Após meses tentando salvar um casamento à beira do colapso, Isadora Monteiro decide apostar tudo em um fim de semana romântico em um resort de luxo no interior de São Paulo. O que ela não esperava era descobrir, da forma mais cruel, que estava sozinha naquela luta. Traída, humilhada e emocionalmente devastada, ela foge sem rumo pelas estradas chuvosas da serra, apenas para cruzar o caminho de um estranho enigmático que mudaria sua vida para sempre. Rafael Duarte, um CEO bilionário que vive à sombra dos próprios traumas, esconde-se do mundo atrás de uma fachada fria e impecável. Mas o encontro inesperado com Isadora — marcado por um acidente e um gesto de compaixão — abala suas defesas e o força a enfrentar sentimentos que há muito tentou enterrar. Entre segredos, recomeços e um projeto de inteligência artificial que pode mudar o futuro, Isadora se verá dividida entre o medo de amar novamente e a possibilidade de encontrar, finalmente, um refúgio seguro... nos braços do homem que menos esperava. Porque, às vezes, é justamente no improvável que a vida revela sua parte mais verdadeira.
Ler maisO relógio digital da suíte marcava 7h15 da manhã quando Isadora despertou. Do lado de fora, o céu da Serra da Mantiqueira ainda estava envolto por uma névoa fina, e os primeiros raios de sol filtravam-se pelas cortinas de linho branco. O quarto, amplo e sofisticado, parecia frio e impessoal — apesar da vista encantadora para o vale, havia um silêncio sufocante no ar.
Ela estendeu a mão lentamente até o outro lado da cama king size, mas encontrou apenas o vazio. O lençol ainda gelado. A mesma cena há meses. ‘Mais uma manhã sem ele...’ — pensou, os dedos deslizando no espaço onde Rodrigo deveria estar. Suspirou. Pegou o celular. Nenhuma mensagem. Nenhuma ligação perdida. Nem mesmo um bom dia. E muito menos, uma lembrança da data: dois anos de casamento. ‘Ele esqueceu. De novo.’ — engoliu seco, sentindo a dor raspar a garganta. Levantou-se com certa lentidão, caminhando até o espelho da penteadeira da suíte. Seus olhos estavam inchados, as olheiras mais profundas do que gostaria de admitir, e o brilho que costumava ter parecia apagado. ‘Quando foi que me perdi tanto assim?’ — questionou-se em silêncio. — ‘Parei de me cuidar, de me amar… tudo por alguém que já nem me nota.’ Engolindo o choro, respirou fundo. Era difícil se olhar e aceitar o que via. Mas naquele dia, naquele cenário bucólico e silencioso, algo diferente surgiu dentro dela: uma força tímida, mas decidida. ‘Hoje... vai ser diferente. Nem que seja pela última vez, eu vou tentar. Vou lembrar a ele quem eu sou. Quem nós fomos.’ Determinada, foi até o chuveiro. A água quente escorreu pelo seu corpo, levando consigo um pouco da frustração que a consumia. Vestiu um roupão de algodão branco e caminhou até o closet da suíte, onde escolhera uma roupa especial para aquele dia: uma blusa de seda azul clara, calça de alfaiataria e um par de saltos nude. Discreta, elegante. Desceu para o café da manhã sozinha, como nos dias anteriores. O salão do resort era todo envidraçado, revelando as montanhas verdes e o lago sereno logo adiante. Após comer pouco — quase nada —, passou as horas seguintes no spa do hotel, rendendo-se a massagens com óleos essenciais, banhos de imersão com lavanda e um ritual facial relaxante. Tudo aquilo que deveria revigorar seu corpo, mas que ainda não alcançava a alma. No início da tarde, agendou um horário no salão do próprio resort. Cabelos escovados com ondas suaves, maquiagem leve, batom cor vinho. E, por fim, o vestido que havia comprado semanas antes, esperando usar em um jantar especial com Rodrigo: um modelo vermelho de alfaiataria, justo, de decote discreto e costas nuas. Ao se olhar no espelho, por um breve momento, viu a mulher que costumava ser. Forte. Confiante. Amável. ‘Se isso não chamar a atenção dele... nada mais vai.’ Era fim de tarde quando decidiu voltar para casa. Rodrigo não apareceu no resort, nem enviou mensagem. Nada. Nenhuma justificativa. Com o coração apertado e um vazio difícil de explicar, ela entrou no carro e pegou a estrada de volta a São Paulo. Chovia leve. A neblina começava a se deitar sobre as curvas da serra. As mãos de Isadora apertavam o volante com força. A música baixa no rádio não ajudava. As lembranças, sim — essas gritavam. A ligação, inesperada, chegou quase ao entardecer. Era Bruna, a secretária de Rodrigo. A voz dela parecia tensa. — Senhora Isadora... me desculpe ligar, mas achei que devia saber. O doutor Rodrigo está no escritório hoje... desde cedo. — E por que está me ligando? — Isadora perguntou, confusa. Houve um silêncio incômodo antes de Bruna continuar: — É