu coração cheio de esperanças, pois que nada poderia ficar pior. Eu já vivia na pior situação possível. Mas respirava, tinha um teto e saúde para trabalhar. Então era grata.
Espreguicei-me na cama e olhei para o relógio, que despertou às 5 horas da manhã. Já tinha passado um minuto e eu ainda estava ali, não fazendo nada. E eu não podia, de forma alguma, não fazer nada.
Algumas pessoas tinham o hábito de acordar pela manhã e fazer o sinal da cruz e pedir a Deus que fosse um bom dia. Eu, ao contrário, olhava para Fred Hunt no pôster que ficava colado na parede de frente à minha cama e o venerava. Ao final, dizia:
- Deus, proteja este homem e um dia promova o nosso encontro.
Respirei fundo e olhei pela fresta da janela. Estava amanhecendo. Desci para o segundo andar e tomei um banho rápido. Era lá o banheiro mais próximo. Depois voltei para o sótão, que era onde eu dormia (e vivia), em minha própria casa. Dizem que um dia eu dormi no quarto dos meus pais, num berço bem próximo à cama. Mas eu não lembro desta parte.
Enfim... só havia três quartos na casa e minha mãe dormia em um e os outros dois eram ocupados por minhas duas irmãs. Minha melhor amiga dizia que era um absurdo eu dormir naquele sótão pequeno, úmido, com cheiro de mofo e uma janela minúscula que mal o arejava. Na minha opinião poderia ser ainda pior se minha mãe achasse que o porão era meu lugar.
Pus meu uniforme e desci para a cozinha, que ficava no primeiro andar, junto da sala, lavabo e área de serviço. Botei o café para passar enquanto deixava a mesa posta com três lugares. Depois do café pronto, botei na garrafa térmica para que minha mãe e minhas irmãs pudessem saboreá-lo quente. Ninguém merecia café frio ou morno. Completei a mesa posta com pães que eu havia preparado na noite anterior e alguns biscoitos de amido que peguei a receita com a cozinheira do hotel onde eu trabalhava.
Estava indo em direção à porta quando minha irmã Carly apareceu no topo da escada. Me olhou e bocejou:
- Onde vai, empregada?
Nunca tive certeza se o “empregada” que ela usava para se referir a mim vez ou outra era brincadeira ou realmente achava que aquele era meu papel naquela casa.
- Trabalhar, como faço todos os dias.
- Hum... até esqueço às vezes que você vive aqui! – deu de ombros e desceu as escadas.
- Mas eu vivo.
Se eu não vivesse, ela não comeria, não teria energia elétrica, água e roupa lavada.
- O que está fazendo... acordada tão cedo? – perguntei, já que Carly raramente acordava antes das 10 horas.
- Senti o cheiro de café.
- Acabei de preparar – sorri – e fiz uns biscoitos de amido. Espero que gostem.
Ela foi até a cozinha e quando eu estava abrindo a porta perguntou, comendo um biscoito:
- Por que não fez hoje os biscoitos?
- Estão frescos. Fiz ontem quando cheguei.
- Pois não faça mais de um dia para o outro. Meu estômago é sensível. Sabe que não posso comer coisas velhas.
- Não está velho... eu... fiz há poucas horas.
- Pois quero frescos da próxima vez. Acorde mais cedo e sirva-os quentes.
- Você jamais os comerá quentes, porque acorda tarde.
- Deixe de se insolente, Manuela.
- Só estou... sendo sincera.
- Pois ninguém pediu sua sinceridade. Aliás, poupe-me de seus comentários.
- Carly, você percebe o que está dizendo? Eu fiz os biscoitos, deixei a mesa posta com o café... e ainda acha que está ruim?
- Você mora aqui de favor. Não faz nada mais que a sua obrigação. Entende agora por que Dominic não quis e implorou por mim? Porque você é patética, Manuela. E digna de pena. Não acho que mamãe deveria deixar que usasse o nosso sobrenome. Isto mancha a dignidade de nossa família.
Engoli em seco e não respondi. Saí e fechei a porta, sabendo que ela voltaria para a cama. E que quando eu chegasse não haveria um biscoito sequer sobrando, porque elas comeriam tudo. E ainda deixariam a louça para eu lavar.
