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Capítulo 2 – Após a Tempestade

Levantou-se devagar, para não acordá-lo. Cada músculo ainda carregava o peso da noite anterior — uma mistura de dor, exaustão e um estranho alívio. Vestiu-se em silêncio, evitando olhar para o homem adormecido na cama da pequena pousada onde haviam passado a noite.

Sobre a mesinha de canto, escreveu um bilhete apressado, deixou algumas notas e, com os olhos marejados, saiu.

No bilhete:

"Esse dinheiro deve cobrir a diária e te garantir algo quente para comer.

Essa noite...Obrigada"

Ela não teve coragem de terminar.

Rafael acordou minutos depois. O lado vazio da cama estava morno, como se o corpo dela ainda resistisse em ir embora. Ao ver o bilhete, um sorriso breve e amargo se formou em seus lábios. Não era de desprezo — era dor disfarçada. Daquelas que vêm quando algo te toca fundo, mesmo que por um instante.

Levantou-se, vestiu a roupa cuidadosamente dobrada sobre a poltrona, pegou o bilhete e as notas. E foi embora.

Mas algo dentro dele — algo que ele não sabia nomear — decidiu ficar.

Do lado de fora, o céu ainda estava coberto por nuvens pesadas, embora a chuva tivesse cessado. O asfalto molhado refletia os tons acinzentados da manhã. Isadora dirigia de volta ao resort, com as mãos trêmulas no volante. A estrada sinuosa parecia mais calma agora, mas por dentro, ela era puro caos.

Horas depois, já no estacionamento do resort, olhou o próprio reflexo no retrovisor: os olhos inchados, o cabelo bagunçado, o batom desbotado. Mas, pela primeira vez em muito tempo, havia algo mais ali. Uma fagulha. Um fio de verdade.

Subiu para o quarto lentamente. O silêncio do ambiente contrastava com a lembrança barulhenta da noite anterior — os gritos abafados em sua cabeça, os passos correndo pela chuva, o toque inesperado de alguém que a viu sem máscaras.

Tomou um banho longo, deixou a água quente escorrer pelo corpo, como se pudesse levar embora não só o cheiro da tempestade, mas também os anos de submissão, o medo, a culpa. Mas havia algo que nem a água conseguiu apagar:

O olhar dele.

Como ele a tocou. Não com pressa ou desejo bruto, mas com uma calma que dizia: “eu te vejo”.

Talvez tenha sido apenas um lapso. Um respiro em meio ao naufrágio.

Mas aquilo já era seu. E ela sabia: seria sua âncora.

Mais tarde, na varanda do restaurante do resort, Isadora tomou o café da manhã servida por funcionários que, apesar da gentileza, pareciam viver em um mundo distante do dela. Havia morangos frescos, suco natural, pães variados, queijos — tudo meticulosamente disposto. Mas o que a confortou mesmo foi o gesto de uma das atendentes, que lhe ofereceu um chá de hortelã com um sorriso genuíno.

— Obrigada — disse Isadora, com a voz embargada.

Depois do café, voltou ao quarto e, por instinto, pegou o celular. Raramente usava redes sociais, mas algo a impulsionou. Ao deslizar o dedo pela tela, um anúncio chamou sua atenção:

"Duarte Tecnologia Global contrata: Estagiária Executiva em IA e Secretária Executiva."

Sentiu Um arrepio percorreu sua espinha ao ler o nome da empresa, mais não sabia o porquê mexia tanto com ela. Ela clicou.

A vaga parecia modesta, mas a área era sua antiga paixão. Antes de abrir mão de si para seguir Rodrigo, ela cursava Ciência da Computação e sonhava com inovações tecnológicas que poderiam mudar o mundo. Um futuro que agora parecia distante, mas não impossível.

Com um suspiro, digitou seus dados, atualizou o currículo e enviou.

— Talvez seja aqui que eu recomece… nem que seja do zero — murmurou.

Mais tarde, ligou para Laura, sua amiga de infância.

— Isa? A sua voz tá... diferente. Aconteceu alguma coisa?

— Eu... depois te conto. Só precisava ouvir alguém de verdade.

— Quer que eu vá até aí?

— Não agora. Mas obrigada por sempre estar.

Laura prometeu buscá-la assim que saísse do trabalho.

O resto do dia passou em câmera lenta. O quarto de hotel, apesar de aconchegante, parecia apertado para tantos pensamentos. Isadora se deitou, mas o sono não veio. A imagem da amante no celular de Rodrigo. O som da chuva batendo no capô. O corpo quente de um estranho contra o seu, dizendo com gestos tudo o que ela jamais ouvira em palavras.

Estava dividida. Entre o medo do que viria, e uma centelha de liberdade que começava a se acender.

À noite, descendo para jantar, encontrou Dona Cecília, funcionária do resort, que a havia acolhido no primeiro dia com um olhar materno.

— Preparei sua sopa favorita, minha menina. Espero que aceite meu carinho em forma de comida.

— Aceito sim, Dona Cecília. De coração.

Enquanto jantavam, falaram sobre coisas simples — o clima da serra, os hóspedes excêntricos, as hortênsias que estavam começando a florescer. Pela primeira vez em dias, Isadora sentiu que estava respirando sem dor.

Ali, naquela pousada escondida em meio à neblina, onde ninguém sabia seu nome completo ou a extensão das suas feridas, ela começou a lembrar de quem era.

E a pressentir quem poderia se tornar.

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