que... ele não está sozinho. Está com uma mulher. Estão no escritório há horas. A porta... fechada. Achei que... bom... me desculpe se me intrometo. Isadora desligou sem responder. O mundo, que já estava turvo pela chuva, pareceu borrar ainda mais. Mudou o rumo e seguiu direto para o prédio da R.B. Advocacia, no centro de São Paulo. O trânsito lento ajudava a conter a explosão que rugia dentro do peito. Ao chegar, subiu ao 23º andar. A secretária não estava na recepção. O corredor, silencioso. A porta do escritório, entreaberta. Ela empurrou devagar. E viu. Rodrigo. De costas. Sem camisa. Abraçado a uma mulher de cabelos ruivos, sentada sobre a mesa onde ele costumava assinar os contratos mais importantes da empresa. A mulher inclinando a cabeça para trás, olhou em sua direção e um sorriso vitorioso se espalhou pelos lábios dela. O coração de Isadora implodiu. Ela recuou sem fazer barulho. O grito preso na garganta queimava. Ela esbarrou no vaso de planta na entrada da sala, o barulho do gemido dela fez Rodrigo olhar. — Isadora!... Ela saiu. Correu até o carro, ligou o motor e saiu dirigindo pelas ruas molhadas. O choro era incontrolável. As lágrimas embaralhavam a visão. As mãos tremiam. A chuva engrossava, e o céu da cidade parecia tão cinza quanto sua alma. Num trecho mais escuro da estrada de volta, em uma rua sinuosa e quase deserta, ela viu — tarde demais — a silhueta que se projetava sobre o asfalto molhado. Um baque. Pânico. — Meu Deus! — gritou, freando bruscamente e saindo do carro com o coração disparado. O homem estava caído à beira da pista, com a roupa ensopada, tremendo de frio. Pálido, expressão exausta. — Moço! Você tá bem? Me perdoa! Eu não te vi! Eu... eu vou chamar uma ambulância — disse, ajoelhando-se ao lado dele. — Não... só escorreguei. Eu tô bem... — murmurou ele com voz rouca. Tentou se levantar, mas caiu de novo. — Você não está bem — afirmou ela. — Eu vou te ajudar. — Por quê? — ele perguntou, encarando-a com olhos escuros e fundos. — Você nem me conhece. — E mesmo assim, não consigo te deixar aqui. Houve um instante de silêncio. Um silêncio diferente. Como se algo os conectasse sem explicação. Ela o ajudou a entrar no carro, cobriu-o com uma manta do banco de trás e dirigiu até uma pousada rústica próxima dali, que já havia avistado dias antes, em um passeio no resort. Pediu um quarto, chamou serviço de quarto, ligou o aquecedor. O homem foi tomar banho, e ela se sentou na beirada da cama. O rosto ainda molhado de chuva e de dor. ‘O que eu estou fazendo?’ — pensou. — ‘Trouxe um estranho para um quarto de hotel... que tipo de mulher eu me tornei?’ A porta do banheiro se abriu. Ele surgiu com uma toalha enrolada na cintura, cabelos molhados caindo sobre a testa. O corpo magro, mas definido. E os olhos... tristes como os dela. — Você tá bem? — perguntou ele, com suavidade. Ela assentiu. Os olhos marejados. Ele se aproximou, abriu o frigobar e serviu duas taças de vinho. — Um brinde... à gentileza inesperada — disse, oferecendo uma taça. O silêncio que se seguiu era quase sagrado. Quando ela começou a falar, a voz falhava. Contou tudo. Rodrigo. A traição. A humilhação. A solidão. Ele ouviu em silêncio. Sem interromper. Quando uma lágrima escorreu por sua bochecha, ele a enxugou com a ponta dos dedos. Ela não recuou. Ao contrário, se aproximou mais. O beijo veio. Natural. Urgente. E depois, o toque. A entrega. O calor. Ele sussurrou entre gemidos "Parece que meu corpo esperava o seu" e assim se perderam no prazer e desejos. Quando, enfim, os corpos adormeceram entrelaçados, Isadora sentiu algo que não soube nomear. E, ao acordar no meio da noite, cobriu o próprio corpo com o lençol e olhou para o homem ao lado. O medo veio. A culpa. A realidade. Levantou-se devagar, pegou a bolsa e saiu do quarto como um fantasma. Mas sabia, lá no fundo, que aquela noite jamais a deixaria. E que aquele homem — por mais estranho que fosse — havia marcado o início do fim. Ou, talvez... o começo de tudo.Os lábios de Rafael estavam prestes a tocar novamente os de Isadora quando uma batida na porta os interrompeu. Ele fechou os olhos, frustrado, encostando a testa na dela.— Serviço de quarto... — murmurou, respirando fundo, com um sorriso resignado.— Que timing perfeito — ironizou Isadora, tentando conter o riso.Rafael se afastou devagar, ajeitando a camiseta enquanto caminhava até a porta. Recebeu a bandeja do garçom com um aceno silencioso, agradeceu e logo fechou a porta, levando o jantar até a mesa elegante no canto da suíte.— Está tudo aqui... mas pode esperar um pouco — disse ele, virando-se novamente para ela com aquele olhar intenso que parecia despir sua alma.