Simone, minha melhor amiga, brincava que eu era a Cinderela. E eu tentava me apegar àquele conto de fadas, tentando acreditar que um dia encontraria o meu Fred Encantado e ele me tiraria daquela vida.
Eu tinha uma casa, uma família, mas não um lar. Diferente de Cinderela, minha mãe, Irene Romanova, não era minha madrasta e sim a mulher que me adotou quando nasci. Sim, ela e meu pai esperaram anos na fila de adoção e (dizem) que ficaram imensamente felizes quando cheguei naquela casa.
Antes de eu completar três anos de vida, minha mãe engravidou de forma milagrosa, já que antes nenhum dos tratamentos que fez deram certo. Dizem, ou melhor, Cláudia diz, que foi depois disto que os Romanova passaram a ignorar a minha existência. Cláudia era a vó de Simone. Elas eram nossas vizinhas. Mas... tudo poderia ser pior, tipo eu nunca ter sido adotada e viver num orfanato. Contavam histórias escabrosas do orfanato mais próximo.
Eu sabia que contos de fadas eram coisas de livros. Na minha história não havia fada madrinha ou esperanças. Enquanto minha mãe dava tudo para as minhas irmãs, a mim restava trabalhar, no hotel e em casa. Eu as sustentava desde que minha mãe tinha machucado a perna e a partir daí não pôde mais trabalhar. Não me sobrava dinheiro para comprar nada para mim. Cada centavo ia para o sustento da casa.
Meu pai morreu há alguns anos atrás. Ele não era bom comigo, mas um pouco melhor do que a minha mãe. Afundado em dívidas, só nos deixou a casa. Mamãe trabalhou um tempo e quando foi afastada por problemas de saúde, tive que deixar a escola e arranjar um trabalho. Então consegui uma vaga de camareira no Hotel Bali.
A mão dele entrou dentro da calcinha dela, que gemeu. Meu corpo estremeceu e eu não conseguia me mover... porque... eu estava gostando de olhar aquela obscenidade.Fred puxou o lábio inferior dela com os dentes, enquanto a garota abriu as pernas e ele começou a fodê-la com os dedos. Tudo na minha presença... sendo feito para que eu assistisse. Um castigo... um doce castigo para que eu aprendesse futuramente o quanto era prejudicial ser eu mesma. Eu sabia aquele seria meu arrependimento eterno.Ainda com os olhos nos meus, Fred desceu os lábios pelo colo dela e depois abocanhou um dos mamilos com os dentes, brincando com o piercing na própria língua.Num movimento ágil, ajeitou—a na cama e abriu suas pernas novamente, traçando com a língua o caminho até sua boceta. Observei seu pau ereto sob a cueca, grande, pulsante, como sempre imaginei.— Quer se tocar para mim? – ele perguntou – Vamos, não seja tímida!Dei um passo para trás, atordoada, me dando em conta de que ainda estava ali, as
Eu não conseguia desviar o olhar do dele. E sabia que levaria aquele momento para o caixão com o mais importante da minha vida. Foi a primeira vez na vida que alguém me notou e que talvez tenha entendido que, detrás daquele uniforme, batia um coração.— Ela veio trocar os lençóis, sendo que nem os trouxe. – A garota gargalhou.— Eu... não tive tempo de pegar. – Justifiquei diretamente para ele, que ainda me dominava.— Deixe a garrafa aí... afinal, quem se importa com os lençóis? – olhou para a garota, com desdém e depois voltou a me encarar – Quer se juntar a nós? – seus olhos agora focaram na cama.Cada minuto era único, como se eu tivesse nascido para viver aquilo. Meus dedos das mãos tremiam tanto que Fred focou neles, dando um sorriso debochado. Eu poderia muito bem achar que tudo aquilo era por conta da minha beleza, por eu ser interessante ou algo do tipo... não fosse o hálito alcoólico dele e a certeza de que tinha cheirado junto com a cocaína toda a sua sanidade.— Obrigada..
A 4 Nipes fazia parte da minha vida. Acho que eu conhecia mais eles do que a minha própria família.Fred Hunt era o guitarrista, conhecido como o Rei de Copas. Magro, alto, rosto magro, nariz fino, olhos levemente estreitos e de um azul claro que simplesmente não parecia ser real. Era o garoto problema da banda, sempre envolvido em confusão. Na mídia, era o que mais aparecia, não pelo talento, mas pelas atitudes duvidosas e encrencas que deixava pelo caminho. Simone dizia que não conseguia entender como eu fui me apaixonar justo por ele, que nem era o tão “amado” do público. Sem contar que era o mais “errado” e eu sempre fui a miss certinha.O que dizer? Amor não se explica, se sente. E o que eu sentia por aquele estranho era mais forte que qualquer coisa que já senti antes. O sorriso, o olhar, a forma como tocava a guitarra, como se quisesse explodir o mundo... me encantava. Desde que conheci a 4 Nipes, o escolhi.Acho que o endeusei. Eu era tão fodida na vida que precisava de alguém
Foram segundos... que valeram por uma vida inteira. Deixei as lágrimas banharem meu rosto e toquei a tatuagem no meu pescoço, o presente que dei a mim mesma quando fiz 18 anos, a carta do rei de copas, em homenagem ao guitarrista da 4 Nipes, Fred Hunt.Engoli o choro e fui para casa. Não havia o que eu pudesse fazer para mudar aquilo.Quando cheguei, estava tudo uma bagunça. Roupas jogadas por todos os lados, e todos os itens das gavetas pareciam ter sido retirados para fora de propósito. Eu tinha passado a noite trabalhando e ninguém foi capaz sequer de ligar para saber se eu estava viva. Poderia ter sido atropelada no caminho, assaltada ou levado um tiro. Ninguém se preocupava. Eu era um cinco de espadas, uma carta sem função no baralho, que só servia para juntar com outro cinco de naipe diferente ou numa sequência de espadas. Eu era a carta que ninguém se preocupava muito e que raramente juntariam do “lixo”, aquele monte que ficava no meio da mesa onde eram descartadas pelos jogado
Simone e eu nos consideramos naquele dia duas sortudas. O mundo inteiro daria qualquer coisa para estar no nosso lugar, limpando cada centímetro do lugar que Fred Hunt ocuparia. Já tinha encerrado o nosso horário e ainda não estava tudo como queríamos. Me dei à liberdade de retirar todas as roupas de cama verdes e substituir por brancas de melhor qualidade. Óbvio que tínhamos os quartos tops e os mais em conta. Fred não ficaria no melhor, que foi destinado para Gabriel Dimitryev, o vocalista da banda, nosso Às de Espadas.O segundo melhor quarto seria ofertado para Oleg Chausson, o empresário da 4 Nipes. Os demais tivemos que nos virar para deixá-los o melhor possível para que a experiência dos integrantes da 4 Nipes no Hotel Bali fosse perfeita.Encerramos o trabalho quando passava das três horas da madrugada. Sequer me alimentei, porque sabia que Fred poderia chegar a qualquer momento e eu não queria que nada estivesse fora do lugar quando ele entrasse no quarto verde, que tentei de
- Claro que não – eu sorri, não contendo o tom irônico – alguém teria que levar as malas para o avião!- Caralho, é muita ingratidão numa só pessoa! – Carly cruzou os braços – Eu desisto, mãe.- Podem fazer o que quiserem... mas eu não darei o meu ingresso. Não importa que eu não seja sorteada, tampouco que se for, ninguém fale comigo ou se importe com a minha presença. Ainda assim... eu estarei lá... e verei Fred Hunt, como sonhei a vida inteira.Dizendo aquilo subi as escadas, sentindo o peso da dor e da humilhação nas costas.Tomei um banho, deitei na cama, e ingeri um comprimido forte para dormir. Eu sabia que em breve bateriam na minha porta para que eu fizesse o jantar, organizasse a casa ou simplesmente abrisse mão do meu ingresso. Então era melhor eu apagar, literalmente, antes que roubassem a única coisa que eu tinha na vida, que era a chance de ver meu ídolo. E eu nem me referia ao fato de estar perto de Fred, porque meu ingresso era o mais barato, daquele que ficava no últi
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