Isadora tentou se soltar do abraço, a tensão ainda forte entre eles. Rafael, porém, segurou-a com firmeza, mas sem violência.— Por favor, meu amor... me escuta — pediu, a voz rouca de emoção.Ela parou, sem coragem de olhar para ele, o corpo ainda rígido de mágoa e incertezas. Então, ele a puxou delicadamente, fazendo-a ficar de frente para ele. Com as mãos firmes, mas carinhosas, segurou seu rosto.— Isa... meu amor, me perdoa, por favor. — Ele respirou fundo, como se tentasse tirar dali um peso imenso. — Eu não tive essa intenção. O que eu falei no escritório... não foi naquele sentido que eu quis dizer.Ela tentou se afastar, querendo fugir daq
Isadora saiu da sala de Rafael com o coração apertado, os olhos ardendo e o orgulho ferido. A discussão ainda ecoava em sua mente como um trovão incessante. Ela andava pelos corredores da Duarte Tecnologia sem saber ao certo para onde ir, apenas sentindo o peso daquela frase dele reverberar:— Às vezes eu acho que isso entre nós só funciona quando estamos na cama."Como ele pôde dizer isso?" — ela pensava, tentando segurar as lágrimas que ameaçavam cair. "Será que foi tudo um erro? Será que contar sobre o bebê só vai complicar ainda mais as coisas?"Um enjoo súbito a tirou dos pensamentos. Sentiu a boca salivar, o estômago revirar, e antes que pudesse pensar, correu para o banheiro mais próximo. Se trancou em uma das cabines e mal teve tempo de se ajoelhar quando as náuseas a dominaram. Vomitou com força, as mãos tremendo, o corpo suando frio.Do lado de fora, passos se aproximaram e uma voz feminina ecoou:— Tem alguém aí? Você está bem?Era uma das novas assistentes administrativas
A luz suave do meio-dia atravessava as cortinas grossas da suíte, aquecendo o ambiente com um brilho dourado e sereno. O som distante da cidade mal alcançava a cobertura, criando uma bolha de paz ao redor deles. Isadora abriu os olhos devagar, sentindo o corpo aninhado ao de Rafael sob os lençóis ainda revoltos da intensa e preguiçosa manhã que haviam compartilhado. Ela sorriu, sentindo seus dedos entrelaçados aos dele.— Já é quase hora do almoço — ela murmurou com a voz rouca de sono. — Dormimos demais...Rafael riu baixinho, com a voz grave e lenta.— Melhor forma de recuperar as energias... — disse, beijando o ombro dela com carinho.Ele acariciou seus cabelos, observando seu rosto com ternura. Não havia pressa, apenas aquela tranquilidade rara de quem começa a se acostumar com a presença um do outro. Por um instante, parecia que a vida lá fora não existia.— O que acha de almoçarmos fora? — propôs ele, tocando a ponta do nariz dela com o dedo. — Conheço um restaurante em San Telmo
A porta da suíte se abriu devagar, revelando Rafael com uma expressão serena e um leve sorriso nos lábios. Isadora, que ainda segurava a xícara entre os dedos, ergueu os olhos surpresa com o retorno dele tão cedo.— Achei que estaria na reunião a manhã toda — disse ela, pousando a xícara sobre o pires.— Vim tomar café com você — ele respondeu, se aproximando e inclinando-se para deixar um beijo demorado na testa dela. — Não comi nada ainda, princesa.Ela sorriu, tocada pelo gesto. Rafael a ajudou a se levantar com delicadeza e, de mãos dadas, foram até a pequena mesa posta. Ele puxou a cadeira para ela e só se sentou quando ela já estava acomodada.— Você fez isso tudo? — ela perguntou, emocionada, olhando a mesa com frutas, pães frescos, sucos e flores no centro.— Mandei preparar. Mas fui eu quem escolheu cada detalhe — respondeu, dando de ombros com um ar orgulhoso e apaixonado.Começaram a comer em silêncio, entre olhares cúmplices e pequenos gestos carinhosos. Mas de repente, Isa
Ele passou a mão pelos cabelos, como se quisesse arrancar os pensamentos da cabeça.– E você acredita que esse bebê pode não ser seu? – ela perguntou, quase num sussurro.– Acredito. E, mesmo que fosse... – ele fez uma pausa longa, dolorosa – Eu não tenho intenção de assumir nem ele, nem a mãe. Porque eu sei que ela não está falando a verdade. Porque eu sei que, se eu fizer isso, estarei acabando com a minha vida... e com a nossa.Ele segurou o rosto dela com as duas mãos, como se quisesse fazê-la sentir cada palavra.– Eu quero você, Isa. É com você que eu vejo futuro. Família. Amor. Não com alguém que tentou me prender através mentiras. Não com alguém que nunca significou nada pra mim. Se eu quisesse ficar com ela, teria escolhido antes mesmo da Letícia. Lembro da época da faculdade, alguns colegas falavam que ela era afim de mim.As palavras dele penetraram fundo, misturando-se com tudo que ela ainda sentia, com tudo que temia e, ao mesmo tempo, desejava.Os olhos de Isadora se fech
Último capítulo